domingo, 4 de maio de 2014

Amores que se escolhem

O que leva uma pessoa que tem rinite alérgica a adotar não um, mas DOIS gatos? E ainda mais num momento de contenção de despesas e necessidade de reflexão - será uma autossabotagem? Ou será uma forma inconsciente de cura - da alergia, mas também da necessidade de ter controle? Também acho que é uma forma de dar afeto a quem precisa (e o aceita de bom grado).
O fato é que eu queria um gatinho só, mas a cuidadora, Carol, não queria separar os dois irmãos grudados, que ela chamava de Tico e Teco. Combinamos fazer um test-drive pra ver se eu me adaptava - não só porque nunca tive gato, mas porque desconfio fortemente que sou alérgica à saliva dos bichanos.
Para incrementar o quadro, eles chegaram numa época de estiagem, fatal para os alérgicos como eu. À minha crise de rinite seguida de sinusite emendou-se uma gripe. E por isso tudo a casinha deles fica na varanda. Acesso negado, claro, ao meu quarto (até porque, embora respeite quem faça isso, acho que cada um no seu quadrado é ótimo, bichos de um lado, humanos de outro).
A adaptabilidade deles me encanta e ensina: também não faço a linha "sou escrava do meu bicho" (pelo menos por enquanto!), então estabeleço muitos limites. Claro que eles são naturalmente teimosos - tentam burlar a vigilância duas, três, quatro vezes -, mas também são inteligentes, e acredito que entendem as regras da boa convivência. Mesmo levando umas broncas, são carinhosos (especialmente o Chico, maior que o irmão Zen, um pouco mais arisco).
E assim é: devemos ficar juntos, a menos que a vida nos separe, por uns bons 15 anos. Imagino uma vida mais livre para eles também daqui a pouco, quando eu tiver um cantinho mais com minha cara, uma vida mais a ver comigo. Pretendo continuar viajando, mas agora somos três. Nada disso me assusta, porém. Resolvi enfrentar a alergia por eles, mas principalmente por mim, que quero poder respirar com toda força dos meus pulmões.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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