segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Heatcliffs e as mulheres

Outro dia, vi um anúncio da nova versão cinematográfica de O morro dos ventos uivantes, de Emily Brönte (aliás, li há pouco o livro de Rosa Montero, Nós, mulheres, que fala de diversas mulheres históricas, entre elas as melancólicas e criativas irmãs Brönte). 
Li o livro de Emily Brönte ainda meninota e ele também foi responsável por me fazer acreditar que amores de verdade eram dolorosos. Pelo jeito, a diretora da nova versão em filme, Emerald Fennell, também acredita nisso, ao dizer que se trata "da maior história de amor de todos os tempos". 
Hoje, tantos anos depois, com o distanciamento necessário e em plena semana de organização do Levante Mulheres Vivas, contra a epidemia de feminicídios no Brasil (mulheres espancadas, mutiladas, queimadas, mortas a tiros em diversas cidades), parece irônico que esse tipo de comportamento masculino, totalmente tóxico, abusivo, obsessivo, violento, possa ser considerado amoroso. 
Mesmo com um homem lindo como Jacob Elordi (antes dele, Lawrence Olivier, Ralph Fiennes, Tom Hardy - aliás, todos brancos, bem diferentes da personagem criada por Brönte, que o descreve como cigano, de pele escura) é um desserviço (re)vender essa ficção como modelo de relacionamento (amor além da morte, cruz credo!). Também é um desserviço tirar da história o racismo e o classismo evidentes - o que não justifica, embora explique em parte a violência masculina.
A realidade grita nas ruas algo muito diferente desse modelo de "amor". Nós, mulheres, gritamos em resposta pela nossa liberdade e pelo nosso direito de viver. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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