O umbigo simboliza o centro - na Antiguidade, do mundo; hoje, do indivíduo. Nos Cantares de Salomão, parece que o umbigo até substituiu textualmente as partes pudendas femininas na função de cálice de delícias. A palavra omphalo (umbigo em grego) refere-se nada mais, nada menos que ao oráculo de Delfos. Coincidência? Nunca.

Tenho feito muito mais esse exercício umbilical, especialmente quando me pego não querendo fazer algo que a mim interessa por causa (supostamente) de outrem. Incrível, né? Logo eu, que sou tão independente, despojada e tal. Mas acontece. Por exemplo, querer uma cadeira de trabalho melhor: um desejo-necessidade seguido de culpa (???). A imagem lá de dentro responde: ei, tá louca? É para você, é o que você quer, ou Tal coisa (a cadeira velha) não te interessa mais, é a sua vida (a sua coluna) que importa. Vem lá a resposta-chacoalhão de dentro do meu umbigo, do meu íntimo, do oco do meu mundo.
Aí compro a cadeira nova, e volto a respirar, ufa. Não pelo umbigo - mas essa cicatriz ancestral não me deixa esquecer da relação eterna entre o que há dentro e fora de mim, e que de vez em quando é preciso retornar à completa escuridão para ver mais claro.