quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O grande encontro

Encontrar-me comigo mesma. Um encontro dessa importância só podia ser num lugar muito especial, no meio das montanhas da serra da Mantiqueira. Graças à indicação de diferentes (e igualmente queridos) amigos, conheci o hotel Ponto de Luz, em Joanópolis.
Imagine chegar a um lugar onde nos esperam com sopa de abóbora à mesa e perguntam se queremos uma bolsa de água quente para aquecer um pouco mais a cama... Dormir ao som da cachoeira e acordar com pássaros cantando (e não terríveis pombas arrulhantes). Receber a cada dia ervas frescas para um banho purificador e também um suco desintoxicante (três vezes ao dia). Sentir cheiros deliciosos estrategicamente espalhados em cada canto, mas também curtir os odores mais campestres ao redor - não só o maravilhoso de mato molhado, mas até o do que as vacas obraram... Receber cuidados de fato, em um ambiente com tantos detalhes preciosos. Ver a névoa concentrada na mata subindo até se desfazer no céu azul. Poder caminhar em meio ao verde, fazer meditação conduzida por terapeutas competentes e delicados. Não é assim uma hospedagem econômica, mas uma viagem para o interior de si mesmo certamente não tem preço.
Cheguei machucada, carregando uma pesada bagagem de medos. Não digo que voltei novinha em folha, mas voltei inteira, íntegra, presente, com um alumbramento de quem sou eu. De que sempre tive coragem, mesmo que mal dirigida. De que meus sonhos eu é que devo seguir, de que aos meus caminhos eu é que devo dar curso. Voltei a respirar, vou aprendendo a usar toda a força dos meus pulmões. Joguei mágoas fora junto com as ervas do banho. Conversei aqui e ali com os dois outros únicos hóspedes, cada um com suas feridas, a gente se ajudando nos eventuais encontros, um sorriso (mesmo ainda não tão alegre, mas cada vez mais animado), um olhar de compreensão, uma história assemelhada. Bom o compartilhar em meio aos encontros e embates consigo.
E o contato com a natureza me faz lembrar como são sábios os outros animais, que dançam ao ritmo dela em vez de lhe fazer oposição, tão diferentemente de nós, que acreditamos controlar tudo, a natureza, a vida, os outros. Ao menos, estou procurando internalizar a ideia de que tudo pode ser bem mais simples, menos sofrido, mais natural, a própria nova vida que quero ter.

2 comentários:

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog