Quando eu era bem jovenzinha (faz tempo, eu sei...), gostava de desenhar minhas roupas para que alguém as fizesse. Na época, não conhecia uma boa costureira, mas, mesmo assim, o que curtia era imaginar os tecidos e, principalmente, as estampas dos modelitos. Quase sempre encontrava o que queria, mas muitas vezes via meu sonho fashion acabar (= ser destruído) nas mãos de pseudocostureiras do bairro...
Bom, isso era só pra dizer que, na minha atual etapa gastronômica, também imagino primeiro uma combinação de ingredientes que gostaria de usar. Depois, caso haja dúvidas, faço uma pesquisa para saber se, juntos, funcionam, se desandam ou não (o que aumenta muito a possibilidade de o sonho gastronômico ser realizado!). Quando encontro uma receita que, de ler, já me assanha as papilas gustativas, vou em frente, mas, não raro, subverto-a com alguns acréscimos de ingredientes e alterações de medidas.
Deve ser por esse lado "variação do tema" que gosto tanto de fazer risotos. OK, isso pode valer pra gastronomia de modo geral - aliás, pro ser humano, pra vida de modo geral. Mas o ponto é que o risoto é um prato de fácil entendimento, e o mais é ter paciência para mexer o arroz no caldo e usar a criatividade na hora de juntar os ingredientes quando ele estiver al dente. Os meus ingredientes da vez são abobrinha italiana, pistache, queijo brie, manjericão, alecrim, sálvia, shitake, shimeji, cogumelos Paris... E depois de um ótimo espaguete com shimeji e limão siciliano feito pela cunhada, resolvi marinar shimeji e shitake no limão antes de refogar no alho com manteiga (muita manteiga). Ficou muito bom, leve e refrescante. Ainda por cima, usei o creme de leite fresco que tinha sobrado do flan aux marrons (receita salvadora do blog Gourmandise, pois não sabia o que fazer com o vidro de marrons e baunilha da Casino que estava na geladeira), somente no final, com o fogo desligado, e salpiquei salsinha.
Aliás, achei, na minha pesquisa pré-risoto, uma receita que levava limão siciliano e shitake, mas só um pouco da casca ralada, e sem muitas explicações da feitura (Cozinhando com Bernardete). Eu usei shimeji e shitake (tinha champignon na geladeira, mas acho que essa marca não é tão legal quanto outra que costumo achar no supermercado), o suco de 1 limão siciliano, 1 cebola grande, 3 dentes de alho picados, 100 g de manteiga, queijo ralado (quase no final, antes do creme de leite). No lugar do vinho, usei saquê, para reforçar o lado nipônico do prato italiano. Como não tinha tempo para fazer o caldo de galinha, usei dois potinhos daquele caldo Knorr (da propaganda do Alex Atala, lembram?) e ficou muito bom.
O limão siciliano, que me surpreendeu pela primeira vez numa pasta com frutos do mar (como combinam!), num restaurante bacanudo, entrou pra valer na lista de ingredientes do coração.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Meninos, eu vi - "Os homens que não amavam as mulheres"
Não li a trilogia Millenium de Stieg Larsson, mas, diante do entusiasmo do namorido, fiquei bem curiosa com o trailer de Os homens que não amavam as mulheres, de David Fincher (e o diretor já seria um bom atrativo, mesmo que ele "só" tivesse feito Seven). E lá fomos nós para nosso programa carnavalesco - afinal, feriado não é só trabalhar e encher a barriguinha com experimentações gastronômicas, certo? ;)
Embora Guga já tivesse me explicado a urdidura mais lenta da trama escandinava, o filme é eletrizante. O espectador fica tenso ao tentar acompanhar as alternadas descobertas que podem explicar um crime ocorrido há 40 anos, só a ponta do iceberg de uma série de assassinatos. A trama, ainda por cima, foge da do serial killer americano (pelo menos o de hoje), que precisa explicar "por que fulano resolveu matar um grupo de pessoas", suas motivações psicológicas, pai ou mãe ausente etc. Um pouco como Mersault, de Camus, o assassino criado por Larsson (mesmo que tenha suas motivações) simplesmente faz aquilo. Sua causa primeira é "fazer". Estraguei a surpresa? Não, podem crer que há muito mais para ser visto.
Além disso, Rooney Mara (A rede social, do mesmo Fincher, e outros pequenos papéis anteriores) explica, com sua performance, por que foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
A única coisa que não recomendo é assistir ao filme no Pátio Higienópolis, sempre confuso (mesmo eu tendo comprado os ingressos pela internet, com uma suposta promessa de que era só apresentar meu cartão de crédito na entrada para evitar a fila - o que não aconteceu), lotado e equipado com poltronas para pessoas de 1,60 m de altura (para minha sorte, mas não para a de Guga).
Embora Guga já tivesse me explicado a urdidura mais lenta da trama escandinava, o filme é eletrizante. O espectador fica tenso ao tentar acompanhar as alternadas descobertas que podem explicar um crime ocorrido há 40 anos, só a ponta do iceberg de uma série de assassinatos. A trama, ainda por cima, foge da do serial killer americano (pelo menos o de hoje), que precisa explicar "por que fulano resolveu matar um grupo de pessoas", suas motivações psicológicas, pai ou mãe ausente etc. Um pouco como Mersault, de Camus, o assassino criado por Larsson (mesmo que tenha suas motivações) simplesmente faz aquilo. Sua causa primeira é "fazer". Estraguei a surpresa? Não, podem crer que há muito mais para ser visto.
Além disso, Rooney Mara (A rede social, do mesmo Fincher, e outros pequenos papéis anteriores) explica, com sua performance, por que foi indicada ao Oscar de melhor atriz.
A única coisa que não recomendo é assistir ao filme no Pátio Higienópolis, sempre confuso (mesmo eu tendo comprado os ingressos pela internet, com uma suposta promessa de que era só apresentar meu cartão de crédito na entrada para evitar a fila - o que não aconteceu), lotado e equipado com poltronas para pessoas de 1,60 m de altura (para minha sorte, mas não para a de Guga).
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Vale a pena: "Guerra" e "Paz", de Portinari, no Memorial da América Latina
Lá no alto, São Paulo e Rio na maquete onde-está-Wally de Gepp e Maia;
fila para ver os murais de Portinari; texturas; recortes dos murais. O Memorial da América Latina, tão subaproveitada arquitetura de Niemeyer.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Julie & Julia & Me
O filme é de 2009, e, só pra variar, eu ainda não tinha visto. E, como acontece várias vezes nas minhas descobertas tardias, fiquei encantada: Julie e Julia, de Nora Ephron (a mesma do fofo Mensagem para você), é de aquecer o coração - e o estômago.
OK, nenhuma novidade: ao lado dos documentários, filmes sobre Segunda Guerra, franquismo, serial killers, de suspense, adoro filmes fofos e com temáticas gastronômicas. Neste último caso, integram minha lista best of o memorável A festa de Babette, a divertida animação Ratatouille, Chocolat e o ótimo exemplar de humor negro Estômago. E quem não embarcou em Tomates verdes fritos ou foi completamente seduzido em Como água para chocolate? Por extensão, que delícia são os filmes que falam de vinhos (e de uma boa comida que os acompanha, sempre), como Sideways, Um bom ano e Bottle shock. E outros tantos títulos que ainda não vi, mas que certamente já entraram para a bibliografia enogastronômica.
Mas voltemos a Julie e Julia. Não sei se já comentei, mas demorei muito a aprender a cozinhar. Não precisava, pois minha avó o fazia para nós, e a partir do colégio mal parava em casa, comendo muita junk food por aí. Quando, portanto, fui morar sozinha, as únicas coisas que sabia fazer eram café e ovo frito (ou mexido, ou cozido, variações do tema). Claro que isso me distancia das duas protagonistas do filme, pois tinham já uma noção culinária antes de incrementar seu saber; mas o gosto pela culinária, como gourmand, eu sempre tive - e isso já nos torna um trio inseparável!
Como Julia Child, fui fazer um curso de culinária. Não um cordon bleu, obviamente, mas um gratuito para iniciantes, na antiga Casa Gourmet da Bela Cintra. Chamava-se "Gastronomia para quem mora sozinho". E do arroz e macarrão básicos desse primeiro curso, passei para os pães (o primeiro que fiz me emocionou até as lágrimas), crepes, culinária árabe, ceia de Natal e sushi & sashimi. Minha mãe sacou meu interesse (e minhas necessidades de moradora solo) e me deu o ancestral Dona Benta que tinha em casa desde que éramos pequerruchos.
Fui comprando algumas revistas, um ou outro livro de receitas, mas minha maior fonte são mesmo os blogs e sites dos amantes da culinária, que sempre cito aqui, como origem das receitas que vou transformando, com outras dosagens e ingredientes. Aliás, num desses, o Mixirica, achei traduzida a receita do boeuf bourguignon (vedete do filme) que ainda não fiz. Os utensílios - como a tal panela que também deve ir ao forno -, vou adquirindo conforme a receita e a necessidade.
Quanto a Julie Powell, como me identifiquei com ela! Bom, eu e a torcida com veleidades gastronômicas do Corinthians, certo? De qualquer forma, além de ela ter um blog, como compreendo quando ela diz que cozinhar é um momento em que sabemos que as coisas (normalmente) darão certo, mesmo que tudo lá fora (trabalho, relacionamento, caos urbano) ateste o contrário. Num certo sentido, é quando acreditamos no poder do nosso condão enquanto ninguém mais acredita - e o risoto com sabores que nos transportam a outro lugar (um refúgio do que está errado aqui e agora) é a prova indelével desse poder. Onde nosso instinto falha nas relações humanas, ele funciona lindamente na hora de misturar ervas e temperos, de achar a justa medida.
Olhando para o espelho e para Julie e Julia, confirmo que a escolha é nossa: o insosso de uma vida em que um dia dá lugar ao outro, como uma sequência de bandejas no restaurante universitário, ou o maravilhar-se constantemente com novos cheiros e sabores, criados por nós.
Ah, sim: como J&J, também tenho um provador oficial de receitas... <3
OK, nenhuma novidade: ao lado dos documentários, filmes sobre Segunda Guerra, franquismo, serial killers, de suspense, adoro filmes fofos e com temáticas gastronômicas. Neste último caso, integram minha lista best of o memorável A festa de Babette, a divertida animação Ratatouille, Chocolat e o ótimo exemplar de humor negro Estômago. E quem não embarcou em Tomates verdes fritos ou foi completamente seduzido em Como água para chocolate? Por extensão, que delícia são os filmes que falam de vinhos (e de uma boa comida que os acompanha, sempre), como Sideways, Um bom ano e Bottle shock. E outros tantos títulos que ainda não vi, mas que certamente já entraram para a bibliografia enogastronômica.
Mas voltemos a Julie e Julia. Não sei se já comentei, mas demorei muito a aprender a cozinhar. Não precisava, pois minha avó o fazia para nós, e a partir do colégio mal parava em casa, comendo muita junk food por aí. Quando, portanto, fui morar sozinha, as únicas coisas que sabia fazer eram café e ovo frito (ou mexido, ou cozido, variações do tema). Claro que isso me distancia das duas protagonistas do filme, pois tinham já uma noção culinária antes de incrementar seu saber; mas o gosto pela culinária, como gourmand, eu sempre tive - e isso já nos torna um trio inseparável!
Como Julia Child, fui fazer um curso de culinária. Não um cordon bleu, obviamente, mas um gratuito para iniciantes, na antiga Casa Gourmet da Bela Cintra. Chamava-se "Gastronomia para quem mora sozinho". E do arroz e macarrão básicos desse primeiro curso, passei para os pães (o primeiro que fiz me emocionou até as lágrimas), crepes, culinária árabe, ceia de Natal e sushi & sashimi. Minha mãe sacou meu interesse (e minhas necessidades de moradora solo) e me deu o ancestral Dona Benta que tinha em casa desde que éramos pequerruchos.
Fui comprando algumas revistas, um ou outro livro de receitas, mas minha maior fonte são mesmo os blogs e sites dos amantes da culinária, que sempre cito aqui, como origem das receitas que vou transformando, com outras dosagens e ingredientes. Aliás, num desses, o Mixirica, achei traduzida a receita do boeuf bourguignon (vedete do filme) que ainda não fiz. Os utensílios - como a tal panela que também deve ir ao forno -, vou adquirindo conforme a receita e a necessidade.
