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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Reencontro com amigos depois de quase dois anos

Desde que começou a pandemia, deixamos de ver os amigos mais próximos (os distantes, então, nem se fala). Todo mundo quarentenado, e nós, pelo jeito, mais que todos. 
Com o pilates on-line, pelo menos, consegui ver virtualmente esses queridos a quem chamo de A Diretoria. A maioria, estrangeira como eu, mas todos eles, sem exceção, responsáveis por eu me sentir muito à vontade por aqui. Conversas divertidas, inteligentes, éticas, sérias sempre regadas a comidinhas gostosas em encontros organizados por anfitriãs perfeitas como Suely e Cris (e eu de vez em quando). 
Pois então - foram quase dois anos sem nos encontrarmos pessoalmente (só uma ou outra vez en passant e de longe no supermercado, ou no consultório de Jô, rapidamente, para vacinar Chica ou Kong ou Zen). E resolvemos nos ver, todos já vacinados, a maioria já com a dose de reforço. Só ficamos mais juntinhos pra foto, nessa aglomeração de sete.  
Puxa, que bom que foi! Que amadas são essas pessoas, e como é sempre bom lembrar disso.

sábado, 16 de outubro de 2021

E, afinal, prosseguimos

O brazyl está uma desgraceira tão grande que é difícil até pensar como é possível prosseguir em meio a tanta corrupção, iniquidade e ódio - porque não é mais possível falar apenas em intolerância já que pululam as violências diárias contra quem representa a diversidade ou queira levantar-se contra a opressão histórica colonialista e patriarcal. Ao redor, a hecatombe mundial ganha contornos mais fortes, com a crise financeira na China, os movimentos antivacina, o crescimento de governos antidemocráticos. Em toda parte, tem mais gente passando fome, adoecendo, vivendo precariamente, sendo assassinada de uma forma ou de outra.
Não tenho, pessoalmente, muita esperança no futuro próximo. Meu desânimo é enorme, de um tamanho que nunca vivi antes. Supera, de longe, as dores de amor, as frustrações pessoais. Porque é difícil fazer planos no meio do Apocalipse, e, embora soubéssemos desde sempre das desigualdades que nos cercam, todo o horror foi de tal modo desvelado que soa como indecência ter desejos, aspirações, sonhos. 
De repente, o discurso de "fazer diferença" parece vazio se não tiver como escopo realmente arregaçar as mangas e atuar concretamente na realidade - é muito vago só pensar "serei um ótimo profissional" e pronto. Minha pergunta diária, para mim e, secretamente, para os outros, tem sido: o que você tem feito pelo outro? Ainda que reste algo do ranço ocidental utilitarista nesse pensamento, há também nele uma implosão do pensar somente em si, tão próprio do Ocidente capitalista. 
As respostas acabam vindo justamente do outro lado, de tudo que não representa a cultura ocidental, patriarcal e colonialista. Vêm das mulheres, dos negros, dos indígenas, da comunidade LGBT, dos pobres. Dos éticos, dos solidários. E da natureza. Aliás, foi a flor da rosa-do-deserto brotando que me fez lembrar que tudo prossegue, apesar do horror e apesar dos meus descuidos com as plantas. As sobreviventes, resilientes, continuaram sua existência sem mim, mas exultaram quando receberam nova camada de composto e voltaram a ser regadas no final da tarde. Ver o milagre da multiplicação nas espadas-de-são-jorge, que chegaram em quatro e hoje são mais de vinte, a resistência da árvore da felicidade, que por fim se enraizou e buscou o céu - tudo isso me dá outra dimensão do viver e do presente. Tento imitá-las nessa vocação de contrariar o que é instituído, o peremptório, o definitivo, movendo-me ainda, lembrando-me de respirar e de descascar cebolas quando me cabe descascá-las.  Prosseguindo. 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cadê a boa-nova a andar nos campos?

Meu espírito romântico sempre me traz à mente os versos de "Sol de primavera" logo nos primeiros dias de setembro. Mesmo vivendo um dia por vez, buscando o presente a toda prova, espero também, junto com Beto Guedes, que a boa-nova venha andar nos campos. Mas está cada vez mais difícil na distopia real em que vivemos, no mundo mas principalmente neste brazyl desgovernado e colonial velho de guerra. 
Não sabemos como será o futuro no trabalho, já que a área de educação, especialmente a pública, tem sido solapada sem descanso pelo desgoverno. A coisa é tão séria que, no dia do centenário de Paulo Freire, em que posto um comentário sobre o recifense-careca-querido-patrono-da-educação-reconhecido-mundialmente, tenho que ler um "Já foi tarde", e depois a manjada fala com colorações fascistas de que o que Freire queria mesmo era formar militantes, e não educadores, e por culpa dele a educação brasileira está um fiasco. Mas gente.
É chato ter que bloquear uma pessoa, mas não dá mais pra perder tempo com quem escolhe a ignorância, a injustiça, as inverdades. Apesar de seus posicionamentos duvidosos, eu a mantinha entre meus contatos por um carinho pelo passado (muito passado, na verdade, e en passant) comum. E para quê? Para a pessoa, tão estudada, vir veicular mentiras na minha página. Que tempos! 
A situação é mesmo tão feia pra educação que vemos, eu e Guga, nosso projeto de segunda graduação fazendo água com a má qualidade dos serviços prestados pela universidade (não pública). Optamos por cursos semipresenciais, mas tudo é muito desorganizado, a ponto de o conteúdo da aula síncrona não bater com o material didático digital nem com o que é pedido nas tarefas ou no simulado. Simplesmente, é impossível saber o que estudar. A bibliografia de referência, por exemplo, é para especialistas, não para principiantes, e os professores, em seis aulas de 50 minutos, repetem as mesmas informações seis vezes, o que não ajuda em nada. Pela primeira vez na vida, resolvi não fazer uma tarefa dada - e mesmo assim fiquei na média. A atividade mais tosca que entreguei, feita de qualquer jeito, mereceu 10. Como é possível levar a sério? Que tipo de profissional pode se formar assim?
Hoje, ainda por cima, o nefasto inominável fez seu discurso de realidade paralela na ONU, lançando mais uma vez o país à chacota geral, para coroar a horrível situação social e econômica em que já estamos. Como é possível alguém duvidar do poder transformador da educação diante disso tudo? A ignorância só deixa cada vez mais longe de nós qualquer tentativa de primavera, afasta de nós o sol e as boas-novas. 

domingo, 8 de agosto de 2021

Quase um ano e meio na direção do apocalipse zumbi

Ando bem sem vontade de escrever qualquer coisa. Cansaço pelo trabalho triplicado e repetitivo, o horror diário nas notícias, a galopada vertiginosa dos preços de tudo, a dificuldade de enxergar um futuro no meio disso tudo. Em meio às pandêmicas olimpíadas, a segunda temporada da CPI, e oscilo entre a alegria de testemunhar vitórias femininas e periféricas e a desesperança de ver qualquer mudança na realidade mais disparatada da história brasileira. 
Tenho esquecido até de respirar, sinal de que as coisas não estão bem - a respiração suspensa como o futuro. Tento um simulacro de porvir me inscrevendo numa segunda graduação, mas isso ainda não me aquece nem devolve completamente a respiração. Demorei mais de duas semanas para agradecer aos amigos que se lembraram do meu aniversário - algo quase impensável, no meu caso, memoriosa de efemérides que sou. Sonhos ruins vêm, noite sim, noite não, amargando temores antigos, metamorfoseados em ira.  
Ensaio uma volta à academia local, munida de cadeado, perfex, álcool, máscara, e acabo trancando tudo no armário com a chave dentro - e tenho que ir buscar um chaveiro para quebrar o cadeado, algo que nunca me aconteceu antes. Dou-me conta de que, além do estresse por tudo e pela pandemia, a idade também vem cobrando seu preço na memória, na pele que resseca cada vez mais fácil, nos cabelos que caem abundantemente. Sou tomada por um súbito pavor do que significa essa queda capilar quando lembro que preciso refazer meus exames médicos, com mais de um ano de atraso. 
Tenho uma boa ideia para um trabalho final da pós como ouvinte, mas desanimo a cada tentativa de respirar. Desânimo é alma que se esvai aos pouquinhos. 

sábado, 26 de junho de 2021

Vacinados - um alívio no meio do caos

Em uma semana que começou confusa, com pane elétrica que durou dois dias e já atrasou o trabalho sempre de prazos justos, conseguimos nos vacinar, na xepa do posto de saúde de Monte Gordo. 
Quando vimos que a fila por idade estava se aproximando da nossa, fomos ao posto, na segunda-feira, para fazer nossas carteirinhas do SUS, coisa que ensaio há uns 3 anos. Lá fomos muito bem atendidos e soubemos que havia uma lista para a xepa, aparentemente bem pequena. 
No dia seguinte, quando eu estava fazendo almoço - enquanto o eletricista terminava de arrumar as instalações que nos transtornaram a vida desde o dia anterior -, recebi uma ligação de número desconhecido. Atendi e ouvi: "Querida, vem vacinar. É Sandra, do posto." Perguntei se Guga poderia ir também, mas acho que ela não atinou que ele também estava na fila da xepa, acabou dizendo que não era mais para ir. Dali a pouco, os cubos de frango dourando na panela com curry, cebola e maçã, Guga grita pra eu largar o que estava fazendo e irmos para o posto. Sandra tinha ligado pra ele também. Eu, legalista, fiquei temerosa de ir sem ter sido confirmada, mas ele já foi pegando a chave do carro, e só tive tempo de jogar a panela do semi-almoço dentro do forno. 
Saímos correndo e chegamos ao posto quase vazio. Uma moça chegou ao mesmo tempo que nós, com cara de postulante à xepa. Logo encontramos a moça que nos ligou, que foi quem tinha feito as carteirinhas no dia anterior. Ela sorriu debaixo da máscara, disse que a enfermeira estava voltando do almoço. 
Dali a pouco, o bracinho que estava quase caindo de tanta espera recebeu a tão desejada vacina. Coronavac. Fomos tão felizes e aliviados pra casa que nem sei descrever. Foi outra grata surpresa local, a vacina tão à mão, ou tão ao braço. Com um atendimento tão eficaz e simpático. Sim, mil vivas ao SUS e aos profissionais da Saúde.
Somente no dia seguinte tivemos um pouco de sonolência, mas, à parte isso, nenhum sintoma mais sério. 
E agora aguardamos outra vacina, a Covaxin, operar uma maravilha contra o desgoverno que aí está. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Um jantar perfeito de Dia dos Namorados


