sexta-feira, 16 de março de 2012

Gourmandise XV - Restaurant Week - Sotero

Pois então - falei do Sotero há pouco, e gostei muito do lugar, na primeira visita. Fomos uma segunda vez, no primeiro dia da Restaurant Week, e o atendimento foi uma comédia. Dois garçons, um pouco e um nada experiente, cheios de rapapés, nos atendiam simultaneamente, com a casa ainda vazia. Depois, tiveram uma súbita clareza de que não estávamos participando da Restaurant Week e nos abandonaram. Um deles só aparecia para nos servir cerveja, e, quando pedíamos algo para beliscar, sumia de novo.
Decidimos então voltar lá para participar da Restaurant Week (e conferir como seríamos atendidos). Foi pior. No início tudo parecia bem, mas à medida que a casa foi ficando cheia os atendentes perderam o controle (e lá estava novamente o moço que queria nos servir Original). O próprio chef Sessenta veio falar conosco, se desculpando pelo atendimento. Houve um momento em que todos os garçons sumiram - deviam estar levando uma bronca na cozinha. Até houve uma garçonete - a terceira para quem pedíamos a sobremesa e o café - que disse que "ia pedir demissão"(!!!). E o mix de sobremesas (doces variados para Guga e dois tipos de cocada para mim) acabou virando "mono". Que triste!
Isso não quer dizer que o Sotero não valha a pena - a comida é ótima, o local, acolhedor; os preços, bem razoáveis. Na nossa última visita, comemos uma deliciosa moqueca. Só falta acertar o passo na administração. Continuo torcendo para que isso aconteça logo.

Gourmandise XIV - Curry só para esquentar

Meu ingrediente da vez é o curry. Já fiz camarão e frango ao curry, e não há o que errar, principalmente porque há uma base cremosa que envolve os ingredientes principais (nos dois casos, creme de leite, ao qual se acrescenta pouco mais de uma colher de sopa de curry). Aliás, acrescentar maçã cortada em cubos ao frango, dica do Panelinha, deixa o prato maravilhoso, surpreendentemente leve apesar de picante.
Nesta semana, foi a vez do bifum (macarrão oriental à base de arroz, levísssimo, fininho) com carne - usei alcatra cortada em iscas. É preciso apenas cuidado com a hidratação da massa, que é muito delicada. Deixei só 2 minutos na água fervente (depois de ler dicas as mais disparatadas, de 1 a 15 minutos de hidratação) e escorri - a carne, refogada com cebola, alho, pimentão e cenoura (pré-cozida), temperada com curry, já estava pronta. Aí foi só misturar tudo, massa e refogado, e servir nas cumbuquinhas típicas (chawans) e comer usando ohashis.

domingo, 4 de março de 2012

Singularidades de um bairro - Liberdade

Domingo é dia da disputada feira da Liberdade. Tudo bem ficar de pé para comer guiozas ou bifum, debaixo do sol, se não quiser almoçar em algum restaurante típico. Depois é só tomar um Melona enquanto xereta as barraquinhas e lojas de cosméticos, de quinquilharias e artigos para casa. Ou comprar gulodices importadas dos Tigres Asiáticos nas mercearias da Galvão Bueno e rua dos Estudantes. Apreciar as belas flores e plantinhas vendidas por quem tem dedo verde, utensílios feitos de bambu ou patchwork caprichado. E curtir a simpatia de batians e ditians, sorridentes e sábios, uma fofura (impossível não me enternecer e pensar nos avós que não curti).
Ouvir músicos populares, tirar a sorte no realejo. Comprar mangás e papel para origami (que tal os da Livraria Sol?). Tomar um café acompanhado de um doce irreal de tão bonito, na confeitaria Alteza, ou um mais hardcore, grandão, da Bakery Itiriki. Namorar os lindos futtons e porcelanas na vitrine, admirar a variedade de luminárias e kimonos para todos os gostos e bolsos. Aliás, todos os gostos moram na Liberdade - que nome melhor para um bairro onde cabem todas as tribos?


Luminárias "ancestrais" convivem com linhas "modernas"; gente de toda parte passeia pela feira; lindo patchwork; ficar de pé para almoçar faz parte do programa; cores fortes em frutas e verduras (algumas identificadas somente por connaisseurs!); Liberdade para todos os gostos e sons (atenção à energia do cantor popular); um traço de passado no realejo; fofura do dia, o encantamento da garotinha diante do paso doble do pajarito que leu a sorte para nós.




sábado, 3 de março de 2012

Gourmandise XIII - Sotero Cozinha Original

Debaixo de chuva, fomos finalmente conhecer nosso vizinho Sotero, na Barão de Tatuí.
Além da lotação que já nos fez ficar sob o sol incandescente numa mesa da calçada em aclive, o Rota do Acarajé, nosso destino habitual no quesito comida baiana, anda muito caro. Eu já havia passado em frente ao Sotero algumas vezes, mas, depois que li sobre seu cardápio e preços, sugeri a troca de tabuleiros ao namorido e ele topou.
O lugar é amplo e despretensioso, o atendimento é bom e a comida é, de fato, ótima. O chef Rafael Sessenta, apresentador de um programa culinário na TV Salvador e autor do esgotado Lugar de homem é na cozinha, é uma simpatia e veio conversar com a gente (ele passa por todas as mesas para dar um olá). Quando soube que Guga era seu conterrâneo, trouxe um pão delícia com carne de fumeiro, almost paradise. Também rolou uma degustação de cachaça Itajibá, quase secreta.
Mas nosso pedido de fato foi uma porção de miniacarajés (6 unidades por 12 reais) com um vatapá que o namorido qualificou de "feito em casa", bem diferente mesmo do que se acha nas ruas de Salvador. Delicioso!
Depois seguimos com uma porção de escondidinho (20 reais, e dá para dois). À primeira vista, causa estranheza a consistência meio puxa-puxa do purê de aipim misturado com a carne seca, mas o gosto é muito, muito bom. Minha impressão é que Sessenta recupera sim os ingredientes originais da comida baiana (daí o nome do restaurante, Sotero Cozinha Original), mas procura inovar na montagem dos pratos. E por conta de buscar o original da culinária baiana é que ele não vai incluir o godó em seu novo livro - alega não ser um prato típico da região. What a pity!
Por fim, pedimos sobremesa (ainda voltaremos para provar os pratos). Guga foi de banana real (na verdade, 1/2 banana real, pois o pastel era pequeno), ótima, e eu fui de manjar. Primeira (e breve) decepção: a calda de ameixa estava azeda! Pedi a troca, e o próprio chef veio me trazer outro manjar, com calda de baba de moça, e desculpou-se pelo incidente/acidente. Aí sim, prosseguimos na sintonia de encantamento.
Torço para que o Sotero aumente sua clientela. Até lá, o serviço estará ainda melhor, pois qualidade gastronômica e simpatia eles já têm de sobra. E provavelmente o bairro terá seu charme aumentado com a chegada de outros vizinhos bacanas. Sorte a nossa.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Derretendo em São Paulo

Se estivesse mais magrinha, diria que vou me liquefazer nesse calorão. Mas, com um pouco mais de "substância", acho que vou me massifazer.
Acho que nunca vi/senti um calor assim em SP. Os ventiladores só fazem circular o bafo que entra pela janela, mas não conseguem empurrá-lo para fora. Quer dizer, um só não basta. E aqueles modelos portáteis de ar-condicionado ainda são bem caros. Ou eu preciso ganhar melhor? Pode ser, hein?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Celebrar é doce

Como o dia a dia nem sempre é fácil e às vezes os desafios da vida parecem chegar todos de roldão, não perco a oportunidade de celebrar. Coisas pequenas, a vida em si, os afetos. Gosto não só de brindar (uma espécie de bênção), mas também de preparar algo, mesmo simples, para a ocasião.
Ontem, no final de um dia de calor cáustico, em que o trabalho rendeu pouco, com muitas questiúnculas, e sofrendo com uma tosse renitente, tive uma ótima notícia. E eu e Guga resolvemos fazer um jantarzinho hoje, para dois. Simples, mas caprichado.
Fiz uma salada com folhas e tomates da cesta de orgânicos que encomendei (resolvi experimentar; só me decepcionei com o tamanho da cesta, muy pequeña), com molho de aceto balsâmico, azeite e azeitonas (o que me lembrei de uma receita do Jamie Oliver) e uma omelete de gruyère com ervas. Só. E o ponto alto do jantar para mim, hormigona assumida: creme de cupuaçu sobre ganache, nas tacinhas herdadas de minha avó.
Tinha feito um ganache, receita do Panelinha, que não deu certo. Acho que errei no ponto do creme, que virou um brigadeiro e depois um pé de moleque, horror dos horrores (o gosto não era dos piores, mas a consistência...). Quando, ainda por cima, resolvi que seria parte da sobremesa comemorativa das boas novas, me enfezei, joguei fora o creme monolítico, fui às compras e fiz outro ganache, desta vez com dicas do Gourmandise (que até agora me parece infalível nas dicas de pâtisserie). Simplesmente, aqueci o creme de leite, desliguei e derreti nele o chocolate picado, mexendo sempre. Só acrescentei depois um pouco de maple syrup. Ficou ótimo, muito mais afeito a uma comemoração.
Amanhã começa tudo de novo. Mas com outra perspectiva, mais doce e cheia de esperança.
Tintim.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Gourmandise XII - Divino flan

Simplesmente adoro pudim (do inglês pudding, é o mesmo que flan ou flã, do francês e do espanhol flan). Acho uma sobremesa perfeita: embora calórico, leve; fresco sem ser gelado; doce sem ser enjoativo, e muito macio. E fica incrível em uma infinidade de variações: de pão, laranja, limão, banana, o clássico de leite. Acho que nenhum bate o de doce de leite, que já mencionei aqui mais de uma vez.
O que mais me chama a atenção nos pudins é a maneira variada de fazê-los, e não apenas pelos seus diversos ingredientes possíveis. Por exemplo, os ingredientes do flan de leite condensado podem ser batidos todos juntos, em temperatura ambiente, no liquidificador (3 ovos, 1 lata de leite condensado, duas vezes a mesma medida de leite). Já o imbatível flan de dulce de leche é feito com o doce de leite diluído e aquecido em meio litro de leite integral - ao líquido quente se acrescentam os ovos batidos.
O último que fiz foi o flan aux marrons, também receita do blog Gourmandise. Neste caso, todos os ingredientes (creme de marrons, ovos, leite, creme de leite e açúcar demerara) foram batidos juntos, também em temperatura ambiente. A diferença foi não haver uma forma previamente caramelizada, mas só untada com manteiga (e achei mais difícil de desenformar). Como não tinha o açúcar de vanille (um açúcar armazenado com favas de baunilha), misturei essência de baunilha à calda de açúcar branco, demerara e água - e ficou suave e bem gostoso (meu provador oficial já sugeriu utilizarmos como cobertura de panqueca!). E também bati creme de leite fresco (rendeu muito esse creme!) com açúcar para fazer chantili - e se formou um trio perfeito para sobremesa.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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