A viagem ao Chile foi maravilhosa. Tanto, e tão intensa, que estou custando a postar algo sobre ela. Ainda deglutindo a experiência, as paisagens, o que vi e ouvi, por onde andei. Dar dicas ou só compartilhar impressões? Pensando.
Porque houve tantas imagens incríveis me pareceu difícil escolher qual ilustraria melhor o vivido.
Daí, revendo as centenas de fotos, me deparei com esta, tirada no Museo del Arte Precolombino, um espaço ímpar, organizado, bonito e com um acervo de cair o queixo.
Na verdade, a seção de Textiles não podia ser fotografada, mas quando soube disso já havia tirado a foto das tecelãs de mais de 500 anos. Quando as revi, me veio logo à cabeça que elas representavam perfeitamente o que foi a viagem.
Embora ainda não completamente elaborado (será um dia?), outro grande encontro comigo mesma. Em Santiago, no deserto, em qualquer outro lugar fora do ordinário, da rotina que nos engole. Somente quando há desses encontros é que redescobrimos nosso potencial, nossa capacidade de viver bem em nossa própria companhia. Mais de uma vez me peguei sobressaltada: caramba, estou aqui, justamente onde queria estar! E isso me trouxe de volta a imagem de como somos responsáveis MESMO pela tessitura de nossa vida, pela paisagem que queremos contemplar, pelo chão que queremos pisar.
Estar ali foi o simples resultado de um ponto a ponto, de um passo a passo. Como tudo na vida, no final das contas. Assim como a beleza que resulta no bordado, para mim se mostraram os Andes e o Atacama em toda sua amplidão. Tudo colhido com alma, olhos, mãos, de corpo inteiro, graças à paciência, ao fazer, ao sonhar-realizador.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
domingo, 12 de janeiro de 2014
Ordem no terreiro
Quando vi, já tinha passado uma semana! Nem deu muito tempo de pensar na mudança, que foi mais extensa do que eu imaginava (três viagens no caminhãozinho! subestimei o meu acúmulo, a minha bagagem). Somou-se a isso o trabalho na editora, que, se não rendeu, me absorveu na tentativa de compreender o processo que apanhei no calcanhar.


Bem, as caixas vão bem aos poucos saindo do caminho. Poucas perdas na mudança - uma lasca numa moldura, um pôster e dois armários arranhados... O que foi embalado, por sua vez, chegou intacto. Ter identificado o que era frágil com certeza ajudou. O apoio irrestrito do meu irmão Ian foi fundamental - durante 12 horas ele esteve comigo sem uma única reclamação, carregando e embalando coisas, indo pra cima e pra baixo comigo no seu carro, compartilhando histórias e afeto (e nós não nos víamos há muuuuuuitos anos). Em outros dias, minhas queridas Luciane e Claudia também me deram muita força, oferecendo sua companhia, carro e braços para trazer coisas. Isso para não falar dos diversos oferecimentos de ajuda, e de quem veio em meu socorro imediatamente quando precisei de alguém para instalar os armários e algumas luminárias, como a Ju e a Alê. Eu me senti realmente querida! E vi como é bom pedir ajuda quando se precisa, como sempre haverá alguém disposto a ajudar.
Achei que talvez fosse estranhar a primeira noite no novo apê. Mas não, já me sinto totalmente adaptada, ainda que tropeçando nas caixas restantes. Quanto ao bairro, já conhecido, mesmo superficialmente, da minha época de Anglo, aos poucos ele vai se descortinando. A parte de serviços segue na direção da Liberdade, o transporte é menos abundante e todo som que vem da rua eu posso ouvir - mas não há barulho de obra, nem calor sufocante. O prédio onde moro é extremamente silencioso (tirando uma vizinha que resolveu cantar enquanto ouvia música e tomava sol!).
Quanto ao clima circunstante, uma vizinha veio me trazer uma jarra de suco no dia da mudança, para amenizar o calor. Uma senhora coreana me cumprimentou na rua. Há um certo ar de interior misturado com centro - pela rua passa o caminhão de gás e ouvi até um carro vendendo pamonha! Claro que também já identifiquei alguns trechos problemáticos próprios de região central, mas é muito bom sair no domingo e ver muitas pessoas fazendo sua caminhada matinal (que não precisa se restringir ao final de semana, já que o parque da Aclimação é bem ali).
De todo jeito, mesmo valendo muito a pena trocar um lugar por outro, acho que a próxima mudança trabalhosa assim só poderá ser pra um lugar meuzinho. O que não impede de me mudar para muitos outros lugares, desde que não precise carregar a mudança!

Quanto ao clima circunstante, uma vizinha veio me trazer uma jarra de suco no dia da mudança, para amenizar o calor. Uma senhora coreana me cumprimentou na rua. Há um certo ar de interior misturado com centro - pela rua passa o caminhão de gás e ouvi até um carro vendendo pamonha! Claro que também já identifiquei alguns trechos problemáticos próprios de região central, mas é muito bom sair no domingo e ver muitas pessoas fazendo sua caminhada matinal (que não precisa se restringir ao final de semana, já que o parque da Aclimação é bem ali).
De todo jeito, mesmo valendo muito a pena trocar um lugar por outro, acho que a próxima mudança trabalhosa assim só poderá ser pra um lugar meuzinho. O que não impede de me mudar para muitos outros lugares, desde que não precise carregar a mudança!
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
"The Help": ensinando a compaixão
Um dia desses, finalmente assisti ao filme Histórias cruzadas, de Tate Taylor. O título original é The Help, que parece dar mais conta do seu sentido profundo, não só do imediato. Não é só uma história sobre histórias que se cruzam, mas uma história de alguém que, ao ouvir os relatos e dramas de uma porção de mulheres subjugadas pelo preconceito racial e portanto econômico, sai, mesmo sem pretender tanto, em seu socorro. "Help" tanto pode se referir a isso, ao socorro, à ajuda, mas também à própria condição daquelas mulheres, de "ajudantes" - no caso, os verdadeiros e não reconhecidos braços direitos dos brancos ricos norte-americanos.
Esse filme é lindo e necessário, porque mostra o encontro transformador de duas realidades que confrontam as convenções, a da moça branca que deseja ser livre dessas convenções e a das mulheres negras que são alijadas de sua liberdade. E me fez pensar muito no sentido da compaixão como um sentimento que engendra a libertação - quem se compadece ajuda o outro a se libertar, e não a se entronizar como coitadinho. Assim é com a empregada que repete, como um mantra, para a pequena filha de sua patroa: "You're kind, you're smart, you're important". Porque percebe o desamor que cerca a criança, e em lugar de vê-la como sua futura opressora planta a semente da compaixão, mesmo não vendo saída para si própria. O socorro está aí também, nessa medida simples e essencial.
Compaixão, portanto, não tem a ver com lógica, com razão. É puro sentimento, é só um estar junto, saber que a ferida do outro dói, ponto. Às vezes é só disso que precisamos, por instantes - não é a solução para um problema cuja resposta já sabemos, mas é uma espécie de bálsamo para que, feridos, ainda consigamos correr alguns metros em direção à saída, à libertação.
Esse filme é lindo e necessário, porque mostra o encontro transformador de duas realidades que confrontam as convenções, a da moça branca que deseja ser livre dessas convenções e a das mulheres negras que são alijadas de sua liberdade. E me fez pensar muito no sentido da compaixão como um sentimento que engendra a libertação - quem se compadece ajuda o outro a se libertar, e não a se entronizar como coitadinho. Assim é com a empregada que repete, como um mantra, para a pequena filha de sua patroa: "You're kind, you're smart, you're important". Porque percebe o desamor que cerca a criança, e em lugar de vê-la como sua futura opressora planta a semente da compaixão, mesmo não vendo saída para si própria. O socorro está aí também, nessa medida simples e essencial.
