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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Projetando sonhos


Baixou de novo a técnica em Edificações em mim.
Com pranchetinha portátil, esquadros e escalímetro, passei a limpo a planta da casa com que sonho. Como será que na época de Federal eu pintava os móveis minúsculos com giz pastel? Ontem não lembrei, aí ficou meio manchadinho.
Claro que no momento oportuno a planta terá que passar por um exame de profissionais das área para análise do que é factível ou não. Mas desenhei pensando no que gostaria de ter - cozinha equipada com piso de ladrilho hidráulico, fogão à lenha, horta, galpão externo, privacidade para os hóspedes, piso de cimento queimado, pérgula...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Enfezamento súbito

Me enfezei: agora vou ser uma autodidata séria!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Da importância da postura - ou da rosa

Hoje foi um dia muito produtivo. Caminhei no parque, fui à feira e ao supermercado, trabalhei em duas frentes, preparei meu almoço, replantei minhas mudas de temperos, fiz um bolo de fubá com queijo Minas, trabalhei mais, tirei fotos.
Hoje foi um dia feliz simplesmente porque ganhei uma rosa da senhora que vende flores na feira, de quem comprei minhas mudas de temperos. Apego-me a isso em um momento em que a vida não parece tão fácil.
Amanhã será outro dia feliz, apesar das chantagens emocionais vindas de vários lados, porque terá início um curso de patchwork, bordado e literatura que eu já queria fazer há algum tempo.
Mesmo diante de um panorama que se insinua pouco amistoso (família, grana, trabalho), recuso-me o papel de vítima. Sou feliz só pelo fato de ser senhora das minhas escolhas. (Por isso me choca tanto ouvir de alguém que sempre fez suas escolhas, boas ou más, dizer que a vida "sempre foi ruim para ela" - como se a vida fosse uma entidade externa, e não parte dela mesma, das suas decisões).
Tudo me parece uma questão de postura, de como nos colocamos diante dos problemas. Quando poderia estar me lamentando, acusando a vida de não me atender prontamente às necessidades, prefiro ver na rosa ofertada pela vendedora de flores um sinal de renovo. Prefiro respirar fundo e devagar, vivendo cada momento por vez, me lembrando de algo que li outro dia ("depresión: exceso de pasado/ansiedad: exceso de futuro/vivir en presente es estar en paz"). Estou aprendendo a presentificar - e talvez por isso o bordado, o sumiê, a dança, cozinhar, caminhar atenta às batidas dos meu coração tenham sido tão importantes nos últimos tempos. Tornar-me presente no que faço e vivo, para então perceber os presentes que a vida (que eu teço) me dá, para perceber o presente que é a própria vida. Linda, fresca, importante e delicada como uma rosa.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Tessituras

No filme Eu maior, a Monja Coen fala de quando conseguiu ver sua vida como uma tapeçaria até aquele momento, e como percebeu o quão era responsável pela sua tessitura contínua dali em diante. Eu gosto muito da imagem do tecer, especialmente porque ela remete à ideia de ligação, relação, como bem lembrou minha amiga Cely, referindo-se aos galos tecendo as manhãs nossas e de João Cabral (e por isso gostei tanto de um texto na Revista Bula sobre os galos que acordam coisas dentro de nós, clara e bela referência ao mestre pernambucano).
As tessituras me encantam e entontecem - são parte dos milagres diários pra mim, sincronicidades segundo a psicologia analítica. Hoje, ao ouvir e curtir uma música (o post anterior, "Soltarlo", da colombiana Claudia Gómez) que o Josafá Crisóstomo também curtiu, da newsletter de outro blogueiro que adoro, o Alessandro Martins, este me convidou a assinar a newsletter; quando aceitei, veio a sugestão de eu ler um livro de uma parceira dele, Paula Abreu. Escolha sua vida, era o título desafiador.
Como ando topando desafios e querendo conhecer histórias motivacionais, topei. E gostei muito. Me identifiquei bastante com a experiência da autora, e li frases que andei dizendo pra quem quisesse ouvir nos últimos tempos, sobre a resposta do universo (não postei aqui, outro dia, sobre minha mudança, trabalhos novos e tal?), liberdade, consciência e responsabilidade. O livro da Paula não é simples autoajuda, é um depoimento (não um guia) de como ela mudou sua própria vida, quando teve um clique num momento crítico. Bom seria se a gente tivesse o tal clique antes de a coisa ficar feia, quando já tivesse dado ouvidos aos primeiros sinais da intuição. Mas é difícil não ceder aos costumes arraigados, ao comodismo e à dúvida cruel: será que mereço, será que consigo, será que posso?
Eu gostei sobretudo de saber que não sou uma maluca sozinha no mundo, como tantas vezes querem me fazer crer. Não que considere os outros modos de viver errados, longe disso, mas o meu é ideal para mim. Do mesmo modo que não julgo quem fume unzinho pra se divertir, quero não ser julgada por não ter necessidade de fumar unzinho pra isso. E mesmo procurando ser tolerante com as verdades alheias sei bem como é ser acusada de ser a dona da verdade - eu sou sim: da minha verdade, da que me cabe, onde cabe minha alma, e que pode inclusive mudar a qualquer momento, junto comigo (e OK, estou aprendendo a não querer resolver as coisas pelos outros, já vi que não ajuda nada). Quando alguém muda, incomoda os que não querem mudar, como se fossem alvo de uma acusação. Mas, como diz a autora, "não é você, sou eu".
Já cheguei a pensar que estava errada por não ter apenas um único objetivo na vida ou "o" lugar no mundo, por gostar de tantas coisas, por querer ver tantos lugares, por não querer ter um carrão, por privilegiar o tempo presente, por no fundo querer uma vida mais simples, criativa. Aí a Paula disse algo de que também gostei: sobre os espíritos renascentistas. Segundo ela, nenhum problema em ser assim, mas ter mais foco é bom para ser mais feliz (não para agradar os outros). E isso me fez pensar em coisas que já havia dito sobre a liberdade, inclusive reafirmando-as:
1. ser livre é exercer o ser quem você é, independentemente das convenções alheias
2. para ser livre é preciso ser muito responsável, porque liberdade pressupõe escolhas
3. quem é livre é, portanto, naturalmente sério, mas não sisudo - por que seria, se liberdade traz contentamento?
4. aliás, seriedade nunca foi sinônimo de sisudez
5. ser livre de fato é ser, não estar - não vamos confundir liberdade pessoal e plena com eventos esporádicos (tipo tirar a desforra, literalmente ser alforriado de vez em quando por um feitor invisível, em meio a uma vida infeliz)
6. ser livre não quer dizer ser feliz sempre, até porque a felicidade, essa sim, é episódica - mas dificilmente uma pessoa não livre é feliz de fato

A descoberta desse livro por mim e para mim se soma à do site da Gisela Rao, sobre autoconhecimento e autoestima, ótimo, divertido, recomendado pela minha amiga Marisa. Tanto a Gisela quanto a Paula se entrelaçam na tarefa que realizam com prazer de ajudar os outros, e de serem gratas por terem sido ajudadas por umas tantas pessoas no caminho. Tudo porque ambas se colocaram em movimento na direção da transformação pessoal, que levou em conta a essência de cada uma, as idiossincrasias e medos a vencer de cada uma.
E é assim. Cada pessoa tece sua vida, sua manhã, mas volta e meia reconhecemos na nossa tapeçaria um pontinho, um presente deixado por um passante-bordador-da-própria-vida. E a cantoria dos galos cresce, e cresce, uma lindeza.



