terça-feira, 7 de março de 2017

Bolo de fubá, pão de ervas e divisão de tarefas

Ontem, fiz um bolo de fubá da Panelaterapia (achei denso e seco) e o pão rústico de ervas (delícia) da Heloisa Bacellar, publicado no Paladar.
Na verdade, só pude fazer as duas coisas porque esta é a semana de Guga na preparação do almoço e lavagem de louça. Às vezes, a louça fica dois dias na pia, mas já disse a ele (que estava pensando em desistir do acerto) que ele assumir parte das tarefas me ajuda imensamente. Mais do que isso: é positivo para o relacionamento pois aumenta a responsabilidade dele nos cuidados com a NOSSA casa. Afinal, uma casa não é só o lugar aonde se levam, por direito, os amigos, mas um lugar do qual se cuida, uma extensão da alma de cada um.
Esse combinado semanal é super-recente, coisa de um mês. Me ajuda tanto que resolvi ajudar mais um pouco, preparando e congelando arroz e feijão no domingo, para ele só ter que descongelar e preparar alguma carne. Até a salada já estava lavada. Também lavei a louça que sujei ao fazer bolo e pão.
Outro dia, li um texto cujo autor dizia não ajudar a mulher porque na verdade ele fazia o que de fato lhe cabia - quer dizer, não era nenhum favor compartilhar os afazeres diários e ele SABIA disso. Não é fácil chegar a esse nível de consciência na nossa sociedade machista. Não é fácil se dispor a fazer algo quando a vida inteira houve alguém (uma mulher, normalmente) fazendo algo por/para você - por que se rebelar contra o conforto? E a chegada à consciência, por mais contraditório que pareça, se faz na caminhada, ainda que a esmo, sem que se saiba o que se está buscando. Praticar a alteridade já é um pouco mais longe, mas até ali também se chega.
Por ora, fico com a felicidade de ter mais tempo - para mim, para criar inclusive coisas para nós dois, fora do sem-tempo das repetições obrigatórias.

sábado, 4 de março de 2017

Cada vez mais longe

Hoje fui até a Praia do Forte. Pedalando. Deixando pensamentos pra trás, cada vez mais concentrada, integrada com minha respiração e meus movimentos. Encarando as subidas, aliviando nas descidas, alternando marchas. Constante.
Foram 26,5 km, cerca de 1h30min. Não me preocupei com o "quanto tempo", mas em ir cada vez mais longe. Tão mais fácil que da primeira vez, mesmo com o sobe e desce após Barra do Pojuca.
Um sujeito me perguntou depois, enquanto eu bebia água num empório do bairro, se sempre pedalava sozinha. Eu, sozinha?
Estou sempre comigo, a melhor companhia.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Leva-me pra lua

Minha professora de pilates, que já se tornou uma amiga, comemorou hoje 4 anos de casamento com seu namorado há 10, aliás parceiro de pedal do meu marido. Na semana passada, ela me pediu que fizesse um cartazinho mais arrumado, com alguma arte e os dizeres "Te amo" etc. Seria parte das surpresas que ela planejava fazer.
Matutei essa ideia dos dizeres, mas não encampei. Porque eu nem aventaria hipótese de fazer um simples cartazete com mensagem, mas uma ilustração. E quando ilustro dificilmente uso texto, a menos que seja uma charge.
Bueno, a semana passou, e nada surgiu. Hoje, já dia da comemoração, disse a ela que enviaria a ilustra. Até pensei que ela não teria tempo de imprimir, e ela já havia até solucionado a questão da
"mensagem" com chocolates em forma de letras, mas mesmo assim quis fazer uma homenagem. Ajudar a festejar o amor. Ele não é importante? Porra.
Comecei a separar tecidos e papéis de origami, as tesouras, cantarolando "Leva-me pra lua", que é docemente interpretada pela Ana Caram e já estava na minha cachola há uns três dias. E daí, sem muito planejamento prévio, mas total processamento interno, foi surgindo a ilustra. Com lua, gatos, o amor saindo pela chaminé enquanto o casal apaixonado conversa, faz planos, se reapaixona.
Hoje nem trabalhei, por conta disso. E foi ótimo. Me fez lembrar que criar nos salva da morte - não a inevitável, fisiológica, para a qual todos caminhamos, mas a que obscurece os dias, que cega, que cala, que imobiliza.
A criação é meia-irmã da coragem, tem poder mágico de cura e pode nos levar a toda parte. Até à lua.

Cuca de banana com foto, enfim

Outra receita que já fiz algumas vezes, mas ainda não tinha foto. Hoje, aliás, foi o dia em que ela ficou mais bonita.
Esta receita de cuca de banana é do Receita de Família, superfácil de fazer. Eu adicionei canela em pó à massa e à farofa, e substituí parte da farinha de trigo branca por integral. Também usei só cinco bananas cortadas em rodela no lugar de 8 e uma colher a menos de açúcar na massa. Na verdade, reduzi quantidades na farofa também. Um sucesso para aqueles dias em que as bananas abundam.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Meu emburrecimento e os labirintos de Christopher Nolan

Estou pra escrever sobre o Christopher Nolan há meses. Empaquei. Achei chato tudo o que comecei. Mas não abandonei a ideia - ou melhor, ela não me abandonou.
A questão é que estou me sentindo emburrecer. Talvez seja um resultado do panorama geral, das informações fáceis, dos absurdos cotidianos, mas é sobretudo porque parei de estudar, de pesquisar, de ler outra coisa que não seja material didático. Quer dizer, tenho até voltado a ler literatura, achados maravilhosos como obras de Jhumpa Lahiri e Patricia Highsmith, mas o estudo mais profundo mesmo, este ficou de lado. Já havia sentido essa diferença na minha última incursão à pós-graduação; agora, o quadro se agravou.
Aí resolvi simplificar o texto sobre o Nolan. Ia fazer uma lista dos filmes que vi (Amnésia, A origem, Interestelar, mas também Batman begins e O grande truque, por que não?), apontar algumas especificidades e então me deter nos labirintos que me parecem caracterizar seu cinema. Não simples quebra-cabeças, mas, um pouco ao gosto de Borges, jogos de espelhos, passagens secretas, mundos infinitos. Aquelas cenas em que universos, sejam mentais ou espaciais, se desdobram. Uma clareza metafórica às vezes só alcançada com o cinema, mas perfeitamente cabível numa biblioteca total, na memória infinda de uma personagem, num mapa impossivelmente mensurável.
Poderia até comparar os filmes de Nolan com Matrix, o primeiro. Afinal, também há nele os universos paralelos, o questionamento do que é verdade/real ou não. Mas Matrix é noir, sombrio, subterrâneo. Os filmes labirínticos de Nolan (Amnésia, A origem e Interestelar) são quase insuportavelmente solares, de uma luminosidade assemelhada a Deus e o Diabo na Terra do Sol, a O estrangeiro de Camus. Clareza cegante, como em Informe de ciegos, de Ernesto Sabato (ainda que nesta obra os cegos percorram um escuro submundo). Nolan tem muita proximidade, nesse sentido, do mundo latino ou mediterrâneo.
Mas isso é tudo, no momento, que posso dizer. Vai, ideia minha, ser gauche na vida.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Bolo de cacau com tâmaras e nozes

Quando Nana vem ao Brasil, normalmente traz muitas frutas secas, deliciosas. Da última vez, ela trouxe um carregamento especial de tâmaras de todo tipo, com graus diversos de dulçor.
Herdamos parte do carregamento, mas até hoje não o tínhamos vencido. Ainda sobraram várias tâmaras ultradoces, e então resolvi procurar alguma receita de bolo integral que as utilizasse.
O blog Diga Maria tinha exatamente o que eu procurava, até mais: um bolo integral de cacau, tâmaras e nozes. Leva laranja também, mas eu não tinha em casa (e deve combinar divinamente). Leva azeite como gordura, e o chileno que achamos por aqui foi perfeito por sua neutralidade. Ainda há o toque especial de uma calda fria de mel, derramada quando o bolo já está pronto.
O melhor é que não precisa de batedeira - tudo é delicadamente misturado à mão. O resultado é um bolo nada enjoativo, com súbitas doçuras da tâmara seca que se diluiu no calor da massa. Um arraso!

