terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Rolê nas imediações e restaurante ótimo

Fazia muito, muito tempo que não nos afastávamos do nosso quintal, no máximo até Açu da Torre de um lado e Lauro de Freitas do outro. Daí hoje fomos dar um rolê até Diogo, depois de Imbassaí. Já tínhamos ido uma vez até o Conde, mais distante, mas era feriado e chovia muito, então não conta muito (até porque também faz anos). Hoje, além do sol, que favoreceu a pequena viagem, chegamos a um lugar muito interessante, ainda pouco explorado mas com um ar festivo e descolado, mais que o de Imbassaí, que parece um local mais pacato embora com infraestrutura melhor. Diogo também é, por isso, bem mais interessante que Conde (apesar da chuva e do feriado já mencionados). 
Fomos conhecer o restaurante Sombra da Mangueira, ao fim de um caminho de paralelepípedos meio tortuoso mas bonito e verde. Chegando lá, vimos que ele era maior que o imaginado, muito bonito, com uma mangueira larguíssima no meio de um pátio repleto de mesas de madeira de jaqueira. Embora a atração da casa seja a moqueca, resolvemos investir na carne de sol com pirão de leite - que não fotografei, apesar da apresentação ótima, com vinagrete de tomate, arroz, feijão e farofa acompanhando. Estava tudo uma delícia, e ainda tomei meia taça gigante de sorvete de coco com calda de manga e lascas de coco queimado. O pessoal do atendimento foi muito simpático, inclusive trata bem os cachorrinhos visitantes - e uma doguinha veio ficar debaixo da nossa mesa, muito dócil. 
Pelo jeito, o restaurante fica lotado aos finais de semana, que deve ser quando a vida na vila se movimenta, com lojinhas de artesanato, sorveteria e tal. Para tirarmos a dúvida, só nos resta voltar. 

A urgência de Almodóvar e Campion nos dias de hoje

Uma das poucas certezas que tenho na vida é que amo Pedro Almodóvar. Pode até haver um filme dele que acho mediano, mas, de modo geral, no cômputo final, amo seu trabalho. Sempre me surpreendo, feliz, com as camadas que vou desvendando a cada película. Adoro as nuances hitchcockianas mais coloridas de seus closes e recortes, suas trilhas dramáticas ou tropicalmente alegres, mas principalmente suas personagens tão humanas e suas tramas profundas por mais corriqueiras que pareçam. Achei que não era possível amar mais, mas acabo de ver Madres paralelas, com Penélope Cruz. O feminismo, sempre presente na obra de Almodóvar, aparece devidamente repaginado, com questões LGBT urgentes, maternidade, estupro, identidade e a luta principalmente das mulheres para que a memória da violência não se perca - caso do reconhecimento dos corpos enterrados em uma cova de um povoado, nos primeiros dias da Guerra Civil (para mim, desde sempre, um período histórico de grande interesse). Absolutamente necessária hoje a fala de Janis, personagem de Penélope, para a jovem Ana (Milena Smit), de que ela deveria saber de que lado estava sua família durante a guerra e que esta não cessaria enquanto os corpos dos mais de 100 mil desaparecidos ao longo do regime franquista não pudessem ser enterrados por seus familiares. Aquele calor no coração que o chamado por justiça provoca, ai. Mas tenho certeza de que muita gente hoje em dia vai detestar esse chamado por justiça e liberdade de Almodóvar, como detestará também o filme de Jane Campion com 12 indicações ao Oscar, o maravilhoso Ataque dos cães
No caso de Campion, cria-se uma expectativa acerca da temática de seu filme, aparentemente um faroeste, porque o filme é ambientado em Montana, na verdade Nova Zelândia. Tudo parece ser, mas não é. O título em português irritou os não entendedores - o original é The power of the dog, homônimo do romance de Thomas Savage. Embora sim, o nome em inglês se relacione com a passagem bíblica apontada por Peter, personagem do excelente Kodi Smit-McPhee, não se perde em nada a metáfora do cão-demônio que ameaça a paz do casal Rose e George, vividos lindamente pelo casal na vida real Kirsten Dunst e Jesse Plemons (um dos meus atores favoritos no momento) - aliás, que cena mais delicada do mundo a de Rose e George tomando chá e dançando na planície! Não preciso nem comentar o trabalho do querido Benedict Cumberbatch, que tem a mesma habilidade de seu conterrâneo Ralph Fiennes para expressar um sofrimento arduamente contido. Se em Madres paralelas vemos as mulheres prontas para tudo - para lutar, para amar, para pedir ajuda, para enfrentar as consequências da verdade, seja qual for -, em Ataque dos cães, assistimos ao mundo machista engolindo a si mesmo por não aguentar a claridade ofuscante da verdade. 
Como dois filmes tão diferentes podem ter coisas em comum? Mais ainda: por que ambos podem ser tão importantes nos dias de hoje? A escrita do desejo proibido de Campion encontra a liberdade de ser de Almodóvar, e os dois caminham na busca da verdade, esse bem tão vilipendiado hoje, deformado a serviço de impostores, intolerantes, covardes. Porém, é importante que se diga que, embora Campion e Almodóvar lancem luzes sobre o obscuro, cabe somente a nós vermos. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Plant-based no pedaço

