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domingo, 14 de abril de 2024

E la nave va

Os últimos trinta dias trouxeram um abalo mais forte, como o tremor que sacode de leve o prédio com a demolição de três casas da rua, uma triste promessa que enfim se cumpriu. Embora o barulho não seja enorme, eu e os vizinhos temos sentido a vibração da escavadeira enchendo de entulho os dez caminhões perfilados na nossa rua, antes tão sossegada. 
O segundo abalo foi o do já esperado mas sempre surpreendente aviso da minha demissão. Foram dez anos de parceria, mas todo fim é melancólico, não é mesmo? Meu segundo melancólico fim em menos de um ano, haja resiliência. E esse fim com mais impactos econômicos que o primeiro também me leva a logo me despedir deste apê que ora treme. 
Mas quase tudo foi bom nos últimos trinta dias. Comecei a tão desejada dança contemporânea na tradicional Escola de Dança da Funceb, que tem até gato residente, além de ficar no amado Pelô. Por fim, conheci o novo MAC, casarão lindo na Graça com acervo contemporâneo de arte e que estava recebendo o BazaRozê no dia. Já de olho em planos para futuro próximo, fui fazer um curso de projetos culturais no MUNCAB, com o ótimo Aléxis Góis. Almocei com Vivi no Boteco do Piri, que serve comida deliciosa e sofisticada em sua simplicidade - coxinha de polvo e feijoada de frutos do mar foram nossas pedidas mais do que acertadas, com direito a abraço do Piri no final. No mesmo dia, fomos ver a maravilhosa Luana Xavier arrancar lágrimas e risos com a adaptação feita por Aldri Anunciação para o teatro do Pequeno manual antirracista, uma emoção-aprendizado que ainda vibra (por falar em abalos) dentro de mim.
Achei uma máquina de waffle no precinho, quase realizando meu sonho de morar numa padaria. Fui ao show de Arismar do Espírito Santo, Robertinho Silva e Carlos Malta na Caixa Cultural, e experimentei uma emoção que há tempos não vivia, num show de música instrumental, de estar no lugar certo na hora certa, vendo aqueles monstros da música se divertindo como meninos. 
Em função da minha demissão próxima, ganhei de meu irmão Hideki um livro para iluminar as ideias, o de meu amigo Natale em parceria com Cristiane Olivieri, Guia Brasileiro de Produção Cultural. Voltei a fazer pão casca dura, sem sova, que ficou ótimo, o que já me deixa feliz da vida. Enfim fui experimentar o arroz de hauçá, no restaurante Axego, saindo da aula de dança, em companhia de Liu, Igor e Sueli - que delícia de prato! Depois de um cafezinho no Marrom Marfim, ainda demos uma espiada na batalha de dança no Largo Tereza Batista, testemunhando o arraso dos dançarinos de vogue. 
Recebi Vivi em casa até que ela consiga outro apê, depois de problemas com a proprietária do que ela havia alugado. Penso que é uma oportunidade de eu devolver ao Universo toda a ajuda que já recebi por aí, e continuo recebendo. 
E senti minha ancestralidade aflorar mais um pouquinho assistindo à maravilhosa série Xógum, no Star+. Agora quero aprender japonês, entre tantas ideias que tenho alimentado e que mantêm minha nau em curso.

domingo, 24 de setembro de 2023

Retomada da cozinha

Principalmente nos últimos dois anos peguei um bode tão grande de cozinhar que, após a mudança, fiquei um mês comendo mal e erraticamente. Cedi a tentações e facilidades do supermercado muitas vezes (biscoitinhos, pãezinhos cheios de conservantes, sorvetes).  
Ter assistido às três aulas gratuitas da Marina Linberger, já disse aqui, me inspirou a criar meus cardápios semanais, o que tem sido de uma ajuda imensa no dia a dia. Uso os domingos para cozinhar de quatro a cinco pratos, que rendem várias porções, às vezes para duas semanas. Ainda preciso reabsorver o consumo de saladas, mas já tenho feito legumes confitados, para começar.
A semana na Chapada Diamantina me ajudou muito a comer melhor, mesmo almoçando sanduíches - no café da manhã e no jantar compensávamos com comida bem variada. Esses dias, porém, às voltas com alguma ansiedade ligada a família e trabalho, houve momentos que até aquecer a comida parecia um custo. Até encontrei um nhoque de batata no supermercado e preparei ao molho de limão para jantar (e deve render mais 2 porções durante a semana).
Mas estou voltando a gostar de cozinhar, aos poucos. Daí saiu de novo bolo de cacau com tâmara (herdada dos lanches no Pati), saiu o inédito crumble de uva (com uva vitória do São Francisco, perfeita), maçã, nozes e aveia da Rita Lobo, bem como o fricassé de frango feito com sobrecoxa, também receita de dona Rita Panelinha. 
Mesmo com dificuldade de abrir mão de sucos e doces, sigo pelo menos no caminho da comida de verdade, com pouquíssimos ultraprocessados (exceção feita à batata palha do fricassé, of course). 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Dentro-fora, fora-dentro

