domingo, 25 de novembro de 2018

Paellando

Não me lembro exatamente de quando foi a primeira vez que comi paella na vida. Mas me lembro do coup de foudre que sofri ao assistir a Carmen, de Carlos Saura, em uma sessão de cinema na semana cultural do colégio. Não conhecia Saura, sabia de que tratava a história por ter lido um livro da coleção Vaga-Lume, que mencionava a ópera de Bizet. Daí não só a paixão fugidia dos personagens, mas também tacones, e palmas, e cantes, tudo de forma tão perfeita e concatenada: fiquei imediata e irremediavelmente apaixonada pela cultura flamenca/espanhola. A paella, na verdade, veio na esteira do encanto com a dança, a língua, a literatura. Depois fui descobrindo outros aspectos culturais e gastronômicos que me encantam, mas primeiro, definitivamente, veio o flamenco. 
Até fiz aulas de flamenco, bem mais tarde, cerca de um ano e meio, com direito a apresentação de final de ano. Mas entre a dança e a cozinha, sem dúvida, a segunda é onde me saio melhor - ainda que o caráter democrático do flamenco, que acolhe todos os corpos, e o sentimento de fazer parte do bando sejam gratificantes em si. Mesmo não sendo uma boa bailaora, que felicidade era estar ali com todas e comigo mesma!
Quanto à paella, como já postei aqui, uma vez Claudia e Helio foram prepará-la em minha casa. Ficou bem boa, mas talvez um pouco forte para meu paladar ainda pouco treinado. 
Depois experimentei a do restaurante Paellas Pepe, no Ipiranga, aonde fui uma vez com Adriana e Miriam, que conheci no Atacama, e com minha amiga Luciane. Aliás, o que tínhamos as quatro em comum para escolher esse lugar para o encontro? O flamenco. Além do tablao, o Paellas Pepe oferece o espetáculo da paella sendo preparada ao lado das mesas, numa paellera enorme, que serve a todos os presentes. Foi do site do restaurante que retirei a receita que usamos na casa de Cris. 
No nosso almoço do curry tailandês, Cris propôs que fizéssemos uma paella na sua casa. Ela compraria os ingredientes para eu cozinhar. Avisei logo que só tinha comido paella, nunca preparado. Mesmo assim, ela resolveu arriscar. Enviei a receita do Pepe, e ela foi atrás dos ingredientes e temperos. 
Quando chegamos lá, o mise-en-place mais bonito de todos os tempos me aguardava, distribuídos numa bancada típica de programa culinário de TV. Vesti o avental, dei uma revisada na receita e botei a mão na massa. 
Não é que saiu bem boa? Até prefiro os frutos do mar assim limpinhos do que com casca, mesmo perdendo um pouco em sabor marítimo. Os convidados aprovaram, e eu também. Sorte de principiante? Ya no creo, porque traigo esas paisajes en mi alma. 

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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