quinta-feira, 25 de março de 2021

Frozen yogurt de whey protein e tortinha do McDonald's na airfryer

Duas receitas no final da semana passado: frozen yogurt com whey protein no lugar do leite em pó e com um pouco de xilitol e tortinha do McDonald's de minha amiga Luciana Tchu. 
O sorvete, sem muito segredos: troquei o leite em pó por whey, adicionei um pouco de xilitol, a coalhada que tinha feito, um pouco de baunilha. Bati na sorveteira e pronto. Ficou um pouquinho flocado na consistência, mas o sabor é ótimo, quase tão perfeito quanto o frozen costumeiro.
Quanto à tortinha, cismei de experimentar primeiro uma receita de massa semifolhada da Rita Lobo, mas não deu certo. Ficou muito quebradiça, imprestável. Daí, depois de um quase acesso de raiva, retomei a receita da Tchu, pá-pum, e na hora do jantar tivemos uma tortinha deliciosa preparada na airfryer. Imagino que no forno fique ainda melhor, inclusive quanto à aparência. Aliás, a forma ficou meio atropelada porque eu estava no meio de uma chamada de aniversário de minha amiga Marise. Enquanto conversava com as outras bruxas, fui abrindo massa de torta e finalizando lasanha de berinjela. Daí a tortice da torta. 

domingo, 21 de março de 2021

A obra que podia ter sido

Terminei de ler Torto arado, do Itamar Vieira Jr., esta semana. Tinha muitas expectativas quanto ao livro, que descobri pouco depois de ter sido lançado, já premiado em Portugal mas ainda sem o Jabuti subsequente. Comecei animada, querendo saber a história das duas irmãs quilombolas que vivem no coração da Chapada Diamantina. Itamar é geógrafo e começou a escrever o romance ainda jovenzinho. Depois tornou-se funcionário do Incra, e pôde se aproximar, por conta do trabalho, dessas populações interioranas. 
De fato, há muitas descrições de paisagens naturais - mas pouca exploração dos hábitos cotidianos. Fala-se um pouco do que acontece no terreiro, fala-se dos alimentos que os moradores da região encontram na seca e na enchente. Mas há poucos aromas, poucos gostos, poucas cores. Inevitável pensar em autores que exploram a luminosidade extrema em paisagens assemelhadas, como Graciliano, Jorge Amado, até Camus, com seu Meursault cego pela luz do sol. Graciliano e toda a geração de 30, assumida referência de Itamar, que conseguem nos guiar pelos desertos, nos fazem ter sede, fome, ilusões de ótica. 
O que mais me incomodou, porém, foi, como sempre, a construção das personagens, mais especificamente a forma como falam com o leitor. Uma das irmãs se interessou por estudar, a outra se interessou pela lida na terra. No entanto, ambas se expressam em sua apreensão da realidade de forma muito sofisticada. Claro que a sabença não está só no saber dizer, mas principalmente na forma como se pensa. Mas, mesmo no pensar, a linguagem acompanha o pensante, ou é o que costuma acontecer. Não é o que acontece no livro. A linguagem pensante de ambas tende ao rebuscado, inclusive com pouco do vocabulário local. As expressões locais, tanto da Chapada quanto da Bahia, pouco integram os pensamentos das irmãs. Poderia ser uma história de qualquer lugar. 
Alguém pode alegar que uma boa história é uma história de todo lugar. Sim, mas neste caso é tão importante o lugar em si - tudo gira em torno do pertencer àquela terra - que é estranho que ele não se entranhe completamente no falar-pensar das personagens. 
Por fim, surge uma terceira voz narrativa, a de uma entidade. Descobrimos, sem que tenha sido dada nenhuma pista anterior, que o elemento sobrenatural explica a morte de um algoz da comunidade quilombola. A ideia é ótima, aliás, o argumento geral do romance é todo ótimo. Mas daí chegamos ao título do post, sobre o que poderia ter sido a obra, e não foi, pelo menos para mim. Talvez para o autor tenha sido suficiente, acredito que foi sim. Para mim, foi como dar muitas braçadas, mesmo sem muita esperança, sabendo que ia morrer na praia. E morri, eu, leitora, à beira-mar, cheia de sabão na boca. 

domingo, 14 de março de 2021

Bananarama

Banana a dar com pau, de novo. O que fazer? A vantagem do doce de puta, como lhe chama Jorge Amado, é que leva muita banana, quanta você quiser. Hoje inovei no uso de açúcar mascavo para fazer o caramelo, tanto do doce quanto do recheio de uma torta da Rita Lobo, que preparei para deixar congelada (ou seja, só saberei o quanto é boa outro dia qualquer). 

Como os antifas se vestem? Como vivem?

OK, OK, nenhuma novidade no meu encantamento pelo grupo ECDE. E eu estava aqui ansiosa com receber minhas compras, que demoraram a chegar porque ficamos esperando uma alma caridosa vir para estas bandas. E hoje veio Dani, com os pacotes todos. 
Tentamos fazer nossas selfies, sempre um fica de fora, apelamos pro contador da câmera. E bons materiais das roupitchas todas, o atendimento ótimo, estou apaixonada por esse grupo de compras. E minhas canecas pra organizar minha mesa. 
Eu sempre me surpreendo com a criatividade da galera. Tem gosto pra tudo, claro, mas há muita coisa linda, delicada, sofisticada, bem-humorada, singela, apetitosa, necessária, mimosa. E o melhor de tudo é o trato no geral. E imaginar que ainda existe gente que pense como a gente neste país mergulhado na lama. Que compartilha com a gente alguma esperança com a anulação da condenação de Lula pela Lava-Jato curitibana. 
Imagina-se muita coisa sobre a esquerda. Que as mulheres não se depilam, por exemplo. Que são tão feias que não vale a pena estuprar (palavras do atual chefe de Estado contra uma colega). Eu tenho convicção que, para ser de esquerda, e portanto antifascista, é preciso ser solidário antes de tudo. Porque isso tem a ver com buscar justiça e igualdade, a não se comprazer da dor alheia, da fome, do desespero do outro. No mais, é gente que trabalha, estuda, se relaciona, mas, diferentemente dos fascistas de plantão, importa-se. Com o outro, com o planeta, com a natureza. Ou assim deveria ser. 
Eu vejo essa galera da ECDE, que nem conheço pessoalmente, e sinto um quentinho no coração. Uma esperança, como a da Graúna do Henfil. De que é possível mover o mundo na base da união, de uma economia solidária e modesta - não pobre, mas justa. De que é possível ser gentil com quem não conhecemos, ser ético com quem nunca vimos. Apoiar mulheres, trans, gays, negros, mães e pais de família - sem conhecer. 
Outro dia, me caiu nas mãos um texto ótimo de Michel Alcoforado sobre a empatia, sua diferença com a compaixão. O exercício da empatia, dizia o texto, se limita normalmente a um grupo de iguais, àqueles em cujo lugar conseguimos nos colocar, já que somos sempre autorreferentes quanto a isso, enquanto a compaixão é muito mais ampla porque implica em reconhecer a dor do outro, e não em se colocar no seu lugar. Por isso o Bozo é empático com seu cercadinho, e não com a esmagadora maioria do país, para a qual ele não tem nenhuma misericórdia. 
Enfim, tudo isso só pra dizer que me orgulho de ser de esquerda, de ser antifascista e que o aprendizado é longo, e sim, é preciso estar atento e forte. A luta é agora, a luta é sempre.

sábado, 13 de março de 2021

Um pão de hambúrguer perfeito e um lockdown imperfeito

Temos vivido nas últimas semanas sob toque de recolher. Não é um lockdown, como alguns insistem em dizer. São medidas medianamente restritivas - o povo continua nas ruas, mas metade do comércio, considerado não essencial, permanece fechado. Tudo deve fechar entre 20h e 5h e bebidas alcoólicas não podem ser vendidas entre sexta-feira e domingo. Só.
Como ouvimos dizer que talvez a Bahia endurecesse essas medidas - ainda longe do lockdown, importante dizer -, fechando o comércio inclusive no final de semana, resolvemos nos adiantar e sair pra comprar víveres. Pensamos em almoçar em Lauro, mas estava só rolando delivery, para revolta do marido. Quando chegamos por aqui, o shoppingzinho também só estava oferecendo sandes por entrega, que devia ser combinada pelo app. Bueno, almoçamos macarrão com uma pitadinha de amargura. 
Pra compensar o não sandes do almoço, tive a ideia de fazer para o jantar um pão de hambúrguer, já que tinha sobrecoxa descongelada à mão. E fritas na Fritza, um luxo. Resolvi usar uma receita ainda não experimentada do meu hoje abandonado livro do Sebess, que me socorreu tantas vezes.  
E, então, com o distanciamento imposto pela pandemia à feitura dos pães, tive alguns insights. Li a receita, achei bem balanceada e rápida, mas adicionei por conta própria um pouquinho de leite em pó, para ter mais gordura e um gostinho. Modelei de dois jeitos - abrindo a massa e cortando círculos e boleando. Me ocorreu que talvez do primeiro jeito eu tivesse um pão mais aerado, menos denso do que o boleado (meus pães de hambúrguer são sempre boleados, e alguns ficam mais pesados do que devem). E pincelei com manteiga derretida, em vez de ovo - normalmente utilizado em brioches. Trinta minutos de descanso antes de modelar, mais trinta para crescer, enquanto o forno aquecia, mais trinta de forno a 200 graus, depois um pouquinho de grill para escurecer mais um tiquim. 
Cara, foi o melhor pão de hambúrguer que fiz. Talvez baixe mais o forno para deixar mais tempo sem o risco de queimar embaixo e para dourar mais a casca, deixar esfriar com a porta do forno entreaberta para não enrugar. Mas, de resto, supermacio. O que foi cortado em círculos não cresceu tanto, talvez devesse abrir menos a massa - mas foi o que ficou mais aerado. O boleado ficou muito mais macio do que seus antecessores. 
Com a sobrecoxa de frango frita, ficou melhor que o do KFC. Como disse o marido, só faltou um pouco de alface americana para ficar perfeito (para mim, já ficou). 

