quinta-feira, 23 de maio de 2013

Quero contar esta história

A vida é fascinante, principalmente pelos encontros que ela nos proporciona.
Por caminhos diversos, encontrei e reencontrei Sávia Dumont. Há uns anos, por conta do livro sobre o rio São Francisco, soube de uma autora-bordadeira (mineira ainda por cima! o que poderia ser mais apropriado?) que havia contado e bordado o rio. Desde então, esse encontro à distância e o projeto do livro ficaram carinhosamente guardados, mas nunca esquecidos.
Este ano, quando tive a ideia de começar a bordar, minha amiga Tamara me trouxe Sávia e a família Dumont de volta, me enviando o endereço da sua fan page. Pensei, gratamente surpresa: puxa, é ela, a moça do livro sobre o São Francisco! Ajuntei a esse pensamento uma decisão: quando fosse fazer o caminho do São Francisco, deter-me em Pirapora e fazer um curso com ela, ou bater um papo, mas de qualquer forma conhecer pessoalmente seu trabalho. Não satisfeita, porém, Tamara me avisou um dia desses sobre o curso que Sávia daria em São Paulo. Aí vi que não tinha jeito: tinha que fazer o curso. Tinha que ser aqui, tinha que ser agora, mesmo com prazos apertados de entrega de trabalho.
E de repente me vi no meio de um grupo de mulheres lindas, esposas, mães e avós, todas talentosíssimas. Não só mestres em patchwork, bordados, rendas, costuras e que tais, mas em tecer vínculos, em bordar afetos. Que o diga a amorosa Ciça, que cedeu sua casa para o encontro e nos recebeu cada dia com um abraço quentinho e um quitute maravilhoso - MÃE com maiúsculas. Ou a criativa e disposta Nina, carioca-de-todo-o-Brasil, com suas mil ótimas iniciativas para preservar a cultura imaterial. A simpaticíssima Maria Cordeiro, atenta a tudo e a todas, sempre disposta a ensinar um ponto a uma diletante quase disléxica (como eu!). Sávia-sábia, com seus ares de fada, compartilhando seus matizes lindos, bordando encantos em nossos tecidos ainda em branco. A querida e delicada Noriko, com seu sotaque nipônico delicioso misturado ao espírito brasileiro, tão bem expresso no "Nooossa!" que entoa diante de bonitezas e gostosuras.
E a doce e discreta Talita, que adoçou ainda mais o encontro com uma história linda. Ela fez esse bordado lindíssimo que postei aqui (ela conta também no seu blog, Diariamente Bordando, mas não há nada melhor que ouvi-la e ver o bordado ao vivo). Trata-se de um trabalho com propriedades curativas, uma prova de fé. Seu marido teve um linfoma há algum tempo, e ela se comprometeu a "bordar sua cura". Levava o bordado consigo às sessões de quimioterapia do esposo. Foram meses bordando. O marido se curou, o bordado teve fim.
Não tenho muito o que dizer sobre esse trabalho, além de que, mais do que técnica e perfeição, linda combinação de cores e elementos, vejo muito amor. Ela conseguiu bordar seu amor no tecido; ele parece brilhar com todo seu esplendor no sol que ilumina e alegra rio, vila, peixes, árvores e flores.
Com uma tal capacidade mágica, quem duvidaria de qualquer cura?

14 comentários:

  1. Que lindas histórias! Coseu-me tanto afeto! Grato!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Elas não viram, Wagner, mas fiquei com os olhos cheios d'água mais de uma vez!
      beijos, e saudades!
      Sol

      Excluir
  2. Linda história e lindo bordado!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não é demais? E vamos marcar nosso encontro em casa, hein? Não me esqueci! :)

      Excluir
  3. Que lindo, lindo, lindo, Sô!!!! Precisamos muito marcar um cófi pra vc contar tantas histórias e estórias!!!
    Beijos,
    Tam

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E você é responsável por parte dessa boniteza, Tam - obrigada por me avisar de tudo!
      beijocas e até nosso cófi (na próxima seman?),

      Excluir
  4. Acho que esse tipo de bordado é um pouco como viola caipira: basta um primeiro acorde e a gente se enche de uma saudade ancestral, gostosa, talvez de um nunca vivido-agora, mas certamente de um já vivido-antes, alhures, uma sensação de memória de tudo, memória de nós mesmos, sei lá, uma coisa muito viva e fortificante que vem "de lá", não é?

    Luciana

    PS: que saudade me deu de todo mundo (Wagner, Tamara, Solange... xi, isso puxa um fio e tanto!)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ai, que saudade docê, Lu! Por favor, vamos combinar algo este ano! Quem sabe um chazinho em casa, com Wagner e Tamara - talvez Cely se anime a vir também!
      beijos!

      Excluir
  5. Querida recém-amiga de infância! Você me emocionou com a minha própria história contada pelas suas palavras - um dom, sem dúvida! Super beijo pra você! E vamos bordando a vida...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo encontro e pelos gestos e palavras gentis, Talita! E vamos nos encontrar outras vezes! beijos!

      Excluir
  6. Solange, não duvido: há fios invisíveis bordando a vida da gente.
    Estava xeretando pontos de bordado na internet (só xeretando, por horas), aí você anuncia mais uma nova no "guerê", conta dessa moça Talita (vi tudo no blog, lindo), e falam o Wagninho, depois a Luciana... São os galos, de longe, tecendo a manhã!
    Convido todos para passar dia 8 na Kariri (Artur de Azevedo, atravessando a Henrique Shaumann), para o lançamento de livros do meu amigo Zeco, com ilustrações em bordado.
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu vou! E vou avisar as bordadeiras de plantão, para as manhãs futuras serem cheias de galos anunciando boas novas!
      beijos, querida!

      Excluir
  7. As belezas da magia!
    Bjs,
    Marisa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E dá para viver sem ela, um pouco que seja, diariamente? ;)
      beijos, Má!

      Excluir

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog