segunda-feira, 25 de abril de 2016

La prima focaccia

Ainda não tinha feito focaccia, essa espécie deliciosa de pizza de forno.
Acabei usando uma receita do Panelaterapia. Como a massa praticamente não cresceu durante o descanso, fiquei em dúvida se assassinei ou não o fermento - amornei a água, mas não sei se o suficiente. Talvez devesse deixar menos tempo no forno ou em temperatura mais baixa, porque o fundo tostou um tanto. Ficou gostosa, todavia. E ainda mais bonita.
Conferi depois a receita do Sebess (não fui direto até ela porque os blogs, sabe como é, costumam dar aquela descomplicada quase sempre útil) - em lugar do fermento seco, fermento fresco. Pois é, se tivesse que fazer uma gradação de infalibilidade de fermentos (salvo condições adversas, como produto fora do vencimento ou estragado), diria que o mais infalível é o fermento químico (que não serve para todas as receitas), depois o biológico fresco e somente então o biológico seco.
Agora é fazer a receita do Sebess, resgatar minha forma quadrada de teflon paraguaio e arrumar mais uma muda de alecrim, urgentemente.

domingo, 24 de abril de 2016

Cotidiano campestre

Levanto uma hora depois de o alarme do celular tocar. Abro as janelas, ligo o computador, preparo o café. Chamo o marido, que, antes de qualquer coisa, liga a TV.
Empilho a louça na pia, troco de roupa. Cada vez que me troco, lembro como engordei. Não me animei ainda para retomar as caminhadas na esteira da pequena academia de bairro. Quando penso em caminhar pelo mato crescido até chegar à pequena academia, lembro da minha limitada mobilidade. Penso em ir de bike ao pilates no qual ainda não me inscrevi. Penso na pista a atravessar de bike. E me ocorre comprar uma lambreta. E faço cálculos de gastos com obra, contas, geladeira, lava-louça e, por fim, lambreta.
Vejo o que falta na casa - de obras a produtos de limpeza - enquanto edito meu material. Aprendo a entrar em acordo, a não sair simplesmente resolvendo as coisas. É preciso esperar o tempo do outro. De repente, já é hora do almoço. É preciso pensar em um prato rápido. As experimentações culinárias vão perdendo lugar no curto calendário semanal.
Separo roupas para lavar, verifico a comida do gato. Mais um café. De repente, me lembro de ideias que tive para a pós. A essas ideias distantes se somam a sensação de impotência de emagrecer e a percepção de pouca mobilidade.
Na hora de lavar a louça, percebo uma corda terminada por uma pequena cabeça se movendo no canto da pia. Grito. É uma cobra. O marido mata a cobra, após uma curta perseguição. No mesmo dia, não picada pela cobra, sou picada por uma caçarema, que caiu do telhado sem forro sobre mim. Sonho com o início das pequenas obras, que incluem o forro em parte do telhado.
Dói a mão, dói o polegar esquerdo. Preciso marcar uma consulta médica.
Agora só rego os vasos de temperos, pois a horta iniciada não vingou.
Leio malcriações de diagramadora, me irrito. Proponho um cinema ao marido, para desopilar. Também preciso comprar coisas que faltam para mim. De novo, desanimo ao perceber como engordei. Lembro da pequena academia, do mato alto, do pilates do outro lado da pista, da minha pouca mobilidade, da lambreta...

Vermelho e branco

Ontem foi dia de são Jorge.
Não sou devota de nenhum santo, mas tenho a maior simpatia por ele e por são Francisco. Tão diferentes, mas tão fiéis, cada um, a suas causas.
Ontem, pensei em fazer um desenho dele, como fiz há uns dois anos. Mas não rolou. Hoje, porém, minha sogra me presenteou com antúrios vermelhos e brancos, e resolvi usar aqui em casa, pela primeira vez, o vaso de cristal, com antúrios e cidreira-brasileira do nosso jardim.
Ao fundo, lá estava a foto da avenida São João, onde morei tantos anos. O branco e o vermelho contra uma paisagem apocalíptica, à espera de uma revolução, por última que seja.
No final, além da homenagem a São Jorge, a imagem é um retrato dos nossos tempos, em que o vermelho, que virou motivo para brigas no Brasil bipolar, ainda se impõe como símbolo de luta. Sem o branco da tolerância, porém, nada pode de fato transformar.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Desistir para recomeçar

