segunda-feira, 21 de maio de 2018

Comida de verdade e comida fit

Sempre que dá, troco ingredientes nas receitas para que elas fiquem mais saudáveis. Caso da páprica misturada ao leite de coco no lugar do dendê quando faço moqueca (o dendê é ótimo, mas pesa em um almoço no meio da semana), ou do leite de coco no lugar do creme de leite para o creme de milho. Às vezes, diluo um pouco o leite de coco, para reduzir as calorias. 
Já tentei fazer algumas receitas fit, e até comprei um livrinho da Lucília Diniz que é vendido em bancas de jornal. Não é algo que costuma me animar muito, mas mesmo assim comprei xylitol para experimentar em algumas receitas - aqui em casa, não funcionou tão bem, porque ele pode dar um pouco de dor de barriga; então, uso nos pães para quem quer restringir o açúcar. 
De todo jeito, tenho um pé atrás com a total descaracterização da comida, ou, pior, com a moda de se tirar absolutamente tudo que supostamente dá alergia: lactose, glúten, açúcar. Claro que se associam a essas substâncias os processos inflamatórios que podem adoecer uma pessoa, mas é preciso pensar um pouco além: muito mais do que comemos pode nos fazer mal porque ingerimos quantidades absurdas de agrotóxicos e outras substâncias químicas bizarras, presentes nos conservantes, espessantes e adoçantes dos alimentos processados. Não é só o açúcar refinado usado no bolo que fará mal; pode ser também o ovo cheio de hormônios, a farinha sem nutrientes, a margarina repleta de gordura não saudável. 
Hoje, no Brasil e no mundo, comemos mal, mas a solução mais imediata não está em seguir a moda fit, e sim em melhorar a qualidade do que colocamos no prato. Sempre que possível (e isso dá mais trabalho que comprar docinhos feitos sem açúcar, sem farinha e sem leite), comprar do pequeno produtor, evitar os ultraprocessados, como aconselha o Guia Alimentar da População Brasileira. É difícil pensar em gastar um pouco mais com alimentação em um país em crise, mas certamente vamos economizar com nossa saúde, não tendo de buscar médicos, remédios e tratamentos caros. 
Por isso, sou totalmente a favor da comida de verdade no lugar da comida simplesmente fit. Comida com sabor, menos produtos químicos, que dê alegria de fato, e não apenas "ausência de culpa", a quem prove. Às vezes, é melhor um pouco de manteiga de verdade para fazer um cheesecake do que simplesmente esmigalhar o biscoito no fundo da taça - como fiz no final de semana, seguindo uma "dica fit" de sobremesa. A frustração do sabor só traz mais vontade de comer um docinho, que me perdoem os fitólatras de plantão.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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