Uma vez na Bahia, eu já tinha pensado em estudar na UFBA, mesmo quando morava a mais de 50 km de distância; já tinha descoberto um dos núcleos interdisciplinares, quando nem me imaginava morando na capital.
Quando me mudei para Salvador, me vi ao lado do campus da universidade, sem ter planejado isso. Claro que disse para mim mesma que teria de fazer alguma coisa ali, nem que fosse só frequentar a feira agroecológica (o que de fato comecei a fazer, só para esquentar os motores). Depois comecei a frequentar a escola de dança, e por fim me matriculei como aluna especial do Poscultura.
Este ano, consegui me matricular no Neim - eu tinha enviado uma mensagem há uns cinco anos, perguntando como fazer para integrar o grupo do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher. Como fui ficando escolada no calendário da universidade, pude me inscrever para o processo de aluna especial na época certa. E lá fui eu, fazer duas disciplinas, marmita rosa na bolsa, voltando com uma coleção de livros de presente.
A primeira aula foi muito emocionante, especialmente por ouvir tantas histórias de mulheres retornando ao ponto onde pararam - pelos motivos já sabidos, família, trabalho, cuidar do outro -, o que não ouvi muito no curso anterior, com maioria masculina - e não há acaso nenhum nisso. Uma colega do Rio comentou comigo que achava que já conhecia todas as novas companheiras, eu respondi que é porque já conhecia mesmo - sendo tão diversas, temos tanto em comum que até chegamos a esse mesmo lugar.
Eu me vejo de cabelos mezzo brancos, mezzo escuros, o inevitável envelhecimento, voltando à sala de aula, agora valendo, com o friozinho na barriga do primeiro dia de aula de sempre. Fiquei encantada com as falas de esperança, luta, revolução, afeto, justiça, e quase comecei a chorar no meio da aula - e chorei, quando uma jovem colega compartilhou sua história de primeira pessoa a se formar na família, sua descoberta de um lugar na capoeira e agora recém-aprovada no mestrado, afe! Haja coração, haja coragem para seguir andando, porque os sonhos aí estão, vivos, à nossa espera como flores no caminho, sem se aperceberem da cor da nossa pele, da cor dos nossos cabelos. Bituca, Márcio e Lô sabem de tudo, os danados.
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