quarta-feira, 20 de maio de 2020

E Bacurau, afinal?

Por fim, assistimos a Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, diretor dos ótimos O som ao redor e Aquarius
Houve um furor na época do lançamento, e vi muitos amigos divididos entre achá-lo incrível e nada de mais. Eu sabia, de orelhada, que um tal Lunga fazia justiça contra os opressores e lavava a alma dos espectadores. 
Bom, pelo jeito, sou da turma do nada de mais. Embora o filme tenha sido lançado em agosto de 2019, quando o horror bolsonarista já estava instalado no país, e a película tenha lá seu quinhão crítico, ninguém estava preparado para a distopia que cresceria cada vez mais, incrementada por uma pandemia que só gera incertezas quanto ao futuro. Talvez isso tenha me dessensibilizado para a violência presente no filme - são tantas mortes, tanta violência, tanto descalabro no cotidiano nacional que a sanguinolência de algumas cenas de Bacurau não me impressionou. Também não há preocupações estéticas, mas isso é do cinema de Mendonça - uma pena, porque a região sertaneja, no Rio Grande do Norte, onde o filme foi feito daria uma fotografia incrível nas mãos, por exemplo, de um Walter Carvalho ou Affonso Henrique Beato. A crítica, no final das contas, me parece limitada ao que os gringos/ricos/brancos fazem contra os brasileiros/pobres/mestiços. E a matança promovida por Lunga, ao melhor estilo "vingança dos cangaceiros", é tão pá-pum que nem prepara a gente para aquela torcida, como acontece por exemplo em blockbusters como John Wick, quando tudo o que a gente quer é que o protagonista vivido por Keanu Reeves detone quem matou seu cachorrinho, só para começar. Marighella, dirigido por Wagner Moura, talvez fosse bem mais importante, mas, embora lançado em 2017, até hoje não foi distribuído por aqui, por puro boicote bolsonarista - também há os liberais incomodados com a figura de Marighella, talvez um pouco real demais, aumentando assim a simpatia de esquerda pelo violento mas fictício Lunga.
Um pouco antes de vermos Bacurau, assistimos à animação stop motion Ilha dos cachorros, de Wes Anderson, já um dos meus diretores favoritos há algum tempo. Além da lindeza da produção, da trilha sonora, do roteiro impecável, a crítica social ali é tão patente e atual, sem que seja preciso perder o estado de encantamento que o cinema proporciona, que fiquei muito grata ao diretor pela experiência. Fiquei muito mais impactada do que com o filme de Mendonça Filho.
Enfim, acontece. Mas sugiro que assistam aos dois. Certamente, Bacurau, mesmo não integrando minha lista de favoritos, entrará para a história do cinema nacional como um dos filmes que incomodaram, o que já é bastante no atual contexto. 

terça-feira, 19 de maio de 2020

Biscoitos de castanha-do-Pará e raspas de laranja

Não me lembro que receita me fez querer comprar castanha-do-pará. Entre fazer a compra e a chegada dos produtos da Casa de Saron, me esqueci o que era. Mas acabei pensando em fazer uns biscoitinhos de castanha-do-pará e raspas de laranja.
Encontrei uma receita da Helena Gasparetto que me pareceu bem boa; só acrescentei as raspas de laranja, enrolei a massa como uma salame e deixei no congelador antes de cortar para assar. Uma primeira leva, cortada mais fina, ficou quase sem sabor de castanhas; a segunda, mais gordinha, ficou mais saborosa e macia. 
Não sei se valeu o preço que paguei pelas castanhas, mas para começar está ótimo.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Inflamação no piriforme e a moussaka que não fiz

Tinha planejado fazer uma moussaka, receita do Akropolis, para o Dia das Mães. Compramos tudo com antecedência, bonitinho. Mas aconteceu de, após uma faxina, a dorzinha costumeira na lombar ir se transformando em algo incapacitante e duradouro. Tive que passar os ingredientes e a receita para a sogra, uma injustiça, para ela preparar o almoço em homenagem a ela! Isso porque ela já havia cuidado da sobremesa também.
A receita já virou minha favorita, com as batatas cortadas em fatias e fritas antes de compor as camadas. O molho bechamel, bem denso por conta do acréscimo de queijo, ficou maravilhoso.
E afinal tive de marcar um horário com minha instrutora de pilates e fisioterapeuta, eu já temerosa de ter de ir a um hospital a essas alturas de pandemia. Depois de muitos apertões, soube que, ainda bem, era só uma inflamação do músculo piriforme, e não um problema renal, ou uma infecção, ou uma hérnia de disco recém-nascida. A depender da posição, o piriforme pode irradiar para o ciático, e daí essa dor escrota, que parece enfraquecer as pernas e fazer estalar a coluna, o quadril e os joelhos, enviando pequenos choques pela perna até o pé. Uó.
Pelo menos, houve um grande alívio após a fisioterapia. Sigo no ciclo do anti-inflamatório e com Mercuria, a bolsa de água quente.

sábado, 9 de maio de 2020

Vecchiaia ou quarentena?

