Com o verdadeiro tsunami de feminicídios no país neste final de ano, logo milhares de mulheres se organizaram no Levante Mulheres Vivas. Ao primeiro indício de organização, fui perguntar nos grupos de que faço parte, ligados à universidade, se íamos participar do movimento. Cri-cri-cri. Depois perguntei no perfil das Juristas Negras e no grupo Tamo Juntas, que respondeu que estava havendo um grupo oficial, o do Levante, do qual, a essas alturas, eu já fazia parte. Entrei primeiro no nacional, depois encontrei o de Salvador. Na primeira reunião, só seis participantes. Sandra Munhoz, da Casa Mariele Franco Brasil, no Campo Grande, levou na unha a organização, quase sem apoio político e financeiro.
Teve treta porque fizemos uma semana depois do nacional, em função de feriados e também por uma informação dada num dia e alterada em outro. Teve treta com o grupo de homens que queria que nos juntássemos ao ato contra a anistia a golpistas, a PL da dosimetria. Embora um ou outro defendesse que o protagonismo fosse todo das mulheres, não se chegou a um consenso - e foi incrível ver, pela primeira vez, homens tendo sua demanda negada. Um aprendizado para os dois lados, me pareceu - para quem ainda está no chão da fábrica e para quem ainda domina os debates.
No dia 14, fomos para o morro do Cristo pela manhã. Algumas pessoas do ato contra a anistia, que sairia em seguida ao das mulheres, já estavam lá. Encontrei colegas do PPGNEIM lá, mas éramos poucas. Liu se juntou a nós e fomos marchar, algo que sempre renova as esperanças.
Mas é importante dizer que, embora uma das pautas do Levante fosse a criminalização da misoginia, não acredito que o mero punitivismo vá resolver nada - prova disso é que o aumento da pena para feminicídios não reduziu a quantidade de crimes. Enquanto não houver mais mulheres na política, cobrança de medidas reais de proteção às mulheres e educação ampla da sociedade para que todas e todos enxerguem os meandros da misoginia e os homens se tornem aliados de fato, milhares de mulheres continuarão sendo vítimas da violência do sistema patriarcal. Os homens, por extensão, também - não é a vida que perdem, mas o próprio sentido de ser, apenas reproduzindo um modelo de masculinidade essencialmente violenta.

.jpeg)











Nenhum comentário:
Postar um comentário