segunda-feira, 12 de agosto de 2024

A volta do fogão

Por esses dias, me ocorreu que, quando não souber o que fazer, faça o que sabe fazer de melhor. 
Calhou que eu estava há muito tempo ensaiando uma revisão do fogão. Ainda no sítio, chamei um técnico cego (isso mesmo, cego) para resolver um problema no forno maior e em duas bocas e ele propôs tirar as válvulas de segurança dos dois fornos, além de limpar as bocas, tudo utilizando tato e olfato. Em princípio, funcionou, mas isso durou alguns meses apenas - e não havia outra opção de serviço na região.
Quando mudei para Salvador, o fogão já estava apenas com três das cinco bocas funcionando, e apenas um forno, o menor, pois o maior ficou totalmente desregulado, com uma chama gigantesca, e eu passei a evitar o uso. Somente este mês chamei um técnico, que encontrei no Google, para fazer a revisão. 
A dupla de técnicos não veio no dia marcado, mas no seguinte (como o técnico da lava-louça; quase sugere um padrão). Propuseram desmontar as grades dos fornos e limpar fornos e bocas, além de trocar os queimadores das cinco bocas. O queimador do forno maior, uma placa enorme, estava corroído, então foi preciso trocar também. Caríssimo o total. Mas era possível dividir no cartão (com juros, o que deixou ainda mais caro). Sou muito ruim de barganhar o serviço alheio, e topei (até porque nem imagino quando teria condições de comprar outro fogão, ainda mais como este). De todo jeito, o fogão está perfeito, tudo funcionando, inclusive o botão do acendedor para os fornos. 
Para comemorar, resolvi fazer pão. Fui de australiano mesmo, mas empregando a maior paciência no tempo de fermentação. O resultado foram dois pães de 500 g cada, lindos, macios, deliciosos como há tempos não fazia. 
Claro que imaginei que ficariam bons, porque isso eu sei fazer bem. É disso que eu falava no início: diante de um problema para o qual ainda não vemos solução, o melhor é focar em outra coisa, neste caso, algo cujo resultado seja o melhor possível. Uma variação do "continue a nadar", mas enriquecido pela lembrança dos nossos talentos, que nunca são coisa pouca.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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