Compaixão, portanto, não tem a ver com lógica, com razão. É puro sentimento, é só um estar junto, saber que a ferida do outro dói, ponto. Às vezes é só disso que precisamos, por instantes - não é a solução para um problema cuja resposta já sabemos, mas é uma espécie de bálsamo para que, feridos, ainda consigamos correr alguns metros em direção à saída, à libertação.
Tessituras
No filme Eu maior, a Monja Coen fala de quando conseguiu ver sua vida como uma tapeçaria até aquele momento, e como percebeu o quão era responsável pela sua tessitura contínua dali em diante. Eu gosto muito da imagem do tecer, especialmente porque ela remete à ideia de ligação, relação, como bem lembrou minha amiga Cely, referindo-se aos galos tecendo as manhãs nossas e de João Cabral (e por isso gostei tanto de um texto na Revista Bula sobre os galos que acordam coisas dentro de nós, clara e bela referência ao mestre pernambucano).
As tessituras me encantam e entontecem - são parte dos milagres diários pra mim, sincronicidades segundo a psicologia analítica. Hoje, ao ouvir e curtir uma música (o post anterior, "Soltarlo", da colombiana Claudia Gómez) que o Josafá Crisóstomo também curtiu, da newsletter de outro blogueiro que adoro, o Alessandro Martins, este me convidou a assinar a newsletter; quando aceitei, veio a sugestão de eu ler um livro de uma parceira dele, Paula Abreu. Escolha sua vida, era o título desafiador.
Como ando topando desafios e querendo conhecer histórias motivacionais, topei. E gostei muito. Me identifiquei bastante com a experiência da autora, e li frases que andei dizendo pra quem quisesse ouvir nos últimos tempos, sobre a resposta do universo (não postei aqui, outro dia, sobre minha mudança, trabalhos novos e tal?), liberdade, consciência e responsabilidade. O livro da Paula não é simples autoajuda, é um depoimento (não um guia) de como ela mudou sua própria vida, quando teve um clique num momento crítico. Bom seria se a gente tivesse o tal clique antes de a coisa ficar feia, quando já tivesse dado ouvidos aos primeiros sinais da intuição. Mas é difícil não ceder aos costumes arraigados, ao comodismo e à dúvida cruel: será que mereço, será que consigo, será que posso?
Eu gostei sobretudo de saber que não sou uma maluca sozinha no mundo, como tantas vezes querem me fazer crer. Não que considere os outros modos de viver errados, longe disso, mas o meu é ideal para mim. Do mesmo modo que não julgo quem fume unzinho pra se divertir, quero não ser julgada por não ter necessidade de fumar unzinho pra isso. E mesmo procurando ser tolerante com as verdades alheias sei bem como é ser acusada de ser a dona da verdade - eu sou sim: da minha verdade, da que me cabe, onde cabe minha alma, e que pode inclusive mudar a qualquer momento, junto comigo (e OK, estou aprendendo a não querer resolver as coisas pelos outros, já vi que não ajuda nada). Quando alguém muda, incomoda os que não querem mudar, como se fossem alvo de uma acusação. Mas, como diz a autora, "não é você, sou eu".
Já cheguei a pensar que estava errada por não ter apenas um único objetivo na vida ou "o" lugar no mundo, por gostar de tantas coisas, por querer ver tantos lugares, por não querer ter um carrão, por privilegiar o tempo presente, por no fundo querer uma vida mais simples, criativa. Aí a Paula disse algo de que também gostei: sobre os espíritos renascentistas. Segundo ela, nenhum problema em ser assim, mas ter mais foco é bom para ser mais feliz (não para agradar os outros). E isso me fez pensar em coisas que já havia dito sobre a liberdade, inclusive reafirmando-as:
1. ser livre é exercer o ser quem você é, independentemente das convenções alheias
2. para ser livre é preciso ser muito responsável, porque liberdade pressupõe escolhas
3. quem é livre é, portanto, naturalmente sério, mas não sisudo - por que seria, se liberdade traz contentamento?
4. aliás, seriedade nunca foi sinônimo de sisudez
5. ser livre de fato é ser, não estar - não vamos confundir liberdade pessoal e plena com eventos esporádicos (tipo tirar a desforra, literalmente ser alforriado de vez em quando por um feitor invisível, em meio a uma vida infeliz)
6. ser livre não quer dizer ser feliz sempre, até porque a felicidade, essa sim, é episódica - mas dificilmente uma pessoa não livre é feliz de fato
A descoberta desse livro por mim e para mim se soma à do site da Gisela Rao, sobre autoconhecimento e autoestima, ótimo, divertido, recomendado pela minha amiga Marisa. Tanto a Gisela quanto a Paula se entrelaçam na tarefa que realizam com prazer de ajudar os outros, e de serem gratas por terem sido ajudadas por umas tantas pessoas no caminho. Tudo porque ambas se colocaram em movimento na direção da transformação pessoal, que levou em conta a essência de cada uma, as idiossincrasias e medos a vencer de cada uma.
E é assim. Cada pessoa tece sua vida, sua manhã, mas volta e meia reconhecemos na nossa tapeçaria um pontinho, um presente deixado por um passante-bordador-da-própria-vida. E a cantoria dos galos cresce, e cresce, uma lindeza.
Outro dia fiz este diagrama pra entender as mil percepções que estava tendo. Não é que começou a desenrolar a maçaroca?
As tessituras me encantam e entontecem - são parte dos milagres diários pra mim, sincronicidades segundo a psicologia analítica. Hoje, ao ouvir e curtir uma música (o post anterior, "Soltarlo", da colombiana Claudia Gómez) que o Josafá Crisóstomo também curtiu, da newsletter de outro blogueiro que adoro, o Alessandro Martins, este me convidou a assinar a newsletter; quando aceitei, veio a sugestão de eu ler um livro de uma parceira dele, Paula Abreu. Escolha sua vida, era o título desafiador.
Como ando topando desafios e querendo conhecer histórias motivacionais, topei. E gostei muito. Me identifiquei bastante com a experiência da autora, e li frases que andei dizendo pra quem quisesse ouvir nos últimos tempos, sobre a resposta do universo (não postei aqui, outro dia, sobre minha mudança, trabalhos novos e tal?), liberdade, consciência e responsabilidade. O livro da Paula não é simples autoajuda, é um depoimento (não um guia) de como ela mudou sua própria vida, quando teve um clique num momento crítico. Bom seria se a gente tivesse o tal clique antes de a coisa ficar feia, quando já tivesse dado ouvidos aos primeiros sinais da intuição. Mas é difícil não ceder aos costumes arraigados, ao comodismo e à dúvida cruel: será que mereço, será que consigo, será que posso?
Eu gostei sobretudo de saber que não sou uma maluca sozinha no mundo, como tantas vezes querem me fazer crer. Não que considere os outros modos de viver errados, longe disso, mas o meu é ideal para mim. Do mesmo modo que não julgo quem fume unzinho pra se divertir, quero não ser julgada por não ter necessidade de fumar unzinho pra isso. E mesmo procurando ser tolerante com as verdades alheias sei bem como é ser acusada de ser a dona da verdade - eu sou sim: da minha verdade, da que me cabe, onde cabe minha alma, e que pode inclusive mudar a qualquer momento, junto comigo (e OK, estou aprendendo a não querer resolver as coisas pelos outros, já vi que não ajuda nada). Quando alguém muda, incomoda os que não querem mudar, como se fossem alvo de uma acusação. Mas, como diz a autora, "não é você, sou eu".
Já cheguei a pensar que estava errada por não ter apenas um único objetivo na vida ou "o" lugar no mundo, por gostar de tantas coisas, por querer ver tantos lugares, por não querer ter um carrão, por privilegiar o tempo presente, por no fundo querer uma vida mais simples, criativa. Aí a Paula disse algo de que também gostei: sobre os espíritos renascentistas. Segundo ela, nenhum problema em ser assim, mas ter mais foco é bom para ser mais feliz (não para agradar os outros). E isso me fez pensar em coisas que já havia dito sobre a liberdade, inclusive reafirmando-as:
1. ser livre é exercer o ser quem você é, independentemente das convenções alheias
2. para ser livre é preciso ser muito responsável, porque liberdade pressupõe escolhas
3. quem é livre é, portanto, naturalmente sério, mas não sisudo - por que seria, se liberdade traz contentamento?
4. aliás, seriedade nunca foi sinônimo de sisudez
5. ser livre de fato é ser, não estar - não vamos confundir liberdade pessoal e plena com eventos esporádicos (tipo tirar a desforra, literalmente ser alforriado de vez em quando por um feitor invisível, em meio a uma vida infeliz)
6. ser livre não quer dizer ser feliz sempre, até porque a felicidade, essa sim, é episódica - mas dificilmente uma pessoa não livre é feliz de fato
A descoberta desse livro por mim e para mim se soma à do site da Gisela Rao, sobre autoconhecimento e autoestima, ótimo, divertido, recomendado pela minha amiga Marisa. Tanto a Gisela quanto a Paula se entrelaçam na tarefa que realizam com prazer de ajudar os outros, e de serem gratas por terem sido ajudadas por umas tantas pessoas no caminho. Tudo porque ambas se colocaram em movimento na direção da transformação pessoal, que levou em conta a essência de cada uma, as idiossincrasias e medos a vencer de cada uma.
E é assim. Cada pessoa tece sua vida, sua manhã, mas volta e meia reconhecemos na nossa tapeçaria um pontinho, um presente deixado por um passante-bordador-da-própria-vida. E a cantoria dos galos cresce, e cresce, uma lindeza.
Outro dia fiz este diagrama pra entender as mil percepções que estava tendo. Não é que começou a desenrolar a maçaroca?
domingo, 29 de dezembro de 2013
"Soltarlo", Claudia Gómez
Soltarlo, dejarlo ir
Que vuele
Que encuentre su propia voz
Ya no me pertenece a mí
Yo se lo dejo a él
Que vuele
Que encuentre su propia voz
Ya no me pertenece a mí
Yo se lo dejo a él
Soltarlo al aire dejar salir
Del pecho este sentimiento
Que en mi murió
Yo ya vi mi sol nacer
Y hoy vuelve a amanecer
Del pecho este sentimiento
Que en mi murió
Yo ya vi mi sol nacer
Y hoy vuelve a amanecer
Volver a comenzar en la vida
Mirando un cielo azul
Con fe y con mi poder
Con todo el corazón
Llevando esta canción por la vida
Mirando un cielo azul
Con fe y con mi poder
Con todo el corazón
Llevando esta canción por la vida
Mudar não é bolinho
Eu gosto de mudança, não só a essencial, da alma, pessoal, mas também a física, geográfica. Não sei como fiquei tanto tempo num lugar que nem é meu. Na verdade, sei: me acomodei, e fui ficando, mesmo quando não me sentia mais feliz aqui. Embora gostando tanto da cidade, e do centro, já estava há uns anos meio sufocada pelo concreto. Foi preciso começarem uma obra nos fundos (e mais umas tantas coisas) para eu me mexer de verdade. Esse, na verdade, é o erro: não seguir o que diz a alma, ir arrumando um jeitinho de não ter que se mexer.
Porque mudar - em ambos os sentidos - dá muito trabalho. Agora mesmo, em meio a um calor infernal, dia sem vento nenhum, parecendo a louca das caixas (algo na linha loira do banheiro ou homem do saco) pedindo em toda parte, percebendo com quase desespero o quanto acumulei de coisas nesses anos (mesmo coisas ótimas, como livros - eles parecem não ter fim, não há caixa que dê conta de tantos!), vejo minha ansiedade pelo novo ceder um pouco de espaço para o cansaço antecipado das providências a tomar. Pra incrementar o quadro, tem o feriado prolongado, e alguns lugares aonde eu precisava ir não abriram. (Acho que não gosto muito dos feriados - nunca tinha pensado nisso, sei que são ótimos em algumas situações, principalmente quando se trabalha em uma empresa, cumprindo horário fechado todo dia, mas pelo menos nos últimos tempos eles mais me atrapalham que ajudam. Eu prefiro, aliás, viajar fora de feriados, até para evitar as multidões, os maus serviços e os preços altos. Enfim...)
Desanima também ir tirar as medidas do apê novo e ver que nem começaram a pintura. Porque a semana encurtada pelo feriado vai exigir que eu equilibre pratos, pra variar, entre mudança e trabalho, e todas as providências imediatas que dependem de uma e interferem no outro.
Bom, no meio desse lacrimório, fiz algo que há anos não fazia, desde o colégio: desenhei a planta do apê. Toscamente, claro, mas lembrei, usando o velho e detonado escalímetro e o esquadro de 60 graus e a pranchetinha com régua paralela que comprei para fazer revisão de texto (algo premonitório!), da minha vida de estudante de Edificações. Algo que não tem mais nada a ver comigo, e ao mesmo tempo fala tanto sobre mim. Eu, que sempre gostei do assunto casa - planejar, proteger, aconchegar, receber -, vejo como ele nunca me abandonou. Hoje, acrescido do sentido de autoconhecimento que a metáfora da casa traz consigo.
Por isso mudar (a casa-alma ou de residência) é tão difícil - pressupõe desapegos, expurgos. Perceber o peso do acúmulo, e então ter que fazer escolhas, para caminhar com mais leveza. O próprio preço da liberdade.
Porque mudar - em ambos os sentidos - dá muito trabalho. Agora mesmo, em meio a um calor infernal, dia sem vento nenhum, parecendo a louca das caixas (algo na linha loira do banheiro ou homem do saco) pedindo em toda parte, percebendo com quase desespero o quanto acumulei de coisas nesses anos (mesmo coisas ótimas, como livros - eles parecem não ter fim, não há caixa que dê conta de tantos!), vejo minha ansiedade pelo novo ceder um pouco de espaço para o cansaço antecipado das providências a tomar. Pra incrementar o quadro, tem o feriado prolongado, e alguns lugares aonde eu precisava ir não abriram. (Acho que não gosto muito dos feriados - nunca tinha pensado nisso, sei que são ótimos em algumas situações, principalmente quando se trabalha em uma empresa, cumprindo horário fechado todo dia, mas pelo menos nos últimos tempos eles mais me atrapalham que ajudam. Eu prefiro, aliás, viajar fora de feriados, até para evitar as multidões, os maus serviços e os preços altos. Enfim...)

Bom, no meio desse lacrimório, fiz algo que há anos não fazia, desde o colégio: desenhei a planta do apê. Toscamente, claro, mas lembrei, usando o velho e detonado escalímetro e o esquadro de 60 graus e a pranchetinha com régua paralela que comprei para fazer revisão de texto (algo premonitório!), da minha vida de estudante de Edificações. Algo que não tem mais nada a ver comigo, e ao mesmo tempo fala tanto sobre mim. Eu, que sempre gostei do assunto casa - planejar, proteger, aconchegar, receber -, vejo como ele nunca me abandonou. Hoje, acrescido do sentido de autoconhecimento que a metáfora da casa traz consigo.
Por isso mudar (a casa-alma ou de residência) é tão difícil - pressupõe desapegos, expurgos. Perceber o peso do acúmulo, e então ter que fazer escolhas, para caminhar com mais leveza. O próprio preço da liberdade.
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