Faz só dois meses e meio que estou em Salvador, mas parece que faz anos! Para além da intensidade dos últimos tempos, com separação, viagem, mudança (pra não falar de cuidados de saúde com pets e família), tem acontecido esse reencontro com tantas preciosidades: artes plásticas, música, cinema, teatro, lugares, pessoas, aprendizados, organizações diárias. 
Conheci a feira de mulheres batalhadoras BazaRozê, que aconteceu na Biblioteca Central dos Barris, e trouxe algumas coisas lindas e gostosas pra casa, até Zenzito ganhou um peixe pra chamar de seu. No meio do agito da Flipelô, fui ver a exposição "Brasil do Futuro", organizado por Lilian Schwarcz no Solar do Ferrão e fiquei muito emocionada de voltar a pisar no solo tão querido e conhecido das artes plásticas. Rolou show de Paulo Carrilho em tributo a Ney Matogrosso na companhia de Jô e Edu, na Saladearte. E ainda teve volta ao teatro, o do Sesc Casa do Comércio, com a ótima Alma imoral, baseada no livro do rabino Nilton Bonder e interpretada pela incrível Clarice Niskier (até encontrei minha vizinha lá!). 
Teve confecção própria de calça e almofadas, com base no aprendido no curso de costura, teve volta de plantas na varanda, ter conseguido instalar uma cortina na sala. Teve enfim a organização de marmitas no domingo, inspirada no curso que não vou fazer da Marina Linberger (inviável nas atuais circunstâncias, mas também porque achei que poderia criar meus próprios cardápios) - consigo deixar pelo menos 14 porções de comida prontas na geladeira ou congelador (até aqui, rolou moussaka, nhoque de abóbora, nhoque de batata doce, chilli beans, curry de frango, karê, escondidinho de frango, dal de lentilha, salada de grão de bico e cenoura com especiarias, legumes confitados, arroz marroquino, quibe de abóbora e ricota, torta de atum low carb, massa de pizza, iogurte natural). E teve até criação de um novo sorvete, inspirado na Almaléa, sorveteria no Rio Vermelho que ainda não conheci mas cujo delicado sorvete de canela com suspiro já pedi no Ifood - o que criei foi inspirado num de ricota com geleia e praliné; o meu tem ricota, iogurte, stevia, geleia de frutas vermelhas (comprada) e praliné de castanha de caju com cardamomo, canela, café e gergelim da Rita Lobo, uma coisa de outro mundo (só trocaria a stevia por açúcar mesmo, porque desconfio que ela deixa os preparados meio arenosos). 
Tudo isso, alegrias e aprendizados, rola numa mente a mil por hora. São o meu bálsamo no meio da vertigem. Mais que nunca, necessários para me manter sã e garantir minha integridade, dentro e fora.

domingo, 14 de maio de 2023

Lutar diariamente pela democracia

A gente sabia que não ia ser fácil. As ameaças bolsonaristas ao longo de quatro anos, pioradas no ano passado, agora se configuram nos boicotes do Centrão e dos bozoloides que nem necessitam mais de seu mito para existir. 
Mas o pior é que o fascismo realmente se tornou uma realidade a enfrentar, não só aqui, claro. Muita violência gratuita e explícita todos os dias, especialmente contra mulheres, LGBT, negros e pobres. Mas ter gente do quilates de Flávio Dino, Sonia Guajajara e Sílvio Almeida no governo ajuda a manter a cabeça para fora d'água - seu combate sereno e peremptório ao fascismo nos aquece o coração, nos dá ânimo para prosseguir, apesar dos problemas de dentro e de fora. Voltamos a acreditar que há mais gente que repudia a iniquidade, que bom. 
Havemos de fazer como ensina Ivan Lins, na linda canção escolhida pelo governo chinês para receber Lula (outro momento de emoção proporcionado por esse governo, não perfeito, mas alvissareiro): apesar dos perigos, da força mais bruta, estamos na praça, fazendo pirraça, pra sobreviver. Pra sobreviver.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Quero mais saúde

Trago obviedades quando digo que a pandemia nos fez dar mais valor à saúde. Isso é ainda mais verdade com o avanço da idade de quem não tem, como nós, plano de saúde (embora hoje os clientes de planos sofram só um pouco menos do que quem conta só com o SUS). Temos que manter a saúde não só para ter uma vida melhor como também para evitar perrengues e gastos mais altos com remédios, exames e hospital. 
Mesmo buscando nos alimentarmos bem e fazer exercícios, volta e meia um problema de saúde bate à porta. Marido teve Covid no final do ano, entrou 2022 com dor terrível no dente seguida de extração, emendou com inflamação no antebraço e finalizou com infecção urinária de febrão de quatro dias até que descobríssemos, no PA local, o que era, o que rendeu noites sem dormir e o pavor de vê-lo tendo uma convulsão. 
Eu já vinha tendo algum desconforto gástrico desde final de abril, provavelmente de fundo emocional, que piorou com chutada no balde na alimentação e mais ainda com os problemas de saúde do marido. Assim como o marido, fui parar no posto de saúde, para receber omeprazol, buscopan e dipirona na veia. O que seria de nós sem o SUS? Não gosto nem de pensar. Isso porque ainda tenho condições de reservar algum dinheiro anualmente para fazer meus exames de saúde de rotina e pagar a consulta da ginecologista. De quando em quando, algum gasto com dentista e, eventualmente, medicamentos básicos. Mas como seria com pouca saúde, com uma doença crônica?
Mesmo assim, nessa visita ao PA, a enfermeira comentou como meu sangue estava bem viscoso e perguntou como andava meu colesterol. Pensei logo nos exames anuais, ajuntei com o desconforto gástrico e decidi colocar tudo nos trilhos de novo, voltando a me exercitar e cortando os excessos alimentares (sucos, doces, massas). Reduzi o café para uma xícara por dia e adentro o terceiro dia com dor de cabeça à tarde. Mas resisto, porque o café tem realmente caído mal. Também o chocolate, comidas mais gordurosas. Vou ter de voltar a organizar umas marmitas semanais, porque realmente não dou mais conta de cozinhar todo dia. Voltei a tomar coalhada caseira para equilibrar as floras. 
Nessa toada por mais saúde, ainda assisti ao evento on-line organizado pela Silvia Ruiz, o Ageless Talks, ótimo, que fala tanto da saúde em todos os campos das pessoas com mais de 40 anos, especialmente as mulheres. Sempre ajuda perceber que não estamos sós em tantas mudanças na vida e na saúde. 

terça-feira, 21 de junho de 2022

A felicidade das pequenas coisas, uma paráfrase real

Domingo, saí pra pedalar depois de quase dois anos e meio. Eu até tenho usado a bicicleta para ir ao pilates, mas é muito perto para dizer que tenho "pedalado". Daí que eu saí na linha "vamos ver até onde consigo ir, se precisar, empurro na subida". Também pensei que preferia ir na direção da Praia do Forte, um caminho de que gosto mais, cheio de verde, com cheiro bom de verde, menos carros etc. Imaginei que conseguiria ir até Barra do Pojuca. 
Mas então fui indo, indo, concentrada no movimento, com pensamentos passando aqui e ali. Fui chegando perto de Barra do Pojuca, e vi que dava pra ir mais um pouquinho. Até o próximo retorno, pensei. Cheguei à primeira subida mais íngreme, quase no final desci da bike, pela primeira vez ali. Montei, passei pelo retorno, segui, enquanto uma dupla de ciclistas do outro lado gritava pra mim "bora, garota!". Sorri, animada. Segui. 
Quando dei por mim, estava na entrada da Praia do Forte. Pensei logo em tomar um cafezinho, mas imaginando que, na volta, o ladeirão ia ser feito todo a pé. Mas qual! Coloquei na penúltima marcha mais leve e fui subindo, subindo. Só fui de fato sentir cansaço quase perto de casa, nos músculos da coxa e um pouco nas costas. 
Algo parecido aconteceu com o bordado do São Francisco no vestido, que comecei no final de outubro do ano passado. Fui inventando coisas pra bordar, e uma hora cansei. As casinhas de Penedo me pareciam especialmente trabalhosas de bordar. Outro dia, pensei em prosseguir o bordado, mas sem muita cobrança quanto ao tempo. De repente, tinha terminado de bordar as casinhas. Agora parece faltar muito pouco. Me deu uma alegriazinha constatar isso. 
Também tive um encontro com um doguinho num dia em que saí para caminhar. Ele foi seguindo ao meu lado o tempo todo, me deu umas voadoras para brincar, latiu para um boi, encontrou outros doguinhos mas atravessou a passarela comigo. Quando chegamos à lagoa, ele deitou um pouco debaixo de uma árvore e depois seguiu na direção da praia. Ainda esperei para ver se ele voltava atrás, ao me ver parada, mas ele olhou pra mim e se foi. Quase me senti culpada quando marido disse que talvez ele não soubesse voltar, mas não. Ele estava tão feliz seguindo seu caminho que foi mesmo um privilégio sua pequena presença, que me afastou os pensamentos cinzentos por alguns instantes. 
Precisamos, como o doguinho, estar atentos ao caminho, curtir o que for bom, arrumar companhias, deixar ir e vir com alegria. 

