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domingo, 29 de junho de 2025

Jam no MAM, geleia à beira-mar

Por fim, fui. Ganhei uma cortesia de Samuel, colega da pós, e achei que era a hora. Realmente, é mágico estar à beira-mar, em pleno Solar do Unhão, ouvindo a passagem de som, vendo gente de todo tipo se ajeitando para assistir à miscelânea organizada, regida pelo ótimo Ivan Huol, criador do Microtrio e da Jam no MAM. Ainda por cima, teve um tom junino (e não choveu, presente de são Pedro), com direito a sanfona, que eu adoro. Teve Ângela Velloso, sampleando com a guitarra baiana, vixe, essa moça pode tudo! Bom demais. 
Carinho na alma com gosto de geleia, pois formiga estou.  

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Alegria e tristeza de Chico

Na semana passada, fui assistir à maravilhosa Angela Velloso, acompanhada do papis Duarte Velloso, no Cinesom, cantando Chico Buarque. Angela aplicou sua verve jazzística às músicas de Chico e ficou tudo lindo. Chico, o geminiano tímido com ares traquinas, ficaria feliz da vida. Certamente não gostaria de saber, contudo, que, quando Duarte Velloso puxou um "sem anistia", não recebeu de volta o coro comme il faut, como seria de se esperar de uma plateia que sabia todas as músicas de Chico Buarque, sendo a maioria delas de cunho político. Eu fiquei escandalizada, imagine o poeta - passaria de um estado de euforia para enorme tristeza em segundos. 
Mas tudo bem, Angela, Duarte e Chico - nós, que rejeitamos a anistia para golpista, ainda estamos aqui.


domingo, 6 de abril de 2025

A dona da voz

No ano passado, quando estive com Carlos, entre tantos assuntos da nossa conversa nunca longa o bastante, falamos sobre voz. Acho que o assunto começou porque ele comentou sobre minha capacidade de manter múltiplos interesses distintos do trabalho, como cantar. Daí passamos à questão da impostação da voz, da importância que isso sempre teve para nós, por motivações diferentes, mas com o mesmo fim: sermos ouvidos. 
Pequena ainda, devo ter percebido o efeito de falar alto e claramente nas primeiras declamações em público, depois na peça escolar. Mas, no decorrer da vida, ao mesmo tempo que ouvia que deveria trabalhar com a voz, havia quem dissesse que eu falava muito alto, que eu precisava me conter. Se, para Carlos, era importante impostar a voz para se colocar no mundo, no meu mundo feminino era preciso o contrário, não demonstrar força. Por bastante tempo, acabei reservando a potência somente para as situações em sala de aula.  
O canto, contudo, sempre esteve ali. Sem pretensões de brilho, mas por uma necessidade da alma. E quando cheguei a Salvador foi uma das coisas que me ocorreram retomar. A pesquisa Google me indicou os cursos de extensão da UFBA; entrei em contato, havia perdido a inscrição. Fui fazer outras coisas, mas este ano priorizei me inscrever na EMUS, a escola de música da universidade. Depois de preencher o formulário, achei que não iriam me chamar para o teste, pois a tudo respondi com não - sabe cantar, sabe tocar, sabe ler partitura?
Contudo, recebi um email falando dos dias e horários dos testes. Quando chegou a data, pensei em não ir. Mas, arianamente, fui. Na minha vez, fui tomada pelo nervosismo, que só aumentou quando vi a banca de três jovens professores e eles me perguntaram "o que eu ia cantar pra eles". Eu não tinha preparado nada, imagine o disparate. Daí cantei o que me ocorreu, Lenine por Virgínia Rosa - que eles, aliás, não conheciam. 
Para resumir a história, depois de eu ter descido a Centenário meio chorando, meio cantando, fui aprovada para uma turma, que, depois descobri, só tem mulheres mais velhas. Pelo que disse a jovem professora, egressa da Paraíba, ela esperava fazer uma espécie de coral conosco, pois era parte da sua experiência anterior, um coral da terceira idade. Contudo, ela logo viu que não seria possível, pois cada uma das cinco maduras tinha uma expectativa, menos a de ser cantora de coral. Essas aulas têm tudo para serem interessantíssimas, portanto. 
Além do mais, o prédio da EMUS me lembra os puxadinhos do Anglo. A decadência é compensada pelo trânsito de jovens, velhos e crianças em busca de algo mais belo que o cotidiano. Cada um em busca de sua voz, de seu som, de seu timbre único, belo e incomparável. 
(P.S.: compartilhando essas experiências com Carlos, soube que ele também começou a cantar, uma lindeza!)

