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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

sábado, 28 de novembro de 2020

Uma imagem toda minha

Eu ia me apropriar do título do álbum e da música de Chico César, "Respeitem meus cabelos, brancos", mas depois pensei que este post não era só sobre isso, sobre padrões, intolerância, cabelos. Tinha mais a ver com a construção da imagem feminina ao longo do tempo, com as autorizações e proibições que recebemos em relação a nossa imagem. Mulheres mais velhas não podem ter cabelos longos, mulheres não podem ter cabelos brancos, mulheres não podem usar roupas curtas, mulheres não podem não se depilar nem exibir suas estrias ou barriga na praia. Mas meninas têm sido estimuladas a imitar princesas, a usar maquiagem mirim, a fazer biquinho e pose de adultas nas fotos. 
Daí me lembrei do ensaio Um teto todo seu, da Virginia Woolf, uma das primeiras escritoras a debater claramente o papel da mulher no mundo, sobretudo esse papel inventado para ela, e como isso influenciou diretamente a carreira de tantas mulheres para além da vida doméstica. Soube desse livro (eu só li dois de Virgina Woolf, Orlando e Entre os atos) por minha cunhada, hoje a principal tradutora dos diários da inglesa para o português. Pensei logo que além do teto todo meu, também quero ter direito a uma imagem toda minha, livre dos padrões impostos a nós mulheres, e ainda mais depois dos 40 anos, quando quase deixamos de existir para a sociedade. 
Outro dia, percebi que meus cabelos não estão só cada vez mais brancos como também mais ondulados. A tal da perda de queratina para a qual Emerson sempre me alertava. Não sei quanto tempo demora para que os brancos tomem a cabeleira toda, eles estão ainda semiescondidos - adoraria que ficasse algo uniforme, como os da Glória Pires, cabeluda como eu e que tem sofrido críticas por "assumir os brancos", como se não tivesse direito a essa escolha. 
Só sei que quando ergo os cabelos, vejo fitoplânctons brilhando, a prata surgindo de um rio avermelhado. Se a prata tomar conta, vou deixar, mas imagino já as críticas e narizes torcidos, de perto e de longe.

domingo, 8 de novembro de 2020

A cabeça da medusa

Daí que levei uns desenhos recentes pra terapia, inclusive aquarelas. 
Meu terapeuta perguntou o que eu via em comum nas imagens, mitológicas ou não, de mulheres que retratei. 
Aquelas coisas de terapia, a gente nunca sabe o que responder de pronto. Falei dos cabelos, das mãos dadivosas das duas aquarelas, das mãos que jogam tudo para cima da cabeluda da quarentena. E acabei me lembrando da imagem maravilhosa, uma escultura, na verdade, da Medusa que está numa rua em Nova York e que acabou ganhando fama após as manifestações do MeToo. O artista Luciano Garbati criou em 2008 uma nova e libertadora versão do mito, em que ela aparece com uma espada em uma das mãos e na outra segura a cabeça de Perseu. Ela, que, estuprada por Poseidon no templo de Atena, é punida pela deusa por ter profanado seu espaço tornando-se um monstro que transformava quem a contemplasse em pedra. Mais uma invejinha de deus grego, claro, porque Medusa era uma jovem linda e virgem (isso me lembra a história de Aracne e sua treta com a mesma Atena, que a transformou em aranha, para "tecer eternamente", o que soa mais a castigo que dádiva). Falei dela, dos seus cabelos-serpentes que sempre me fascinaram, e do espelho, única forma de olhar para ela sem virar pedra. Espelho que também se encontra na imagem da sereia Iansã-Oxum que ainda não transformei em aquarela. 
Meu terapeuta chamou a atenção para o espelho da sereia, o canto da sereia voltado para si mesma, o que, certamente, faz sentido quando a gente está no meio do processo de individuação - são tantas as armadilhas! Mas eu pensei principalmente, em meio a tudo em que tenho pensado sobre feminino e feminismo, das minhas leituras de mundo e para o TCC, em como o que define Medusa e a sereia como monstros é justamente o que simboliza sua feminilidade, no caso, os cabelos e o sexo. Os cabelos viram serpentes e o sexo torna-se o frio corpo de um peixe. As mulheres-monstros me fizeram pensar na conveniência dessa mutação nos casos de abuso e violência sexual. Por exemplo, do já referido caso de Robinho contra a moça albanesa, uma "maria-chuteira", interesseira, alpinista social; do caso grotesco do julgamento de Mari Ferrer, que se viu transformada em ré e seu estuprador, em inocente que praticou estupro sem intenção. 
E por fim me vi diante do assassinato de Ângela Diniz, revivido no excelente podcast Praia dos Ossos, criado por Branca Vianna e produzido por Flora Thomson-DeVeaux: uma mulher livre transformada em monstro antes de ser abatida com toda justiça por seu amante, ofendido por sua liberdade, sendo ele transformado em vítima no julgamento 3 anos após o crime. Ângela Diniz morreu com um tiro na nuca e três no rosto, símbolo de sua beleza ameaçadora. Quatro tiros na cabeça da Medusa para evitar que o heroico Doca Street fosse transformado em pedra, que perdesse sua força e masculinidade, seu lugar no mundo. 
A sereia já nasceu mitologicamente monstro, a Medusa foi transformada em um. Ocorre-me que a transformação da Medusa e das mulheres em monstros e bruxas é uma estratégia de eliminação. Na verdade, cheguei à mulher-monstro Ângela Diniz porque assisti a um remake de Rebecca na Netflix, com Lily James no papel de segunda esposa do viúvo de Rebecca. Não vi o filme de Hitchcock, mas li o livro de Daphne du Maurier há muitos anos. Eu realmente não me lembrava de ter sentido o incômodo de ver uma mulher livre sendo julgada por outra mulher. Tudo bem, Rebecca é construída como uma libertina, que desrespeita e humilha o marido conservador, tudo isso para nos fazer ficar ao lado dele e da nova esposa, que move mundos para provar que a finada era cruel e dissimulada, uma Capitu com culpa reconhecida no cartório. Assisti até o fim só para ficar com um ranço enorme dos mocinhos, o marido assassino "pela honra" e a nova esposa capacho. A história de Ângela só difere do fato de não haver outra mulher para ajudar a sujar seu nome. 
A ficção recria a realidade, a realidade recria a ficção - em versões mais "leves", a mulher livre é "só" uma megera a ser domada, como a que Shakespeare eternizou no século XVI. Nas artes plásticas, o heroico Perseu é representado sempre plácido, no controle da situação, quando ergue e exibe a cabeça do monstro, seja na escultura de Canova ou no bronze de Cellini. A Medusa, histérica, segundo Caravaggio, como todo monstro, histérica como uma mulher, aquela que ela foi. Há quem defenda a leitura dos mitos de forma clássica, sem levar em conta características humanas como machismo, egoísmo, vingança. Mas é preciso levar em conta que os mitos têm humanos por trás de sua construção e, portanto, um forte viés histórico, que mostra a sociedade como era - machista, misógina, violenta. Gosto sobretudo dessa mudança de representação na escultura de Garbati: para além da inversão de papéis, a do semblante da Medusa, heroína de si mesma e de todas, semblante daquelas e daqueles que combatem a injustiça. 