Uma expressão muito em moda no universo culinário é plant-based, ou seja, uma alimentação e mesmo um modo de vida com foco em verduras e legumes, mas também itens de higiene e limpeza, produzidos de modo ecologicamente consciente, em menor escala, preferindo pequenos produtores e com vistas a reduzir os impactos ambientais no planeta. Não é o mesmo que veganismo, pois muitos adeptos do plant-based não suprimem a ingestão de carne e ovo, só a reduzem. Ou seja, de qualquer modo, tudo de bom, pra começar uma mudança de vida. 
Claro que as indústrias alimentícia e farmacêutica já se apropriam do termo para vender produtos nem tão saudáveis assim, como já fez com o termo "orgânico". E é claro também que não estamos livres de trabalho exploratório, crueldade animal, pesticidas e hormônios (no caso de ovos e carnes) na busca pelo natural. Nem a sagrada água está livre de milhões de partículas de plástico, que provavelmente ingerimos todos os dias. É meio desesperador pensar nisso, em como nossa liberdade de escolha é limitada pelos danos causados por um sistema econômico predatório há centenas de anos. 
Mas é bom no dia a dia descobrir novos sabores em velhos conhecidos. A abóbora moranga aqui já virou quibe com recheio de tofu (que estava em promoção no mercado), abóbora assada e salada de abóbora com trigo e especiarias; a couve-flor (que anda caríssima!) já virou escondidinho e ontem fez a base do curry com vagem. Não sei se por influência desses sabores tão completos e saciadores, cada vez menos ando querendo consumir carne - aliás, desde que assisti Okja o pensamento de não comer carne instalou-se na minha mente. A ver se vai rolar mais essa transformação no dia a dia. 

Quem fala?

Acabei de ler outro livro de Elena Ferrante, Dias de abandono. Assim como em outras narrativas (os livros da tetralogia napolitana, A filha perdida, Mentiras que os adultos contam), há o contraponto entre a vida pobre em Nápoles e uma nova vida proporcionada pelo conhecimento, além dos desencontros amorosos. Mas aqui, desde a primeira página, há um quê de Simone de Beauvoir em A mulher desiludida - o que se confirma quase ao final, numa menção direta ao livro da filósofa e escritora francesa. 
Ambas, Ferrante e De Beauvoir, constroem uma narrativa do ponto de vista da mulher adulta que se vê diante de mudanças na vida a dois, com a chegada da maturidade e o surgimento de outro interesse amoroso ou outra meta por parte do companheiro. Não é difícil mergulhar nas narrativas de ambos os livros, identificar-se, sentir o mesmo, inclusive a perda do senso de realidade que há em Dias de abandono. O lugar de fala das personagens (nem estou falando das autoras, considerando aqui que Ferrante seja mesmo uma mulher) ajuda a fazer esse mergulho, pois soa bem convincente.
A propósito do assunto lugar de fala, há pouco tempo aconteceu uma suposta polêmica com Chico Buarque sobre sua canção "Com açúcar, com afeto", composta a pedido de Nara Leão, que a interpretava lindamente. Depois li uma entrevista de Chico dizendo que não houve polêmica, que ele desconhecia haver feministas revoltadas contra ele pelo teor machista da canção, que ele não disse que nunca mais cantaria a canção por conta disso. Produziu-se uma celeuma em torno de algo que não houve (é fake news que chama?). Chico disse que não canta mais porque é impossível continuar cantando todas as mais de 400 composições de sua autoria, e que essa música já tão datada não era mais cantada nem por Nara, que provavelmente a abominaria hoje. 
Um amigo meu, professor de literatura, escreveu que Chico quis retratar uma mulher que vive aquele tipo de relacionamento, está ciente dele, mas no final ela é que domina a coisa toda. É um ponto de vista. Concordo que a personagem parece ter consciência do que vive, o que não quer dizer que não sofra. Porém, como afirma Chico na entrevista, não há mais lugar para a mulher que se lamuria, que deixa de conquistar seu espaço por causa de um homem. Chico não tem, é claro, esse lugar de fala, porque é homem, mas, como artista, pode criar qualquer personagem. Como artista, pode ser que conceba personagens pouco convincentes, que erre a mão, não só em questões de gênero, mas de classe social e de raça. Mas, vejam só, Chico sempre foi elogiado por cantar a alma feminina como ninguém. Ainda acho que consegue, e ele se mostra consciente das mudanças femininas e feministas no tempo. A cantora Marília Mendonça, que morreu precoce e tragicamente, aos 28 anos, vinha mostrando o lado feminino do sertanejo, muitas vezes sofrido, nem sempre libertário, mas verdadeiro. Talvez isso seja justamente o que mais cativa, o que mais importa - a verdade iluminadora trazida pela ficção. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Arco-íris no prato e economia de gás

