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segunda-feira, 10 de março de 2025

Saldos de Carnaval

Este ano resolvi sair de Salvador durante o Carnaval. Estava um pouco aflita demais, sem energia para curtir a saga dionisíaca. Fui para meu antigo mato, não sem antes curtir o ensaio do Cortejo Afro com Cris, mesmo com uma súbita, porém nunca inexplicável, lombalgia. 
Não escapei do barulho, porque houve duas madrugadas de pancadão, impossível dormir. Mesmo estragada, trabalhei em uns jobzinhos que pintaram, porque ficar parada, nunca. Deu para pegar um solzinho, tocar um cajonzito, levar cachorro sofrido para tosar, dar banho em outra, ter meu chinelo destruído por uma terceira, admirar o bichano totalmente relaxado entre os irmãos cachorros, ouvir o ex reclamando das tarefas domésticas agora feitas por ele...
Na volta, encontrei bilhetinho amoroso e casa cheirosa depois da saída dos hóspedes queridos Júlio e Cris. Não parei de trabalhar, já em casa, mas consegui fazer, de última hora e online, ainda no rescaldo carnavalesco, uma oficina de escrita pela Caixa Cultural de e com mulheres no 8 de março, guiada por Marília Librandi, que vale outra postagem. 
Sem glitter, sem suor, sem multidão. Ao fim e ao cabo, foi bom também, foi o que eu podia e queria.    

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Diz que fui por aí

Mesmo já tendo ido à impecável exposição "Brasil do futuro", no Solar do Ferrão, ainda seguia com saudade de exposições, então vi logo três. Depois de muitos anos, fui à Bienal em São Paulo, aproveitando a viagem para ver família - com muitas questões a tratar - e outras pessoas amadas, ainda por cima com o mote do aniversário de Katita. Em Salvador, fui à reinauguração do maravilhoso Muncab e também revisitei o MAM depois de muito tempo. 
A 35a Bienal trouxe as "Coreografias do impossível" para discutir a diversidade e as tentativas de calá-la. A exposição estava mais enxuta que de outras vezes, mas muito mais potente. Cada vez mais as vozes femininas, negras, LGBT têm se levantado em várias esferas, e isso é emocionante. Na companhia das thelmas, percorri aquele espaço querido e íntimo, tomei cafezinhos da Ocupação 9 de Julho, fiz preleção para segurança do prédio. 
No que diz respeito à ocupação de um espaço por seu público fim, não há exemplo melhor que o do Muncab. Que maravilha o museu estar tomado pela população negra! O tema da exposição de reabertura, ainda por cima, foi o livro de Ana Maria Gonçalves, Um defeito de cor. E Salvador está devidamente tomada estes dias pela consciência negra, por eventos diversos, como o grandioso Liberatum, pela primeira vez aqui, com a presença de personalidades como Wole Soyinka, Viola Davis, Taís Araújo, Erika Hilton. A exposição está lindíssima, embora às vezes eu tivesse dificuldade em achar as informações sobre os artistas - na Bienal também, então talvez a museografia atual apresente essa tendência enxuta, será?
Voltei ao Muncab um outro dia, para ver o restante da exposição no segundo andar e aproveitei para ir ao MAM. Como fui a pé, recebi avisos sobre onde não ir, os lugares que eram "barril", que só tinham "sacizeiro". Obedeci, e segui pela Carlos Gomes até o largo Dois de Julho para então chegar ao museu. Infelizmente, só deu para ver a exposição de fotos na capela (com destaque para Mário Cravo e Verger), porque o museu fecha para almoço. Não me animei a almoçar sozinha por ali, então voltei para casa (e fiz preleção sobre direitos humanos para o segurança dali também, jesus, estou muito preletora ultimamente).
Em São Paulo, ainda consegui encontrar Li pra um café num espaço fofo como só ela é capaz de encontrar e Marcelo para conversas e sorvete no meio do frio - sim, passei frio há 3 semanas, e agora tudo está derretendo por aí. 
Em Salvador, rolou café no privilegiado espaço da Aliança Francesa, com um pôr do sol de tirar o fôlego. Tinha até fila para o café, tão lindo é o lugar. Mais bom papo e muitas ideias, desta vez com a nova velha amiga Selma.
Por fim, minhas andanças me levaram ao litoral norte, à casa do ex-marido sempre querido. Levamos Chica à praia, um acontecimento. A caramelinho fez o maior sucesso por onde passou, mas quando quis ir embora expressou claramente seu desejo, com seu "ganidengo" peculiar. (E não há praia melhor na Bahia, as de Salvador que me desculpem.)
Mesmo com toda preocupação com o futuro, meu e do mundo, sigo caminhando, que assim as ideias e soluções vêm.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Vida que segue

Ando com uma fotofobia gigante. O apartamento é tão claro, e o sol incide sobre a parede externa do prédio, que reflete sobre a tela do computador, meus óculos e tudo. Deve ter a ver com idade, pode ser astigmatismo aumentado, enxaqueca por compressão da cervical, saída de um espaço menos claro, e preciso mesmo ir ao oftalmologista, mas me parece também metáfora da vida - uma claridade renovada, reconquistada, diante da vida. 
Saio por aí e olho tudo com atenção redobrada, mesmo de óculos escuros. Vou ganhando a cidade do jeito que sei fazer - palmilhando, fruindo, conversando com os locais, colhendo informações, histórias e gentilezas. Já há quem me trate como local, mesmo me sabendo estrangeira. E também ganho companhia na rua, como o doguinho caramelo cotó que foi me acompanhando até o ponto de ônibus.
Zenzito, que pirou na primeira semana, já conquistou também os novos espaços - menores que os anteriores, mas os gatos nos ensinam sempre a arte da adaptação, da flexibilidade, da não invasão. Ele ainda tem a linda vizinha Ayla, que vem sempre contemplá-lo algumas vezes por dia. Talvez promovamos, eu e a dona de Ayla, o encontro dos bichanos qualquer dia. 
A rosa do deserto já mostra que gostou do novo espaço, exibindo novos botões a cada dia. Logo outros vasinhos devem lhe fazer companhia. 

terça-feira, 20 de junho de 2023

Mente quieta, espinha ereta e core ativado no vórtice

As últimas seis semanas foram uma loucura de acontecimentos e sensações. Depois da decisão de nos separarmos, com fechamento de trabalho, dia das mães, buscar um apartamento, fechar contrato, empacotar tudo (quase 30 caixas só de livros), viagem-relâmpago de trabalho, finalmente a mudança. Que deu direito a duas viagens do caminhãozinho contratado em Itacimirim (na última mudança, foram duas viagens de caminhão-baú mais várias de carro com meu irmão Ian), estantes retorcidas (que me devolveram em pé, mas levemente amassadas), mais uma viagem de carro com coisas que tinham ficado por lá, e cada dia da semana reservado para entrega de alguma coisa ou instalação da internet. Embora tenha me matriculado na academia local logo no início da semana, a alimentação ficou bem ruim por esses dias, com expectativa de chegada da geladeira e acertos na instalação do fogão. 
Mas não vou reclamar de nada (só dos preços pela hora da morte em toda parte). Quando começamos a nos movimentar, tudo flui junto com a gente. Apesar do aperto todo - viagem e mudança -, consegui manter o foco e a calma, apesar do cansaço. Ainda havia a questão da hospedagem de Kong, porque não quisemos arriscar deixá-lo com os pais de Guga, que teriam de não só alimentar mas dar um monte de remédios para o rabugento - conseguimos, por indicação de Joelma, uma hospedagem com um adestrador em Barra do Pojuca, por coincidência (ou não) irmão do nosso mecânico de bike. Deu tudo certo com Konguito. 
Deu tudo certo na viagem também, com reuniões sobre o futuro da empresa mas também um encontro fraterno com toda a equipe das unidades, almoço com amigos queridos, café com mainha e irmã, passeinho no Centro e almoço no melhor restaurante árabe da vida, o já visado por mim Syria, de um refugiado que antes teve o Vovô Ali, segundo meu amigo Renato a melhor esfiha de todas - e com a surpreendente massa folhada de pistache, um acontecimento. Ainda consegui cortar cabelos com meu cabeleireiro há 25 anos, e devo dizer que, quando as madeixas recebem um bom corte, elas ficam lindas mesmo em desordem. Também consegui comer pão na chapa em padoca tradicional, a Marajá, perto do hotel, nas proximidades da Famiglia Mancini, onde ficamos um dia antes de ir pro apart de Li. 
Desta vez, percebi muito policiamento no Centro, mas com certeza isso se deveu à Parada do Orgulho, que ia acontecer no final de semana. A paisagem continua tristemente desigual, com hipsters ocupando Copan e imediações enquanto moradores de rua vagam pela feira - um efeito da gentrificação é a carestia geral na região, como no velho Café Floresta, onde paguei 40 reais por dois cafezinhos e três broinhas. O canelé do Temumami, que há tempos queria provar, custa 10 reais e nem é tudo que eu pensava. 
Assim que voltamos de SP fui pagar contas e comprar geladeira e lavadora de roupas, e ainda terminar de empacotar coisas. Minha sogra veio me trazer no domingo, o carro tomado de coisas. Zenzito, que já havia ficado preso no banheiro em Monte Gordo, ficou no banheiro do apê até que a galera fosse embora. Deu uma surtada quando percebeu que não poderia sair, e a primeira noite foi horrível, com ele me acordando às 2h, miando e correndo, e só parando quando o prendi na mala de transporte às 4h. No decorrer dos dias, foi me acordando cada vez mais tarde, até que chegamos ao horário de 5h30, bem mais razoável. Agora ele criou a rotina de dormir dentro do guarda-roupa toda tarde. 
Na primeira segunda, fui me matricular na academia vizinha, uma espécie de Bioritmo, mas com treino menos personalizado - a vantagem são as aulas coletivas. Consegui treinar duas vezes na primeira semana, porque logo estava envolvida com entregas - de mudança, de Magalu, de estantes restauradas, instalação da Vivo, visita de faz-tudo que não fez tudo mas contou a vida inteira. Mas, mesmo sem poder sair pra me exercitar, um amigo de Marise que pedala aqui entrou em contato comigo, me inscreveu no grupo e lá fui eu pedalar 35 km com uma galera muito mais experiente. Quase morri, mas fui. Claro que eu era muito lenta para os padrões deles, e logo me indicaram um grupo feminino, "mais lento". Muito melhor que ter uma pessoa bem-intencionada mas rabugenta atrás de mim dizendo pra eu ir mais rápido, aconselhando a trocar a suspensão, a coroa, a subir a ladeira mais íngreme porque "se eu queria pedalar, tinha que treinar". Afe! Mas tenho que dizer que eles garantiram minha segurança o tempo todo, e em nenhum momento tive receio de pedalar ao lado dos carros. E foi assim que finalmente conheci a Ponta de Humaitá e pude tomar um sorvete na Ribeira, ainda passando pelo meio das casas (não sei se é muito legal pros moradores, mas enfim).
Para acompanhar todos esses eventos, tive que respirar fundo muitas vezes, aprumar o corpo e literalmente ativar o core, inclusive para carregar coisas e subir escadas e ladeiras sem parar. E funcionou. E deve continuar funcionando, que vem mais pela frente, até que o vórtice vire fluxo. 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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