terça-feira, 13 de março de 2018

Produtos salvadores

Já comentei sobre dois efeitos do viver em local de praia, com muito sol e umidade: melasmas gritando pra sair e uma nuvem capilar em torno da cabeça. Junte-se aos dois primeiros mais um, que talvez não seja por culpa da praia, mas da alimentação: o retorno das espinhas, um pesadelo de adolescência.
Por sorte, a tecnologia cosmética não para de crescer, e assim é que milhões de mulheres lotam as lojas especializadas e as farmácias atrás desses produtos que nos ajudam a driblar os efeitos do tempo/cronos e do tempo/clima. Somos nós que movemos essa economia!
O protetor solar da Natura Fotoequilíbrio Esporte, FPS 60, é maravilhoso para quem pratica esportes ao ar livre ou quer uma proteção mais duradoura na praia. A única desvantagem é ter de acostumar rápido com a tampa que gira e às vezes produz uma meleira enorme.
Para as indesejadas e eventuais espinhas, sempre usei o bastão secativo da Payot, mas tem sido difícil encontrá-lo. Então, comprei a cara mas eficiente loção secativa da Adcos, com FPS 30 e capacidade de uniformização da pele oleosa. Embora bem fluida, ela realmente vai secando a acne e cobrindo levemente as marcas.
Já para os cabelos eletrizados, meu cabeleireiro de 20 anos me recomendou uma pomada leave-in, SH-RD, à base de alecrim e pantenol. Nada barata, mas eficaz. Os cabelitos já têm ficado mais em ordem - claro, depois também de terem passado por uma hidratação e um bom corte.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Cabelo ou "O chamado" (filme)

Gosto da minha cabeleira. Houve só duas vezes que tentei enrolar os cabelos para ir a uma festa, e ficou estranhíssimo. Claro que nunca tive problemas de bullying com meus cabelos, e acho triste quando alguém quer alisar os seus só para atender a um padrão estabelecido por outrem - quando o desejo de mudança é inteiramente pessoal, não vejo problema algum: cada um que seja o que quiser ser.
Depois que vim para a Bahia, meus cabelos mudaram. Dificilmente eu sofria com o frizz em São Paulo - aqui, forma-se uma espécie de névoa capilar em torno da cabeça. Pela primeira vez, tive que comprar leave-in; uso também um hidratante spray Bepantol. Da última vez que cortei os cabelos (pedi algo diferente ao meu hair stylist de quase 20 anos), eles cachearam - e não esqueço o choque do marido ao me buscar no aeroporto: "O que você fez com seu cabelo?". Ele chegou a suspeitar que meu cabelo na verdade sempre foi enrolado, mas que eu fazia escova/chapinha/alisamento em São Paulo e, claro, escondia isso dele (!!!!).
Agora os cabelos estão crescendo de novo - desordenados, alguns fios eletrizados e esbranquiçados, alguns finos e outros grossos. Mas de um jeito que identifico como meus, ainda bastos e fortes. Aí só me resta fazer uma selfie à la Tropix de Céu e cantar com Gal:

"Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem disse que cabelo não sente
Quem disse que cabelo não gosta de pente
Cabelo quando cresce é tempo
Cabelo embaraçado é vento
Cabelo vem lá de dentro
Cabelo é como pensamento
Quem pensa que cabelo é mato
Quem pensa que cabelo é pasto
Cabelo com orgulho é crina
Cilindros de espessura fina
Cabelo quer ficar pra cima
Laquê, fixador, gomalina
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem quer a força de Sansão
Quem quer a juba de leão
Cabelo pode ser cortado
Cabelo pode ser comprido
Cabelo pode ser trançado
Cabelo pode ser tingido
Aparado ou escovado
Descolorido, descabelado
Cabelo pode ser bonito
Cruzado, seco ou molhado"

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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