Outro dia fiz este diagrama pra entender as mil percepções que estava tendo. Não é que começou a desenrolar a maçaroca?

domingo, 29 de dezembro de 2013

Mudar não é bolinho

Eu gosto de mudança, não só a essencial, da alma, pessoal, mas também a física, geográfica. Não sei como fiquei tanto tempo num lugar que nem é meu. Na verdade, sei: me acomodei, e fui ficando, mesmo quando não me sentia mais feliz aqui. Embora gostando tanto da cidade, e do centro, já estava há uns anos meio sufocada pelo concreto. Foi preciso começarem uma obra nos fundos (e mais umas tantas coisas) para eu me mexer de verdade. Esse, na verdade, é o erro: não seguir o que diz a alma, ir arrumando um jeitinho de não ter que se mexer.
Porque mudar - em ambos os sentidos - dá muito trabalho. Agora mesmo, em meio a um calor infernal, dia sem vento nenhum, parecendo a louca das caixas (algo na linha loira do banheiro ou homem do saco) pedindo em toda parte, percebendo com quase desespero o quanto acumulei de coisas nesses anos (mesmo coisas ótimas, como livros - eles parecem não ter fim, não há caixa que dê conta de tantos!), vejo minha ansiedade pelo novo ceder um pouco de espaço para o cansaço antecipado das providências a tomar. Pra incrementar o quadro, tem o feriado prolongado, e alguns lugares aonde eu precisava ir não abriram. (Acho que não gosto muito dos feriados - nunca tinha pensado nisso, sei que são ótimos em algumas situações, principalmente quando se trabalha em uma empresa, cumprindo horário fechado todo dia, mas pelo menos nos últimos tempos eles mais me atrapalham que ajudam. Eu prefiro, aliás, viajar fora de feriados, até para evitar as multidões, os maus serviços e os preços altos. Enfim...)
Desanima também ir tirar as medidas do apê novo e ver que nem começaram a pintura. Porque a semana encurtada pelo feriado vai exigir que eu equilibre pratos, pra variar, entre mudança e trabalho, e todas as providências imediatas que dependem de uma e interferem no outro.
Bom, no meio desse lacrimório, fiz algo que há anos não fazia, desde o colégio: desenhei a planta do apê. Toscamente, claro, mas lembrei, usando o velho e detonado escalímetro e o esquadro de 60 graus e a pranchetinha com régua paralela que comprei para fazer revisão de texto (algo premonitório!), da minha vida de estudante de Edificações. Algo que não tem mais nada a ver comigo, e ao mesmo tempo fala tanto sobre mim. Eu, que sempre gostei do assunto casa - planejar, proteger, aconchegar, receber -, vejo como ele nunca me abandonou. Hoje, acrescido do sentido de autoconhecimento que a metáfora da casa traz consigo.
Por isso mudar (a casa-alma ou de residência) é tão difícil - pressupõe desapegos, expurgos. Perceber o peso do acúmulo, e então ter que fazer escolhas, para caminhar com mais leveza. O próprio preço da liberdade.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