No dia dos namorados do ano retrasado, fizemos um jantar a quatro mãos, e foi ótimo - eu fiz uma torta, Guga cuidou da massa. Já no ano passado, passei dois dias preparando o jantar, fazendo biscoito e mascarpone caseiros para o tiramisù, que, modéstia às favas, ficou maravilhoso. Também fiz um mil-folhas de batata lindo, um filezão de carne boa, pão italiano, tudo no capricho, mas cansativo. E não fez esse sucesso todo não. 
Daí, este ano, como ainda por cima eu estava louca tentando escrever 15 mil palavras além de trabalhar em duas frentes e fazer almoço e lavar roupa e louça, marido sugeriu conhecermos a hamburgueria do bairro, Brutu's. Combinamos que se estivesse lotada voltaríamos pra casa e descongelaríamos a quiche de alho-poró. 
Tivemos a maior surpresa positiva dos últimos tempos. O lugar tem poucas mesas, e apenas duas estavam ocupadas quando chegamos. Decoração bonita, atendentes usando máscara (que hoje é um megadiferencial), e tinha chope. Pedimos chope, e veio gelado, bem tirado, ótimo. Escolhemos o hambúrguer clássico, 150 g de carne, com bacon, cebolas empanadas, molho de picles, queijo. Vinte e três reais, mais barato que lanche do Bob's ou do McDonald's. Pedimos batatas fritas pra acompanhar, que vieram bonitas num cesto de imersão fazendo as vezes de prato. Dali a pouco chegaram os hambúrgueres, lindos, bem montados, sobre tabuinhas de madeira. Apesar da altura do sanduíche, não desabaram e o molho também não vazou. Uma delícia!
Voltamos felizes e impressionados pra casa, e ainda tomamos vinho e comemos chocolates gostosíssimos e assistimos Lupin. Perfeitos, o dia dos namorados e o nosso jantar. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Falta do que fazer

Como eu não tinha mais nada pra fazer na vida, resolvi escrever um ensaio, para participar de um concurso desse gênero sobre o tema feminismo. Porque estava sobrando tempo entre editar um volume inteiro, revisar caderno de aluno, fazer tarefas de casa, aguardar originais de um job com prazo estourado, bordar um pouquinho entre uma coisa e outra é que resolvi me aventurar a iniciar e tentar terminar um texto com pelo menos 15 mil palavras. 
Só ontem fui fazer a conta do quanto já tinha escrito - míseras mil palavras - e do quanto faltaria, em média. Caraleo, é o tamanho do meu TCC. Estranhei um tanto, já que o gênero ensaio é tão mais leve; ainda que defenda uma ideia central com argumentos plausíveis, não é o espaço/momento do aprofundamento, não é uma tese, não é sequer uma dissertação, nem mesmo um TCC. 
Enfim, os olhos cheios de areia, reservo para mais um dia a tentativa de ultimar a tarefa. A ver (se os olhos velhos deixarem).

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Dias de estupefação

Das menores às maiores surpresas. Das comezinhas às ontológicas. Ando estupefata (ou estupefacta, que tem uma carga dramática adicional), mais que nunca. 
Nos últimos dias, descobri, indo a uma ótica perto de casa, que meus óculos, pelos quais paguei muito caro há dois anos, não são multifocais. A optometrista constatou isso só de movimentá-los para lá e para cá. Ainda maior o preço pago pelos óculos "normais", para miopia apenas, em comparação ao orçamento da pequena ótica de vila, que cobra menos de um terço pelas tais lentes do tipo freeform (a marca, não sei). Fiquei muito chocada com o contraste e me senti um tanto otária.
Também descobri, no salão de cabeleireiro local, onde Guga foi duas vezes, que meu cabelo estava tortíssimo, desde novembro de 2020. O cabeleireiro não tinha espelho avulso, então tirou uma foto com o celular e me mostrou - mais um choque! O lado direito estava muito, muito maior que o esquerdo. E de repente me lembrei do cabeleireiro no salão todo arrumado de Salvador - no finalzinho, ele inventou de fazer uns repicados artísticos, e aí deve ter-se dado a merda. Para aumentar o choque, novo contraste: corte de salão local por 31 reais versus corte salão do shopping por 200 reais. 
Outro motivo de espanto: fiz uma publicação simples no Facebook, comentando que não me lembrava de como Highlander era um filme tosco. Foi o suficiente para aparecer um defensor da película, um colega de Bienal, ufólogo, que vive postando sobre suas superações na vida. Longe de mim desmerecer as batalhas alheias, mas achei um tanto irritante que ele, que outro dia se doía por uma "carteirada" acadêmica que levou de alguém, tenha vindo ao meu post, do nada, para trazer informações retiradas da Wikipédia (sim, sim) como argumento de defesa do filme em questão. Que ele era historiador, especialista em cinema, que já assistiu 6 mil filmes, que o filme tosco na verdade era kitsch, que não era bom usar o termo "tosco", porque assim parecia que o filme era ruim, o que não era verdade, tudo era muito pensado e só quem tinha mais profundidade no assunto podia perceber isso. Ou seja, um falso modesto biscoiteiro querendo aparecer de forma tosca e com argumentos pífios. Acabou que um amigo comum, também da Bienal, mas alguém mais próximo a mim, veio participar da conversa, trazendo O nome da rosa (que o outro disse ter assistido umas 30 vezes, meodeos), e acabou concordando com nosso colega ufólogo que eu não tinha razão, que Highlander é ótimo, porque as luzes neon e tal. Mesmo uma amiga que concordou com a tosquice do filme foi questionada, porque, afinal, temos que zelar pela arte. Pensei em ser mal-educada, mas me contive. Porque, afinal, isso dá pano pra manga de outro post, sobre o sentido da arte, de que já falei aqui, mas que abre outra frente - o da importância da experiência individual diante da obra. A minha experiência, na conversa maluca no Facebook, por exemplo, foi totalmente desconsiderada. (Curiosamente, por dois homens. E aí me lembrei do outro "amigo" de FB que entrou no meu post só pra "discordar" da forma como chamei um prato. É muita petulância, por coincidência ou não, desses homens.)
Por fim, os espantos diários diante do desgoverno e de seus abduzidos asseclas que têm comparecido à CPI, como Nise Yamaguchi, que insiste no uso de medicamentos ineficazes, nega sua parceria com o Bozo e, por fim, foi pega no pulo pelo ótimo Alessandro Vieira, senador do Piauí, um dos poucos a fazer a lição de casa, mais preocupado em obter informações do que em falar do púlpito. 
Eu quase que não consigo mais trazer o queixo de volta nestes dias. 