segunda-feira, 31 de março de 2025

NEOJIBA no aniversário de Salvador

No dia 29 de março, Salvador completou 476 anos. Ela é ariana. Isso explica muita coisa. É muita efervescência, muito "bora ali" para que fosse diferente. Não quer dizer que seja fácil. Mas, mesmo com os poréns que toda cidade tem, e Salvador tem índices sociais difíceis, mesmo assim, eu me adaptei muito bem, e até recebi o que para mim foi um elogio de um motorista de aplicativo: "a senhora já é baiana". Como soa diferente do "jeito baiano de ser" de uma certa ex-chefe minha!
Calhou de, exatamente no aniversário da cidade, eu ir, com Liu, assistir pela primeira vez à apresentação do NEOJIBA, o núcleo de orquestras jovens e infantis criado pelo maestro Ricardo Castro em parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia. Não tenho nem palavras para descrever. 
Com certeza é emocionante ver a OSBA em ação, mas assistir àqueles jovens tão compenetrados e, ao mesmo tempo, divertindo-se enquanto tocam, como os contrabaixistas em coreografias e sorrisos, é de levar às lágrimas. Pensar em quantos jovens são retirados das ruas e na oportunidade de fazer valer a justiça social, isso não tem preço. Por isso, a apresentação, que começa com Carlos Gomes, passa pelo soturno Sibelius, depois a alegria Broadway de Bernstein, tinha mesmo que terminar com a apoteose de Martín Fierro de Ginestera. Pura beleza, pura beleza. 
E Salvador é assim também - som de mar e pássaros, fortes contrastes, muita intensidade, muita música e multidão, festa, luta, identidade. Só tenho a agradecer por ela me receber tão bem.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Bailaora es su nombre

Beleza em todos os detalhes. 
Não estava podendo não. Mas disse sim. Enquanto tempo quiser. 
Não há nome mais apropriado, não há versos mais perfeitos que os gravados por Alejo na lateral desse instrumento pequeno e tão nobre. João Cabral amaria se saber, ainda uma vez, eternizado nesse objeto que faz renascer Sevilla a cada toque e mesmo em seu silêncio.
Estudos para uma bailadora andaluza
I
Dir-se-ia, quando aparece
dançando por siguiriyas,
que com a imagem do fogo
inteira se identifica.
Todos os gestos do fogo
que então possui dir-se-ia:
gestos das folhas do fogo,
de seu cabelo, sua língua;
gestos do corpo do fogo,
de sua carne em agonia,
carne de fogo, só nervos,
carne toda em carne viva.
Então, o caráter do fogo
nela também se adivinha:
mesmo gosto dos extremos,
de natureza faminta,
gosto de chegar ao fim
do que dele se aproxima,
gosto de chegar-se ao fim,
de atingir a própria cinza.
Porém a imagem do fogo
é num ponto desmentida:
que o fogo não é capaz
como ela é, nas siguiriyas,
de arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca,
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,
que somente ela é capaz
de acender-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha.
II
Subida ao dorso da dança
(vai carregada ou a carrega?)
é impossível se dizer
se é a cavaleira ou a égua.
Ela tem na sua dança
toda a energia retesa
e todo o nervo de quando
algum cavalo se encrespa.
Isto é: tanto a tensão
de quem vai montado em sela,
de quem monta um animal
e só a custo o debela,
como a tensão do animal
dominado sob a rédea,
que ressente ser mandado
e obedecendo protesta.
Então, como declarar
se ela é égua ou cavaleira:
há uma tal conformidade
entre o que é animal e é ela,
entre a parte que domina
e a parte que se rebela,
entre o que nela cavalga
e o que é cavalgado nela,
que o melhor será dizer
de ambas, cavaleira e égua,
que são de uma mesma coisa
e que um só nervo as inerva,
e que é impossível traçar
nenhuma linha fronteira
entre ela e a montaria:
ela é a égua e a cavaleira.
III
Quando está taconeando
a cabeça, atenta, inclina,
como se buscasse ouvir
alguma voz indistinta.
Há nessa atenção curvada
muito de telegrafista,
atento para não perder
a mensagem transmitida.
Mas o que faz duvidar
possa ser telegrafia
aquelas respostas que
suas pernas pronunciam
é que a mensagem de quem
lá do outro lado da linha
ela responde tão séria
nos passa despercebida.
Mas depois já não há dúvida:
é mesmo telegrafia:
mesmo que não se perceba
a mensagem recebida,
se vem de um ponto no fundo
do tablado ou de sua vida,
se a linguagem do diálogo
é em código ou ostensiva,
já não cabe duvidar:
deve ser telegrafia:
basta escutar a dicção
tão morse e tão desflorida,
linear, numa só corda,
em ponto e traço, concisa,
a dicção em preto e branco
de sua perna polida.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Horinhas de descuido

