Apesar da minha parcial japonesidad, nunca tinha assistido a uma apresentação de teatro japonês típico, Nô ou Kabuki. Minhas referências eram fotográficas ou musicais (Caetano falando de "kabuki, máscara" ou Gil citando o "teatro Nô, japonês").
Entonces, saindo da aula de fotografia, vi um cartaz com a programação de uma companhia japonesa de kabuki. E alguns dias depois lá estava eu, conferindo ao vivo o que os ancestrais fazem há quatro séculos.
No início, tive medo de que o público fosse desrespeitoso com uma cultura tão diversa como a japonesa, por mais que ela esteja popularizada na comida, nos animes, no karaokê. Algumas pessoas cochichavam, outras tossiam e uma meia dúzia saiu do teatro ainda na primeira parte da apresentação.
Quando anunciaram o intervalo, senti alívio, pois imaginei que era a oportunidade dos descontentes de saírem dali. Mas, para minha surpresa, a esmagadora maioria do público ali ficou, sem nem se levantar para o intervalo.
Havia, sim, trechos falados/cantados em japonês, que lembravam um pouco aquelas novelas japonesas transmitidas por algum canal nacional. Mas os gestos e a dança, valorizados pela luz e alguns efeitos simples e incríveis (como a teia de aranha feita de mil fios lançada pelo vilão), eram delicados, precisos, lindos. Fujima Kanjuro, despido de máscara e roupas extravagantes, envergando apenas kimono, elegantes calças hakama e meias, transformava a realidade ao redor com movimentos que pareciam mínimos, mas eram plenos de gestos e significados. Houve um momento em que me lembrei do flamenco, pelo girar das mãos, pela batida (muito mais contida, é verdade) dos pés no chão. Creio que, principalmente, pela intencionalidade.
De novo, de algum modo e emocionada, entendi tudo. Algo lá dentro dizia que aquilo pertencia a mim, que eu pertencia também àquela beleza.
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sábado, 15 de agosto de 2015
Kabuki e o pertencimento
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