domingo, 23 de maio de 2021

Pizza de pão pita com gorgonzola, alho-poró e castanha de caju

Já um clássico aqui em casa, a pizza feita com pão pita (ou árabe, ou libanês, ou sírio, tout le même). Guga falou em comermos pizza, em princípio buscar uma na nossa pizzaria favorita, mas depois sugeriu que fosse de pão pita. Daí, para sairmos do lugar comum, resolvi fazer um dos sabores da 7 Express, o de alho-poró, gorgonzola e castanha de caju, sobre mussarela e molho de tomate, claro. Não é que ficou muito, muito boa? Com a vantagem de que, feita em casa, a gente sempre faz recargos de ingredientes, sem miséria.  

sábado, 22 de maio de 2021

Férias na pandemia

Fazia muito tempo que eu não tirava férias. A última vez - também a última em que viajei - foi há um ano e meio ou mais. No começo do ano, fui obrigada a tirar, porque o prazo estava vencendo. Mas não tirei de fato - foi justamente o período em que estava chegando um primeiro lote de materiais para edição. A partir dali, ao longo do primeiro semestre, permanecemos num vórtice louco de trabalho, duplicado pela nova realidade digital, além da impressa. Suspeito que estava à beira do burnout, que se não tivesse comunicado à galera que íamos tirar, eu e Gustavo, duas semanas de férias, ia mesmo entrar em colapso. 
Montei logo uma lista de coisas a fazer em duas semanas, sem muita preocupação em realizar tudo. Fundamental era descansar e pintar e reorganizar o escritório, o resto era lucro. Porque limpar e organizar livros à medida que se finaliza uma parede - sim, não tirei nada de dentro do escritório, fui movendo as coisas de lugar, pintando, limpando, realocando - não é bolinho, ainda mais sozinhazinha. No final do dia de pintura (o dia anterior foi só para aplicar massa e lixar), parecia que eu tinha sido atropelada por um trator, ida e volta. Só tomando um Tandrilax para conseguir dormir sem dor. 
De repente, já na arrumação, parecia que eu tinha mais livros do que antes. Aparentemente, a estante de metal me daria mais espaço que a já empenada de madeira, mas não. Também a redistribuição de quadros na parede pede mais reflexão. Chica ainda não se encontrou debaixo da minha mesa, agora em outro lugar. Mas herdei um armário-escaninho de Guga, que deve comportar vários objetinhos expatriados. 
Já entrei no lucro porque, além de conseguir pintar e arrumar o escritório sozinhazinha, ainda lavo roupas, louça, cozinho, tenho assistido a uma oficina do Matizes Dumont e uma do Olivier Anquier. A ver se consigo dar uma geral nas plantas, assassinadas no período mais louco de trabalho, além de colocar em dia leituras da pós, bordar, escrever a sério - pelo menos, dar o primeiro passo em várias coisas, essas sim, que desejo rotineiras. Além de entregar a declaração de IRPF, enfim. Em outras férias, em outro contexto, estaria pensando em fazer uma viagem, mesmo curta, para a qual precisaria convencer o marido. Com a total impossibilidade de isso acontecer - viagem e convencimento -, resta aproveitar as férias tornando melhor meu espaço, exercitando habilidades, recriando a rotina. Maratonando a CPI da Covid, imagine - o retrato mais fiel da época em que vivemos. 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Quando dá certo é tão legal!

Aquela história de "o que tem na geladeira ou no armário" é muito válida aqui em casa. Normalmente, uma coisa puxa outra, um ingrediente chama o outro, e logo temos coisinhas diferentes saindo do forno ou do processador. 
Comprei outro dia, na promoção, o tal leite condensado Tirol, que é do Sul. Como tinha comprado biscoitos cream cracker pra fazer nuggets caseiros, pensei: por que não fazer uma torta com massa de biscoito e creme com leite condensado? E podia ser de maçã, já que tinha recém-adquirido um pacote. Então, de uma feita, saíram torta de maçã com creme de confeiteiro e nuggets caseiros. Duas descobertas ótimas: o nugget é perfeito (abaixo, a receita) e o creme de confeiteiro com leite condensado, que eu nunca tinha feito, é muito mais firme que o tradicional (usei 250 mL de leite condensado, 1/2 xícara de leite integral, 1 gema, 2 colheres rasas de sopa de amido de milho e 1 colher de sobremesa de extrato de baunilha). Logo imaginei a torta com uva verde ou morango, delícia. 
Numa dessas pesquisas de geladeira, resolvi fazer creme de avelã com o que tinha à mão: avelãs, amendoim, leite de coco, 2 quadradinhos de chocolate 60% cacau derretidos e xilitol. Tudo de restinhos mesmo, pra acabar, liquidação. E ficou ótimo - o único senão é que, depois que vai para a geladeira, a consistência e o sabor mudam um pouco. Isso já tinha acontecido com o óleo de coco, que fica muito sólido na geladeira. 
Agora, os nuggets: estudei algumas receitas que encontrei, como a do Tastemade e a da Panelaterapia, e resolvi arriscar o nugget com frango processado com alho e cebola e depois empanado. Mudei, claro, algumas coisas. E o resultado foi fantástico - segundo marido, o melhor nugget que ele já comeu. 