sábado, 21 de dezembro de 2013

Sonho meu

Hoje, na Liberdade, eu e minha amiga Lu paramos para ouvir um senhor que tocava violino numa esquina. Ele tocou, atendendo ao meu pedido, o último trecho da 9a Sinfonia de Beethoven, que sempre me leva às lágrimas. Quando acompanhada do coro, essa parte é mais conhecida como "Ode à alegria", devido ao poema musicado de Schiller. Me emocionei com a música, claro, e também com a simpatia do seu Sérgio, o violinista. No final, quando nos despedimos, ele deu a cada uma um "provérbio" num papelzinho dobrado. O meu dizia isto: "Tudo cede à continuidade de um desejo enérgico: todo sonho acaba por encontrar a sua forma".
Nos últimos meses, eu tenho ficado tonta com tantas respostas que o Universo dá. Nesse caso, parece um diálogo com a frase do Eugenio Mussak que comentei aqui, de como o imaginar é o primeiro passo para a realização. No caso do provérbio do seu Sérgio, o sonho que toma forma é produto de um desejar contínuo e forte. E o que é esse desejar profundo e criador senão se pôr em movimento? Certamente não se trata de transformar o sonho numa quimera inalcançável, mas de tê-lo diante dos olhos e caminhar firme e suavemente na sua direção.
Depois de eu ter voltado a indagar da minha alma quais são os meus sonhos, de ter imaginado o que fazer para realizá-los, depois de me lançar a uma nova aventura cuja única garantia é a confiança que tenho em mim mesma, na minha humildade em recomeçar sempre, vejo as respostas imediatas da Vida/Universo/Deus, o que quiserem. Ainda temerosa de uma súbita claridade solar, decidi viajar para um lugar sempre sonhado. Depois de ter visitado 12 apartamentos, de chegar à beira da exaustão emocional, de duvidar por momentos da minha capacidade de carregar a própria vida, de sofrer com uma nostalgia do vivido no lugar onde moro há tantos anos, encontrei um outro lugar, luminoso, numa rua bonita, perto de uma área verde, e então os papéis correram com agilidade, ouvi do atual locador uma espécie de bênção quando falei da mudança ("tudo certo, querida, fique tranquila"), oportunidades de trabalho começaram a pipocar. Isso para não falar de alguns amigos maravilhosos que me ouviram (todos eles), que aconselharam (todos eles), que me acompanharam a alguns lugares (como a Lu hoje, na busca pelos chás e pelo bule na Liberdade, mas também Wagner, Marisa, Marcelo, Cláudia, Eliane, Karen etc.), que me escreveram textos lindos (Simone), que me ligaram de longe (Carlos), que algumas vezes "só" me deram um abraço apertado (todos eles, longe ou perto).
O que estava represado voltou a correr, a força das águas rompeu os diques da estagnação. A vida respondendo ao meu movimento. Se tivesse me paralisado pelo medo, só teria as mesmas paisagens cinzentas e desesperançadas. Agora tenho um mar de possibilidades à minha frente, um oceano inteiro a navegar pelo sonho que é meu. Pessoal e intransferível, feliz só por "ser" sonho, e passível, portanto, de realização.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Da série "Milagres cotidianos" IV

Me levantei de repente da mesa quando M. me lembrou do horário de encontrar a corretora de imóveis, que me esperava a algumas quadras dali. H., namorado de M., perguntou se eu queria uma carona, eu disse que não precisava, era relativamente perto, iria a pé.
Então C., amigo dos dois, que eu acabara de conhecer e que estava ali havia alguns minutos apenas, disse que me levaria lá. Perguntei: mas você vai para aquele lado? Ele disse: não, vou para o outro, mas te levo e depois volto.
Nessa hora tive um alumbramento: é isso o que é fundamental numa relação - a disposição de mudar um pouco seu trajeto para que se encontre com o do outro. Como diz aquela canção: eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na sua. Na verdade, para que essas ruas, esses caminhos se toquem é preciso disposição para fazer acontecer, e não só esperar que aconteça, que o urbanismo seja favorável. 
E muito embora no dia seguinte eu tenha visto de forma insuportavelmente clara como a relação recém-finda era justamente o contrário disso (não ter havido a cessão de um milímetro sequer, um mínimo desvio para que os caminhos se encontrassem, o que resultou em dois caminhos tristemente separados, paralelos sem um infinito que os fizesse se encontrar, já que somos nós mesmos finitos), esse milagre/alumbramento/sincronicidade me fez perceber o que de fato é importante para mim. C. foi uma espécie de anjo enviado para me lembrar.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Imaginar ou se escaldar

Quando agora me assalta o temor diante do novo, penso nas escolhas que tenho que fazer. No caso atual, não tenho muita escolha: é ir em frente ou ficar parada, a ver navios. Melhor então tomar "aquele velho navio", depois de descer as ruas todas.
Nunca me assustei muito com fazer o que deve ser feito. Mas agora parece que é algo muito grandioso. Por quê? Já me mudei antes, já desamei antes, já abri mão. Não sei, é algo que cheira a grande salto, como um que nunca dei. Mesmo quando fiz coisas que pareciam muito ousadas para os outros (largar emprego quando não tinha outro em vista, começar de novo, mudar de paradigma, ir aprender algo que não tinha nenhuma relação com o momento presente, me jogar numa viagem), elas me pareciam bem normais, o caminho claro a seguir. 
Agora tem o novo logo ali na esquina, e não sei o que há atrás dele. Não quer dizer que não seja melhor do que o que tenho agora. E afinal o que tenho agora não é nada, é coisa inerte, que não dá mais frutos. Talvez eu ainda me sinta sem fôlego, depois de tanta energia longamente dispendida (e estou me sentindo inclusive fisicamente assim, extenuada). E ao mesmo tempo, como li na coluna do Eugenio Mussak, na revista Vida Simples:

Imagine, e você se arrisca a conseguir. Não imagine, conforme-se, e você estará condenado à mesmice. Imagine e organize-se para tornar a imaginação realidade, e algumas coisas fantásticas começarão a acontecer.

Sinto que as ideias que eu prego estão me colocando à prova. Vivo dizendo que o primeiro passo para o sonho se realizar é imaginar, planejar, colocar na ordem do dia. Ou então parafraseio um amigo que fala dos 50% de não que já temos garantidos na vida - por que então não arriscar o sim? Agora estou vivendo a prova dos nove, torcendo para que seja a alegria.
Suspeito que esse súbito temor vem não só porque me escaldei um pouco mais, mas porque agora tenho mais consciência do escaldamento. No entanto, o movimento da vida de que fala Mussak é naturalmente oposto à inércia. Ou seja, um gato escaldado não deve ficar no mesmo lugar, ou corre no mínimo o risco de novo escaldamento, mesmo inerte. Claro que é difícil que ele se mantenha apenas esperto, e não também traumatizado, ressabiado, receoso das mãos que o tentam tocar lá na outra esquina.
E daí creio que vem o passo seguinte, depois da consciência: sabedoria. Será uma quimera, ela também?

domingo, 8 de dezembro de 2013

Crescer, o necessário adeus

Hoje li um texto bonito da Revista Bula, no Facebook. Falava de como é necessário dizer adeus a coisas, situações e pessoas para poder crescer. Por isso perdemos o primeiro dente, as meninas menstruam, os meninos ganham barba, nascem os desejos, as doenças vêm e vão - as mudanças vão compondo uma valsa de adeuses para que a gente debute, cresça.
Pensei logo na necessidade de deixar as cascas para trás, e tive de fazer um desenho do pinto abandonando o ovo e se mandando. E me lembrei da mariposa desesperada, não a apaixonada de Guadalupe, mas a que me visitou na janela do hotel em Joanópolis, enquanto eu tomava banho. Ela também deixou uma casca para trás antes de se debater contra o vidro, em busca da luz do banheiro. É, nem sempre somente deixar a casca garante a sabedoria...
Eu suspeito que, ainda por cima, crescer de fato tem a ver com alguma dor. Perder dente dói, menstruar dói, desejar dói, se apaixonar dói. Ir embora, ver partir. Um dia, ouvi o parceiro de então dizer que talvez estivesse na hora de ele crescer - houve uma faísca de alumbramento, mas acho que não a atitude, uma pena. O que quero dizer é que, imagino eu, ao desejo de deixar a casca se siga o romper a casca, deixá-la, mas também a necessária consciência da não perenidade, do luto em si. Se não for assim (ah, as leis da natureza, da vida, que cada vez mais vou aprendendo a respeitar!), vamos seguir acreditando que ainda estamos dentro do ovo, protegidos de toda dor. E sem um quinhão de dor, por contraditório e odioso que pareça, não avançamos. Talvez no dia a dia sim, um amanhecer após outro, mas não no processo de autoconhecimento, não no caminho do que nos faz essencialmente felizes.
Eu tenho percebido mais as trocas de casca nos últimos tempos. Tem hora que sinto a alma pesar mais, até ficar insuportável. E creio que é nesse momento que vou parindo, dando à luz eu mesma, só que diferente a cada vez. Pode ser a alma crescendo, querendo mais espaço, dentro de mim, dentro do mundo. Me dizendo: "aqui não fico mais! e então? vens?".
O que posso dizer? Só me resta seguir com ela.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Fraturas e ternuras expostas