Das últimas experimentações que fiz, talvez a que mais me encantou foi a do bolo de caneca. Lembro que há algum tempo vendia-se o preparado em pó para quem quisesse essa versão ultra rápida de bolo. Eu tentei fazer uma vez, acabei carbonizando o dito, então nunca provei de fato. Daí, porque tinha sobrado milho na geladeira, acabei encontrando uma receita de dona Rita justamente de bolo de milho de caneca. Não fica lindo, mas é muito fofo e saboroso. 
Também gostei do nhoque de ricota e da abóbora assada para montar salada - aproveitei e usei a abóbora assada para comer tal e qual, além da salada com trigo e especiarias. Assei ao mesmo tempo a abóbora e o repolho, este com manteiga - confesso que tinha mais expectativas quanto a ele, mas talvez a manteiga, não tão boa, tenha atrapalhado a experiência. 
Comecei a aproveitar o forno para assar mais de uma coisa - desde que sejam ou alimentos salgados, ou só doces - por medo de ver o gás acabar no meio da preparação. Foi o que aconteceu hoje, na verdade enquanto esperava a massa do pão crescer (tudo bem que o último botijão durou 5 meses). De todo jeito, me parece uma medida coerente com um modo de vida menos dispendioso, mais atento. E o preço do gás está pela hora da morte.
E sigo tentando deixar os pratos mais coloridos, dica do dr. Carlos Monteiro, professor da Faculdade de Saúde da USP e autor do Guia para alimentação da população brasileira, na dobradinha com Rita Lobo no curso "Comida de verdade", lançado na internet em 2016. Foram-se os dias da comida única e exclusivamente amarela, rá!

Uma batida e alguns aprendizados

Ainda não consegui retomar o pedal. Adentrando o segundo ano da pandemia, ou terceiro, a depender do ponto de vista, uso a bicicleta para ir aqui ou ali rapidamente, mas não para um treino mais longo. 
E tão destreinada estou que, saindo do shopping, deixei de olhar para o lado quando desviava de um motorista que não me via e continuava manobrando o carro na ciclovia e acabei batendo num outro carro que passava. Por uma enorme sorte minha, a motorista vinha bem devagar, eu bati quase de lado e ela foi muito amável e compreensiva diante da minha consternação. Fiquei nervosa com o outro motorista, nervosa com o que poderia ter acontecido de mais grave e envergonhada de eu mesma ter sido tão desatenta e ainda arranhar, mesmo levemente, o carro de uma pessoa que não tinha nada a ver com isso. Ela se certificou de que eu não tinha me machucado, passou álcool nas minhas mãos, o segurança do shopping ajudou a colocar a corrente da bike no lugar, e eu voltei pra casa, coração aos pulos. Por sorte, muita sorte, só ralei as mãos e bati um joelho e um cotovelo, de leve.
Tudo isso pra aprender a não perder a atenção jamais enquanto pedalo e a não deixar minha indignação com os irresponsáveis me tornar uma irresponsável também.  

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Mais testes para uma nutrição mais eficaz

Fiz um quibe com proteína de soja, quinoa, trigo para quibe, tahine, castanha de caju, hortelã, cebola e alho, além de pimenta síria, claro. Ficou uma delícia, mas desmontou ao cortar. Ainda não pesquisei o que pode ter dado errado, já que segui todos os passos necessários (hidratar trigo e proteína, cozinhar quinoa).
Também testei um bolo de maçã de frigideira da Verônica Laino, sem farinha: leva aveia, ovo, chia, açúcar mascavo, fermento, água e uma maçã cortada em fatias. Dei uma aumentada na receita sem aumentar a maçã, tudo para caber na frigideira - ficou bom, mas deve ficar melhor seguindo as quantidades certas. 
Ao final, tudo na vida são tentativas. Umas dão certo, outras não.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog