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segunda-feira, 3 de julho de 2023

Vida que segue

Ando com uma fotofobia gigante. O apartamento é tão claro, e o sol incide sobre a parede externa do prédio, que reflete sobre a tela do computador, meus óculos e tudo. Deve ter a ver com idade, pode ser astigmatismo aumentado, enxaqueca por compressão da cervical, saída de um espaço menos claro, e preciso mesmo ir ao oftalmologista, mas me parece também metáfora da vida - uma claridade renovada, reconquistada, diante da vida. 
Saio por aí e olho tudo com atenção redobrada, mesmo de óculos escuros. Vou ganhando a cidade do jeito que sei fazer - palmilhando, fruindo, conversando com os locais, colhendo informações, histórias e gentilezas. Já há quem me trate como local, mesmo me sabendo estrangeira. E também ganho companhia na rua, como o doguinho caramelo cotó que foi me acompanhando até o ponto de ônibus.
Zenzito, que pirou na primeira semana, já conquistou também os novos espaços - menores que os anteriores, mas os gatos nos ensinam sempre a arte da adaptação, da flexibilidade, da não invasão. Ele ainda tem a linda vizinha Ayla, que vem sempre contemplá-lo algumas vezes por dia. Talvez promovamos, eu e a dona de Ayla, o encontro dos bichanos qualquer dia. 
A rosa do deserto já mostra que gostou do novo espaço, exibindo novos botões a cada dia. Logo outros vasinhos devem lhe fazer companhia. 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Plantas, pincéis e paciência

Afinal a empresa onde trabalhamos entrou no programa de ajuda do governo federal, que promete arcar com 70% do gasto com folha de pagamento durante três meses. Ora, em se tratando do governo do Bozo, nunca se sabe. Esperamos que dê tudo certo, mas resolvemos apertar um pouco mais os cintos por enquanto. Era isso, ou ficar sem nada - e mesmo com essa mudança não sabemos muito mais do futuro que os próximos três meses, ainda assim com esse aspecto de incerteza próprio do bolsonarismo vigente. Então só nos resta ter paciência.
Aliás, paciência tem sido a qualidade/virtude mais requisitada nestes tempos de pandemia e quarentena. Tudo o que fazemos é esperar. E esperar não é fácil, exige um certo treino, um certo estado mental que nem sempre temos à mão, por assim dizer. Sobretudo quando não sabemos o que esperar, caso do período que vivemos. O futuro nos foi roubado, não sabemos por quanto tempo. As possibilidades nos foram roubadas, não sabemos por quanto tempo. Fica difícil fazer planos, sonhar. Para sobreviver, para resistir ao vento sem quebrar, acaba sendo necessário ser mais nietzschiano ou mais zen. Com tanta tragédia no mundo, prefiro tentar ser zen.
Acredito que algumas práticas ajudam a traçar um caminho mais zen quando você não necessariamente é um estudioso do caminho. No dia a dia, o contato com a terra e as práticas manuais e artísticas me parecem boas opções para se chegar a esse estado de maior aceitação do que não pode ser mudado sem necessariamente ficar passivo diante do que não deve ser aceito. 
Já vinha ensaiando uma das minhas inúmeras voltas à hortinha - Guga ri cada vez que digo que vou retomar os cuidados com as plantas, acha que não levo nenhum jeito. Mas minha sogra acredita no que digo, além de compreender que faço muita coisa, e sempre me oferece mudinhas de plantas bonitas que ela tem e que tem aproveitado para colocar em ordem, neste período de quarentena. Dela foi que ganhei a muda de árvore da felicidade e as filhotas de babosa, que já acomodei em vasos. Aproveitei para limpar o espaço das mudas de temperos, e espero pelo menos ter manjericão fresco - vi que o alecrim, mesmo ressecado, continuou se expandindo no vaso, algo incrível, e que a alfazema, mesmo seca, ainda exalava perfume. 
Resolvi dar de presente ao marido um curso on-line de desenho, depois de ter visto seu interesse por uma propaganda no FB, e acabei me inscrevendo também em um de sumiê para ilustração, da mesma plataforma argentina, Domestika. Parece bom, e me fez lembrar das aulas com Susan Hirata, há 7 anos. Até tentei retomar a prática há algum tempo, mas não consegui relembrar os gestos e pinceladas de modo satisfatório. Mas só organizar o material já nos faz entrar em modo zen. 
Acaba de me ocorrer que o modo zen é mesmo o modo do fazer. Logo que começou a quarentena, totalmente desconcentrada para ler ou trabalhar, fui buscar coisas práticas, que me faziam imediatamente entrar na meditação, no deixar os pensamentos passarem, sem me prender a eles, porque estava cozinhando, ou bordando, ou pintando, ou organizando coisas. O caminho se faz ao andar, o zen se faz ao fazer. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Uma horta que nasce e gente que aprende



Eu estava toda feliz acompanhando o despertar das mudinhas de ervas quando um dia deparei com um sapão dentro de um dos vasos - e pior, ele já havia passado pelos outros, esmagando todas as recém-nascidas.
O primeiro sentimento, claro, foi de cansaço-frustração. Em seguida, a resolução de começar tudo de novo, agora plantando diretamente no chão, no espaço que reservamos para a horta menor. Mas então percebi que os cachorros e os gatos, que gostam de correr por aquele espaço, também podiam esmagar as plantas. Pedi ao marido para cercar a horta para somente então semear de novo.
Agora falta apenas finalizar a porta, mas lá fui eu semear rúcula, couve, tomate, agrião, com ajuda de Guga. Ainda no esquema tentativa e erro (e acerto) para aprender a cultivar, vamos descobrindo também soluções para o dia a dia, como remédios sem veneno para evitar fungos e formigas (leite fresco, o santo bicarbonato - usado também para branquear roupas -, borra de café), de que maneira cercar a horta e até mesmo como proteger nossas botas de trabalho das aranhas e outros bichos (a touca descartável tem, afinal, uma utilidade utilíssima).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Tempo de plantar





Já falei aqui que herdei do meu avô um gosto por ervas/plantas, mas pode ser apenas algo inerente à humanidade: voltar à natureza deve estar em nosso DNA animal. Quando não mantemos nenhum contato com ela, acredito que nosso corpo e nosso espírito se ressintam de alguma forma. Não que todo mundo precise largar tudo e se mudar para o campo, como eu, mas talvez seja bom promover de algum modo essa reinteração: ter uma alimentação mais saudável, ficar ao ar livre, andar descalço na grama, na terra ou na areia, ter um bicho de estimação, admirar o nascer ou o pôr do sol, sentir o cheiro de mar...
Particularmente, tenho dedicado algumas horas da semana a fazer as mudas de ervas. Eu, bicho de cidade, ainda fico na maior expectativa de ver brotar as folhinhas dentro das caixas de ovos que fazem as vezes de sementeiras.
A maioria nem deu as caras, mas o manjericão, a couve e, especialmente, a rúcula e a abobrinha vieram para a luz. O tomate começa a lançar timidamente suas espículas. Não vejo a hora de a sálvia também mostrar a que veio.
Agora, porém, vem uma etapa delicada, que é a de transplantar as recém-nascidas para um recipiente mais alto, já que a sementeira-caixa de ovo é muito rasa e as plantinhas não terão espaço para estender suas raízes e assim se fortalecer.
No fundo, no fundo, tudo tão tênue. Sigamos plantando a espera, esperando o desabrochar. Tudo colhendo desse tempo precioso e resvalante.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Um milagrezinho no jardim


Meu antúrio praticamente foi destruído na última chuva de granizo (não que tenha havido muitas, mas do jeito que a coisa anda com o clima, deve haver outras), e resolvi tirar as folhas quebradas, cortar galhos e pagar pra ver.
E então, outro dia, eis que se abriu essa lindeza rubra e cordiforme, para alegrar o coração.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Verde atávico

Às vezes eu me surpreendo com a sensação de sempre ter gostado de uma coisa. Como o dia em que, tendo ficado anos sem comer feijão com arroz, descobri que amava feijão. E pensei: por que fiquei tanto tempo sem isso? Em princípio, porque, na vida apressada que levava, só comia lanches? Talvez, mas também porque estava me alimentando automaticamente, sem pensar na comida que me fazia feliz.
Aconteceu a mesma "epifania" com as plantas. Comecei uma hortinha de temperos no meu antigo apartamento, para uso culinário, claro. Tinha já tentado ter um lírio da paz, que resistiu anos, mas por fim morreu. Percebi que aquele verdinho mínimo na janela me deixava contente, e depois sofistiquei a hortinha em grandes baldes de metal com mais ervas. Olhar para elas me trazia um apaziguamento, além, claro, de ideias sobre novos pratos a preparar.
Na nova morada, a sacada do quarto virou um miniviveiro de plantas. Antes as ervas habitavam a espaçosa área de serviço, mas vieram os gatinhos, e deu-se a mudança. E fico pensando em como será quando eu tiver uma casa com jardim e quintal. Plantas, ervas, árvores! E gatos (e quem sabe um cãozinho) loucos para prová-las.
Hoje estava rearranjando as plantas, arrumando sombra para as que não curtem sol direto, aguando um pouco mais as que estavam cabisbaixas com a seca implacável sobre a cidade. E lembrei como minha avó sempre gostou de ter um canteirinho. Quando era pequena, eu gostava de regar o jardim do fundo da casa, quando moramos em Suzano. Depois me desinteressei, mas admirava a constância com que ela mantinha suas ervas e plantas, muitas delas procuradas pelos vizinhos. Minha avó sempre tinha um chá a receitar - talvez tenha herdado o hábito do meu avô, que conhecia ervas e era fã da homeopatia. Com meu avô, ia à feira, hábito que estou retomando agora, até por necessidade prática. Minha mãe tem um pouco de dedo verde, mas é aos meus avós que devo essa imagem afetiva do plantar.
Nunca fui boa em reconhecer espécies vegetais, mas as ervas culinárias começaram a mudar isso. O interesse por aromaterapia também. Acho, porém, que não me interessaria por isso tudo se não tivesse já uma sementinha plantada lá no fundo por meus dois velhos queridos. (Estava inclinada a dizer que o ser humano sempre procura voltar à natureza, mas ultimamente acho que não.)

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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