Provavelmente foi na minha primeira viagem a Recife que, visitando a irmã de minha avó, tia Edna, e sua família, ganhei um livro que teria pertencido a meu pai. Tio Luís, meu tio-avô, veio, todo misterioso e cheio de pompa, dizer que ia me presentear com o livro de um grande homem - no caso, meu pai. O próprio.
Era uma coletânea de contos russos. Já era um exemplar velho quando recebi de tio Luís, letras pequenas, papel amarelado - não estimulava muito a leitura. Mas guardei, como uma espécie de relíquia, uma herança indireta - e a única - de meu pai.
Na última semana, resolvi limpar e reorganizar meus livros - desde a mudança, estavam dispostos em uma ordem ínfima, dificultando encontrar o que eu queria, mesmo sendo uma estante de literatura e outra de assuntos diversos. A limpeza também não estava lá essa beleza toda, então me dispus a pegar um a um para limpar. A umidade da Bahia não deu trégua a alguns, como eu imaginava.
Mas qual não foi minha surpresa ao ver cair um pozinho escuro justamente do livro de contos russos? Dentro dele, os cupins já haviam aberto caminho. Aparentemente, só ele recebeu a visita, ainda bem. Achei sintomático. De todo jeito, ficou uma herança melhor e mais efetiva, o apreço pelos livros, cada um com sua maneira de se relacionar com eles.
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