terça-feira, 21 de setembro de 2021

Cadê a boa-nova a andar nos campos?

Meu espírito romântico sempre me traz à mente os versos de "Sol de primavera" logo nos primeiros dias de setembro. Mesmo vivendo um dia por vez, buscando o presente a toda prova, espero também, junto com Beto Guedes, que a boa-nova venha andar nos campos. Mas está cada vez mais difícil na distopia real em que vivemos, no mundo mas principalmente neste brazyl desgovernado e colonial velho de guerra. 
Não sabemos como será o futuro no trabalho, já que a área de educação, especialmente a pública, tem sido solapada sem descanso pelo desgoverno. A coisa é tão séria que, no dia do centenário de Paulo Freire, em que posto um comentário sobre o recifense-careca-querido-patrono-da-educação-reconhecido-mundialmente, tenho que ler um "Já foi tarde", e depois a manjada fala com colorações fascistas de que o que Freire queria mesmo era formar militantes, e não educadores, e por culpa dele a educação brasileira está um fiasco. Mas gente.
É chato ter que bloquear uma pessoa, mas não dá mais pra perder tempo com quem escolhe a ignorância, a injustiça, as inverdades. Apesar de seus posicionamentos duvidosos, eu a mantinha entre meus contatos por um carinho pelo passado (muito passado, na verdade, e en passant) comum. E para quê? Para a pessoa, tão estudada, vir veicular mentiras na minha página. Que tempos! 
A situação é mesmo tão feia pra educação que vemos, eu e Guga, nosso projeto de segunda graduação fazendo água com a má qualidade dos serviços prestados pela universidade (não pública). Optamos por cursos semipresenciais, mas tudo é muito desorganizado, a ponto de o conteúdo da aula síncrona não bater com o material didático digital nem com o que é pedido nas tarefas ou no simulado. Simplesmente, é impossível saber o que estudar. A bibliografia de referência, por exemplo, é para especialistas, não para principiantes, e os professores, em seis aulas de 50 minutos, repetem as mesmas informações seis vezes, o que não ajuda em nada. Pela primeira vez na vida, resolvi não fazer uma tarefa dada - e mesmo assim fiquei na média. A atividade mais tosca que entreguei, feita de qualquer jeito, mereceu 10. Como é possível levar a sério? Que tipo de profissional pode se formar assim?
Hoje, ainda por cima, o nefasto inominável fez seu discurso de realidade paralela na ONU, lançando mais uma vez o país à chacota geral, para coroar a horrível situação social e econômica em que já estamos. Como é possível alguém duvidar do poder transformador da educação diante disso tudo? A ignorância só deixa cada vez mais longe de nós qualquer tentativa de primavera, afasta de nós o sol e as boas-novas. 

domingo, 8 de agosto de 2021

Quase um ano e meio na direção do apocalipse zumbi

Ando bem sem vontade de escrever qualquer coisa. Cansaço pelo trabalho triplicado e repetitivo, o horror diário nas notícias, a galopada vertiginosa dos preços de tudo, a dificuldade de enxergar um futuro no meio disso tudo. Em meio às pandêmicas olimpíadas, a segunda temporada da CPI, e oscilo entre a alegria de testemunhar vitórias femininas e periféricas e a desesperança de ver qualquer mudança na realidade mais disparatada da história brasileira. 
Tenho esquecido até de respirar, sinal de que as coisas não estão bem - a respiração suspensa como o futuro. Tento um simulacro de porvir me inscrevendo numa segunda graduação, mas isso ainda não me aquece nem devolve completamente a respiração. Demorei mais de duas semanas para agradecer aos amigos que se lembraram do meu aniversário - algo quase impensável, no meu caso, memoriosa de efemérides que sou. Sonhos ruins vêm, noite sim, noite não, amargando temores antigos, metamorfoseados em ira.  
Ensaio uma volta à academia local, munida de cadeado, perfex, álcool, máscara, e acabo trancando tudo no armário com a chave dentro - e tenho que ir buscar um chaveiro para quebrar o cadeado, algo que nunca me aconteceu antes. Dou-me conta de que, além do estresse por tudo e pela pandemia, a idade também vem cobrando seu preço na memória, na pele que resseca cada vez mais fácil, nos cabelos que caem abundantemente. Sou tomada por um súbito pavor do que significa essa queda capilar quando lembro que preciso refazer meus exames médicos, com mais de um ano de atraso. 
Tenho uma boa ideia para um trabalho final da pós como ouvinte, mas desanimo a cada tentativa de respirar. Desânimo é alma que se esvai aos pouquinhos. 

sábado, 31 de julho de 2021

Maníaca dos fitocosméticos

Nessa pandemia, virei a maníaca dos fitocosméticos. Com a resolução de gerar menos plástico (embora alguns, como na foto, tenham embalagem de vidro), fui atrás de condicionador e xampu em barra. Já falei aqui da estranheza nas primeiras vezes que usei os produtos da Besunté - depois, fiquei abismada com a redução do frizz (algo que, insisto em dizer, eu não sabia que existia até me mudar para a mais úmida das cidades depois de Manaus) e a maciez dos fios. Tinha achado complicado manter as barras porque derretem rápido, mas logo adquiri uma saboneteira apropriada, de outra marca, a Moaralê, que deixa tudo mais sequinho, portanto mais duradouro. 
Aliás, como tem crescido o número de mulheres investindo em suas marcas de fitocosméticos! Só na ECDE, a cada vez que navego pela página, descubro uma nova investidora, como a Moara, da Moaralê, a Dani, da Amor Perfeito, a Carla, da Made in Casa. E tudo parece sempre lindo, confiável, mais ecológico. Não à toa, Emma Silliprandi louva o papel das mulheres na proteção da natureza, na promoção da agroecologia. Ora, alguma coisa de boa teria de advir do papel a nós imputado por séculos na área de cuidados.
Além da coragem para empreender, para correr atrás daquilo em que acredita, essas mulheres demonstram, na atenção a cada detalhe, na qualidade dos produtos, num site ou catálogo caprichado, no atendimento, muito amor pelo que fazem e entregam. De cada marca de que comprei, tenho pelo menos um produto maravilhoso a destacar, como os já mencionados xampu e loção facial da Besunté, o óleo para sobrancelhas e o sabonete de açafrão milagrosos da Amor Perfeito, os óleos, o xampu (que nem carece de condicionador) e o balm labial, tudo cheirosíssimo, da Moaralê. E já estou aguardando mais coisas, agora da Made in Casa. Daqui a pouco virarei testadora de fitocosméticos. Com muito gosto, aliás. 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Sometimes it hurts instead - compras on-line que não dão certo

Muita, mas muita gente mesmo começou a comprar mais pela internet durante a pandemia. Eu, que já comprava porque aqui não temos serviço de entrega postal, aumentei ainda mais o volume de compras. Normalmente, deram certo, com entregas no prazo e produtos corretos. 
Nas últimas semanas, porém, tive alguns problemas. Comprei um sapato da Insecta Shoes, uma loja de sapatos veganos, para saber somente duas semanas depois que ele não estava disponível; o monitor cardíaco da Garmin que comprei na loja oficial chegou e não liga; um vestido da Complexo B, uma marca carioca de que gosto muito, que foi trazido pelo próprio Beto, um querido, veio com defeito no corte (tive que trocar todos os botões de lugar para alinhar o barrado da estampa, que formava um "degrau", além de refazer um lado da bainha e aplicar uma pence na gola do outro lado) - por alguns momentos, o vestido, tão bonito, até perdeu a graça. 
Me parece que o excesso de demanda de compras on-line gera essas confusões/desatenções - imagine quantas pessoas como eu estão fazendo a mesma coisa? Talvez isso explique alguém não conferir a qualidade do produto ou mesmo o estoque. Também essas quebras de expectativas vêm me lembrar de comprar menos. Precisava de sapatos e vestidos? Certamente, não. E a questão realmente não é simplesmente reclamar, mas refletir sobre o consumo em si, as partes envolvidas e que tais - até porque, com relação aos pequenos empreendedores, só tenho tido surpresas boas, nos cuidados com o pedido, com o produto desde a fabricação, passando pela embalagem e envio até o acompanhamento de feedback. Uma das diferenças talvez seja justamente a pouca pressa, esse modo slow de produzir e comerciar, sem desespero, com atenção aos detalhes e à qualidade. 

sábado, 26 de junho de 2021

Vacinados - um alívio no meio do caos

Em uma semana que começou confusa, com pane elétrica que durou dois dias e já atrasou o trabalho sempre de prazos justos, conseguimos nos vacinar, na xepa do posto de saúde de Monte Gordo. 
Quando vimos que a fila por idade estava se aproximando da nossa, fomos ao posto, na segunda-feira, para fazer nossas carteirinhas do SUS, coisa que ensaio há uns 3 anos. Lá fomos muito bem atendidos e soubemos que havia uma lista para a xepa, aparentemente bem pequena. 
No dia seguinte, quando eu estava fazendo almoço - enquanto o eletricista terminava de arrumar as instalações que nos transtornaram a vida desde o dia anterior -, recebi uma ligação de número desconhecido. Atendi e ouvi: "Querida, vem vacinar. É Sandra, do posto." Perguntei se Guga poderia ir também, mas acho que ela não atinou que ele também estava na fila da xepa, acabou dizendo que não era mais para ir. Dali a pouco, os cubos de frango dourando na panela com curry, cebola e maçã, Guga grita pra eu largar o que estava fazendo e irmos para o posto. Sandra tinha ligado pra ele também. Eu, legalista, fiquei temerosa de ir sem ter sido confirmada, mas ele já foi pegando a chave do carro, e só tive tempo de jogar a panela do semi-almoço dentro do forno. 
Saímos correndo e chegamos ao posto quase vazio. Uma moça chegou ao mesmo tempo que nós, com cara de postulante à xepa. Logo encontramos a moça que nos ligou, que foi quem tinha feito as carteirinhas no dia anterior. Ela sorriu debaixo da máscara, disse que a enfermeira estava voltando do almoço. 
Dali a pouco, o bracinho que estava quase caindo de tanta espera recebeu a tão desejada vacina. Coronavac. Fomos tão felizes e aliviados pra casa que nem sei descrever. Foi outra grata surpresa local, a vacina tão à mão, ou tão ao braço. Com um atendimento tão eficaz e simpático. Sim, mil vivas ao SUS e aos profissionais da Saúde.
Somente no dia seguinte tivemos um pouco de sonolência, mas, à parte isso, nenhum sintoma mais sério. 
E agora aguardamos outra vacina, a Covaxin, operar uma maravilha contra o desgoverno que aí está. 

sábado, 19 de junho de 2021

Bandeira

Mais bandeirosa que nunca. Com patrocínio de Use Prida e Emicida. É só o que nós tem - nós mesmos. Mesmo. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Um jantar perfeito de Dia dos Namorados


No dia dos namorados do ano retrasado, fizemos um jantar a quatro mãos, e foi ótimo - eu fiz uma torta, Guga cuidou da massa. Já no ano passado, passei dois dias preparando o jantar, fazendo biscoito e mascarpone caseiros para o tiramisù, que, modéstia às favas, ficou maravilhoso. Também fiz um mil-folhas de batata lindo, um filezão de carne boa, pão italiano, tudo no capricho, mas cansativo. E não fez esse sucesso todo não. 
Daí, este ano, como ainda por cima eu estava louca tentando escrever 15 mil palavras além de trabalhar em duas frentes e fazer almoço e lavar roupa e louça, marido sugeriu conhecermos a hamburgueria do bairro, Brutu's. Combinamos que se estivesse lotada voltaríamos pra casa e descongelaríamos a quiche de alho-poró. 
Tivemos a maior surpresa positiva dos últimos tempos. O lugar tem poucas mesas, e apenas duas estavam ocupadas quando chegamos. Decoração bonita, atendentes usando máscara (que hoje é um megadiferencial), e tinha chope. Pedimos chope, e veio gelado, bem tirado, ótimo. Escolhemos o hambúrguer clássico, 150 g de carne, com bacon, cebolas empanadas, molho de picles, queijo. Vinte e três reais, mais barato que lanche do Bob's ou do McDonald's. Pedimos batatas fritas pra acompanhar, que vieram bonitas num cesto de imersão fazendo as vezes de prato. Dali a pouco chegaram os hambúrgueres, lindos, bem montados, sobre tabuinhas de madeira. Apesar da altura do sanduíche, não desabaram e o molho também não vazou. Uma delícia!
Voltamos felizes e impressionados pra casa, e ainda tomamos vinho e comemos chocolates gostosíssimos e assistimos Lupin. Perfeitos, o dia dos namorados e o nosso jantar. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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