Já comentei lá no Ser o que soa que ando dando ouvidos a uma vozinha imperiosa que não me deixa enquanto não paro 5 minutos para fazer um haikai ou um desenho. Estou nessa agora.
Hoje foi a vez da Fênix. Estava com coceira de cor, muito laranja, vermelho, fogo, flamejar. Desde uns dias, para falar a verdade. E hoje tive que parar e desenhar, lá do meu jeito, sem grandes pretensões, mas satisfeita com o resultado - era isso que estava dentro de mim, como a menina na corda bamba, como a menina de mãos abertas diante de um marzão de possibilidades. Tinha que ser também com o giz pastel oleoso que trouxe de Paris e mal usei.
E tenho curtido essa história do caderno fotografado sobre o teclado; acabou constituindo uma série de desenhos que mostram bem o contexto do siricotico em pleno horário de trabalho. Mas a ideia é que não sejam desenhos demorados, elaborados, em busca de uma técnica que nem tenho. Só pura inspiração, registro, expressão imediata. Pronto.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O aprendizado do cristal

Naquela inútil febre de Black Friday, em meio a gente pra lá e pra cá no shopping, resolvi de repente entrar numa loja - não, eu não estava acometida pela febre consumista, nem tampouco a tal loja estava realizando descontos de Black Friday. Nem sei por que tive o impulso de entrar, quase no momento de ir embora.
Talvez na hora tenha me lembrado de que queria há tempos comprar um vaso para colocar flores - talvez tenha querido comprar flores naquela semana, mas me lembrei de que não tinha o tal vaso. Acho que foi isso. Bem, de repente me vi diante de alguns lindos vasos de cristal da Bohemia. Coisa de 180 a 250 reais cada um. Pensei logo: não vai rolar. Aí me deparei com um único sem preço (o da foto) - elegante, longo sem ser magrela, com uma linda base art déco.
Pedi ao vendedor, sem mais, que conferisse o preço para mim. Enquanto isso, encontrei um único vaso de vidro ao lado. Interessante, de linhas retas, bem mais grosseiro, mas OK. Oitenta reais. Não era barato, mas era mais acessível. Pensei: bom, acho que vai ser um de vidro mesmo.
Já estava com o vasão de vidro na mão quando uma outra vendedora voltou com o de cristal. "Olha, acho que o preço está errado..." Perguntei quanto era. Oitenta reais. Esperei um pouco para ver se a moça ia querer se certificar, provar até o fim que o produto valia mais (como se fosse preciso!). Uma vez que não houve grande resistência (só algum desconcerto), tomei o vaso das suas mãos: "Vou levar este".
Em casa, fiquei admirando as linhas finíssimas do cristal boêmio. Delicado, lindo. Comprei flores, por fim, e fiquei feliz. E percebi aí um ensinamento valioso em pleno dia global de consumismo febril: podemos até nos contentar com vidro, mas a vida às vezes nos oferece cristal.
Neste momento (e provavelmente doravante), o cristal me cai muito bem.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Das premências

Outro dia, acordei angustiada - precisava cortar os cabelos. Urgentemente. Disso dependia o final de um ciclo. Sentia que precisava mostrar o rosto, dar a cara pra bater, romper com um modelo no qual não me reconheço mais. Liguei na mesma hora para o salão, reservei o horário e dei o aval ao meu cabeleireiro há mais de 15 anos: muda tudo, manda bala. Depois de um breve choque (não estarão muito curtos?), o reconhecimento de mim mesma, o alívio. Voltei. 
Tenho aprendido a respeitar as premências. Mudar de casa, colocar ponto-final numa situação, verbalizar, poder dizer "acabou" com todas as letras, em voz alta. Esse modo de vida, esse comportamento, o que se tornou uma relação, esse lugar. Perceber que, como num texto, só se conduz a narrativa deixando algo atrás de si com clareza, mudando de parágrafo, e para isso é preciso sinalizar a passagem com um ponto-final, sem dúvidas quanto ao que deve ser feito, ainda que restem todas as dúvidas quanto ao que será. 
Gil canta pra mim (e como pensar que ele, logo ele, poderia estar errado?): "Alguma dor? Talvez sim/Que a luz nasce na escuridão". Puxa, cada vez mais tenho crido nisso, nessa aurora que vem vindo, implacável e linda. E para recebê-la também tenho que estar a contento: linda e renovada, de cabelos à la Era do Jazz e batom cereja. 

