Tinha marcado com Liu de ir ao BazaRozê e vi que haveria uma oficina de modelagem em argila. A oficina foi muito concorrida, mas conseguimos garantir nossos lugares.
As bolotas de argila já estavam prontas. As mesas tinham cerca de 8 pessoas. Logo todos estavam concentrados em seus trabalhos, mas de uma forma apressada, como se estivéssemos participando do Masterchef. Desacelerei para curtir a textura da argila, todas as possibilidades nas minhas mãos. A luz era pouca, o que dificultou enxergar as imperfeições da minha sereia.
Isso é algo em que tenho pensado muito - a dificuldade de se aceitar a imperfeição. Não minha, que já a assumi como parte de mim, incompleta e imperfeita. Sobretudo por influência das redes sociais, e antes da cultura da imagem, cada vez mais gente acaba não fazendo coisas por prazer, mas somente para atestar uma suposta perfeição. Só cantar se garantir 100% de afinação, só dançar se for para arrasar na coreografia, usar a IA para conceber um retrato ou um filtro para "corrigir" uma foto.
Talvez por causa da idade, cada vez menos a perfeição tem me interessado. Não que eu não seja assombrada volta e meia pela necessidade de ser especialista em alguma coisa - e não sou em nada, no final das contas -, mas realmente vejo hoje quanto tempo se perde em busca da perfeição, e o quanto isso nos paralisa. E a vida, afinal, vai passando, caminhando para seu inoxerável fim.
Quando a sereia ficou um pouco mais seca, as impefeições ficaram mais claras. Mas mais verdadeiras também. Nem por isso, ela deixa de estender sua mão que concede presentes, nem o abebé que reflete quem somos e também protege dos adversários. Nem por isso, ou justamente por isso, ela deixa de cantar, bailar, encantar, tecer histórias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário