quarta-feira, 22 de julho de 2015

Moi et les chapeaux

Eu costumo prestar atenção ao que digo e escrevo, mas nem sempre sei o efeito que as palavras (sempre elas!) têm para quem ouve.
Uma vez, minha querida Simone Adami admirou-se ao me ver usando chapéu e vestido, a caminho de uma reunião. Eu disse algo do tipo: "a gente precisa se bancar". Não disse por dizer, nem para produzir efeito - naquele momento, acreditava mesmo nisso.
Aos poucos, porém, por um período descolorido da vida, acabei abandonando meus chapéus. Não estava me bancando. E para usar chapéu é preciso se bancar e assim ignorar toda forma de provincianismo.
Então um dia voltei a ver as cores da minha vida e acabei me lembrando de como sempre banquei minhas escolhas, meu modo de estar no mundo e de pensar. Como Simone nunca se esqueceu do que eu disse, ela também me ajudou a lembrar.
E, de novo aos poucos, fui reconstruindo quem sou: além do mais, uma mulher que não tem medo de usar chapéus.

2 comentários:

  1. Curioso como as coisas vão se acomodando umas às outras. Esse episódio aconteceu no final de junho, um pouco antes das férias. Estávamos presentes eu e a Flá-flá, foi bem na frente do Anglo, na Tamandaré, depois de uma reunião. E para mostrar como me marcou, e a outras pessoas, indiretamente, pouco mais de um mês depois, no meu aniversário, ganhei meu primeiro chapéu, da Flá-flá. Ela certamente percebeu, perspicaz como ela só, o efeito que aquilo tinha produzido em mim. Faz muito tempo isso. Bilhões de anos. De lá pra cá, eu me banquei algumas vezes, outras me esquivei, covardemente, para fora da possibilidade do soco. Mas nunca me esqueci. Sempre me vem à mente o cartaz promocional do filme A insustentável leveza do ser, filme que não vi, adaptado de um livro que não li. O chapéu está lá, quase como uma personagem. O mesmo tipo de chapéu usado pelo Alex, de Laranja Mecânica, e, antes dele, pelo mendigo do Chaplin. E não deve ser por acaso que uma das personagens mais interessantes do clássico de Lewis Carroll seja um chapeleiro, e ainda por cima, maluco. Não estou numa fase de me bancar, estou numa fase de me esconder. Muita tristeza ainda, muita solidão. Mas sei que não tarda levarei meus chapéus para passear. Eles aguardam, ansiosamente, esse dia.

    Grande beijo, destemida Sol.

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    1. Queridíssima, esse dia de passeio dos seus chapéus vai chegar logo, ainda mais maravilhoso pelo inesperado que será! beijos, e saudades, minha leonina amiga! <3

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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