Porque mudar - em ambos os sentidos - dá muito trabalho. Agora mesmo, em meio a um calor infernal, dia sem vento nenhum, parecendo a louca das caixas (algo na linha loira do banheiro ou homem do saco) pedindo em toda parte, percebendo com quase desespero o quanto acumulei de coisas nesses anos (mesmo coisas ótimas, como livros - eles parecem não ter fim, não há caixa que dê conta de tantos!), vejo minha ansiedade pelo novo ceder um pouco de espaço para o cansaço antecipado das providências a tomar. Pra incrementar o quadro, tem o feriado prolongado, e alguns lugares aonde eu precisava ir não abriram. (Acho que não gosto muito dos feriados - nunca tinha pensado nisso, sei que são ótimos em algumas situações, principalmente quando se trabalha em uma empresa, cumprindo horário fechado todo dia, mas pelo menos nos últimos tempos eles mais me atrapalham que ajudam. Eu prefiro, aliás, viajar fora de feriados, até para evitar as multidões, os maus serviços e os preços altos. Enfim...)

Bom, no meio desse lacrimório, fiz algo que há anos não fazia, desde o colégio: desenhei a planta do apê. Toscamente, claro, mas lembrei, usando o velho e detonado escalímetro e o esquadro de 60 graus e a pranchetinha com régua paralela que comprei para fazer revisão de texto (algo premonitório!), da minha vida de estudante de Edificações. Algo que não tem mais nada a ver comigo, e ao mesmo tempo fala tanto sobre mim. Eu, que sempre gostei do assunto casa - planejar, proteger, aconchegar, receber -, vejo como ele nunca me abandonou. Hoje, acrescido do sentido de autoconhecimento que a metáfora da casa traz consigo.
Por isso mudar (a casa-alma ou de residência) é tão difícil - pressupõe desapegos, expurgos. Perceber o peso do acúmulo, e então ter que fazer escolhas, para caminhar com mais leveza. O próprio preço da liberdade.
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