Nuggets caseiros perfeitos (16 nuggets médios)
500 g de filé de peito de frango em pedaços pequenos
1/2 fatia de pão integral
2 dentes de alho sem casca
1/2 cebola sem casca
50 g de biscoito cream cracker integral
1 colher sopa cheia de flocos de milho (usei flocão, para cuscuz)
1 colher chá de páprica (usei a doce, porque a defumada tinha acabado)
pimenta-do-reino a gosto
sal a gosto

Processe o biscoito com os flocos de milho, a páprica, pimenta e sal. Reserve.
Processe o frango até obter uma pasta. Adicione o pão, o alho e a cebola e processe novamente, até ter uma consistência uniforme. Tempere com sal e pimenta. Modele pequenas bolas (o equivalente a uma colher de sopa de massa) e empane na farinha de biscoito e milho, achatando-as levemente. Você pode assá-las no forno, em uma forma untada, ou fritá-las por imersão, ou na fritadeira sem óleo, como eu fiz. 
Prepare um molhinho com quantidades iguais de maionese e ketchup e umas gotinhas de shoyu ou molho inglês. 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um ano e dois meses

Com direito a pegar numa espécie de urtiga-cansanção achando que era muda de mamoeiro e ficar com os dedos e palmas das mãos vermelhos e queimando e coçando vários dias, a ser atacada por mutucas e cigarras, a ter que deixar baldes e bacias em pontos estratégicos da sala e do escritório porque, afinal, começou o inverno baiano e as goteiras se multiplicam - e por conta da chuva também arrumei um minijump, pra substituir as caminhadas nos arredores (15 minutos e quase tenho um treco, mas já tenho melhorado meu desempenho).  
Também começou a CPI para apurar responsabilidades na condução do combate à pandemia. Mas seguimos descrentes de tudo. Sempre detestei juízos de valor com relação ao Brasil, mas está sendo impossível não pensar que somos filhos do atraso travestido de cordialidade. A violência, as chacinas, a intolerância brotam de toda parte. A carestia não dá trégua. E a alma pesa, pesa, pesa. 

domingo, 18 de abril de 2021

Thelmas & Louises

Outro dia, revi Thelma e Louise (1991) na TV. Na minha memória, é um dos primeiros filmes com protagonistas femininas e a tratar de temas sensíveis para as mulheres, mesmo sendo dirigido por um homem, Ridley Scott. Assistindo-o hoje em dia, porém, parece até um pouco ingênuo, apesar da violência contra a mulher. Ou talvez seja pelo fato de, além de possuir um olhar masculino, o do diretor, o nosso olhar feminino ter mudado após 30 anos, e tudo o que vivemos ter ficado tão às claras.  
Não foi um acaso eu ter visto esse filme. Na verdade, procurei por ele, após ter criado com queridas de longa data um grupo de WhatsApp, Thelmas & Louises. Porque, para além das aventuras e desventuras vividas pelas maravilhosas Susan Sarandon e Geena Davis, a película, na minha opinião, fala sobretudo sobre amizade. Amizade entre mulheres, algo que tem sido redescoberto com a importância da sororidade nos debates feministas atuais. 
Conheci as cinco integrantes do T&L no trabalho. Lembro-me de um amigo de lá me dizer que eu era muito ingênua de pensar que colegas de trabalho formavam uma família - ele, inclusive, é um irmão para mim até hoje. Mas não se tratava disso: eu sabia que a maioria das pessoas só passaria por mim como águas heraclitianas, para nunca mais voltar. E que uma parte, apenas uma parcela mesmo, ficaria, desembarcaria no meu porto e fundaria cidades no interior, criaria memórias e que tais. Assim tem sido com as cinco, há quase 30 anos. 
Tão diferentes somos! Quantas combinações de qualidades diferentes há em cada uma, mas vejo em todas, em momentos diversos, humor, inteligência, sensibilidade, força e muita doçura. Sinto, mesmo à distância, a dor de cada uma, vibro com o sucesso de cada uma. Em nossas lives, vejo ainda as meninas que trabalhavam comigo, mas sobretudo com quem organizava amigos-secretos, festas de aniversário e à fantasia, com quem viajava, ria e compartilhava dramas, com quem aprendi tanto nesse longo aprendizado de ser e de ser mulher. Estão aí, elas. As mesmas meninas, o mesmo afeto. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Sandes cubanos, sorvete de chocolate perfeito e extravagância chocolateira