Por ora, desisti da horta, ali onde fizemos o cercadinho. Quando voltamos de SP, as plantas tinham sucumbido ao calor e à falta de água. Broxada II (a I aconteceu com a visita do sapo às mudas).
No final, o lugar da horta não é completamente adequado. Vamos ter que pensar em um sistema de irrigação caseiro, especialmente para quando estivermos ausentes.
Também pesou o fato de eu não ter tido tempo de cuidar da horta sozinha, com toda a correria de fechamento de material. Porque não é só regar: tem que limpar e aplicar insumos, observar o crescimento etc.
Talvez não tenha sido boa ideia plantar as sementes direto no solo. As mudas pareciam ir bem nos vasos, mas o sapo assassino me fez buscar a outra opção, que também não deu certo.
Vou voltar aos vasos, me dedicar às ervas, até plantar uma ou outra leguminosa em vaso. Deixarei o projeto maior para quando houver estrutura adequada (bacarrão, terreno apropriado etc.).
Essa é uma daquelas situações típicas de ter de dar um passo atrás para tomar impulso para ir mais longe - é o que espero que aconteça.

A estreia da máquina de massas com rondelli gratinado

Quando tentei usar a máquina de massas pela primeira vez, não rolou (sem trocadilhos): não consegui prendê-la na mesa e era impossível assim girar a manivela e segurar a massa que saía do rolo e a maquineta ao mesmo tempo. Resultado: abri a massa com o rolo de macarrão, o que certamente não tem o mesmo resultado (a menos que você seja uma daquelas mammas originais de fábrica).
Voltei à forra e resolvi usar a máquina anteontem, para fazer massa fresca para o jantar. Dessa vez, encaixou bem na bancada. Escolhi fazer rondelli, pois queria rechear a massa. Usei a receita de massa do livro do Sebess (300 g de farinha, 3 ovo, 15 mL de água, 15 mL de óleo, 6 g de sal), mas com o modus operandi do site Desafios Gastronômicos, inspirado no Jamie Oliver, que propunha o pré-cozimento da massa (como se fossem folhas de lasanha) antes de enrolar, por 2 minutos.
A massa ficou fina e cozida o bastante. Estendi sobre panos de prato limpos e comecei a rechear, but... não tinha presunto e queijo o suficiente. Acabei reduzindo o tamanho das "folhas" de massa e por isso o rondelli virou mini. De qualquer modo, precisava de outro recheio, ou não teríamos massa suficiente para dois. Entonces, me lembrei do meu manjericão-quase-árvore e das nozes e amêndoas que trouxe da zona cerealista. Será que ficariam bons os rondelli recheados de pesto (que, na verdade, é molho?). Ainda por cima, seriam cobertos com bechamel...
Bom, se é o que tem, é o que vai ser, sem mimimi. Recheei parte com presunto e queijo, uma parte com um pesto bem rústico (menos líquido, mais pedaçudo) e ainda uma parte com presunto e requeijão. Ainda ficaram de fora algumas lâminas de massa por falta de recheio, mas consegui forrar um refratário pequeno com os rondelli. Cobri tudo com molho bechamel, que dessa vez "temperei" com meia cebola descascada, noz-moscada e uma folha de louro, antes de acrescentar ao roux e salgar.
Levei ao forno pré-aquecido por uns 20 minutos, para gratinar. Ficou muito, muito bom, especialmente os recheados com pesto.
O senão da massa fresca fica mesmo por conta do tempo. É preciso começar bem antes - demorei quase duas horas no processo todo (enquanto a massa descansava na geladeira, aqueci o leite, fiz o pesto e ainda rolou uma palha italiana). Vale a pena? Demais. Mas tem que ser uma comida de final de semana, de preferência criada a mais mãos. Do jeitinho que as mammas fazem.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Cannoli, a missão