domingo, 24 de novembro de 2013

Estrada eu sou ou De mãos abertas

Confesso: meu novo processo de mudança (interna, física, espacial) me deixa com um frio na barriga. Olho já com nostalgia para meu quarto, minha casa, minhas coisas, minhas ruas. São quase 13 anos de histórias aqui. Lembro como tudo já foi - mais non, je ne regrette rien. Porque não lamento (o que não quer dizer que não sofra, que não me arrependa - mas acho que integrei as experiências, boas e más) é que olho para o que poderá/deverá ser, e já consigo me imaginar em outro espaço, tendo de conquistar tudo de novo, o que não quer dizer começar exatamente do zero. Outro bairro, outro trabalho, outra rotina, outro amor rodopiam à minha volta, ainda como imagens, mas por isso mesmo já tão próximos da realização - vejo o novo dobrando a esquina, mas agora espero que também chegue, não saio correndo até ele. Caminho em sua direção, e ele vem até mim. Naturalmente.
Passei a fase do medo de uma vida diferente, do medo da solidão. Redescubro como é boa minha companhia. E agora passo a querer simplesmente o melhor para mim, não mais arremedos, improvisos, "o que tiver". O melhor para mim é... o mais simples. De ótima qualidade, mas sem tantos desvios, tantos adereços. Essencial e colorido. Porque não faço o meu caminho: sou o meu caminho.
E enquanto escrevia este post, vi pelo FB que o filme Eu maior, de Fernando e Paulo Schultz, estava disponível no YouTube. Parei de escrever para assistir. Emocionante! Quantas pessoas admiráveis falando com simplicidade sobre o ser feliz, sobre o que isso significa para cada uma delas. Quantas visões diferentes, portanto. Mas com uma coerência acerca da originalidade individual, do que é demandado em cada momento, de que é preciso saber para qual problema se busca uma resposta, da fluidez da vida e do que vamos nos tornando (pois não mudar, como diz Mário Sérgio Cortella, é tacanhice, não coerência). Gosto da ideia de que mais importante que a dor para engendrar mudanças é a crise. Gosto de aprender que a emoção é rápida como um raio, e que o resto são as memórias. Que é à memória da dor (necessária para viver o luto) que nos apegamos, que é preciso abrir as mãos, deixar ir a dor e todo o resto, para que nelas caiba o mundo.
Cá estou, pois, de mãos abertas.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

No balanço das horas tudo pode mudar

Provavelmente já tive outros momentos assim, de passar por muita coisa, por sentimentos diferentes e até díspares em um curto espaço de tempo. A vida é desse jeito, acredito que pra maioria das pessoas. Mas acho que nunca passei por tantas coisas com tamanha profundidade, observando mesmo o que cada uma quer dizer, na medida do possível procurando enxergar em meio ao riso e ao choro. O importante é que emoções eu vivi? Taí, o Rei deu uma dentro.
Ri, chorei, neguei, cansei, discuti, apaziguei, deixei pra lá, argumentei, acarinhei, chorei de novo, sofri muito, fiquei cara a cara com o abismo, vivi o luto, larguei mão. Veio uma "louca tempestade", como cantaria Ana Carolina, uma chuva diluviana como a de Guantanamera, para lavar e levar tudo e só deixar vivo o que fosse novo, pois o velho não seria capaz de subir ao topo das árvores. Depois, a calmaria.
E do alto das árvores, com outra perspectiva e à medida que a água vai baixando, tenho voltado a ver aquilo que me é caro, e a pensar por que razão ficou esquecido num canto. Agarrada a uma árvore, uma viagem; enroscado num galho mais à frente, um projeto de livro; flutuando na água, o que entendo por relacionamento. Dali vejo tudo, e quando desço vou catando o que é meu. Apesar da aparência de destroço, para tudo há jeito - e a viagem volta a tomar forma, o projeto de livro deslancha, o desenho do amor é de uma clareza desconcertante. Há pouco, tudo vagava no vórtice de águas furiosas e turvas; agora tudo retoma seu lugar. Todo mundo no fundo sabe, mas essa verdade ficou célebre entre nós com Lulu Santos: tudo muda, o tempo todo.
Mesmo sabendo aonde quero chegar, parece que estou aprendendo a deixar o barco correr de vez em quando, sem ter que empregar força, seguindo no balanço das horas e das águas. Aí sim, Fagner, é bom ser um peixe!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

