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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Vida real V

Tomo um eparema - o salgado da lanchonete da faculdade não caiu bem - na verdade, nunca cai. Glúteos dormentes após 4 horas na cadeira de boteco branca que compõe o mobiliário da sala de aula. Discurso interminável de professor visitante, que me olha buscando concordância ao que diz enquanto rabisco ideias no caderno. A lembrança de Fafá de Belém cantando de forma estonteante "Vapor barato" me leva pra mais longe, a tomar aquele velho navio.
Vejo as tarefas se amontoarem, porém sigo respirando fundo diante de cada uma. Uma de cada vez. As atividades que me fazem criar e pensar outras coisas têm ajudado no respirar profundo. Uma coisa de cada vez. Reinventando o tempo, ainda que precise respeitar prazos. Provavelmente, voltarei à ioga.
Além das edições, três trabalhos para fazer, todos ligados, de algum modo, à futura pós. Sinto um frio na barriga bom, como quando esperava o primeiro dia de aula. Criar, conceber. Great expectations. O futuro bem aqui. Dickens and me.

terça-feira, 31 de março de 2015

Vida real III

As alergias já dão as caras, mal tem início o outono. Narinas secas, tosse, muita coceira nos olhos, Polaramine, colírio, água, sono. Coceira nas pernas - será que agora vou pegar dengue?
Tenho a impressão de estar falando baleês. Alguns autores que não respondem, se fingem de mortos. Uma autora com dengue, de fato. Eu no meio do vórtice de leituras críticas, pautas, preparações. Cronograma que já foi pro saco. Mas há autores que cumprem seus prazos - nem tudo está perdido.
Faxina, dieta do bom humor, limpar banheiro de gatos. Preguiça de cozinhar. Muito, muito sono após o antialérgico. Só 400g eliminados depois de uma semana sem comer doces. Poderia ser melhor, mas poderia ser pior. E o purê de batata-doce com canela faz a balança pender para o melhor.
Faço a mim mesma promessas que não consigo cumprir e compro livros. Também faço uma lista de todos os livros que devo ler antes de comprar qualquer outro - se a seguir de fato, a leitura demorará meses, o que significa cumprir minha promessa de não comprar um livro tão cedo.
Assisto a um documentário perturbador, Finding Vivian Maier (de novo as sombras da alma), termino de ler Vargas Llosa. Isso me dá a sensação de dias produtivos, mesmo quando autores não respondem e meu trabalho fica parado.
Com a caneca de leite quente e cacau nas mãos, penso que, mesmo não sendo tão fácil, este ano já é, sem dúvida, melhor que o que passou. Penso também que consegui aumentar uma volta na caminhada pelo parque. E assim vou dormir mais feliz.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Vida real

Miados às 6 da manhã. Viro para lá e para cá e tento dormir só mais um pouquinho... Miados mais fortes (estarão sem comida?); os cães da rua parecem se juntar a eles para compor uma sinfonia animal. Barulho de caminhões, as obras ao redor iniciam seu ruído. A vizinha da casa da frente vem para o portão, conversar ao celular em voz bem alta. Passa a senhorinha com seu cachorro - os cachorros vizinhos não são simpáticos ao vê-lo; mais latidos, agora inamistosos.
Sou vencida pelos barulhos matinais. Depois da ração dos gatos, meu suco verde. Coar ou não coar? Hoje resolvo não coar. Escovar dentes, passar protetor solar, trocar de roupa, calçar tênis. Saio pra caminhar, mas abrevio a caminhada, para não perder "tanto tempo". As mesmas pessoas no parque e na rua. No caminho de volta, muitas obras sobem ao céu. Logo não terei parte da minha vista do escritório. Por sorte ainda há casas em frente, inclusive a da vizinha que fala muito alto ao celular.
Um banho rápido, pois é preciso economizar água. Nunca achei que tomaria banho frio sem reclamar na minha própria casa. Mudança de paradigmas, como o carrinho de feira, que achei que nunca usaria pelo meu horror aos carrinhos que passam sobre meus pés quando vou à feira.
Café com torradas - faz dias que não me animo a fazer pão. Os levains estão desfalecidos na geladeira; qualquer hora preciso alimentá-los só para que não sucumbam de vez. A geladeira, aliás, está quase desfalecida, e não só por seus 14 anos de uso - faz uns dias que não consigo ir à feira, logo eu, que fiquei tão animada porque meu lixo orgânico está mais ativo que o reciclável. Andei comendo comida amarela de novo, nesses dias. Carboidratos, doces. Mesmo sabendo que isso pesará junto comigo na balança - a tentação da alegria mais fácil.
E-mails de autores - atrasos, dúvidas ou simplesmente avisar que fizeram a entrega no drive. Escrevo e edito o manual para os preparadores, volto às pautas, leio os capítulos entregues pelos autores. Dou broncas, de vez em quando digo que tudo bem. Continuo sem assistente. Os gatos dormem no sofá-berço; às vezes me observam com olhos semicerrados, fazem charme quando me aproximo, erguem a barriga para eu acariciar. Se eu fumasse, fumaria nessa hora, quando me ergo para me espreguiçar e fazer um chá, já que agora tomo café só pela manhã. Atendo a um autor pelo Skype.
Está difícil emagrecer, mesmo com a geladeira meio às moscas. Cadê os efeitos do suco verde? Quando for possível, preciso voltar à academia, talvez praticar alguma luta para reanimar. Ioga é ótimo, mas é bom para acalmar a mente, não para agitar o corpo. Chega também o momento em que preciso de mais ordem na minha vida.
Passo roupa durante o jornal da noite; os gatinhos pulam para alcançar cordões soltos. Depois volto ao escritório para escrever o trabalho da pós. O cérebro parece destreinado. As palavras não parecem querer se juntar. Releio coisas que escrevi para outros trabalhos, acho tudo uma droga. Resolvo não aproveitar nada das ideias passadas e me concentro para não escrever alguma besteira. Faço o que é possível, mesmo sabendo que pode ser pouco. Uma amiga quer marcar um almoço - para depois do feriado. A ver. Amanhã preciso pagar impostos.
Outro banho curto, agora morno. Vou para o quarto ler um pouco antes de dormir, um livro sobre história da alimentação.
Olho para minhas mãos. Caramba, esqueci de fazer as unhas de novo.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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