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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Agradecer antes de tudo

Mais um Dois de Fevereiro em Salvador, com amigos. Sem discussão, minha festa de rua favorita. Mas, como no ano passado foi um sufoco achar um lugar para beber e comer - tudo inflacionado no Rio Vermelho -, resolvi fazer uma feijoada em casa. Cada convidado trouxe uma contribuição - farofa, couve, sobremesa, vinagrete, bebidas - porque os tempos estão bicudos para os não herdeiros (e somos tantos! cadê a revolução?).
Saímos pouco antes das 8h para o Rio Vermelho. O sol das 9h parecia o do meio-dia. A multidão parecia maior que a do ano passado. Os mocinhos dos lavapés lá estavam, graciosos e indispensáveis. O acarajé ainda pela manhã nos levou até Cira. Lancei uma rosa de cada cor, em gratidão à Mãe d´Água, à Mãe de Todos. Agradecer antes de qualquer coisa, sempre. Liberar o caminho das águas.

terça-feira, 5 de março de 2024

Rio Vermelho de amor

Sempre tive a maior simpatia pelo Rio Vermelho, a começar pelo nome. Ainda por cima, é um bairro charmoso, cheio de lugares para visitar. Foi um dos lugares que busquei quando decidi me mudar para Salvador, mas a demanda intensa deixa os aluguéis nas alturas. A praia não é incrível, como não são as praias de Salvador em sua maioria, mas o visual é lindo. Ainda por cima, é o cenário da festa de Yemanjá, que agrega todas as gentes em fevereiro. Este ano, voltei à festa por terra - a primeira vez foi há 27 anos, quando eu entendia menos ou nada da cultura baiana, e naquela ocasião, depois de lançar flores ao mar, resolvi ir ao Pelourinho, e no caminho conheci uma senhorinha cuja sacola ajudei a carregar e que me convidou para uma festa no Rosário, privilégio sagrado. 
Desta vez, na trilha do sagrado, fui a pé de Ondina ao Rio Vermelho, acompanhada da querida Suely, no meio do mar de gente, onde conseguimos encontrar Cris. Tudo na Bahia é mar, e o mar de gente está em toda parte. Lançamos nossas rosas, pé na areia, e descobrimos o serviço essencial de lavapés - dois rapazes na escada de acesso à praia derramavam água fresca nos pés dos ofertantes, e ainda enxugavam e calçavam os pés de cada um, recebendo em troca "o que quiséssemos dar". Ouro daria, se ouro tivesse! 
No ano passado, viemos à festa pelo mar, o que foi lindo de ver também. Mas estar no meio da multidão tão diversa, tão alegre, é incomparável, com pessoas de todas as idades, de bebês vestidas de baianinhas a senhoras octogenárias dançando na rua com alegria contagiante. Só foi difícil almoçar por ali, tudo completamente tomado - aliás, este verão foi impressionante a quantidade de pessoas em Salvador, em qualquer lugar. Tivemos de almoçar em Ondina por não encontrar lugar no Rio Vermelho; só tínhamos conseguido sentar num bar-corredor, com garçons simpáticos e muito atrapalhados e um som que impossibilitava qualquer conversa, então almoçar ali nem pensar. 
Mas eis que, uma semana depois, voltei ao Rio Vermelho para encontrar Marisa e Harley, recém-chegados de Alagoas (ai, que saudade deu!). Fomos tomar um sorvetinho, bater papo e dar um rolê ali mesmo na Casa de Yemanjá. Só aí me lembrei de que os mosaicos lindos da casa foram feitos por meu amigo Ed Ribeiro, pintor dos orixás, que conheci nas andanças com Liu e Igor na Vitória, confirmando a tendência do Rio Vermelho de ser um lugar de encontros e afetos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Meu rio possível-porque-sonhado

Foi o equivalente a um parto, pelo menos em termos de tempo: nove meses depois, terminei de bordar o vestido com imagens do São Francisco. Na verdade, tive de parar, porque não só não aguentava mais como também, por contraditório que pareça, não parava de ter ideias de coisas pra bordar (como a cauda de jubarte e a água-viva de última hora). Tinha idealizado galinha, carcará, cobra, peixes coloridos, tartaruga, flores, árvores, todo tipo de gente. Misturada à minha memória do rio, a minha vivência nordestina. E o vestido, que era pra ser uma peça de uso cotidiano, mesmo que não constante, virou uma espécie de manto da anunciação (mal comparando com a obra sublime do Bispo), algo mais "solene", para usos especiais. 
Também estava agoniada para lavar o vestido, que ficou pendurado na estante todo esse tempo, esperando pelos momentos em que havia um pouco de inspiração e vontade de bordar - houve períodos de total abandono, até de fato retomar, mesmo uns minutos por dia, a tarefa. Ontem, finalizei o bordado (resolvi simplificar algumas coisas, como os peixes, deixando só o contorno, e as galinhas, que foram trocadas por flores). Hoje lavei a peça, tomando cuidado com deixar já pronto um balde de água com vinagre e sal - e não teve nenhuma manchinha, que bom. 
Minhas mascotes estão presentes, como sempre. Está presente um Brasil mestiço, com esperança de dias melhores na estrela empinada pelas crianças (essa cena já foi parar devidamente no Instagram #desenhosporlula). Tem carranca, tem vaqueiro, tem São João, tem canoa de tolda, tem pescador e lavadeiras. Tem Yemanjá guardando as águas do Rio Mar, Opará dos povos originários e ribeirinhos. Tem casario colonial, igrejas da Barra e da família Lemos em Penedo. Flamboyant, ipê, mandacaru e coqueiro. E como falta tanta coisa! 
Que mundo imenso é o São Francisco, como ele representa um país em que acredito, que gostaria de ajudar a tornar melhor e mais feliz. Vou com o voto e com a arte, singrando nas águas do possível-porque-sonhado. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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