Na semana passada, fiz os sanduíches cubanos do filme Chef, com o Jon Favreau. Usei lombo fatiado e marinado em suco de laranja e limão, cominho, alho, azeite durante um dia inteiro, presunto de Parma, queijo minas padrão, picles agridoce e mostarda amarela. Não deu tempo de fazer pão, então usei pão francês do supermercado mesmo. Grelhei lombo (podia ter cortado mais fino), tostei o pão besuntado em manteiga, montei o sandes com lombo, presunto, queijo, picles e um fio de mostarda e levei, de novo besuntado em manteiga derretida, ao George Foreman. Ficou uma delícia, a marinada é um perfume só - mas cortaria mais fino o lombo e deixaria mais um dia marinando. Uma observação importante: esses sandes, embora chamados cubanos, parecem ser criação de expatriados que vivem em Miami, tipo o nosso bauru, inventado por um paulista.
De sobremesa, o melhor sorvete de chocolate que já fiz. Usei 200 mL de leite condensado caseiro, 200 mL de creme de leite, 100 mL de leite de coco, 1/2 xícara de chocolate em pó 70% cacau. O leite condensado foi feito com 50 mL de água quente, 60 g de xilitol e 60 g de leite em pó. Perfeição.
E, pra continuar na farra chocolateira, fiz uma extravagância. Lá no querido grupo ECDE dei de cara com os chocolates Monjolo, feitos com cacau baiano pela Luana Vieira, de Barão Geraldo, Campinas. E um ovo de Páscoa de chocolate branco com limão siciliano, gengibre e castanha de caju. E barras rústicas. E um creme de cupuaçu com amendoim e cupuaçu cristalizado, de comer rezando - comi o pote todo em 3 dias, já que marido não curte muito cupuaçu, pra minha sorte (aliás, o creme também é produzido na Bahia, em Olivença). O ovo de Páscoa de 200 g é caro pros nossos padrões, equipara-se em preço a um da Kopenhagen. Mas vale cada centavo - sério, os melhores chocolates que já comi foram estes da Monjolo, que, ainda por cima, são lindos (confesso que tive um certo preconceito de classe quando vi a sofisticação toda, e logo pensei que o pensamento e a ação de esquerda não pode ser restringido por isso, especialmente no contexto capitalista em que vivemos). Só houve o incidente de o pote de creme de cupuaçu ter amassado o ovo. Também a barra rústica não era o sabor que eu queria - são dois, e eu achava que tinha indicado o de frutas secas, mas Luana também não perguntou, e acabou enviando justamente o outro, com frutas secas e flores. E ela tinha prometido enviar uns bombons de presente, mas não rolou. Pontuei tudo isso com ela, que me prometeu enviar outro ovo e a barra correta. A ver. 

sábado, 13 de março de 2021

Um pão de hambúrguer perfeito e um lockdown imperfeito

Temos vivido nas últimas semanas sob toque de recolher. Não é um lockdown, como alguns insistem em dizer. São medidas medianamente restritivas - o povo continua nas ruas, mas metade do comércio, considerado não essencial, permanece fechado. Tudo deve fechar entre 20h e 5h e bebidas alcoólicas não podem ser vendidas entre sexta-feira e domingo. Só.
Como ouvimos dizer que talvez a Bahia endurecesse essas medidas - ainda longe do lockdown, importante dizer -, fechando o comércio inclusive no final de semana, resolvemos nos adiantar e sair pra comprar víveres. Pensamos em almoçar em Lauro, mas estava só rolando delivery, para revolta do marido. Quando chegamos por aqui, o shoppingzinho também só estava oferecendo sandes por entrega, que devia ser combinada pelo app. Bueno, almoçamos macarrão com uma pitadinha de amargura. 
Pra compensar o não sandes do almoço, tive a ideia de fazer para o jantar um pão de hambúrguer, já que tinha sobrecoxa descongelada à mão. E fritas na Fritza, um luxo. Resolvi usar uma receita ainda não experimentada do meu hoje abandonado livro do Sebess, que me socorreu tantas vezes.  
E, então, com o distanciamento imposto pela pandemia à feitura dos pães, tive alguns insights. Li a receita, achei bem balanceada e rápida, mas adicionei por conta própria um pouquinho de leite em pó, para ter mais gordura e um gostinho. Modelei de dois jeitos - abrindo a massa e cortando círculos e boleando. Me ocorreu que talvez do primeiro jeito eu tivesse um pão mais aerado, menos denso do que o boleado (meus pães de hambúrguer são sempre boleados, e alguns ficam mais pesados do que devem). E pincelei com manteiga derretida, em vez de ovo - normalmente utilizado em brioches. Trinta minutos de descanso antes de modelar, mais trinta para crescer, enquanto o forno aquecia, mais trinta de forno a 200 graus, depois um pouquinho de grill para escurecer mais um tiquim. 
Cara, foi o melhor pão de hambúrguer que fiz. Talvez baixe mais o forno para deixar mais tempo sem o risco de queimar embaixo e para dourar mais a casca, deixar esfriar com a porta do forno entreaberta para não enrugar. Mas, de resto, supermacio. O que foi cortado em círculos não cresceu tanto, talvez devesse abrir menos a massa - mas foi o que ficou mais aerado. O boleado ficou muito mais macio do que seus antecessores. 
Com a sobrecoxa de frango frita, ficou melhor que o do KFC. Como disse o marido, só faltou um pouco de alface americana para ficar perfeito (para mim, já ficou). 

Ingredientes (para 4-5 pães):
- 250 g de farinha de trigo
- 75 g de manteiga em temperatura ambiente
- 5 g de sal
- 7 g de fermento biológico seco
- 10 g de leite em pó
- 150 mL de água
- 75 g de açúcar

Junte os secos e vá adicionando aos poucos a água. Incorpore a manteiga quando tiver formado uma massa mais homogênea; sove por cerca de 10 minutos, até descolar da batedeira ou tigela. Deixe descansar por cerca de 30 minutos e então modele os pães, distribuindo-os sobre uma assadeira e cobrindo-os com plástico. Conte mais 20-30 minutos de fermentação, então aqueça o forno a 200 graus por mais 30 minutos. Ao final de quase uma hora (fermentação + tempo de aquecer o forno), deverão ter crescido bastante. Pincele cada pão com manteiga derretida e leve ao forno por 30-40 minutos, até dourar a casca, cuidando para não queimar a parte de baixo. 