É o velho Rosa quem me faz lembrar da felicidade em horinhas de descuido. 
Não ando muito feliz nem otimista nos últimos dias, tempos, apesar do meu impulso "descuidado" de continuar fazendo as coisas, mesmo quando não é muito sensato, indicado etc. Outro dia me manquei de que herdei isso de minha mãe, esticar o braço além da conta. E o contexto ao redor, realmente, não ajuda em nada. 
Bueno, ainda assim e por isso mesmo fui fazer mais aulas de cajón. Voltei ao flamenco este mês, pelo menos. Palmilhando o Rio Vermelho, achei um restaurante de comida natural bem bom, Manjericão, e logo abaixo o Café Floresta, que tinha bolo de cupuaçu. Preços salgados, mas tudo de ótima qualidade. 
E tive mais um gostinho, além do bolo de cupuaçu, de felicidade descuidada: fui ver Caetano e Bethânia na Fonte Nova, a convite da queridíssima Cris. Carinho da amiga e também do invisível para tomar fôlego.


sábado, 25 de janeiro de 2025

Cajón

E lá fui eu me arriscar.
Tenho um amor incomensurável pela música, mas nunca estudei nada - teoria musical, instrumentos, canto. Só cantei em coral, e sempre foi algo arrebatador.
Ao lado do amor, o temor de algo verdadeiramente novo. Quando falo em me arriscar em coisas que envolvam habilidades manuais, no fundo há um certo conforto, pelo menos maior do que em coisas que envolvam sons e ritmos. 
O professor, João Paulo, a paciência encarnada. Eu, para variar, a única que não manjava nada de música (todo mundo já tinha feito ou faz aulas de alguma coisa - piano, percussão, bateria, pandeiro). Houve momentos que dei uma "dublada"; em outros, fechei os olhos para ouvir melhor. Às vezes, parecia que meu cérebro ia entrar em curto. 
Pode ser só a idade, mas pode ser também porque pela primeira vez estou fazendo algo que me tira realmente da zona de conforto. E por que saímos da zona de conforto? No meu caso, acho que é porque quero manter meu cérebro ativo, não só com coisas diversas no dia a dia, mas com coisas de fato novas, para as quais ele precisa ampliar as redes neurais.  
O fato é que me sinto caminhando em direção ao desconhecido, como quem se apaixona pela primeira vez. Pode dar ruim, mas pode ser sublime - quem me garante que não?

terça-feira, 23 de julho de 2024

Salvador é pura música

Salvador tem de tudo. Tem rock, tem música afro em todas as suas nuances (axé, samba, ponto de orixá, maracatu), tem sinfônica, tem jazz, tem banquinho e violão. Tem até Cidade da Música (que ainda vou visitar)! Aqui Orfeu estaria sempre no Paraíso.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

OSBA na Concha

Fui assistir ao ensaio aberto da OSBA, a sinfônica da Bahia, regida por Carlos Prazeres. Hoje, a regência foi do maestro convidado Éder Paolozi. As peças ensaiadas foram de Dmitri Shostakovich e J. Sibelius. 
Os ensaios abertos são divulgados com antecedência e quem quer assistir preenche um formulário e aguarda a resposta em alguns dias. Nos espetáculos mais concorridos é mais difícil conseguir. Hoje não havia meia dúzia de pessoas na Concha Acústica, mas foi igualmente lindo ouvir a OSBA tocar. Fiquei emocionada de estar ali, com o privilégio de ouvir aquela música, aquele caos organizado nas afinações, de ver aquele céu esplendorosamente azul.
O único senão foi um sujeito que estava assistindo a algum vídeo, em volume altíssimo, na arquibancada. Alguns músicos viraram para olhar, mas não podiam fazer nada. Fui até ele e disse que estava atrapalhando. Qual não foi minha surpresa ao depois vê-lo integrar a linha dos metais! Um tocador de trompete completamente sem noção, viciado em redes sociais na hora do ensaio? Temos.

