terça-feira, 23 de julho de 2013

O mundo de solidões de Daniel Galera, e nosso também

"No fundo, é uma história sobre a solidão", me disse Guga. Estávamos conversando sobre o livro Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera. Ele tinha acabado de comprar tudo o que achou do autor gaúcho depois de ler o romance de 2012, e me emprestou o dito, como costuma fazer quando se entusiasma muito com um livro.
A pilha de empréstimos às vezes cresce, e o namorido fica meio chateado por achar que não partilho do seu encantamento literário. Mas não é de propósito: é que preciso estar no espírito para ler determinado livro. E foi o que aconteceu com o volume de 422 páginas devorado em 3 dias.
É, sim, uma história sobre solidão. E porque trata de solidão me parece verdadeira e absorvente, como as melhores histórias. Na minha opinião, todas falam de solidão e busca. Afinal, não é assim toda vida humana? Lo creo.
A trama em si não tem nada de simples, embora me pareça totalmente verossímil. O professor de natação sem grandes ambições mas bom no que faz resolve morar numa cidade pequena. Vai em busca de uma história mal explicada sobre a morte do avô, pouco depois que seu próprio pai comete um suicídio tranquilamente anunciado. O protagonista que parece pouco intenso em termos emocionais se enfronha na vida (dele, mas que também é do avô, do pai) de forma quase violenta, instintiva, corajosa e irracional. O que quase contrasta com suas teorias intelectualizadas sobre a vida e a subversão que faz do budismo - ele se diz pouco intelectual em relação à ex-mulher, que o trocou pelo irmão, escritor bem-sucedido. Desconfio, nesse ponto da narrativa, que ele tem uma imagem distorcida de si mesmo.
E aqui há uma sacada do autor, algo que me pegou pelo estômago,  mais que o foco narrativo em mudança constante, diálogos e personagens bem construídos: a dificuldade do narrador de fixar rostos e ter de usar truques para se lembrar de alguém, e o olhar no espelho e não se reconhecer. Tem algo de pessoano nisso, embora eu não tenha a menor ideia de "quem" sejam as referências de Galera. Aliás, as associações que normalmente fazemos com autores, artistas, filmes acabam sendo um desses truques de reconhecimento - não dos artistas, autores, filmes, mas de nós mesmos. Na minha cabeça iam pululando Marçal Aquino, Pessoa, Hatoum, Camus, o Rosa de A terceira margem do rio. Tudo inútil, porque não cabia mais ninguém na trama além de um protagonista sem nome.
Isso para não falar do suicídio. Tem gente que simplesmente não pode mais com a vida, e resolve dar cabo dela - eu não concordo, mas até entendo. Ou da necessidade de perdoar, importante sim, mas que muita gente confunde com "vamos fingir que não aconteceu", como quem finge ignorar as cicatrizes que cobrem um rosto. Enfim.
Se Daniel Galera não escrevesse tão bem, tudo isso já seria motivo para lê-lo.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

De boca cheia ou Gourmandise XXVII: Lasanha vegetariana de berinjela

Eu posso falar de boca cheia que tenho amigos muito legais! E eu simplesmente ADORO vê-los de boca cheia de alguma invencionice gastronômica minha, como a lasanha vegetariana que fiz para 3 vegetarianos (não sobrou nada da lasanha para fotografar).
Misturei as receitas de moussaka e de lasanha de berinjela, tirando toda carne. Ficou assim, para 8 porções:
- 4 berinjelas grandes, cortadas no sentido do comprimento
- 1 cebola grande sem casca e picada
- 1 colher de sopa de azeite de oliva
- 2 latas de tomates pelatti ou 400 ml de molho de tomate
- 400 g de queijo mussarela
- pimenta do reino moída na hora
- 1 xícara de café de ervas frescas picadas: sálvia, tomilho, manjericão
- 1 xícara de chá de vinho tinto
- 1/2 litro de leite
- 3 colheres de sopa de farinha de trigo
- 1 pacote de 100 g ou uma xícara de chá de queijo parmesão ralado
- noz moscada
- sal a gosto

Corte os tomates em pedaços menores, e reserve junto com o molho, caso tenha optado pelos pelatti. Refogue a cebola no azeite; quando ficar dourada, junte a ela o molho de tomate e acrescente sal e pimenta do reino. Deixe cozinhar por uns 5 minutos para então acrescentar o vinho. Cozinhe ligeiramente as fatias de berinjela nesse molho, retire-as e reserve. Desligue o fogo e acrescente ao molho as ervas picadas (só nesse momento porque o manjericão não curte altas temperaturas).
Prepare o molho bechamel. Dissolva em uma panela a farinha no leite até que não reste nenhum grumo. Tempere com um pouco de noz moscada ralada e sal e leve a engrossar em fogo médio. Quando começar a ferver, baixe o fogo e acrescente uma colher de queijo parmesão ralado. Deixe engrossar só mais um pouquinho, acerte o sal e desligue.
Comece a montar a lasanha: 1 camada de fatias de berinjela, 1 camada de molho de tomate e 1 de mussarela, até o final. Cubra tudo com o molho bechamel, polvilhe o restante do parmesão e leve ao forno médio por cerca de 30 minutos, ou até dourar a superfície.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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