sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Cozinha e silêncio

Também na pós, o chef Tsuyoshi Murakami (não, não é parente do escritor) trouxe uma ideia que encontrou eco em meu coração (como o Troisgros com a comida de panela): a necessidade de silêncio na cozinha. 
Pra falar a verdade, minha cozinha sempre foi ruidosa, sempre teve a ver com reencontrar amigos e colocar conversa em dia, em torno de panelas e temperos. Já deixei muita gente passando fome enquanto preparava um prato e parava para participar das conversas.
Depois que casei, porém, e tive de reinventar a rotina culinária - porque agora tínhamos horário para comer, todo dia -, ficar conversando enquanto cozinho ficou menos divertido. Ou melhor, virou algo pouco prático. Cozinhar exige mesmo muita atenção, especialmente quando você cozinha sozinho e prepara muitas coisas ao mesmo tempo. Não à toa, qualquer distração gera pratos queimados, temperos esquecidos etc.
Por outro lado, conversar com os convivas é muito bom. Que ocasião melhor para conversar que em torno de um cafezinho com bolo? Nos casos em que vamos receber muita gente para almoçar ou jantar, agora procuro deixar quase tudo pronto, para poder desfrutar também da companhia dos convidados, embora ainda haja muito entra e sai da cozinha de minha parte.
De todo modo, ainda sonho com o dia em que terei uma cozinha com mais espaço para experimentações e equipamentos adequados, onde eu possa ficar quieta comigo e com meus ingredientes, totalmente presente naquilo que faço. Uma terapia para mim (já que somente no silêncio conseguimos entrar em contato com nossa essência), mas certamente uma garantia de qualidade da comida que irá à mesa. Todo mundo sai ganhando. 

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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