domingo, 29 de junho de 2025

Jam no MAM, geleia à beira-mar

Por fim, fui. Ganhei uma cortesia de Samuel, colega da pós, e achei que era a hora. Realmente, é mágico estar à beira-mar, em pleno Solar do Unhão, ouvindo a passagem de som, vendo gente de todo tipo se ajeitando para assistir à miscelânea organizada, regida pelo ótimo Ivan Huol, criador do Microtrio e da Jam no MAM. Ainda por cima, teve um tom junino (e não choveu, presente de são Pedro), com direito a sanfona, que eu adoro. Teve Ângela Velloso, sampleando com a guitarra baiana, vixe, essa moça pode tudo! Bom demais. 
Carinho na alma com gosto de geleia, pois formiga estou.  

segunda-feira, 23 de junho de 2025

"Planejar para descaralhar"

Ontem, no perfil da Kiusam de Oliveira no Instagram havia um corte do programa Multipolar, do Michel Mamede, com a atriz Shirley Cruz. Eu não a conhecia, e fiquei encantada com o ensinamento deixado por ela, sobre a necessidade de "planejar para descaralhar", ou seja, chutar o balde com classe quando necessário. Ela contava o episódio de ter sido convidada para fazer uma cena em um filme da Anna Muylaert, que ela recusou, dizendo que a cena podia ser feita por qualquer atriz, e ela tinha muita energia a oferecer, um "útero para colocar na mesa". Como não se apaixonar? E a justificativa, segundo ela, é a de, apesar de precisar pagar boletos, ser necessário se impor - até quando ficaria fazendo "cenas"? Maravilhosa! O resultado foram alguns papéis como protagonista em filmes da própria Anna, inclusive o premiado e prestes a estrear A melhor mãe do mundo (prêmios de melhor atriz para Shirley, melhor roteiro e melhor fotografia no Cine PE e de melhor filme em festivais franceses). 
Hoje, em mais uma tentativa de receber por um trabalho feito há quase 3 meses, dei uma leve descaralhada. Já fui de descaralhar mais, mas a precarização dos trabalhos nos faz perder o élan, guardar as armas. No entanto, hoje resolvi que não, que ia dizer umas coisas. Da minha experiência e amor pela educação, do descaso e desorganização deles. Do cumprimento de prazos exíguos retribuído com falta de informações e adiamentos sem explicação. A resposta, muito pró-forma, veio só para ganhar tempo enquanto a editora faz o que quer. 
Em algum momento, provavelmente receberei o devido, mas a questão é fazer com que enxerguem a profissional por trás da troca de mensagens. Talvez não mude nada. Mas, para mim, é um primeiro passo antes de simplesmente dizer não, recusar o trabalho precário. Ainda chego a Shirley, mesmo depois dos 50. 
Nem sempre precisamos ser educadas não. Mas planejar é sempre bom, mesmo para chutar o balde.  
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp-LyLwH4meK607U3tFi7Hsw05GnoZIxuu0IcbplfGe5LyOpgwi19odYr7oa-fv_wm3jIXM7rAo-yZmPPHceL_-ya4c7NqVlaWuHJlsC9sOVhGM36XkhcJoeFcxhGr-YsFAdjOu75NYrs3TnQGZohjfIHQoGs83kgwO6SZgXA4pB9uQnnXx1xZqt9OYaS_/w640-h426/5656569.jpg

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Questões de classe(s)

Há alguns dias, fui assistir ao novo filme de Juliette Binoche, Entre dois mundos, do diretor francês Emmanuel Carrère. De cara, me lembrei de Dias perfeitos de Wim Wenders, por Carrère mostrar a rotina de trabalhadoras na limpeza de banheiros e cabines de navio. Claro, são duas propostas muito diferentes, o longa de Wim Wenders se assemelha a um haikai, tamanha sua capacidade de captar a poesia do cotidiano. O filme de Carrère pouco tem de poético, leva-nos num moto-contínuo de trabalho exaustivo junto com as mulheres contratadas por agências para limpar a sujeira alheia enquanto lidam com seus próprios dramas, a maioria deles produzido pela falta de recursos materiais e emocionais. Embora a gente torça para um real envolvimento da personagem de Binoche com suas colegas, a realidade fala mais alto, e ela não sobe novamente na balsa com elas depois de ter conseguido lançar seu livro, um sucesso, aliás, justamente a respeito daquelas trabalhadoras. A classe continua a determinar as distâncias, apesar do interesse "antropológico" da protagonista. 
Como se trata de um filme sobre as classes operárias, poderíamos lembrar também de Ken Loach, quase um E. P. Thompson das telas, outro britânico que traz os desvalidos para o centro da cena, nunca de forma redentora, mas dolorosamente solidária e sem atravessadores de ocasião. Mas, mesmo com a dureza da vida proletária traduzida pelos seus não atores, Loach mostra, como Carrère, que existem mesmo dois mundos separados, não mais proletários e patrões, mas explorados e exploradores. E ainda há quem queira reduzir tudo a questões de "identitarismo", quando o que temos é uma minoria interessada na manutenção da miséria para não abrir mão de seus privilégios. 
Que a arte, seja a de Carrère ou a de Loach, nunca nos deixe esquecer do que se trata.  

https://rollingstone.com.br/media/_versions/2025/05/binoche-conduz-reflexao-sobre-etica-e-invisibilidade-no-drama-entre-dois-mundos_widelg.jpg

Vento de maio, fogueiras de junho, fim do semestre

Semestre chegou ao fim. Tudo passando cada vez mais rápido. Mais conflitos no Oriente Médio, além do genocídio palestino. Maio trouxe muitas chuvas ao Brasil, especialmente no Sul, de novo. Pouco trabalho, mas pingando aqui e ali. Preocupações familiares. O desânimo é grande. Nunca foi tão necessário presentificar. Não ceder nem à ansiedade nem à depressão. Nunca foram tão necessárias a beleza e a solidariedade. Junho veio lembrar da necessidade de se aquecer, a si e coletivamente. Escolher sementes para o futuro próximo, ter consciência do caos para saber lidar. Manter-se no fluxo, não esquecer de respirar. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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