domingo, 7 de março de 2021

Um ano de quarentena

É sério: não consigo curtir fotos de amigos e conhecidos en voyage por aí, desde que a pandemia começou e ainda mais agora, no seu pior momento. Teve até quem tentasse se justificar, porque já havia comprado pacote de viagem e tal, mas me desculpe, acho que não há o que dizer a quem resolve viajar e ficar se exibindo sem máscara em paraísos tropicais, pobrezinho-tão-cansado-da-pandemia, enquanto contabilizamos mais de 250 mil mortos. É desrespeitoso e absurdo demais esperar que disso venha um like. Isso vale para anônimos e famosos. Mas é assim que chegamos a um ano de quarentena, assistindo a esse show de horrores humano, nas altas e baixas esferas. 
Hoje tomamos sol na grama, no nosso privilégio de classe média baixa. A maior parte dos estados brasileiros vive situação de calamidade, com 90% ou mais de leitos ocupados, gente morrendo dentro de ambulâncias ou em cadeiras fazendo as vezes de leito em hospitais. O governador baiano chora ao se solidarizar com um pai que perdeu sua filha de 16 anos para a Covid-19. O perverso-mor continua lançando suas chispas de ódio, cortina de fumaça para os descalabros familiares, como a recém-comprada mansão do filho mais velho, que está conseguindo se livrar da maior parte das investigações contra ele. Continuamos apáticos diante da hecatombe, da onda gigante, tsunami de destruição. Nem em meus piores pesadelos eu sonharia em viver uma situação assim, em assistir ao desastre brasileiro, à derrocada humana, a uma crise humanitária mundial.
É desesperador imaginar que dias piores ainda virão, com muita gente morrendo não só de Covid, mas de fome e pela violência, porque tudo agora está interligado. Mesmo fazendo força para manter o equilíbrio, a alma não pode sair intacta. Mesmo tendo mais clareza do que importa, do que trago para dentro como mais valioso, é difícil sonhar o futuro.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Rotinas do décimo-primeiro mês pandêmico

Hoje me dei conta de como parece que estamos no período medieval inclusive na forma de contar o tempo - em semanas ou meses associados a um evento. Em vez de ano I d.C. ou Ano da Morte de Ricardo Reis, temos o tempo da pandemia. Hoje é o décimo-primeiro mês da dita cuja por aqui, mas em outros países até começou antes. 
Por esses dias, depois da chegada de Frau Fritza e de algumas experimentações, consegui fazer o filé à parmigiana, seguindo as dicas de um chef blogueiro patrocinado pela Mondial. Ele indica forrar o cesto da air fryer com papel alumínio, para não escorrer o molho. Ficou perfeito, mas, foi postar nas redes, e vieram as advertências - alumínio passa pra comida, alumínio queima a air fryer. Acho que tudo procede, e o próprio chef fica em cima do muro com relação a isso quando indagado se pode ou não usar papel alumínio ou manteiga no equipamento. No final das contas, minha amiga Luciana Tchu deu a dica preciosa de usar folhas de acelga nesses casos de comida com molho.
Recebi a encomenda do doce feito de melaço e coco por Rafa, colega do curso de jornalismo gastronômico. Podemos dizer que é um gosto adquirido - no terceiro dia, já tinha conquistado os paladares, mas no primeiro causou um certo estranhamento. Provavelmente, é muito apreciado em Fortaleza. Os caramelos, mais puxa-puxa, ficavam muito grudados no acetato. Mas a apresentação de tudo é muito bonita. 
Também chegaram meus sapatos da Wishin. Toda vez que apareciam na minha timeline, eu pensava em como eram bonitos, mas como arriscar comprar sapatos que nunca experimentei? Daí, houve uma boa liquidação e resolvi arriscar. Provavelmente, o ótimo custo-benefício se deve ao barateamento do uso de material plástico no solado, que não compromete o visual nem a qualidade. O couro macio abraça os pés.
Pedalei na última semana, numa trégua da chuva, e ganhei duas picadas de mutuca, uma em cada ombro. Sigo como laboratório de alergias a picadas de inseto. 
Como ninguém é de ferro, também temos momentos de mormaço com pets (cã trabalhadora e cão pilateiro) e marido. 
Hoje adoraria um mormaço tranquilo, mas os prazos urgem contra. 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Novos padrões de consumo

O que a pantys e uma luminária artesanal podem ter em comum? 
Além da lindeza, da perfeição na entrega e na confecção dos produtos, o fato de serem produtos que pensam o consumo de forma mais responsável - a pantys evita o descarte insano de absorventes pelo país; as luminárias do Fiu, que vem lá da Ilha da Maré, em Salvador, fazer a entrega cá no litoral norte de ônibus, são feitas de palha de coqueiro, aproveitamento de um descarte naturalíssimo. 
Conheci as luminárias do Fiu, que é de uma simpatia simples e querida, indo buscar pizzas em Açu da Torre. Lá, na minha pizzaria favorita, me deram o contato do rapaz que fazia todas as luminárias lindas do local. Entrei em contato com ele, que me enviou um monte de fotos para escolher e foi muito atento e rápido nas respostas por WhatsApp. Nem quis que eu depositasse a grana antes, disse que confiaria em mim, que poderia pagar na entrega. Coisas lindas de interior. 
Quanto à pantys, acabou sendo minha solução depois que o coletor menstrual não rolou. As peças são lindas, confortáveis, chegaram logo e vieram nessas embalagens fofíssimas, ainda com um saquinho para lavagem ou para guardar. 
Embora eu já viesse tentando comprar do pequeno ou do ecológico sempre que possível (móveis com os meninos do Gato Maloko e o mel maravilha do Capão diretamente com o presidente da cooperativa, Pedro), agora, com a pandemia, os pequenos negócios de todo tipo têm ficado mais evidentes. A Rede Dotsy, de São Paulo, criada pela Kuki Bailly, já fazia, bem antes da Covid-19, a promoção de vários profissionais locais com sucesso. Eu nunca comprei nada porque estava fora de SP. Agora há a ECDE, Esquerda Compra da Esquerda, uma iniciativa da simpaticíssima Érica Caminha (olha a mulherada aí, sempre) para promover, num momento de extrema dificuldade financeira para todos, a circulação econômica entre aqueles que se identificam com princípios éticos como ecologia, solidariedade, respeito às diversidades. Tem gente do Brasil todo e de alguns outros países e engloba artesãos, artistas plásticos, escritores, professores, trabalhadores domésticos, mecânicos, faz-tudo, médicos, dentistas, psicólogos, tudo o que se imaginar. Mesmo de outros estados, já fico de olho em várias utilidades e bonitezas - até porque mais que nunca tenho comprado pela internet e tudo chega por correio mesmo. 
Além de apoiar os pequenos e os locais (nas compras de supermercado, tenho preferido as empresas nacionais), evito o mais que posso comprar de quem está alinhado com ideias fascistas e seus propagadores. Nunca mais pisei na Centauro, por exemplo. Mal entro na Riachuelo e agora tenho minhas ressalvas com a Mundo Verde. Nunca fui ao Madero, e sei que não irei nunca. 
Também no consumo, princípios são fundamentais.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Fritza, nosso eletrodoméstico da pandemia

