domingo, 22 de julho de 2012

Música-tema: "Dancin' Days", Frenéticas



Tributo aos 40: dance até sem saber dançar

Quando eu tinha 6 anos, preparei com minha irmã uma coreografia para a música "Dancin' Days", das Frenéticas, que apresentava nas festinhas de fim de ano na vizinhança. Adorava o convite feito pelas moçoilas glamorosas para a dança, mesmo "sem saber dançar", mesmo sentindo e sofrendo. 
Com o tempo, percebi que a vida é como essa dança. Podemos ficar parados no salão, vendo tudo acontecer, ou participar do baile. Arriscar-se a dançar sem saber pode ser doloroso no início, mas pode tornar-se cada vez mais divertido, e pode-se aprender a dançar e até virar a estrela da sua pista de dança.
Sempre arrisquei meus passinhos na pista. Não cheguei aqui ilesa (haverá alguém que chegue?) - tenho marcas no corpo e mais ainda na alma. Mas sinto ainda um apetite de adolescente pela vida, uma curiosidade enorme pela próxima música. Se curti os 30, quando me descobri mais seletiva, vejo os 40 chegarem com aquele friozinho na barriga de primeiro dia de aula (para mim, que adorava o primeiro dia de aula), de primeiro baile: tudo pode ser. O corpo não me deixa esquecer que podem pesar os 40, mas o espírito continua acreditando que tenho a força de duas mulheres de 20. Com a vantagem de não digerir mais as coisas com pressa, ou nem digerir, e sim sorvendo-as devagar, prazerosamente, ou simplesmente ignorando o que não for prazeroso. Podendo dispensar sorrindo o parceiro de dança que não agradar, não topando qualquer canção só para continuar na pista, deixando a festa mais cedo quando achar que "já deu", caprichando sempre na produção e na performance.
E a diversão está só começando, podem acreditar.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Lindezas e milagres - Morro do Pai Inácio, BA

Quando se pensa em Chapada Diamantina, normalmente vem à cabeça uma sucessão de morros sobre um fundo azul ou terracota (a depender da hora do dia), cercada por vegetação de cerrado, contra o horizonte povoado de nuvens baixas, que tocam os morros. A Chapada é isso também, pois à medida que se avança por seu interior descobrem-se, de repente, outras paisagens - matas, caatingas, cachoeiras, campos gerais, montanhas acarpetadas de pequenas árvores.
Quem acompanha o blog desde o início, deve lembrar que um dos primeiros textos falava sobre a Chapada Diamantina, sobre o godó (prato típico da região) de Lençóis e as sempre-vivas de Mucugê (que continua linda). Mas até então eu não havia subido até o Pai Inácio, cuja lenda se refere a um escravo que, caçado por ter seduzido a filha de seu senhor, pulou do morro de cerca de 250 metros de altura com um guarda-chuva, antecipando Mary Poppins em mais de cem anos.
É ao morro do Pai Inácio, entre Lençóis e Palmeiras, que se deve o tal visual típico de que falei mais acima e que fez inclusive parte da abertura de uma novela da Globo, como gostam de lembrar os guias locais. Então, numa das tréguas que a chuva nos deu, fui finalmente conhecer o morro lendário, que já subi com um pouco mais de destreza do que a demonstrada numa trilhinha de nada em Visconde de Mauá (segundo Guga, eu estava parecendo o Homem-Aranha na descida, de tanto esticar braços e pernas para não cair - e funcionou!).




A tradicional paisagem da Chapada Diamantina pode ser vista do alto do Pai Inácio; cenário lunar incrementa o clima de "mistério" do lugar; sombras e sol compõem a paleta divina; Pai Inácio se derrama sobre a estrada; eu e Guga nas alturas.

domingo, 8 de julho de 2012

Lindezas e milagres - Poço Encantado, BA

Pois era um dia nublado, e nada indicava que veríamos o tal raio de sol que ilumina o Poço Encantado, no município de Itaetê, entre a doce Mucugê e Andaraí, na Bahia. Mesmo assim, dirigimos cerca de 150 km desde Lençóis para chegar ao poço.
A visita ao local, que começou nos anos 1980 por iniciativa do seu guardião até os dias de hoje, Miguel de Jesus Mota, é bem organizada apesar da nenhuma ajuda governamental - seis guias, coordenados por Renilson, filho de Miguel, se dividem entre os diferentes trechos, auxiliando os visitantes na descida íngreme pela escada de pedra aparada por cordas. Já havia um grupo à espera quando chegamos; recebemos nossos capacetes e as instruções de Renilson e lá fomos em busca de mais esse milagre da natureza.
Mesmo com a pouca luz, a visão da catedral de pedra que se tem da gruta é realmente impressionante. Todo mundo, todo guia de turismo já disse isso, não é? Mas é preciso ver para crer, se emocionar e calar. Eu estava lutando com minha Canon para ver se conseguia registrar alguma coisa, e nada. Só um clarão nas pedras próximas, nada de poço no meu visor. E então, quando o guia falava sobre a profundidade do poço, sobre os mergulhos que permitiram descobrir a razão da cor azulada do poço (ligada ao calcáreo que "pinga" do teto da gruta), fez-se o milagre: o raio de luz resolveu aparecer para nós, por cerca de dez minutos, tempo suficiente para nos fazer acreditar em algo muito acima de nós. A água ficou azul, e a refração da luz ainda permitiu duplicar a imagem no fundo. Melhor prender a respiração para ver por inteiro, deixar a imagem colar na retina para sempre, ou enquanto (e quanto) a memória permitir.

Acima, o caminho até o Poço, a descida e Guga devidamente paramentado. Abaixo, completo breu - e o milagre logo em seguida.
 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Fidelidade fitness




Gourmandise XX - Delícias de Mauá e risoto Maringá

A região de Visconde de Mauá não só é linda, como também é um lugar perfeito para gourmands. Depois de um caminho sinuoso serra acima, chega-se a um lugar cortado por rios e cercado de verde. Como as vilas de Mauá não têm propriamente um "centro"(são compostas de ruas paralelas ao rio), na de Maringá basta ir à Alameda Gastronômica Tia Sofia (não é um nome meio lewiscarrolliano?) para encontrar alguns dos melhores restaurantes da região, no lado mineiro da vila (que pertence a Bocaina de Minas). A outra rua paralela ao rio é composta pelo comércio local, do lado carioca da vila.
Um porém do lugar são os horários comerciais - cada restaurante abre em determinados dias da semana (ou de quarta a domingo, ou fecha na quarta e na quinta, coisas assim), cada um funciona num horário (ou das 13h às 19h - a depender do dia -, ou das 12h às 22h, ou das 14h às 20h etc.). Tem aqueles que nem abrem na baixa estação.
Por isso, é uma grata surpresa deparar com um bistrô francês que funciona como livraria também - não por acaso, chamada Shakespeare & Co. O bistrô chama-se Le saveur de vanille, mas tem um apelido, Bistrô das meninas. Comida excelente - o medalhão de mignon com cebolas caramelizadas no aceto balsâmico com risoto de boursin é de comer rezando. A baguete vem quentinha em um cesto de vime. Depois, a tarte tatin bem típica. Preço de grande cidade, mas merecido.
Há também o Ratatouille, um restaurante e pizzaria vizinho. Menos sofisticado, mas também respeitável. Uma delícia o carpaccio de truta salmonada, antes de rondelli verde com mignon (também no aceto. Uma tendência local?).
O tão mencionado Borbulha, embora visualmente charmoso, parece um restaurante para amigos do dono. Meia dúzia de pessoas (amigos do dono) falando muito alto do lado de fora, como se delimitassem o território, são capazes de espantar o cliente mais disposto a provar a famosa truta da região. Apesar de propagandear o museu do vinil, não nos deixa à vontade para trocar o disco - o garçom parecia um segurança.
Além de bons restaurantes, a vila de Maringá tem diversos locais que vendem chocolates, conservas, queijos. A Fazenda Oásis vende cachaça, geleias incríveis (como a de pera no vinho), ketchup de amora, pimentas sofisticadas, picles de pinhão (pois lá há a Festa do Pinhão), licores, truta congelada. Em outros lugares, há o famoso bolo húngaro (feito há 20 anos por uma santista), queijos mineiros, mais geleias, patês de truta. Tudo muito bem feito e muito gostoso.
Entonces, percebi que tinha em casa coisas que combinavam entre si (com sugestões do meu provador-mor, é claro) e resolvi fazer um risoto. Como parte dos produtos principais veio de lá, o nome é Maringá (até rimou).

Risoto Maringá (4 porções)
- 2 xícaras (chá) de arroz arbóreo
- 1/2 queijo Minas padrão cortado em cubos
- 500 ml de caldo de galinha bem quente (pode ser um potinho Knorr da propaganda do Alex Atala)
- 3 tomates sem sementes e cortado em cubos pequenos
- 1/3 xícara (chá) de cebola picadinha
- 1 dente de alho picadinho (não é indispensável, mas eu gosto)
- 50 ml de conserva de pinhão (pode ser pinhão assado cortado em lâminas médias)
- 1/2 xícara (chá) de vinho branco
- 50 g de manteiga
- manjericão fresco

Enquanto ferve a água para o caldo de galinha, refogue metade da cebola em 25 g de manteiga; acrescente o alho e então o tomate. Mexa em fogo médio por alguns minutos e reserve.
Quando o caldo tiver fervido, desligue e comece a preparar o arroz. Use o restante da manteiga para refogar o restante da cebola - quando ela estiver dourada, acrescente o arroz arbóreo. Mexa bem, junte o vinho branco e mexa até que o álcool evapore. Acrescente o caldo de galinha aos poucos, mexendo sempre. Quando o arroz estiver quase al dente, acrescente o tomate, o queijo e a conserva de pinhão, sem parar de mexer. Experimente o sal - se necessário, acrescente um pouco (não se esqueça que o queijo e a conserva já têm bastante sal). Somente quando desligar o fogo acrescente as folhinhas de manjericão. E coma imediatamente!

Gourmandise XIX - Nham-nham, nhoque!

Perdição da minha vida, adoro doces e carboidratos. Como já disse, fiz um nhoque pedaçudo para o jantar de aniversário da minha mãe que foi salvo pelo molho de Guga - e repito a grande conclusão a que cheguei pela dor: não devemos ter pressa ao cozinhar.
Mas me senti arianamente desafiada, e pensei em repetir o nhoque. Só que topei, voltando da ida sazonal à academia, com uma capa de revista para diabéticos que anunciava um nhoque de mandioquinha com aveia. Pensei: isso não pode ser ruim nunca! AMO mandioquinha. Aveia? Bom, aveia é bom para reduzir o colesterol, controlar os triglicérides... (gosto mesmo é de aveia sobre banana amassada, em cookies...)
Não quis, porém, comprar a revista, e fucei no google. Claro que achei uma receita (talvez a mesma) no site da Boa Forma. E vou publicar aqui, a pedido da Dri Haddad (Dri, shame on me, a receita não é minha! :0 Mas agora você pode nos dar a receita do nhoque de ricota com espinafre da dona Norma!).
Seguem os ingredientes, exatamente como na revista:

Molho  
- 3 dentes de alho picados
- 2 col. (sopa) de azeite (eu coloco um bocadito mais)
- 6 tomates sem pele e sementes cortados em cubos pequenos (usei uma lata de pelatti que tinha aqui)
- sal a gosto
- pimenta-do-reino moída (se tiver em grãos para moer na hora...)
- Folhas de 5 ramos de manjericão lavados (tirei da minha mudinha, fresco)

Massa
 

- 500 g de mandioquinha cozida e espremida
-1 xíc. (chá) de aveia em flocos finos
- Sal a gosto
- Pimenta-do-reino moída


O modo de preparo, com adaptações:
Preparando o molho: refogue os dentes de alho picados no azeite quente, até que fiquem dourados, tomando cuidado para que não queimem. Acrescente então os tomates cortados em cubos pequenos, o sal e a pimenta-do-reino. Mexa até que eles se desmanchem um pouco e o molho ganhe mais espessura. Desligue o fogo e reserve. (Se quiser, bata o molho no liquidificador, que é a forma mais tradicional; eu prefiro com mais pedaços.)

Preparando a massa: lave e descasque a mandioquinha. Coloque-a para cozinhar em água suficiente para cobri-la, com sal. Quando estiver macia (experimente com um garfo), retire do fogo. Em seguida, esprema-a bem (não deixe ficar com pedaços). A receita da revista diz para levar um pouco ao fogo para retirar o excesso de água (como não achei que ficou aguada, não fiz isso; um outro jeito é cozinhar a mandioquinha com casca, para absorver menos água, mas dá um trabalhão descascar quente!). 
Acrescente então, aos poucos e usando as pontas dos dedos (não sove como se fizesse pão), a aveia em flocos finos, o sal e a pimenta do reino. Cubra uma superfície lisa com um pouco de farinha e sobre ela faça os rolinhos de cerca de 1,5 cm de diâmetro. A seguir, corte pedaços de 2 cm.  Tenha cuidado para não amontoá-los, pois costumam grudar uns nos outros (aliás, grudam depois de cozidos também; para isso não acontecer, quando retirá-los da água, mergulhe rapidamente em uma xícara de água com 2 colheres de azeite - dica do Panelinha; o choque térmico dá mais firmeza à massa fresca e o azeite deixa-a mais liso).
Em uma panela grande com água fervente e sal, mergulhe os pedaços, que devem ser retirados quando subirem à superfície (entre 6 a 8 minutos). 
Coloque o nhoque em um refratário, aqueça o molho, despeje sobre a massa e então polvilhe com as folhas de manjericão.

O resultado? Um nhoque muito leve e saboroso, mais bonito que o de batata, pois tem mais textura e cor. Recomendo muito, ainda mais com o friozinho que se anuncia (logo vou postar minhas experimentações sopológicas).

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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