Ingredientes (para 4-5 pães):
- 250 g de farinha de trigo
- 75 g de manteiga em temperatura ambiente
- 5 g de sal
- 7 g de fermento biológico seco
- 10 g de leite em pó
- 150 mL de água
- 75 g de açúcar

Junte os secos e vá adicionando aos poucos a água. Incorpore a manteiga quando tiver formado uma massa mais homogênea; sove por cerca de 10 minutos, até descolar da batedeira ou tigela. Deixe descansar por cerca de 30 minutos e então modele os pães, distribuindo-os sobre uma assadeira e cobrindo-os com plástico. Conte mais 20-30 minutos de fermentação, então aqueça o forno a 200 graus por mais 30 minutos. Ao final de quase uma hora (fermentação + tempo de aquecer o forno), deverão ter crescido bastante. Pincele cada pão com manteiga derretida e leve ao forno por 30-40 minutos, até dourar a casca, cuidando para não queimar a parte de baixo. 

domingo, 7 de março de 2021

Tarte tatin desconstruída e reconstruída/batata gratinada do Viena

Em meio à piora da pandemia, apesar da tristeza toda, resolvi fazer um jantar gostoso no sábado.
Tinha ainda três maçãs da Turma da Mônica, as pequeticas, na geladeira, depois de ter feito curry de frango no almoço. Resolvi testar a tarte tatin, inédita aqui. Receita da Rita Lobo, que adaptei reduzindo a quantidade de açúcar uns 20% e trocando o refinado pelo mascavo. 
Quando fui montar as escamas de maçã na forma redonda, vi que não eram suficientes para cobrir o fundo. Transferi para uma de pão, retangular. Deu certinho, tarte tatin desconstruída. Mas, na hora de desenformar, as maçãs ficaram todas coladas no fundo - e tive que reconstruir usando uma pinça. Tinha feito indefectível sorvete de creme para acompanhar, e ficou tudo perfeito. 
Também resolvi usar o shitake seco na receita de batatas gratinadas do Viena, lá do blog Desafios Gastronômicos. Quando fiz a primeira vez, não ficou muito legal - as batatas ficaram duras, porque eu tinha entendido o gratinar como levar ao grill do forno. Como o grill do forno gratina em 10 minutos, as batatas, mesmo cortadas finas, ficaram ainda cruas. Ontem, aferventei as lâminas de batata, deixando-as imersas em água quente por uns 40 minutos, mesmo tempo para hidratar o shitake. Depois, molho feito com cebola refogada, os shitakes picados em lâminas, alecrim, creme de leite, pimenta e sal. Montei as camadas com batata e molho, cobri com parmesão e levei ao forno por 20 minutos, mais 10 minutos de grill. Ficou uma delícia. 

Um ano de quarentena

É sério: não consigo curtir fotos de amigos e conhecidos en voyage por aí, desde que a pandemia começou e ainda mais agora, no seu pior momento. Teve até quem tentasse se justificar, porque já havia comprado pacote de viagem e tal, mas me desculpe, acho que não há o que dizer a quem resolve viajar e ficar se exibindo sem máscara em paraísos tropicais, pobrezinho-tão-cansado-da-pandemia, enquanto contabilizamos mais de 250 mil mortos. É desrespeitoso e absurdo demais esperar que disso venha um like. Isso vale para anônimos e famosos. Mas é assim que chegamos a um ano de quarentena, assistindo a esse show de horrores humano, nas altas e baixas esferas. 
Hoje tomamos sol na grama, no nosso privilégio de classe média baixa. A maior parte dos estados brasileiros vive situação de calamidade, com 90% ou mais de leitos ocupados, gente morrendo dentro de ambulâncias ou em cadeiras fazendo as vezes de leito em hospitais. O governador baiano chora ao se solidarizar com um pai que perdeu sua filha de 16 anos para a Covid-19. O perverso-mor continua lançando suas chispas de ódio, cortina de fumaça para os descalabros familiares, como a recém-comprada mansão do filho mais velho, que está conseguindo se livrar da maior parte das investigações contra ele. Continuamos apáticos diante da hecatombe, da onda gigante, tsunami de destruição. Nem em meus piores pesadelos eu sonharia em viver uma situação assim, em assistir ao desastre brasileiro, à derrocada humana, a uma crise humanitária mundial.
É desesperador imaginar que dias piores ainda virão, com muita gente morrendo não só de Covid, mas de fome e pela violência, porque tudo agora está interligado. Mesmo fazendo força para manter o equilíbrio, a alma não pode sair intacta. Mesmo tendo mais clareza do que importa, do que trago para dentro como mais valioso, é difícil sonhar o futuro.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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