quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Vida real

Miados às 6 da manhã. Viro para lá e para cá e tento dormir só mais um pouquinho... Miados mais fortes (estarão sem comida?); os cães da rua parecem se juntar a eles para compor uma sinfonia animal. Barulho de caminhões, as obras ao redor iniciam seu ruído. A vizinha da casa da frente vem para o portão, conversar ao celular em voz bem alta. Passa a senhorinha com seu cachorro - os cachorros vizinhos não são simpáticos ao vê-lo; mais latidos, agora inamistosos.
Sou vencida pelos barulhos matinais. Depois da ração dos gatos, meu suco verde. Coar ou não coar? Hoje resolvo não coar. Escovar dentes, passar protetor solar, trocar de roupa, calçar tênis. Saio pra caminhar, mas abrevio a caminhada, para não perder "tanto tempo". As mesmas pessoas no parque e na rua. No caminho de volta, muitas obras sobem ao céu. Logo não terei parte da minha vista do escritório. Por sorte ainda há casas em frente, inclusive a da vizinha que fala muito alto ao celular.
Um banho rápido, pois é preciso economizar água. Nunca achei que tomaria banho frio sem reclamar na minha própria casa. Mudança de paradigmas, como o carrinho de feira, que achei que nunca usaria pelo meu horror aos carrinhos que passam sobre meus pés quando vou à feira.
Café com torradas - faz dias que não me animo a fazer pão. Os levains estão desfalecidos na geladeira; qualquer hora preciso alimentá-los só para que não sucumbam de vez. A geladeira, aliás, está quase desfalecida, e não só por seus 14 anos de uso - faz uns dias que não consigo ir à feira, logo eu, que fiquei tão animada porque meu lixo orgânico está mais ativo que o reciclável. Andei comendo comida amarela de novo, nesses dias. Carboidratos, doces. Mesmo sabendo que isso pesará junto comigo na balança - a tentação da alegria mais fácil.
E-mails de autores - atrasos, dúvidas ou simplesmente avisar que fizeram a entrega no drive. Escrevo e edito o manual para os preparadores, volto às pautas, leio os capítulos entregues pelos autores. Dou broncas, de vez em quando digo que tudo bem. Continuo sem assistente. Os gatos dormem no sofá-berço; às vezes me observam com olhos semicerrados, fazem charme quando me aproximo, erguem a barriga para eu acariciar. Se eu fumasse, fumaria nessa hora, quando me ergo para me espreguiçar e fazer um chá, já que agora tomo café só pela manhã. Atendo a um autor pelo Skype.
Está difícil emagrecer, mesmo com a geladeira meio às moscas. Cadê os efeitos do suco verde? Quando for possível, preciso voltar à academia, talvez praticar alguma luta para reanimar. Ioga é ótimo, mas é bom para acalmar a mente, não para agitar o corpo. Chega também o momento em que preciso de mais ordem na minha vida.
Passo roupa durante o jornal da noite; os gatinhos pulam para alcançar cordões soltos. Depois volto ao escritório para escrever o trabalho da pós. O cérebro parece destreinado. As palavras não parecem querer se juntar. Releio coisas que escrevi para outros trabalhos, acho tudo uma droga. Resolvo não aproveitar nada das ideias passadas e me concentro para não escrever alguma besteira. Faço o que é possível, mesmo sabendo que pode ser pouco. Uma amiga quer marcar um almoço - para depois do feriado. A ver. Amanhã preciso pagar impostos.
Outro banho curto, agora morno. Vou para o quarto ler um pouco antes de dormir, um livro sobre história da alimentação.
Olho para minhas mãos. Caramba, esqueci de fazer as unhas de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog