quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Comentário expresso III

Alguém acreditou que eu fosse incansável?

domingo, 9 de outubro de 2011

"Um conto chinês" e Ricardo Darín

Na última semana, fomos assistir a uma comédia argentina (estamos muito "arxentinos" ultimamente), Um conto chinês, do diretor portenho Sebastián Borensztein. Com ninguém menos que Ricardo Darín, claro.
O cinema vem abaixo logo na primeira cena do filme, quando uma vaca cai do céu sobre um bucólico barquinho num lago chinês, interrompendo absurdamente um pedido de casamento. Mais não posso dizer, para que ninguém deixe de assistir a uma das melhores comédias dos últimos tempos. Comédia no sentido do que faz rir (e, como bem assinalou Guga, todo mundo pareceu sair mais leve do cinema) e também no de farsa reveladora. Quanta coisa nos diz o chinês que não ganha uma legenda sequer na película! Quanta coisa a personagem de Darín diz que gostaríamos de dizer!
Feita a sugestão, queria mesmo comentar, sem nenhuma novidade, como Ricardo Darín é um ator incrível. Não precisa fazer caras e bocas para ser convincente em qualquer papel. Porque seu principal papel é o do homem comum, pateticamente humano, pouco heroico, cheio de defeitos, medos e paixões e algumas coragens súbitas - por isso mesmo tão emocionante. Como nós, ordinary people. Quem não se reconhece no rabugento ex-combatente das Malvinas, que tem medo/culpa de ser feliz? Ou no dono de restaurante cuja maior preocupação parece ser o mascarpone que falta ao tiramisù, e que precisa confrontar o Alzheimer da mãe? Ou, ainda, no advogado que sofre calado por amor, mas que tem coragem para fazer justiça e honrar o amor alheio covardemente destruído?
Acabo de falar em "pouco heroico", mas entendam isso como "pouco poderoso". Porque, no fundo, Darín só faz ressaltar em suas personagens o que há de mais heroico no ser humano: a centelha divina que nos lança na difícil aventura de existir (coragem, esperança, teimosia? chamem como quiserem), diariamente. Não é assim? Mesmo quando parece não haver sentido para prosseguir, prosseguimos.

Gourmandise IX - A hora e a vez do shitake ou cozinha "hi-lo"

Um dos ingredientes por que me apaixonei nos últimos tempos foi o shitake. Como aconteceu com a berinjela , fiz recentemente várias receitas com esse cogumelo típico de pratos orientais que ganhou espaço na culinária do mundo todo. O shitake é fácil de cozinhar (quem não experimentou grelhado no shoyu não sabe o que está perdendo), tem um gosto suave e, ao mesmo tempo, um perfume marcante.
Uma combinação bombástica é a pasta com shitake. Fiz penne ao molho de shitake com vinho branco e creme de leite. Aliás, não é preciso muito: refogar cebola e alho na manteiga e então colocar o shitake cortado em tiras, com um pouquinho de salsinha, e misturar à pasta pronta já garante um jantar gostoso e fácil de fazer. Omelete com queijo, um pouco de tomate e shitake fica igualmente bom, para um almoço rápido, saudável e mais sofisticado, acompanhado de salada verde. O cogumelo na manteiga também pode cobrir um bom corte de carne preparado na chapa e fazer dupla com arroz selvagem e amêndoas. Tudo de bom.
No final de semana, fiz um risoto com shitake e shimeji, que ficou ótimo (já pensei em algumas variações para logo). Ainda mais gostoso acompanhado por um vinho Chardonnay/Pinot Blanc/Pinot Grigio e seguido pelo brownie delicioso feito por Guga.
Eu, que faço experimentações sazonais, tenho confirmado que para ter um prato gostoso e apresentável não é preciso uma porção de ingredientes exóticos ou caros reunidos. Sabem aquela história de que uma roupa de bom corte com o acessório certo garante o sucesso de quem a usa, mais que se fantasiar de árvore de Natal? Less is more também na cozinha: contam a qualidade dos produtos (não necessariamente caríssimos, mas com certeza honestos) e a correta distribuição de "sabores", diretamente ligada à intuição e ao paladar do chef. Seguindo essa receita, podem acreditar, qualquer prato é possível e digno de elogios, com ou sem enfeites, para sorte dos convivas. E do chef.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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