sábado, 16 de outubro de 2021

E, afinal, prosseguimos

O brazyl está uma desgraceira tão grande que é difícil até pensar como é possível prosseguir em meio a tanta corrupção, iniquidade e ódio - porque não é mais possível falar apenas em intolerância já que pululam as violências diárias contra quem representa a diversidade ou queira levantar-se contra a opressão histórica colonialista e patriarcal. Ao redor, a hecatombe mundial ganha contornos mais fortes, com a crise financeira na China, os movimentos antivacina, o crescimento de governos antidemocráticos. Em toda parte, tem mais gente passando fome, adoecendo, vivendo precariamente, sendo assassinada de uma forma ou de outra.
Não tenho, pessoalmente, muita esperança no futuro próximo. Meu desânimo é enorme, de um tamanho que nunca vivi antes. Supera, de longe, as dores de amor, as frustrações pessoais. Porque é difícil fazer planos no meio do Apocalipse, e, embora soubéssemos desde sempre das desigualdades que nos cercam, todo o horror foi de tal modo desvelado que soa como indecência ter desejos, aspirações, sonhos. 
De repente, o discurso de "fazer diferença" parece vazio se não tiver como escopo realmente arregaçar as mangas e atuar concretamente na realidade - é muito vago só pensar "serei um ótimo profissional" e pronto. Minha pergunta diária, para mim e, secretamente, para os outros, tem sido: o que você tem feito pelo outro? Ainda que reste algo do ranço ocidental utilitarista nesse pensamento, há também nele uma implosão do pensar somente em si, tão próprio do Ocidente capitalista. 
As respostas acabam vindo justamente do outro lado, de tudo que não representa a cultura ocidental, patriarcal e colonialista. Vêm das mulheres, dos negros, dos indígenas, da comunidade LGBT, dos pobres. Dos éticos, dos solidários. E da natureza. Aliás, foi a flor da rosa-do-deserto brotando que me fez lembrar que tudo prossegue, apesar do horror e apesar dos meus descuidos com as plantas. As sobreviventes, resilientes, continuaram sua existência sem mim, mas exultaram quando receberam nova camada de composto e voltaram a ser regadas no final da tarde. Ver o milagre da multiplicação nas espadas-de-são-jorge, que chegaram em quatro e hoje são mais de vinte, a resistência da árvore da felicidade, que por fim se enraizou e buscou o céu - tudo isso me dá outra dimensão do viver e do presente. Tento imitá-las nessa vocação de contrariar o que é instituído, o peremptório, o definitivo, movendo-me ainda, lembrando-me de respirar e de descascar cebolas quando me cabe descascá-las.  Prosseguindo. 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cadê a boa-nova a andar nos campos?