domingo, 5 de maio de 2024

La mala leche para los puretas

E ela veio, e arrasou, aos 65 anos, sobre as areias de Copacabana, mostrando por que é a Rainha do Pop. Para além do talento, das músicas, dos figurinos, das coreografias, Madonna muda costumes com sua arte e sua atitude perante o mundo e a vida. E consegue ir além, resgatando a camisa verde e amarela e entregando-a à parte do povo brasileiro que sofre com as intolerâncias e violências de todo tipo, sobretudo nos últimos tristes anos neste país. 
Como outro leonino célebre, ela nos dá la buena leche, e reserva la mala leche para los puretas. A real queen. 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Afropunk, uma festa de futuros

No ano passado, tive muita vontade de ir ao festival Afropunk em Salvador, que teria, entre diversas atrações, Racionais e Liniker. Mas temia ir sozinha, ainda mais num lugar fora de mão como o Parque de Exposições, em Itapuã (no final das contas, nem é tão fora de mão, tem estação de metrô na frente). Então, este ano, Cris me chamou pra ir, topei na hora. Além da companhia ótima e da experiência inédita, ainda poderia ver Alcione e a bateria da Mangueira - e, com fôlego, Olodum e Baiana System, além de pequenas atrações intermediárias (pequenas mas com alcance próprio, porque todo mundo ali parecia conhecer de tudo).
Chegamos perto do horário anunciado para início, 16h e alguma coisa, mas houve um atraso de quase uma hora. Estava quente, mas o Parque de Exposições é enorme e super ventilado, graças aos céus, e assim não estivemos nem perto da tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro, no show de Taylor Swift, em que a sensação térmica dentro do estádio chegou a 60 graus, milhares de pessoas se queimaram nas estruturas de metal e uma fã morreu no meio do show. 
O Afropunk estava bem longe da tragédia. Apesar das agruras da população negra, diariamente, alvo certeiro de tiros por todo o Brasil, e a Bahia tem liderado o extermínio de jovens negros pela polícia, aquele era dia da festa dessa juventude. Num primeiro olhar, eu diria que 95% do público era negro e 60% era LGBT. Minhas fotos não fazem jus ao desfile belo e orgulhoso que vimos à nossa frente, com centenas de tranças, cachos, quimonos, batas, abadás, turbantes, estampas, brilhos, conchas e búzios. Quanta gente linda naquele desfile da diversidade!
Minha maior surpresa foi a quantidade de gente se espremendo no momento do show de Alcione, maravilhosa, potente, sempre simpática. Achei que o ápice seriam o Olodum e o Baiana System, que não vimos porque era muito tarde, e tínhamos, eu, Cris e Julito, compromissos logo cedo. Mas até ali o ápice foi a Marrom, que deixou pequena até a bateria da Mangueira (e a galera não estava ali pelo samba-enredo, estava ali pela sofrência embalada pelo trumpete que a maranhense tanto gosta). 
Foi demais participar dessa festa, tão alegre, bem organizada e democrática. Bom demais ver essa juventude normalmente violentada tendo seu espaço, sua expressão respeitados, e dessa forma se empoderando e podendo vislumbrar o futuro. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Continue a nadar

