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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Antônio e José

Sempre que eu via Pepe Mujica, me lembrava de meu avô, embora seu Antônio fosse um tipo mais bonachão e Pepe, um observador filosófico da vida e do mundo.
Ontem, Pepe partiu, após uma longa luta contra o câncer. Faria aniversário por esses dias, 90 anos. Não pôde esperar. Avisou a todo mundo que em breve partiria, e assim foi, sem dramas, apesar da nossa tristeza. Honras de estadista, mas principalmente de homem do povo. Já faz falta. 
Hoje juntei os dois, meu avôhai e Pepe, Antônio e José. Se se conhecessem, ah, como seria incrível esse encontro! Dois gigantes que não perderam tempo se lamentando, cada um a sua maneira. Gente que faz falta.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

domingo, 9 de agosto de 2020

Paus versus pais

Outra polêmica destes tempos pandêmicos e sombrios foi a que envolveu a campanha da Natura que coloca Thammy Miranda como exemplo de pai presente, junto com outros diversos pais, conhecidos ou não. Thammy aparece sempre em fotos com a esposa Andressa e seu lindo e feliz bebê Bento. Isso mesmo - Bento parece uma criança já felicíssima, cercada de amor, como deveriam ser todas as crianças.
Mas sabemos que não é assim. Centenas de milhares de crianças não conhecem seus pais, ou os encontram esporadicamente, ou são maltratadas e até abusadas por eles, ou sofrem com sua indiferença. Se nem toda mulher nasceu para ser mãe, com os homens acontece o mesmo - mas a sociedade não exige dos homens que participem tanto da criação dos filhos como as mulheres. Nem estou falando de pais e mães perfeitos, mas somente de gente que tope o compromisso, dividir as responsabilidades e tarefas cotidianas. Porém, no interior de uma sociedade machista como a nossa, muitos homens se limitam a ser paus, e não pais. 
E parece que é isso que importa - a representação da masculinidade, normalmente tóxica -, e não o comprometimento humano com o outro. Quando Thammy anunciou que estava participando da campanha da Natura, houve uma revolta dos machistas que não entendiam como uma mulher - eles não o reconhecem como homem trans - podia representá-los com o slogan "pai é quem cria". O que na verdade não podia representá-los é o próprio slogan, porque machistas convictos normalmente não são bons pais, não cuidam de ninguém a não ser de si mesmos. Setores conservadores da sociedade, especialmente da igreja, clamaram pelo boicote da marca. Acabaram vendo o efeito contrário, as ações da Natura subindo e a marca ganhando ainda mais projeção positiva.
Eu tive um pai nada presente, um pau autodeclarado, indiferente, arrogante e ciumento das atenções dadas aos filhos. Não queria nos legar nada, mas não pôde evitar a genética e até as heranças de seu desamor que transformamos como pudemos, cada um com seu cada um. Mas tive um avô, avôhai, seu Antônio Barbosa, gigante amoroso de olhos cinzentos, orgulhoso dos netos, conversador, justo. Não foi um bom marido para minha avó, mas esteve com ela até o fim na nossa criação. Pai é quem cria. Eu atesto, com amor. 

domingo, 9 de agosto de 2015

Dia do Avôhai

Ele me criou. Bonachão, inteligente, bonito, bravo, carinhoso, justo na maioria das vezes. Dele provavelmente herdei o gosto pelas palavras, pelas longas conversas, além de um quê de mestre de cerimônias, o prazer de ter uma mesa cheia de convidados.
Foi a pessoa que mais apostou em mim, enquanto juntos vivemos. Orgulhava-se de cada pequena conquista, se emocionava ao me ouvir recitar versos para ele. Já muito doente, não coube em si de alegria ao me ver vestida para a formatura do ginásio.
Mesmo quando ele não estava perto, sempre foi um pai/avô presente. Brigamos algumas vezes, quando eu já era adolescente. Doeu muito quando o vi uma vez caído na rua. Ele foi sendo derrotado pela bebida, por uma conjunção de diabetes e cirrose hepática.
Morreu em casa, diante de mim. Ouvi seu último suspiro. Não acreditei quando percebi que ele não abriria mais os olhos.
Muito longe da perfeição - havia sido mulherengo, no final da vida deu para beber, não deixou nenhuma herança material -, meu avô, porém, foi o melhor que pôde ser para mim. Sempre acreditou, sempre investiu, sempre defendeu, sempre vibrou. Amou, acima de tudo, com toda sua imperfeição e sinceramente.
Eu não poderia ter tido um pai melhor, seu Antonio. Mesmo tanto tempo depois da sua partida, meu coração se enche de amor e saudade ao lembrar de ti.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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