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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Moi et les chapeaux

Eu costumo prestar atenção ao que digo e escrevo, mas nem sempre sei o efeito que as palavras (sempre elas!) têm para quem ouve.
Uma vez, minha querida Simone Adami admirou-se ao me ver usando chapéu e vestido, a caminho de uma reunião. Eu disse algo do tipo: "a gente precisa se bancar". Não disse por dizer, nem para produzir efeito - naquele momento, acreditava mesmo nisso.
Aos poucos, porém, por um período descolorido da vida, acabei abandonando meus chapéus. Não estava me bancando. E para usar chapéu é preciso se bancar e assim ignorar toda forma de provincianismo.
Então um dia voltei a ver as cores da minha vida e acabei me lembrando de como sempre banquei minhas escolhas, meu modo de estar no mundo e de pensar. Como Simone nunca se esqueceu do que eu disse, ela também me ajudou a lembrar.
E, de novo aos poucos, fui reconstruindo quem sou: além do mais, uma mulher que não tem medo de usar chapéus.

domingo, 5 de junho de 2011

Mais cinema argentino - "O homem ao lado"

Quem não viu, por favor, vá ver. O homem ao lado, de Mariano Cohn e Gastón Duprat, é uma excelente película argentina. Já disse aqui que gosto de cinema argentino? Pois então, este filme de 2009 é um daqueles felizes casos de obras que nos fazem pensar em outras, não no sentido da imitação ou simples releitura, mas no caminho do diálogo enriquecedor.
Não foi por acaso que Daniel Araóz como vizinho intrometido me fez pensar por um momento em Paulo Miklos-titã-invasor (no filme de Beto Brant), ainda que o primeiro assome mais humano e bonachão. Também pensei, desde a resenha de duas linhas, que nos esperava uma espécie de pesadelo kafkiano - um dia, um vizinho resolve construir uma janela que dá para dentro da casa do outro etc. etc.
Mas, por mais absurda que pareça a situação apresentada, a coisa é mais real do que se poderia crer à primeira vista. Mesquinhez, intolerância, idiossincrasias são desnudadas por uma câmera que valoriza um zoom narrativo e tomadas plásticas, sendo a janela apenas uma metáfora daquilo que somos convidados/obrigados a ver - a ferida aberta de uma sociedade frívola e desigual. Que já estava lá, o tempo todo, às claras, na casa de vidro modernista, para quem quisesse (eu disse "quisesse") ver. Mas foi preciso o incômodo, o estranho, o estorvo para que houvesse a revelação. A crise.
Como bônus, o silêncio completo da plateia consternada, ao final do filme. Teremos todos visto a mesma coisa?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aller-retour

Já fui e já voltei. Nem consegui mandar notícias e fotos durante a viagem (fiquei na primeira semana num albergue cujos computadores do cyber café não permitiam o envio de anexos). Mas, de volta à muvuca do metrô paulistano, posso dizer que me sinto em Paris!

Sim, as grandes cidades se assemelham. Na indumentária, no transporte, nos diferentes rostos (por mais que os franceses teimem em não se misturar). Claro que a pátina da História reveste a arquitetura parisiense, devidamente preservada, o que não mais acontece nas paragens bandeirantes. Mas quase me sentia em qualquer lugar do Brasil, tantas vezes encontrei os patrícios pelas ruas de Paris, mais de uma vez ao dia! Reflexos do nosso crescimento econômico, bien sûr.

Também senti algumas vezes a tristeza que devem ter sentido Mersault e Gregor Samsa, porque, embora balbucie razoavelmente o idioma francês, parecia que eu estava falando baleês ou um dialeto somente compreensível por entomólogos. Quando desencanei de vez e passei a falar algo próximo do húngaro ou do sânscrito, como que por mágica todos os ouvidos se destamparam, e eu vivi o verdadeiro milagre do Pentecostes - entendia tudo e era plenamente compreendida, dando até informações a outros pobres estrangeiros como eu e recebendo elogios pelo meu "ótimo francês", com um leve "accent du soleil". Uma beleza!

Ainda por cima, depois do mergulho nos arrondissements de Haussmann e no fausto real de jardins e palácios, vivenciei a Paris contemporânea assistindo à "manife" contra a reforma previdenciária. Num breve final de semana, uma ida a Marseille, via TGV, e à linda Aix-en-Provence, terra de lavandas e calissons, doces finos à base de amêndoas e batata!

Afortunada que sou, vivi uma semana como turista e outra como habituée, pois nos últimos dias me juntei a dois amigos queridos que me mostraram a cidade do ponto de vista dos parisienses. Talvez por tudo isso minha sensação de déjà vu tenha sido tão forte...

Ah, sim - não se enganem: Paris é mesmo linda!



O metrô de Paris, tão antiguinho; o cartaz de uma exposição (entre outras coisas, sobre a estrangeiridade) no Shoah, museu do Holocausto; la manife; o Vieux Port de Marseille; eu e os queridos Carlos e Flavio.

sábado, 14 de agosto de 2010

Vislumbres urbanos

Numa rua da Aclimação/Liberdade, ouço o diálogo de dois meninotes de 11 anos:
- Ia comprar um carro.
- Isso demora meia hora.
Silêncio curto.
- Uma casa própria. Também um bom seguro de vida.
- Uma hora.
Mais silêncio, agora profundo. De repente, lembrando o mais importante:
- E brinquedos!
O outro assente, cerimonioso, diante da esperteza do amigo.

sábado, 3 de julho de 2010

Nossa cota diária de humanidade

Meu coração fica particularmente apertado com as notícias de destruição pelas enchentes no Nordeste. E fica feliz e emocionado com as iniciativas para ajudar nossos irmãos tão sofridos, que nem bem se recuperam do flagelo da seca logo têm que lidar com o castigo das chuvas.
Sempre separo roupas para doar no inverno e nessas ocasiões dramáticas. Dá para entregar as doações nas estações de metrô, terminais rodoviários e também em supermercados e postos da Defesa Civil. Os postos de arrecadação existem em diversos estados. Além de roupas, é importante enviar alimentos não perecíveis e produtos de higiene pessoal.
Volta e meia aparecem os oportunistas (pessoas que desviam doações, é possível crer nisso?), mas o que vale é o trabalho de formiga de tanta gente honesta e solidária que ainda consegue se ver na face do outro.
Aliás, podíamos mesmo incluir em nossos afazeres um gesto diário de solidariedade ou gentileza, até que isso fosse tão natural quanto tomar café, sair para trabalhar, praticar esportes, ir ao cinema, manter um blog...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Gentileza alumbradora

Nestes tempos escuros, em que a sem-gracez impera, um gesto de gentileza alumbra como um farol. Dia desses mesmo, no supermercado, uma senhora que aguardava o marido pagar as compras ajudou-me a embalar as minhas. Sem dizer nada, assim sem mais. Talvez nem tenha entendido minha surpresa e o agradecimento triplo.
O melhor de tudo foi que isso me fez lembrar de outras situações similares (que não são assim tão numerosas, mas são sempre marcantes). E aí reincidi na minha fé no ser humano. Bom, muito bom!

sábado, 15 de maio de 2010

O assunto da vez

O bullying afinal estampa as capas de revistas, páginas de jornais, os noticiários. Como no caso do garoto de Porto Alegre que foi morto na última semana, por ser grande e gordo, alguém fora dos supostos padrões de aceitação social. Mais um crime sem justificativa além da do preconceito, por si só algo injustificável.
O verbo to bully significa "atemorizar ou ferir alguém mais fraco", "obrigar alguém a fazer algo por medo". O bullying é, portanto, o constrangimento finalmente institucionalizado. Sim, porque ele sempre existiu, na forma da intolerância - étnica, religiosa, sexual, de gênero. Ao longo do tempo, uma prática sempre abominável de todos os que se sentem ameaçados pelo diferente.
É preciso, porém, tomar cuidado com o termo e todas as extensões semânticas que ele acarreta. Uma coisa é fazer piada com ele, atribuindo-lhe deliberadamente sentidos absurdos para dessignificá-lo (o que não quer dizer, de maneira alguma, ignorar a dimensão do problema, que precisa mais e mais ser combatido); outra, completamente diferente, é espalhar sentidos que ele não tem só para fazê-lo caber em qualquer situação (como o chatíssimo politicamente correto). Aí não, cocada!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Quando o sonho vence a intolerância

Li "O diário de Anne Frank" muito molecota; já nem me lembrava da personalidade madura e até ranzinza da menina-autora. Minha amiga Adriana Rachman é que trouxe à memória o relato da garota judia que viveu anos com sua família num porão, escondendo-se dos nazistas. Deu-me até vontade de reler o livro, especialmente as passagens tocantes e tristes que falam do sonho de Anne de se tornar escritora - o que, de fato, não pelas vias normais, aconteceu. O mais bacana disso tudo foi assistir ao vídeo que mostra a exposição sobre Anne Frank, produzida pelo Instituto Plataforma Brasil nos CEUs e que vai ganhar um espaço na Av. Paulista também. Na exposição nos CEUs, é feita uma relação entre os sofrimentos da jovem judia e os dos jovens que vivem na periferia das grandes cidades. As monitoras, meninas fofas da própria comunidade, foram preparadas pela Adriana - que está merecidamente encontrando lugar entre pessoas legais, a quem pode mostrar seu ótimo trabalho.

Vejam o vídeo no YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=WQQJ8fbIxPw

domingo, 7 de março de 2010

A importância das unhas amarelas na megalópole

Não, não são sintoma de icterícia, hepatite ou do hábito de fumar. São simplesmente unhas cobertas de verniz amarelo; mais especificamente, do esmalte Amarelo Real, da Risqué.
As moças que quiserem experimentar vão conseguir um efeito de choque. Nas breves 24 horas em que minhas unhas ficaram pintadas com essa cor, ouvi comentários de todo tipo, inclusive os elencados acima. O que mais me chamou a atenção, porém, foi o fato de virem quase todos da ala masculina. Conservadorismo? Ou será que os moços estão mais atentos ao que acontece ao redor? Hummmm, algo para se pensar!
Não é que queira defender o amarelo como cor da moda - achei até que ficava eu mesma muito amarela com aquelas unhas. Mas vi acontecer algo parecido quando usei galochas decoradas pela primeira vez, há dois anos. Olhares indisfarçados, masculinos e femininos, por onde passava - fenômeno sociológico interessante, em especial num lugar onde galochas, decoradas ou não, são praticamente um produto de primeira necessidade.
Forçando um pouco o gancho (com base, contudo, em eventos correlatos), é bem curioso que numa cidade tão grande, uma megalópole, tantas coisas miúdas ainda provoquem espanto e coisas de espantar assomem normais. Até parece que aquela Pauliceia cantada por Mario de Andrade só fez crescer, mas em nada mudou seu espírito controverso, gigante e provinciano...

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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