terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Onde todos os caminhos se cruzam

Quando, no século XIX, os urbanistas começaram a usar o termo "artéria" para descrever as grandes vias que brotavam nas cidades modernas (especialmente Paris), nem imaginavam o que viria pela frente: um volume tamanho de veículos que provocaria o entupimento geral das veias urbanas, prenunciando o completo colapso de órgãos urbanos vitais.
Terá chegado o dia do Grande Congestionamento profetizado por Ignácio de Loyola Brandão em Não verás país nenhum?
Parece que estamos perto. E o filme de Phillipe Barcinsky, Não por acaso, de 2007 ("não por acaso" produzido por Fernando Meirelles - suspeito que vêm daí as tomadas maravilhosas do centro de São Paulo, que reapareceriam de forma mais apocalíptica em Ensaio sobre a cegueira, de 2008) mostra o lado humanizado do caos urbano, com personagens que pensam ter controle sobre tudo - um deles, o engenheiro de tráfego Ênio (o sempre ótimo Leonardo Medeiros), pensa controlar inclusive a própria cidade, que enxerga como uma rede lógica e perfeitamente interligada.
Bom, acho que nem preciso dizer que um mesmo evento trágico terá efeito sobre as certezas dos personagens - mas também trará mais luz às suas vidas.
Acho que por isso me encantei tanto com a imagem dessa janela, que traz o sol para dentro de um quarto vazio, onde entra a filha recém-descoberta de Ênio - só um dos exemplos da bela e nada gratuita fotografia do filme.

Um comentário:

  1. Boa noite!

    Não sabia desse filme. Aparenta ser interessante e casos vários fatores me ajudem (não tenho como explicar) vou ver o filme também. Lembro da época em que comecei ver os meus primeiros filmes alternativos, alguns nacionais, os franceses, um ou outro italiano, até chegar no cinema argentino que tem filmes muito bons também.

    Acho que, e essa é uma teoria sem maiores informações, que lá na Argentina o cinema alternativo é melhor recebido pelo público.

    Tem uma série nacional que eu gosto muito que tem o título: "Tudo que é sólido pode derreter". Ela trata dos conflitos adolescentes da protagonista sempre tendo como pano de fundo uma famosa obra da literatura de lingua portuguesa. Entretanto uma segunda temporada não deve sair do papel. Um produto de qualidade, mas que não teve o devido reconhecimento para ter continuação.

    Sobre o congestionamento urbano, um pouco mais de piora no transito e estamos quase lá. Mas a industria quer e "precisa" a cada ano aumentar o percentual de vendas do ano anterior, enquanto a sociedade cada vez mais se diminue em vários outros aspectos.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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