Mostrando postagens com marcador autoimagem. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador autoimagem. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Romi ófici

Como já disse, o romi ófici aqui é das antigas. Na verdade, muito das antigas, de quando comecei a trabalhar na equipe de redação do cursinho. Fiquei mal acostumada, ou melhor, encontrei meu jeito de trabalhar ali. E lá se vão 26 anos. 
Claro que, com a pandemia, meu romi ófici foi invadido por outras atribuições/atribulações domésticas além das que eu já tinha, como cozinhar, lavar e guardar louça e roupa, arrumar cama, fazer listas infinitas de supermercado e outras compras para casa (a recém-descoberta carga mental feminina). Somou-se a essa lista considerável lavar banheiro, limpar móveis, limpar e encerar chão, atividades que me renderam a crise no piriforme. Isso tudo me tem feito repensar a continuidade dessa forma de trabalho, que me foi tão conveniente por todos esses anos.
Antes, porém, de decidir se abandono essa modalidade de trabalho em prol de voltar a ter contato com mais pessoas, talvez atuando mais diretamente com educação, quando a famigerada pandemia permitir, faço algumas considerações sobre o que tenho percebido de mudanças no meu romi ófici pandêmico. 
Enquanto boa parte da galera que estreou no romi ófici com o início da pandemia adotou o modo comfy de estar em casa, sobretudo os mais privilegiados, resolvi me vestir como se estivesse fora de casa. Porque, afinal de contas, nem sei quando volto a sair para qualquer lugar, e já nem saía muito. E tenho usado roupas novas para ficar por aqui mesmo. Aliás, tem dia que até uso um pouco de maquiagem, como se fosse sair pra trabalhar - aprendi isso de um autor parceiro de trabalho, que me contou que sua esposa, doutoranda em história, se arrumava completamente para fazer sua pesquisa no escritório de casa - e trancava a porta, só saindo dali para almoçar (eles compravam refeições congeladas caseiras, outra coisa que andei aventando) e ao final do "expediente". Achei o máximo, mas só agora emprego parte desse ensinamento. 
Enquanto muita gente tem tentado aproveitar ao máximo esse tempo em casa fazendo várias coisas ao mesmo tempo - ou pelo menos no início foi assim, agora todo mundo deve estar exaurido -, eu logo vi que não dava pra fazer mais ainda do que já fazia. Porque romi ófici não é pra principiantes não. Trabalhar em casa é trabalho duplo, e no caso das mulheres, triplo, quando não quádruplo. Então aos poucos fui fazendo uma coisa de cada vez, como no fundo é melhor que seja - só assim para estar presente, mesmo no meio de uma pandemia. 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Desafio da vida inteira

Mais um desafio que pintou nas redes sociais foi o de postar uma foto PB de si mesma e convidar outras "mulheres maravilhosas" a fazê-lo. Acho que a ideia era que fosse algo mais natural, sem muitos retoques, mas tem de tudo nas redes, algumas naturais e muitas muito retocadas.
Bom, uma hermana me convidou. E lá fui eu fazer selfie, toda sem graça. Acabei tirando de dentro a graça em si, e o sol e o vento vieram fazer parte da composição. Depois converti a imagem em PB. 
Isso me fez lembrar quanto tempo demorei para aceitar minha imagem, na verdade, quanto tempo demorei a aceitar me ver no espelho. Sou grata às feministas de ontem e hoje, que têm derrubado os estereótipos da imagem feminina, entre outros. Hoje me vejo, e gosto do que vejo porque sei quem sou. Se alguém não gostar, realmente não é problema meu. 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Espelhos, padrões e outras coisas pontiagudas

Estou terminando de ler a tetralogia napolitana de Elena Ferrante, pseudônimo de uma escritora contemporânea de língua italiana. Há quem diga que se trata de um autor, mas acho pouco provável, já que as navalhadas na carne ao longo dos quatro volumes (A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem vai e de quem fica, História da menina perdida) soam a uma memória feminina, mais crua que violenta, como os escritos de Clarice Lispector, Patricia Highsmith e Carson McCullers, em que pesem os diferentes estilos. Mas isso é assunto para outro post, a crueza feminina mais terra a terra, a crueldade masculina mais associada à cultura, segundo minha certamente modesta opinião.
Bom, o fato é que me vi nas histórias contadas por Lenu, protagonista e xará de Ferrante. Dentre outras questões, pela da autoimagem que constrói ao longo da vida, a relação com o próprio corpo e com o corpo do outro etc. Serei a única? Claro que não - Ferrante é o fenômeno que é pela capacidade de empatia que seu texto traz de forma tão fluida.
Eu mesma, por muito tempo, não gostei do que vi no espelho. Ou melhor, evitava me olhar nele porque só enxergava uma imagem indefinida, um borrão do que eu era. Talvez fosse a miopia, mas certamente era também uma recusa de si. Por outro lado, nunca quis me parecer com outra pessoa, ter outra aparência, outro corpo. A presença paterna também tornou complicado me reconhecer como mulher: era quase um sinônimo de vulgaridade; cuidar-se era sinônimo de idiotia e superficialidade. Também o apreço pelas artes, a leveza, a alegria, tudo isso foi sendo posto sob vigilância. Só queria me transportar por aí em um invólucro neutro, ser simplesmente aceita.
Porém, o mundo rejeita a neutralidade com seus padrões. Não se pode ser neutro, mas também não é desejável o ser diferente. A respeito da aparência, lembro-me de uma colega de trabalho ter dito que eu vestia bem todas as roupas por ser a pessoa com o corpo mais "regular", "proporcional", que ela conhecia. Na mesma época, visitando um brechó de um conhecido, experimentei uma blusa que não me caiu bem, mas serviu a outra colega, e tive de ouvir do dono do brechó, com a voz mais afetada possível: "É que você é fora do padrão, né?". Fiquei sem palavras. O que significava esse padrão? Cintura fina, bunda grande? Não há povo mais diverso que o brasileiro, e esse padrão a que ele se referia é uma falácia. Mas a fala fere, atravessa o invólucro, e tanta gente sofre por tentar se adequar ao suposto padrão e não conseguir.
Minha "cápsula protetora" contra as estocadas alheias acabou sendo o conhecimento; na verdade, um outro tipo de padrão que permite caminhar em freguesias diversas, ainda que não em todas. Afinal, dentro desse padrão, mesmo que mais amplo que o da aparência, ainda é preciso lidar com as questões "de classe".
A personagem de Elena Ferrante também acaba por descobrir que nada nos protege mais que a autoaceitação. Saber o que é importante de fato para si, auscultar-se. Talvez para a maioria das pessoas isso só venha com o tempo, com a tal maturidade, quando nos importamos cada vez menos com a opinião dos outros e conseguimos ouvir com mais clareza a voz interior. Uma pena que esse encontro tão importante e apaziguador possa demorar tanto a acontecer; por outro lado, as marcas que trazemos a essas alturas são o que nos distingue uns dos outros, torna-nos únicos e inutiliza (ou deveria) toda forma de comparação inútil.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Cabelo ou "O chamado" (filme)

Gosto da minha cabeleira. Houve só duas vezes que tentei enrolar os cabelos para ir a uma festa, e ficou estranhíssimo. Claro que nunca tive problemas de bullying com meus cabelos, e acho triste quando alguém quer alisar os seus só para atender a um padrão estabelecido por outrem - quando o desejo de mudança é inteiramente pessoal, não vejo problema algum: cada um que seja o que quiser ser.
Depois que vim para a Bahia, meus cabelos mudaram. Dificilmente eu sofria com o frizz em São Paulo - aqui, forma-se uma espécie de névoa capilar em torno da cabeça. Pela primeira vez, tive que comprar leave-in; uso também um hidratante spray Bepantol. Da última vez que cortei os cabelos (pedi algo diferente ao meu hair stylist de quase 20 anos), eles cachearam - e não esqueço o choque do marido ao me buscar no aeroporto: "O que você fez com seu cabelo?". Ele chegou a suspeitar que meu cabelo na verdade sempre foi enrolado, mas que eu fazia escova/chapinha/alisamento em São Paulo e, claro, escondia isso dele (!!!!).
Agora os cabelos estão crescendo de novo - desordenados, alguns fios eletrizados e esbranquiçados, alguns finos e outros grossos. Mas de um jeito que identifico como meus, ainda bastos e fortes. Aí só me resta fazer uma selfie à la Tropix de Céu e cantar com Gal:

"Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem disse que cabelo não sente
Quem disse que cabelo não gosta de pente
Cabelo quando cresce é tempo
Cabelo embaraçado é vento
Cabelo vem lá de dentro
Cabelo é como pensamento
Quem pensa que cabelo é mato
Quem pensa que cabelo é pasto
Cabelo com orgulho é crina
Cilindros de espessura fina
Cabelo quer ficar pra cima
Laquê, fixador, gomalina
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada
Quem quer a força de Sansão
Quem quer a juba de leão
Cabelo pode ser cortado
Cabelo pode ser comprido
Cabelo pode ser trançado
Cabelo pode ser tingido
Aparado ou escovado
Descolorido, descabelado
Cabelo pode ser bonito
Cruzado, seco ou molhado"

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog