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sábado, 1 de agosto de 2020

Os sinos dobram

Sempre achei que começaria a perder amigos quando estivesse bem mais velha. Mas antes dos 50 anos já tenho sentido a partida de alguns deles em um curto espaço de tempo. Espero que isso não signifique uma torrente de perdas daqui pra frente, ainda mais em meio a uma pandemia.
Imagino que a época que vivemos acabe contribuindo para essas partidas. Com exceção de uma amiga que morreu pela complicação de uma gripe, meses antes da pandemia, eu arriscaria dizer que a morte dos outros pode estar associada a estes tempos sombrios, de tanta tristeza combinada. Um amigo antigo e querido, da época do trabalho no cursinho, nos deixou no início do ano, após um infarto fulminante. Outro, que trabalhou comigo na Mostra, também teve um infarto, meses depois, tão jovem ainda. Hoje soube de uma amiga da Bienal. Ela se suicidou; soube há pouco, e fiquei dilacerada.
Creio que estamos vivendo o ápice de uma crise de valores, de humanidade. Está difícil para quem se importa minimamente com o que está sendo feito das pessoas mais vulneráveis, dos animais, do planeta. Creio que foi isso que pesou para minha amiga que nos deixou ontem. Lembro-me dela no espaço expositivo, muito discreta e delicada, muito firme quando começava a falar de arte - low profile, como costumo dizer desses espíritos tranquilos, que gostam mais de ouvir do que de falar. Aliás, me parece que esse era o perfil de todos esses amigos que nos deixaram precocemente, a delicadeza firme, a convicção no direito do outro de ser ouvido. Por isso tenho a impressão de que esta época, este biênio, pesou mais sobre eles do que nos outros, em nós, que ficamos. 
E como ficamos? Sinto, a cada perda, que uma parte de mim se vai, como o sermão de John Donne às avessas. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Doçura para seguir vivendo

Soube esta semana que seu Ney, pai de Karen, faleceu. Senti uma grande tristeza; conhecia-o desde os 14 anos, conversávamos muito, ele era muito brincalhão, mas muitas vezes sério e conselheiro, e sempre tratou-me como filha. Conversei com Kaká, que me pareceu serena, preparada para essa perda, já que ele, com 86 anos tão bem vividos, andava muito frágil e cansado. Ao fim da conversa, ela me pediu para fazer um doce bem bonito e gostoso e comer em nome dela e da mãe, dona Enide, que estava perdida com a falta do companheiro de meio século de vida. Fiz. Um bolo invertido de banana bem gostoso, preparado com toda energia de amor que gostaria de enviar a elas.
Hoje soube que dona Enide teve um AVC. De novo fico triste, porém tomo emprestada a serenidade de Karen diante da enormidade da vida, torcendo para que sua mãe saia dessa mas também que a doçura seja o que fique, seja lá o que tiver de ser. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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