Eu ia postar somente sobre o filme Nyad, com as maravilhosas Jodie Foster e Annette Bening, mas calhou de ontem de eu ter ido ver Ritchie na Concha Acústica e acho que as duas coisas se complementam perfeitamente. E também ter assistido, num outro dia, ao ótimo Quantos dias, quantas noites, documentário de Cacau Rhoden sobre finitude e velhice. 
Nyad é a história da nadadora Diana Nyad, que, depois de amargar na juventude o insucesso da travessia marítima de Cuba à Flórida, resolve, com mais de 60 anos, realizar o feito. Annette Bening nos arrebata no papel da nadadora obcecada e algo intratável, sobretudo por se mostrar na idade que tem - ela, que foi uma diva do cinema e se mostra ainda melhor sem o disfarce da beleza juvenil. Ela é escudada pela talentosíssima Jodie Foster, que vive sua amiga e treinadora - e vemos que o filme tem como pano de fundo uma competição consigo mesma, mas é muito mais que isso, é sobre amizade, solidariedade, afeto, confiança, envelhecimento. 
O documentário Quantos dias, quantas noites trata também do envelhecimento, tanto no seu aspecto de longevidade, uma realidade a que cada vez mais se assiste no mundo todo (apesar da fome, crises humanitárias, guerras), quanto no de aceitação da finitude - sim, estamos indo longe, mas uma hora o caminho acaba. E o que fazemos com essa verdade inviolável? Há vários momentos tocantes no documentário, mas eu destacaria dois, o da jovem ativista de cuidados paliativos AnaMi, que aceita sua finitude na luta contra o câncer, se despedindo sem desesperos da vida (ela morreu poucos dias depois de assistir ao doc pronto), e o de Mona Rikumbi, bailarina cadeirante de cerca de 50 anos que celebra a vida de maneira contagiante. Ambas mostram, para além da relação com longevidade e finitude, como se relacionam com o que a vida lhes trouxe. A lição parece simples, mas é preciso que se repita sempre: se tiver que descascar cebolas, descasque cebolas. Ou, uma vez no mar, continue a nadar - já nos ensinou a peixinha Dory. 
Quando vi aquelas milhares de pessoas, a maioria entre 50 e 70 anos, lotando a Concha Acústica para ver Ritchie, vi que estavam não só em busca da nostalgia das canções de 40 anos atrás, mas presentes numa experiência de grande alegria, cantando, dançando, recordando o bom do amor. Lá estava Ritchie, do alto dos seus 71 anos, ainda fazendo o que sabe fazer tão bem, embalando nossas histórias, mas com novas camadas, como a homenagem feita a várias mulheres, entre elas Zilda Arns, Angela Davis, Maria da Penha, Marielle Franco e Rita Lee. E quando a gente vai atrás dessa experiência de alegria percebe que também continua a nadar, mesmo achando que não sabe. 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Dentro-fora, fora-dentro

Faz só dois meses e meio que estou em Salvador, mas parece que faz anos! Para além da intensidade dos últimos tempos, com separação, viagem, mudança (pra não falar de cuidados de saúde com pets e família), tem acontecido esse reencontro com tantas preciosidades: artes plásticas, música, cinema, teatro, lugares, pessoas, aprendizados, organizações diárias. 
Conheci a feira de mulheres batalhadoras BazaRozê, que aconteceu na Biblioteca Central dos Barris, e trouxe algumas coisas lindas e gostosas pra casa, até Zenzito ganhou um peixe pra chamar de seu. No meio do agito da Flipelô, fui ver a exposição "Brasil do Futuro", organizado por Lilian Schwarcz no Solar do Ferrão e fiquei muito emocionada de voltar a pisar no solo tão querido e conhecido das artes plásticas. Rolou show de Paulo Carrilho em tributo a Ney Matogrosso na companhia de Jô e Edu, na Saladearte. E ainda teve volta ao teatro, o do Sesc Casa do Comércio, com a ótima Alma imoral, baseada no livro do rabino Nilton Bonder e interpretada pela incrível Clarice Niskier (até encontrei minha vizinha lá!). 
Teve confecção própria de calça e almofadas, com base no aprendido no curso de costura, teve volta de plantas na varanda, ter conseguido instalar uma cortina na sala. Teve enfim a organização de marmitas no domingo, inspirada no curso que não vou fazer da Marina Linberger (inviável nas atuais circunstâncias, mas também porque achei que poderia criar meus próprios cardápios) - consigo deixar pelo menos 14 porções de comida prontas na geladeira ou congelador (até aqui, rolou moussaka, nhoque de abóbora, nhoque de batata doce, chilli beans, curry de frango, karê, escondidinho de frango, dal de lentilha, salada de grão de bico e cenoura com especiarias, legumes confitados, arroz marroquino, quibe de abóbora e ricota, torta de atum low carb, massa de pizza, iogurte natural). E teve até criação de um novo sorvete, inspirado na Almaléa, sorveteria no Rio Vermelho que ainda não conheci mas cujo delicado sorvete de canela com suspiro já pedi no Ifood - o que criei foi inspirado num de ricota com geleia e praliné; o meu tem ricota, iogurte, stevia, geleia de frutas vermelhas (comprada) e praliné de castanha de caju com cardamomo, canela, café e gergelim da Rita Lobo, uma coisa de outro mundo (só trocaria a stevia por açúcar mesmo, porque desconfio que ela deixa os preparados meio arenosos). 
Tudo isso, alegrias e aprendizados, rola numa mente a mil por hora. São o meu bálsamo no meio da vertigem. Mais que nunca, necessários para me manter sã e garantir minha integridade, dentro e fora.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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