Quanto a Julie Powell, como me identifiquei com ela! Bom, eu e a torcida com veleidades gastronômicas do Corinthians, certo? De qualquer forma, além de ela ter um blog, como compreendo quando ela diz que cozinhar é um momento em que sabemos que as coisas (normalmente) darão certo, mesmo que tudo lá fora (trabalho, relacionamento, caos urbano) ateste o contrário. Num certo sentido, é quando acreditamos no poder do nosso condão enquanto ninguém mais acredita - e o risoto com sabores que nos transportam a outro lugar (um refúgio do que está errado aqui e agora) é a prova indelével desse poder. Onde nosso instinto falha nas relações humanas, ele funciona lindamente na hora de misturar ervas e temperos, de achar a justa medida.
Olhando para o espelho e para Julie e Julia, confirmo que a escolha é nossa: o insosso de uma vida em que um dia dá lugar ao outro, como uma sequência de bandejas no restaurante universitário, ou o maravilhar-se constantemente com novos cheiros e sabores, criados por nós.
Ah, sim: como J&J, também tenho um provador oficial de receitas... <3
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Gourmandise X - Festive Strudel ou domando a massa fillo
Gente, eu consegui!
Fiz o strudel que o Jamie Oliver apresentou em seu programa de Natal, com recheio de panetone, pera, maçã e um fio de chocolate meio amargo. Hummm, fica muito bom, e não é enjoativo como se pode supor à primeira menção (vejam a receita em http://www.jamieoliver.com/recipes/fruit-recipes/festive-strudel).
O mais difícil para esta cozinheira sazonal foi tentar separar as folhas de massa fillo da Arosa. Isso mesmo, só tentei; deve haver uma temperatura certa pra fazer isso, após o descongelamento. Mesmo seguindo as instruções, dei início à destruição das folhas assim que comecei a separá-las. Por que elas não vêm separadas por plástico filme? Meu Deus, por quê? :0
Então, meu lado ariano falou mais alto, resolvi ir pro abraço, coloquei as folhas de duas em duas mesmo, e deu tudo certo. Atestem pela fotinho (do meu strudel, não do do Jamie, of course).
Fiz o strudel que o Jamie Oliver apresentou em seu programa de Natal, com recheio de panetone, pera, maçã e um fio de chocolate meio amargo. Hummm, fica muito bom, e não é enjoativo como se pode supor à primeira menção (vejam a receita em http://www.jamieoliver.com/recipes/fruit-recipes/festive-strudel).
Então, meu lado ariano falou mais alto, resolvi ir pro abraço, coloquei as folhas de duas em duas mesmo, e deu tudo certo. Atestem pela fotinho (do meu strudel, não do do Jamie, of course).
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Yo tengo tantos hermanos...
...pero los puedo contar!
Dos oito, porém, adianto que as meninas estão sempre mais disponíveis (qual a novidade, se são mulheres?) para os encontros familiares. Sorte delas - e do meu cunhado e de Guga -, que provaram um bom peru recheado, o clássico arroz com amêndoas, caponata e maionese (estas eram receitas da sogra, aprovadíssimas por todos). Ainda deu tempo de fazer um creme de cupuaçu para driblar o calor.
Como é bom compartilhar histórias com quem tem tanto em comum com a gente! Alegrias, algumas dores a cicatrizar, muitos sonhos e carinhas parecidas - as fotos não me deixam mentir. E já me enchem de saudade.
Liloca, Sayurica, Yumica, Mariezica e yo.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Comentário expresso IV
Uma nova modalidade de aconselhador: urubu de pirata! Luxo (ou lixo?)!
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Tudo de bão
Cabeceira
- "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
- "Geografia da fome", de Josué de Castro
- "A metamorfose", de Franz Kafka
- "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
- "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
- "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
- "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
- "O estrangeiro", de Albert Camus
- "Campo geral", de João Guimarães Rosa
- "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
- "Sagarana", de João Guimarães Rosa
- "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
- "A outra volta do parafuso", de Henry James
- "O processo", de Franz Kafka
- "Esperando Godot", de Samuel Beckett
- "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
- "Amphytrion", de Ignácio Padilla