Hora da faxina ou Prólogo/oração ao novo

Nesta época, costumo ir atrás da agenda do próximo ano. Procuro escolher uma que seja bonita mas minimamente discreta, prática e portátil. Com a agenda nova e em branco nas mãos, fico toda animada em fazer projetos, avançar um pouco mais na direção dos sonhos, pensar em algo novo a aprender/conhecer. Mas tenho pudores em começar a usá-la logo, já que o ano ainda não acabou e também há um balanço a ser feito, normalmente em dezembro.
Este ano resolvi fazer diferente. Comprei uma agenda maior, que lembra um livro antigo. Ela se inicia em agosto deste ano, e segue até dezembro do ano que quem. Resolvi já começar a usá-la, encostar a atual, assumir já o novo começo, o que me provoca desde agora um vital frio na barriga. Significa que já comecei meu balanço anual, também de outro jeito - um balanço não de realizações, mas das transformações. Sem arrependimentos, sem culpar o outro nem a mim. Buscando internalizar que a permanência é uma ilusão, como diz o artigo de Eugênio Mussak na Vida Simples. Assumindo o fim das etapas, sem lamentar toda energia gasta com elas - pois, afinal de contas, tudo foi porque valiam a pena. Já não valem mais, não na forma presente. Quem sabe o que será o amanhã? Mas não se pode deixar de caminhar por não saber o que há atrás da curva.
Faria tudo de novo? Nem tudo, mas quase, com o grande aprendizado de não me desgarrar de mim mesma mesmo fazendo o meu melhor pelo outro. E não deixar de fazer o meu melhor, talvez agora com o desconfiômetro ligado para saber a hora de parar. Não mais pelo temor de infância de ser inconveniente (apesar de toda minha extravagância aparente), mas para não usar desnecessariamente minha energia vital.
Certezas? De que alimentar expectativas acerca dos outros (de que nos deem o que não têm) é outra ilusão, mas que posso contar com os verdadeiros amigos e sobretudo comigo mesma. De que tudo será melhor do que tem sido, com as lições sendo absorvidas, trazendo mais cuidado e consciência (= iluminação). De quebra, e de preferência, em outro lugar, que me tire da zona de conforto que já me incomoda há tempos.
Assim, que venha o novo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Da série "Milagres cotidianos" II

A enfermeira, meio sem graça, pergunta se está doendo. Tira meu sangue (acho que treme um pouco), com o qual vai enchendo vários tubos. "É que tive que mexer um pouco... Mas não vai ficar hematoma, não" (está mentindo). Respondo que só senti a picada da agulha, um ardor, mas na verdade nem estou olhando. Tão vampirizada me sinto que já havia até tirado o celular da bolsa para ver meus e-mails. Só para ver se rolava algum milagre virtual, uma notícia que mudaria o dia. "Hoje só quero que o dia termine bem", cantarola Luciana Mello na minha mente.
E lá está. Um amigo havia me indicado para um trabalho, e há alguém, que nem sequer conheço, que acredita que posso fazer diferença. Na verdade, eu também acredito. Só havia me esquecido disso.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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