Algo que tenho trazido à luz, que estava louco pra sair do escuro, era um lado mais feminino da alma. Além de eu nunca ter tido uma educação de "prendas" (algo que, de qualquer modo, já não era tão comum entre as meninas da minha geração), desde cedo tive minha sensibilidade e minha criatividade cerceadas pela figura paterna. Para me adequar/sobreviver, sempre mostrei meu lado mais forte, combativo - que é ótimo, que me ajudou a ir mais longe do que talvez fosse de outra forma. Mas que não sou eu inteira.
Aí, de uns tempos para cá, a alma começou a fazer barulho. Muito barulho. A mandar mensagens misteriosas (lembrei de O mundo de Sofia!) que me faziam ter vontade, de uma hora para outra, de dançar. Eu, que nunca fiz balé e afins. Algo que nunca desejei? Não - sempre achei lindíssimo, sempre me pegou pelo ventre, não o balé, mas danças mais terra a terra como o flamenco. E de repente fui fazer uma aula, pensando comigo mesma: se não levar jeito, tudo bem, desisto. Afinal, levo jeito? Na verdade, não me preocupo mais com isso, nem penso em ser bailaora, mas AMO quando consigo olhar só para dentro de mim, quando a imagem no espelho vai desaparecendo, tudo ao redor vai se esvaindo e só ouço os sons dos tacones e sinto os movimentos dos meus braços, pernas, cintura.
A alma, porém, continuou seu ruído: ela queria mais. E lá fui eu fazer sumiê - uma busca até então inconsciente da ancestralidade, talvez a parte mais yin dessa minha ancestralidade, já que a outra parte era tão presente e tão afirmativa, yang mesmo. Descobri/entendi de onde vinha um tipo de comportamento, encontrei uma atividade que me obrigava a respirar, a esvaziar a mente, a ficar completamente presente. Assumi minha habilidade-sem-técnica manual, artística.
Alguns dias depois, outra mensagem misteriosa: quero bordar! Fui ao armarinho, como já contei aqui, e, munida de meadas e agulhas, me pus a inventar coisas, ainda sem nenhuma técnica. Um ponto de cada vez, e as imagens foram se formando. Para meu espanto, ouvi dizer que estava bonito. Outra atividade que me colocou em contato comigo mesma, mas que agora trazia à tona minha criatividade. Claro que é angustiante que o flamboyant demore tanto a ficar pronto, mas criar não é algo que esvazia: parece um olho d'água rompendo o solo seco e se transformando em um fio, um rio, um mar. Lavando, nutrindo, comunicando.

Q, bom q. sua alma também é rebelde e q. gritou com a intensidade necessária pra vc ouvir os gritos. Seu texto mostra q. não foi só vc q. ganhou com eles. Ganhamos nós, pelo texto, e pelas transformações q. vc tem vivido, q. ecoaram tb aqui! em Atibaia em um pouco em cada parte do mundo!! Bj
ResponderExcluirQue delícia, que bom saber que a transformação pessoal positiva afeta positivamente (opa, não é que afetar tem a ver com afeto?) os amigos, mesmo à distância! E esse carinho revelado reverbera em mim também. :D
Excluirbeijos!