segunda-feira, 6 de abril de 2020

A rotina transtornada

Completamos três semanas de isolamento social. Embora nossa rotina seja há tempos a do home office, os momentos de atividade física proporcionavam o escape necessário, já que eram feitos normalmente fora de casa - bike, corrida, pilates, academia.
No final da semana passada por fim fui pedalar, vencendo a culpa por fazer isso na estrada, longe de aglomerações. Mesmo assim, a sensação de estar quebrando um pacto subsiste. Será que isso acabará estimulando mais pessoas a sair de casa? Fico imaginando como se sentem as pessoas presas em apartamentos - nós ainda temos uma área externa grande, nossos pets não ficam trancados em casa, temos árvores e ar fresco ao redor.
Apesar de aparentemente ter havido pouca mudança na rotina, por incrível que pareça, a louça aumentou - não deveria, se continuamos fazendo praticamente a mesma coisa todo dia, com exceção do exercício fora de casa.
Também é fato que voltei a assumir a cozinha em modo integral; ainda faço a faxina, porque dispensamos por ora a diarista. Embora seja bom aproveitar o momento para aquela limpeza nos mínimos detalhes, logo fico cansada. Os dias ficaram bem mais curtos. Fico sonhando com voltar a comer fora, se possível, vários dias seguidos.
Junto com a vontade de sair vem o medo do contágio. Ir ao supermercado, como fizemos hoje, virou uma situação tensa, uma verdadeira operação de guerra, especialmente na volta, com a higienização de mãos, sapatos, compras (Guga só lava as mãos, talvez esteja certo em não ficar paranoico). Aproveitamos para estrear as máscaras de TNT que fiz com uma sacola da Cantão. Serviram bem, espero mesmo que tenham nos protegido. Já desinfectei também.
Ainda nem chegamos ao tal pico da epidemia, que deve começar esta semana, dizem. Na verdade, não temos tanta clareza do que vai acontecer. Imagino que a maioria das pessoas seja infectada em diferentes graus. Como agora, pelo Brasil, muita gente está se arriscando em locais de grande circulação, especialmente os eleitores do Bozo, o número de casos deve aumentar, o de mortes também.
Não sabemos quando será possível voltar a sair com o mínimo de segurança, ou de imunidade, pois ainda não há certeza quanto a um novo contágio por quem já teve a covid-19. Não sabemos o tamanho do estrago na economia, nem se ainda teremos trabalho.
Os mais otimistas acreditam numa transformação da humanidade e do mundo para melhor, após a pandemia. Há quem ache que tudo vai piorar. Eu acho que ainda vai piorar bastante antes de haver qualquer melhora, sobretudo num país em que a população não está acostumada com a ideia de bem comum.
A única coisa de que tenho certeza é que nada continuará do mesmo jeito. Drauzio Varella ainda acredita que nossa antiga vida vai demorar muito a voltar. Eu não acredito que volte.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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