quinta-feira, 27 de abril de 2017

De dias mágicos e estrelas

No final de 2015, pouco depois da minha mudança para cá, eu e Guga fomos convidados para um churrasco na casa de dois velhos amigos dele, Patrícia e Ricardo. Pati tinha sido vizinha dele, era amiga da época dos 20 e poucos anos.
Cheguei cuidadosa, afinal, eram amigos muito queridos de Guga que eu ainda não conhecia. Mas, assim que avistei Pati, gostei dela instantaneamente. Assim, sem mais. O sorrisão largo, os olhos luminosos, os gestos cheios de energia. E Ricardo, de fala tranquila e doce: seu companheiro pra todas as horas, estava na cara. Os dois acarinhando a filha, Cassiana. Por mim, desde aquele momento, seríamos amigos para sempre.
O segundo encontro, um dia mágico, seria aqui em casa. Depois de um churrasco capitaneado, como sempre, por Rodrigo, montamos a bateria de Pati no meio da sala, com as portas escancaradas. Ela tinha começado a fazer aulas e estava concentradíssima, só deixando as baquetas para que Rodrigo tocasse também. Não largava o microfone, emendando um rock após o outro. Feliz. Avançamos noite adentro cantando, tocando. Imaginando que haveria muitos encontros como aquele.
Perto do aniversário de Guga, soubemos que ela faria uma cirurgia delicada. Depois, a confirmação da doença. Tudo muito rápido, muito injusto. Por que uma pessoa como ela?
Fomos nos despedir esta semana. Ela havia feito aniversário no dia 20, tentei ligar, mas ninguém atendeu. Ela já estava no hospital. Deve ter sido um alívio para ela, a partida. Nós ficamos com a dor do vazio, que, esperamos, logo dê lugar à saudade. Mas ficamos também com a lembrança de sua alegria e força, sua paixão pela música, o cuidado com as pessoas queridas. Isso é muito mais, isso é o que faz estar junto valer tanto a pena. O amor e a amizade brilhando como estrelas, maiores que a própria morte.

2 comentários:

  1. Texto lindo... Ela era uma luz mesmo... Deve tá aprontando altas lá do outro lado... Vai fazer muita falta. A saudade já é muito maior que a dor da perda, pois alguém com ela não merecia mais aquele sofrimento. Sempre Dona Pati

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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