quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Na guerra contras as identidades, a maioria perde

Um dos efeitos indesejados do sucesso do filme Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr., foi evidenciar ainda mais o ataque contra as pautas identitárias. Em meio à premiação de Fernanda Torres como melhor atriz de drama no Globo de Ouro (com direito a aplausos entusiasmados e em pé de Tilda Swinton), houve comentários negativos, inclusive do Chavoso da USP, sobre o valor do filme, já que retrata pessoas brancas, de classe média alta, enquanto pessoas negras sofrem o terror todo dia, até hoje. 
Como discordar dessa constatação, de que pessoas pobres e negras sofrem muito mais que pessoas brancas e com mais recursos? O problema é encampar a luta por quem sofre mais em vez de se unirem todos contra o opressor comum - capitalismo, patriarcado, a zorra toda. Cujos líderes seguem felizes enquanto nos atacamos uns aos outros. A iniquidade não vai acabar com lutas internas. E ainda mais quando pessoas da própria esquerda ou minimamente mais liberais veem as pautas alheias como frescura. Vejo isso no meu círculo, e sinto uma tristeza enorme, mas também uma preguiça de debater. É nesse desencontro que a extrema direita se fortalece, e as desigualdades sociais seguem cristalizadas.
Até o fato de Walter Salles Jr. ser rico serviu de argumento demeritório. Mas que bom que ele resolveu empregar o dinheiro dele (não, ele não usou a Lei Rouanet) para produzir um filme com ESSA história, sobre AQUELE período. E que valor imenso teve Eunice Paiva, para além de esposa do ex-deputado Rubens Paiva, na constituição da Comissão da Verdade para apuração das mortes dos desaparecidos políticos e também junto aos povos indígenas. Que bom que as lutas que escolheram foram pela maioria da população, e não somente pelos integrantes de seus quadrados. Se negassem as existências, as identidades alheias - as ALTERIDADES -, perderíamos muito mais e nem nos daríamos conta.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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