Meu espírito romântico sempre me traz à mente os versos de "Sol de primavera" logo nos primeiros dias de setembro. Mesmo vivendo um dia por vez, buscando o presente a toda prova, espero também, junto com Beto Guedes, que a boa-nova venha andar nos campos. Mas está cada vez mais difícil na distopia real em que vivemos, no mundo mas principalmente neste brazyl desgovernado e colonial velho de guerra. 
Não sabemos como será o futuro no trabalho, já que a área de educação, especialmente a pública, tem sido solapada sem descanso pelo desgoverno. A coisa é tão séria que, no dia do centenário de Paulo Freire, em que posto um comentário sobre o recifense-careca-querido-patrono-da-educação-reconhecido-mundialmente, tenho que ler um "Já foi tarde", e depois a manjada fala com colorações fascistas de que o que Freire queria mesmo era formar militantes, e não educadores, e por culpa dele a educação brasileira está um fiasco. Mas gente.
É chato ter que bloquear uma pessoa, mas não dá mais pra perder tempo com quem escolhe a ignorância, a injustiça, as inverdades. Apesar de seus posicionamentos duvidosos, eu a mantinha entre meus contatos por um carinho pelo passado (muito passado, na verdade, e en passant) comum. E para quê? Para a pessoa, tão estudada, vir veicular mentiras na minha página. Que tempos! 
A situação é mesmo tão feia pra educação que vemos, eu e Guga, nosso projeto de segunda graduação fazendo água com a má qualidade dos serviços prestados pela universidade (não pública). Optamos por cursos semipresenciais, mas tudo é muito desorganizado, a ponto de o conteúdo da aula síncrona não bater com o material didático digital nem com o que é pedido nas tarefas ou no simulado. Simplesmente, é impossível saber o que estudar. A bibliografia de referência, por exemplo, é para especialistas, não para principiantes, e os professores, em seis aulas de 50 minutos, repetem as mesmas informações seis vezes, o que não ajuda em nada. Pela primeira vez na vida, resolvi não fazer uma tarefa dada - e mesmo assim fiquei na média. A atividade mais tosca que entreguei, feita de qualquer jeito, mereceu 10. Como é possível levar a sério? Que tipo de profissional pode se formar assim?
Hoje, ainda por cima, o nefasto inominável fez seu discurso de realidade paralela na ONU, lançando mais uma vez o país à chacota geral, para coroar a horrível situação social e econômica em que já estamos. Como é possível alguém duvidar do poder transformador da educação diante disso tudo? A ignorância só deixa cada vez mais longe de nós qualquer tentativa de primavera, afasta de nós o sol e as boas-novas. 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Dias de estupefação

Das menores às maiores surpresas. Das comezinhas às ontológicas. Ando estupefata (ou estupefacta, que tem uma carga dramática adicional), mais que nunca. 
Nos últimos dias, descobri, indo a uma ótica perto de casa, que meus óculos, pelos quais paguei muito caro há dois anos, não são multifocais. A optometrista constatou isso só de movimentá-los para lá e para cá. Ainda maior o preço pago pelos óculos "normais", para miopia apenas, em comparação ao orçamento da pequena ótica de vila, que cobra menos de um terço pelas tais lentes do tipo freeform (a marca, não sei). Fiquei muito chocada com o contraste e me senti um tanto otária.
Também descobri, no salão de cabeleireiro local, onde Guga foi duas vezes, que meu cabelo estava tortíssimo, desde novembro de 2020. O cabeleireiro não tinha espelho avulso, então tirou uma foto com o celular e me mostrou - mais um choque! O lado direito estava muito, muito maior que o esquerdo. E de repente me lembrei do cabeleireiro no salão todo arrumado de Salvador - no finalzinho, ele inventou de fazer uns repicados artísticos, e aí deve ter-se dado a merda. Para aumentar o choque, novo contraste: corte de salão local por 31 reais versus corte salão do shopping por 200 reais. 
Outro motivo de espanto: fiz uma publicação simples no Facebook, comentando que não me lembrava de como Highlander era um filme tosco. Foi o suficiente para aparecer um defensor da película, um colega de Bienal, ufólogo, que vive postando sobre suas superações na vida. Longe de mim desmerecer as batalhas alheias, mas achei um tanto irritante que ele, que outro dia se doía por uma "carteirada" acadêmica que levou de alguém, tenha vindo ao meu post, do nada, para trazer informações retiradas da Wikipédia (sim, sim) como argumento de defesa do filme em questão. Que ele era historiador, especialista em cinema, que já assistiu 6 mil filmes, que o filme tosco na verdade era kitsch, que não era bom usar o termo "tosco", porque assim parecia que o filme era ruim, o que não era verdade, tudo era muito pensado e só quem tinha mais profundidade no assunto podia perceber isso. Ou seja, um falso modesto biscoiteiro querendo aparecer de forma tosca e com argumentos pífios. Acabou que um amigo comum, também da Bienal, mas alguém mais próximo a mim, veio participar da conversa, trazendo O nome da rosa (que o outro disse ter assistido umas 30 vezes, meodeos), e acabou concordando com nosso colega ufólogo que eu não tinha razão, que Highlander é ótimo, porque as luzes neon e tal. Mesmo uma amiga que concordou com a tosquice do filme foi questionada, porque, afinal, temos que zelar pela arte. Pensei em ser mal-educada, mas me contive. Porque, afinal, isso dá pano pra manga de outro post, sobre o sentido da arte, de que já falei aqui, mas que abre outra frente - o da importância da experiência individual diante da obra. A minha experiência, na conversa maluca no Facebook, por exemplo, foi totalmente desconsiderada. (Curiosamente, por dois homens. E aí me lembrei do outro "amigo" de FB que entrou no meu post só pra "discordar" da forma como chamei um prato. É muita petulância, por coincidência ou não, desses homens.)
Por fim, os espantos diários diante do desgoverno e de seus abduzidos asseclas que têm comparecido à CPI, como Nise Yamaguchi, que insiste no uso de medicamentos ineficazes, nega sua parceria com o Bozo e, por fim, foi pega no pulo pelo ótimo Alessandro Vieira, senador do Piauí, um dos poucos a fazer a lição de casa, mais preocupado em obter informações do que em falar do púlpito. 
Eu quase que não consigo mais trazer o queixo de volta nestes dias. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Dia 218