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Torta rústica de frango thai e estreia do salva-bolo

Já fiz essa receita algumas vezes, uma adaptação entre a de massa de torta rústica do Panelinha e a do Masterchef, feita pela Bruna Chaves. Só hoje, porém, consegui fotografar. E ainda estreei o salva-bolo, esse utensílio utilíssimo para evitar a destruição de bolos e tortas retiradas de formas com fundo removível.
A receita híbrida segue aqui.

Ingredientes:
Massa:
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
150 g de manteiga gelada cortada em cubos
2 ovos
2 colheres (chá) de sal
1 gema levemente batida com um pouco de água (para pincelar)

Recheio:
2 peitos de frango cortados em iscas
1/4 xícara (chá) de shoyu
1 colher de sobremesa de gengibre picado
suco de 1 limão
3 dentes de alho picados
1 colher (sobremesa) de tabasco
1 colher de chá de páprica doce
3 unidades de anis estrelado
1 folha de louro
1 canela em pau
1 colher (sopa) de canela em pó
2 cubos de caldo de galinha
1/2 cebola picada
1 cebola cortada em tiras
50 gramas de shitake (misturei com funghi secchi, ambos hidratados por 20 minutos em água quente)
raminhos de alecrim e de tomilho
1/2 xícara de nozes ou castanhas de caju picadas
Óleo de gergelim para refogar e para a marinada

Preparo:
Faça uma marinada com óleo de gengibre, shoyu, gengibre, suco de limão, tabasco, páprica e alho - mergulhe nessa mistura as iscas de frango enquanto prepara a massa.
Passe para a massa: misture a farinha, o sal e a manteiga com os dedos até obter uma farofa, sem derreter completamente a manteiga. Adicione então os ovos, misturando bem com uma espátula (evite assim mais contato com o calor das mãos). Envolva em plástico filme e leve à geladeira por pelo menos 1 hora.
Prepare o caldo de galinha e acrescente à água quente a cebola picada, a canela em pau, a canela em pó, o anis estrelado e a folha de louro; reserve.
Caramelize a cebola cortada em tiras; reserve. Na mesma panela, refogue rapidamente o shitake (no meu caso, sem a água da hidratação); reserve.
Em uma frigideira larga, doure as iscas de frango. Acrescente aos poucos o caldo de frango temperado à medida que ele reduz. Enquanto isso, preaqueça o forno a 200 graus.
Abra a massa sobre uma bancada polvilhada com farinha de trigo ou diretamente sobre o fundo removível de uma forma de cerca de 30 cm de diâmetro. Deixe para fora do fundo removível uma borda de cerca de 5 cm.
A essas alturas, o frango deve estar bem macio. Retire-o com uma escumadeira; reduza um pouco do caldo restante e reserve. Espalhe parte das cebolas caramelizadas sobre o meio da massa da torta. Cubra com o frango; em seguida, espalhe as castanhas de caju, o shitake e novamente as cebolas caramelizadas. Feche a torta puxando para cima a borda que ficou para fora - ela não deve cobrir completamente a torta. Sobre a abertura que restou, espalhe os ramos de alecrim e tomilho. Se quiser dar um tom mais dourado à torta, pincele um pouco de gema levementa batida sobre a massa. Leve a torta ao forno por cerca de 30-40 minutos, até dourar.
Ao retirar a torta, derrame um pouco do caldo reduzido sobre o recheio.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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