Ontem, dia de votação do pedido de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, um show de horrores. Fomos acompanhando a votação, meio hipnotizados por tantos disparates e hipocrisia, e enquanto isso eu fazia minha primeira receita de cannoli.
Trouxe de São Paulo os tubos de alumínio (canotes) para preparar o doce (estava pensando nisso há muitos meses, desde que vi uma reportagem, já não me lembro onde, sobre os melhores cannoli de São Paulo). Como não tenho tido tempo durante a semana para fazer minhas experiências culinárias, acaba sobrando parte do final de semana para elas, e calhou ser o tétrico final de semana da votação na Câmara.
Bom, a primeira receita que testei não deu certo. Foi do programa do Rodrigo Hilbert no GNT, uma matéria a que tinha assistido, de um descendente de italianos que vive no Bexiga. O vídeo não estava mais disponível, mas segui a receita quase toda, com exceção de dois ingredientes que não tinha: vinho licoroso e cachaça.
Essa falta, parece, foi crucial na receita. Acabei adicionando água e um pouco mais de extrato de baunilha (já que este tem álcool) para dar liga. A massa ficou bem densa, mais até que uma massa de pão. Aliás, se pedia para sová-la durante 10 minutos (o que me pareceu estranho para uma massa mais delicada). Não se indicava descanso para ela, então logo comecei a abri-la com o rolo, cortar com aro e enrolar no canote.
Quando coloquei os primeiros cannoli no óleo quente, eles inflaram como pastéis e abriram, soltando dos canotes, um fiasco. E assim foi com a maioria. A massa também não era nem crocante, nem saborosa, embora tivesse chocolate em pó, canela e baunilha, além de farinha, ovo e açúcar.
Meus sogros esperavam a sobremesa quando chegamos com a notícia do insucesso. Assim que comentei com minha sogra que havia faltado a bebida, logo pensei que talvez justamente isso tornasse a massa crocante, o que ela confirmou. Como eu já tinha feito uma porção de creme patissière (só depois descobri que o recheio tradicional é ricota doce) e até doce de leite na panela de pressão, resolvi arriscar de novo, com outra receita. E agora com uma dose de pinga trazida do boteco vizinho.
Pesquisei mais umas quatro receitas diferentes, inclusive do "Cake Boss" Buddy Valastro e criei uma outra, com 30 mL de cachaça, 30 mL de vinagre branco, 2 colheres (sopa) de açúcar, 2 xícaras e meia (chá) de farinha, 10 mL de água, uma pitada de sal, uma outra de canela, gotas de baunilha, 2 colheres (sopa) de manteiga, 1 ovo. Misturei tudo até uniformizar e levei para a geladeira em plástico filme durante uma hora - a massa ficou bem mais mole, parecida com a massa de panetone. Tive mais cuidado em fechar as pontas da massa com clara de ovo e em apertar um pouquinho contra o canote.
O óleo estava megaquente, então carbonizei os três primeiros cannoli. Soltei-os dos canotes, enrolei mais massa e mandei ver. Preparei um prato com açúcar de confeiteiro, passei nele os cannoli prontos e então recheei com o creme patissière (que podia ser um pouco mais consistente, mas estava bem gostoso).
A questão agora é fazer mais vezes, testar outras receitas até chegar àquela textura crocante quase de pastel. E, claro, variar os recheios (nunca me esqueço do canudinho de doce de leite que eu e Karen provamos em Bichinho, Minas Gerais; talvez hoje achasse muito enjoativo, mas a memória afetiva é de que era um troço maravilhoso).
Mas que eles ficaram bem bonitos para uma primeira (segunda) vez, ah, isso ficaram.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Os sabores da vida


O gosto da vida muda o tempo todo. Tem dias que ela é mais ácida, mais azeda, mais amarga, às vezes tudo num mesmo dia. Outro dia, é doce como mel. Terrosa, exótica, adstringente. Salgada. Quase como o tempo em São Paulo.
Como aprecio os sabores em geral, embora tenha lá meus favoritos, gosto do gosto cambiante da vida. Como o que se apresentou no casamento de Karen e Julio, em que eu e Guga fomos padrinhos - doce é não só testemunhar, mas compartilhar da alegria de pessoas queridas. Doçura também no livro que Guga me deu a caminho de São Paulo, em homenagem aos meus gatinhos: Gatos, de Patricia Highsmith, autora de O talentoso Ripley - já me interessei pelo modo de escrever dessa mulher que entende tão bem os felinos e a crueza humana.
No bate-volta por conta do casório, as risadas com os amigos reencontrados - serão elas agridoces? Não tenho certeza, mas sei que são deliciosas, tão repletas que são de lembranças, afetos e futuros.
Já no final da nossa curta viagem, o melhor exemplo da diversidade e complexidade de sabores da vida: uma visita à zona cerealista, com seus cheiros, sabores, cores, falares múltiplos. Em casa, organizar os temperos e nomeá-los foi uma tarefa poética - assim pude olhar para cada um, pensar em para que serve, afirmar a necessária diversidade que compõe a existência.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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