Parecia que a chuva tinha ido embora, mas não. Chove desde sábado à la Guantanamera, o filme. 
Tudo indica que estou com intertrigo candidisíaco, uma micose nas axilas que deixa placas vermelhas na pele - foi Drauzio quem me contou. E tome Vodol por 2 a 3 semanas, na esperança de que sare, ou terei de descobrir um dermatologista por aqui. Ou tentar um fluconazol básico antes, persistindo na automedicação pra não contrair um vírus por aí. 
Cabelos seguem entre Juma Marruá sem coiffure e Janis pós-Arembepe, e agora deram pra formar nós na nuca. Os produtos caríssimos da L'Oréal que comprei - talvez eu não saiba usar - ainda não fizeram seus milagres. 
Além dos cabelos desgrenhados e da coceira infinita nas axilas, a escrita do TCC continua empacada - mas não as ideias sobre feminismo, racismo, justiça social. Ao menos isso vai contribuindo para aclarar as sombras da alma, ajudando inclusive na terapia retomada. 
Sigo nos trabalhos produtivo e reprodutivo enquanto for necessário, tentando retomar meu pragmatismo de fazer do momento um terreno minimamente estável para mudanças, quando estas forem possíveis. Tento ser budista ao cozinhar e lavar louça.
Entre as notícias ruins no mundo e especialmente no Brasil, vem uma luzinha de esperança com a eleição boliviana. Nem é aqui, mas que alívio dá ver que nem todo o mundo está perdido. 

sábado, 18 de abril de 2020

Lasanha (quase) sem queijo e bolo inglês no uísque

Guga tem experimentado uns sintomas de intolerância à lactose. Pediu para eu fazer lasanha de berinjela, sem lembrar do queijo que vai entre as camadas. Resolvi não colocar queijo sobre o molho à bolonhesa das camadas, mas só um pouco por cima de tudo. Ficou bom, embora eu prefira o equilíbrio de sabores trazido pelo queijo.
Também fiz umas mudanças na receita de bolo inglês. Ou melhor, acho que entendi melhor a receita da Carol Fiorentino - antes eu marinava as frutas e descartava o líquido, no caso, suco de laranja. Desta vez, usei uísque - a receita tradicional pede uísque ou rum - para marinar frutas cristalizadas e passas e verti o líquido na massa também. Acabei fazendo dois bolos, para testar em um deles o banho de uísque várias vezes antes de consumir - na gringa, era costume banhar semanalmente por um mês e conservar em uma lata fechada até o consumo, lembrando que era um bolo natalino, então era inverno por lá. Vou borrifar uísque de dois em dois dias por uma ou duas semanas e conservar o bolo na geladeira, embalado em papel manteiga dentro de um saco plástico. O que comemos ontem ficou maravilhoso; vamos ver o "tradicional" daqui a alguns dias. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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