A maioria dos meus amigos comprou batedeira planetária, forno elétrico e aspirador de pó na pandemia. Conversando com Ná e Rafa, vi que eu não tinha comprado nenhum eletrodoméstico, ora.
Há uns anos, pensei em comprar uma fritadeira a ar, mas Guga achava que era um item totalmente desnecessário. Acabei concordando com ele porque não tínhamos mesmo espaço, e ela costuma ser um trambolho de tão grande, desproporcional à nossa cozinha.
Mas minha sogra comprou, no ano passado, uma da Mondial, e usa quase todo dia. Meu marido ficou encantado com os preparos e decidiu que era hora de termos uma. Ponderei sobre o espaço (que continua o mesmo), ele disse que não seria problema. Alegou que me daria muito menos trabalho, que sujaria menos louça etc.
Compramos. Na verdade, ela ainda não tem um lugar fixo, está sobre a pia, meio trambolho. Fiz filé à milanesa, ficou muito seco, talvez devesse ter deixado menos tempo. Me assustei um pouco com o cheiro de plástico, mas parece que passa. A sobrecoxa de frango, com brócolis congelados, ficou ótima. De fato, é mais fácil de limpar, bem antiaderente. 
Agora o céu é o limite, porque dá para fazer até pratos com caldo, retirando a cesta. A ver se ficam tão bons quanto as versões tradicionais ao fogo. 

Nós que aqui estamos, pra onde será que vamos?

Como já imaginávamos, 2021 começou e pouca coisa mudou. Prosseguimos na pandemia, quarentenados, já com a chuva dando as caras após uma trégua de um mês. Dez meses e meio de quarentena, mas agora com mais temor da Covid-19, que vem de novas cepas do vírus, imagine só. Além das loucuras e desmandos diários do governo federal, da violência crescente contra mulheres, trans, negros e pobres, do aumento incessante dos preços de tudo, de gente vivendo em condições análogas à escravidão em pleno século 21. 
Se já estamos normalmente no final da fila de qualquer campanha de vacinação, agora, com a disputa eleitoreira, nem sabemos em que ano seremos vacinados. Talvez só nos reste pagar pela vacina, torcendo para que o valor cobrado caiba no bolso. 
Ontem, uma amiga com quem não falava faz tempo, ligou, reafirmando a vontade de voltar a nos encontrar, com esperança na vacina - ela, que faz parte do grupo da quarta fase, conta com ser vacinada ainda este ano. 
Realmente não sei quando voltaremos a transitar com mais segurança, e por isso me causa um certo horror ver pessoas conhecidas viajando pra lá e pra cá, postando suas fotos sem máscara com outras pessoas sem máscara circulando ao redor, tudo por uma selfie. Eu entendo que todos estão esgotados com a situação de pandemia, mas simplesmente jogar tudo pra cima me parece mais um ato egoísta de quem não se importa com o coletivo do que uma ação suicida. Sigo enxergando a divisão da sociedade entre quem se importa e quem não se importa. O único meio-tom possível é quem se importa mas não tem condições de ficar em casa, é obrigado a circular etc. 
Agora em janeiro tive uma fugaz esperança de encontrar uma pós-graduação, mas acabou-se quando soube que o professor que ministraria uma disciplina com vagas para aluno especial já foi acusado de assédio, machismo e homofobia. Foi inocentado pela instituição, mas resolvi não pagar pra ver. Ah, que mundo torto o nosso.
As coisas boas, a gente vai catando no meio dessa lama toda, como os grupos solidários que, se não conseguem o impeachment do Bozo, pelo menos ajudam quem precisa a sobreviver, caso do recente ECDE, maravilhoso, grupo de compra e venda da galera das esquerdas. As comunidades continuam se organizando para fazer frente à crise e garantir comida no prato da galera, como no projeto Arranjo Local da Penha, no Rio. Há movimentos de ajuda aos amazonenses, que vivem uma tragédia sem precedentes com a falta de oxigênio (suprema ironia) para os pacientes hospitalizados. 
Há muita picaretagem, fura-filas da vacina, corrupção na compra de insumos, mas ainda há gente boa, e seguimos tentando manter ao menos a cabeça acima da lama.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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