Minha nova amiga de infância é uma bolsa de água quente, adquirida para ajudar a minimizar o desconforto na lombar. Já dei até nome: Mercuria.
E me deu mesmo uma nostalgia lembrar da bolsa de água quente grande e pesada que havia na casa da minha avó, um desses objetos comfort vintage, como o filtro de barro, que nos dão uma sensação de passado imorredouro. 
Ou é só a melancolia da vechiaia mesmo, junto com a falta de exercício (e olha que fiz até tai chi chuan via Zoom) trazida pela quarentena + faxina. A coluna chega a estalar, enquanto o ciático chia. 

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Todos os dias da língua portuguesa

Meus queridos Carlos e Dulce Seabra criaram com outros amigos o site Dia Mundial da Língua Portuguesa (comemorado no dia 5 de maio), com o intuito de reunir depoimentos sobre nossa relação com a língua mátria. A ideia original era organizar seminários e encontros, mas a pandemia mudou também esses planos. Ficou o site, já enriquecido com webinários e recheado de depoimentos curtos e deliciosos - e eu já deixei lá o meu (a foto acima é a do site).
Ser convidada a falar sobre a língua portuguesa em até cinco minutos me fez pensar nos fatos mais importantes que resumem minha relação com a palavra e com o idioma. Desde o contato com os livros de meu pai e os comprados por minha mãe ao longo de nossa infância e adolescência, passando pelas histórias que eu inventava para contar à minha avó e declamações de Casimiro de Abreu que fazia para meu avô, até chegar às itinerâncias em bibliotecas diversas, o completo encantamento diante da palavra - seja na poesia, na música, seja na prosa, na fala de mestres -, as apresentações teatrais, a escrita tateante, a participação em concursos, as viagens a Brasília como prêmio em dois concursos com mais de dez anos de intervalo, a homenagem à professora de português e reencontro com ela, o trabalho com redação e edição, um prêmio recebido na Biblioteca Mario de Andrade, as oficinas de leitura para jovens da periferia, a viagem a Portugal, a mudança para a Bahia e a redescoberta incessante da língua portuguesa nos infinitos usos que dela fazemos. 
Isso tudo para dizer que o Dia da Língua Portuguesa são todos. Sem ela, não sou; sem ela, não soo.

Earbugs e o consumo na quarentena

Com essa história de não poder sair para pedalar, correr e treinar, tenho tentado fazer alguma coisa em casa. Além do pilates em casa via Zoom, estou me esforçando para usar os treinos do Darebee e as aulas de yoga do canal Namu. Acabo de descobrir que minha antiga professora de tai chi chuan está oferecendo aulas on-line gratuitas também, a ver. 
Bueno, e então tive a ideia de comprar uns fones de ouvido bluetooth para ouvir as aulas e não acordar/atrapalhar o marido. Pesquisei umas resenhas de corredores e cheguei a esse Edifier, bom preço, ainda por cima cor-de-rosa. Muito bom, quase não se percebe que está usando, ótimo som, encaixe perfeito, pareamento rápido. 
Essa ótima compra, porém, me fez pensar muito no consumo durante a quarentena. Na verdade, por pura ansiedade comprei várias coisas on-line, algumas mais urgentes (lentes de contato, remédios dos pets), outras, nem um pouco (roupas, sapatos). E uma faixa intermediária de compras (os fones, as frutas secas da zona cerealista) me fez ter uma consciência dolorosa de como vivemos numa bolha, de como nosso país é um abismo de desigualdades. 
Não consigo parar de pensar nos milhões de brasileiros que não têm sequer água encanada em casa, que dirá frutas secas ou fones de ouvido. Me deu um enjoo fazer compras, mesmo as primordiais presenciais. Me deu ainda mais clareza de como inventamos necessidades para consumir, o próprio sentido do capitalismo, cada vez mais feroz e desagregador. Porque pertencemos a uma classe média baixa e olhe lá, e também porque a crise econômica só se agravou com a pandemia e instalou-se um cenário incerto, em que é praticamente impossível fazer planos a médio e longo prazo, não é muito inteligente nem ético gastar. 

Sequilhos para o cafezim quarentenal

Guga perguntou se eu já tinha feito sequilhos. Respondi que não, e logo em seguida, senhora das demandas, busquei uma receita. Achei uma simplésima: 100 g de açúcar, 200 g de manteiga e 300 g de farinha, mais uma colher de café de fermento químico. Menos de 15 minutos no forno a 180 graus. Depois passei no açúcar cristal, e ficaram perfeitos! 

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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