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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

A imagem mais bonita dos últimos tempos

A imagem mais bonita dos últimos tempos e do ano de 2023 já foi produzida. Ela também veio varrer o horror dos últimos 4-6 anos. Podemos dizer que a única coisa boa que o Bozo fez na vida tacanha dele foi se recusar a entregar a faixa a Lula, o que produziu justamente essa imagem mais linda de todas.
Confesso que passei o primeiro dia de janeiro inteiro sob tensão. Assisti à posse completa, e seus desdobramentos, como se zelasse pela segurança do presidente eleito. Temi que algo acontecesse a qualquer momento, que algum maluco resolvesse sacar uma arma contra Lula ou contra a população. Mas acho que a onda de amor e alegria e alívio que se formou foi tão grande que protegeu a todos, varreu o mal, pelo menos por ora, para longe dali. 
E então a surpresa de ver uma cozinheira, um cacique, um garoto negro, um rapaz com deficiência, um metalúrgico, um artista, um professor, uma catadora negra e até uma vira-lata subindo a rampa com os eleitos, eleitos eles também. Foi emocionante demais, e serviu pra reacender a esperança em meio a tantos desafios que, sabemos, nos esperam, individualmente e como parte de um país que só fazia se afundar na lama da ignorância mais obscura.
Foi quase como ver a "fellowship of the ring" subindo de braços dados o caminho da vitória, coisa linda. O retorno do Barba. 

domingo, 7 de outubro de 2018

Eleições em época de horror

Hoje teremos o primeiro turno de um dos pleitos mais assustadores dos últimos tempos, porque um dos favoritos é epítome do horror, do retrocesso, da intolerância, e estamos à beira do precipício até o último momento - e espero que não caiamos nele. Do outro lado, o partido que não consegue fazer uma avaliação crítica de si, se eleito, corre o risco de não conseguir governar, e as trevas também se avizinham por ali, embora talvez não de forma tão dramática quanto no primeiro caso.
Ao longo da campanha política, tenho visto de tudo - amigos sendo ameaçados publicamente por serem de esquerda, amigos mais distantes destilando sua amargura contra a esquerda, gente tentando justificar o injustificável: votar em um homem bizarro, que mal consegue articular as palavras e ideias, e logo começa a gritar como plataforma eleitoral, bradando contra mulheres, homossexuais, índios e negros. Quem, em sã consciência, pode considerar que essa pessoa seja a melhor opção para o governo de um país? Certamente, quem está tomado pelo mesmo ódio contra o restante da humanidade, que inclui mulheres, homossexuais, índios e negros. Aliás, como pode uma mulher votar nele? Somente aquelas que não conseguiram ainda se despir da imagem retrógrada de mulher construída por uma sociedade machista, as que dão graças por terem um trabalho, mesmo ganhando menos que os homens, por terem um homem, mesmo que as diminua de alguma forma, por terem uma família, mesmo infeliz. Incompreensível, todavia. Injustificável. Daí se tem ideia do tamanho do abismo social em que vivemos.
Hoje tenho medo, vontade de chorar. Tempos sombrios se avizinham. Já temos experimentado a intolerância e a loucura nos discursos, que sejamos livrados de um mal maior. Hoje tudo me faz lembrar Drummond. Que tenhamos ainda direito à beleza, à arte, à educação, à fraternidade.

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista pela janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Um passeio pela feira da Reforma Agrária

Amo uma feira, já devo ter dito aqui. Feiras e mercadões, pra ser mais precisa. Quando chego a uma cidade nova, já quero logo conhecer os locais de comércio popular, saber o que a população local consome, o que come, o que compra, o que considera indispensável em sua casa, parte de sua identidade mesmo.
Se a feira ainda for de produtos orgânicos, melhor ainda. Por aqui, ainda não tinha tido notícias de uma, além de nossa feirinha dominical, que é pequena, mas bem boa (com direito a rúcula rascante de tão adstringente).
Entonces, minha amiga Marisa me marcou em uma publicação do MST, de uma feira da Reforma Agrária que aconteceria em Salvador, a versão soteropolitana da tradicional feira do MST do Parque da Água Branca, em São Paulo. Mesmo lá, eu nunca tinha ido a essa feira, que é um verdadeiro evento, mas sempre me interessei ao ver imagens e comentários posteriores. Portanto, saber que a feira aconteceria por estas plagas só podia ser um sinal de que devíamos conhecê-la.
Combinei com o maridón bem antes. Também contatei Liu e Igor, que certamente gostariam de ir (e já tinham se programado para tal). Por sorte, hoje, dia da feira, não choveu, fez um dia lindo. E lá fomos nós, conhecer a produção de todos os cantos da Bahia.
Chegamos com a feira já a todo vapor, gente por toda parte do Largo da Piedade. Tudo meio apertadinho, mas bem organizado em regiões baianas - Norte, Oeste, Baixo Sul, Sul. Em cada banca que passávamos, uma conversa simpática, a postura de orgulho pelo que é feito, a clareza da identidade. E os produtores queriam conversar, estavam sequiosos de dividir seu saber e sua experiência, sem servilismos. Quando houve música militante, todos ali, onde estivessem, cantaram. Emocionante. Descobrimos uma editora que trabalha com temas relevantes para o movimento, Expressão Popular (não por acaso sediada na Rua da Abolição, na Bela Vista, um bairro tipicamente politizado).
E caminhamos no meio de bancas de taioba, cacau, cupuaçu, pimenta de todo tipo, amendoim, milho, mudas de árvores frutíferas, quiabo, mamão, manga, couve, fava, feijão fradinho e de corda, aipim, inhame, nibs e doces à base de cacau, cocada, artefatos de barro e de palha, banana, batata, jaca, xaropes mil, mel, coentro, farinha, azeite de dendê, manteiga de garrafa e tantas coisas que nem registrei. Lindeza reluzente.
No fim, não foi só um passeio pela feira. Foi ver de perto como é possível um projeto de vida solidário e conectado com a natureza, como a união faz mesmo a força na transformação de realidades. Em um cenário tão desolador como o que temos vivido no país - com economia solapada, política entregue aos ratos, saúde e educação em petição de miséria -, é um alento que gente nossa consiga mostrar o resultado de sua esperança, de sua capacidade de continuar acreditando que algo bom pode nascer de nossas mãos. Mas é preciso colocá-las à obra, mergulhá-las na terra, reconectar-se. Nisso reside o milagre.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A cura pela beleza

Tenho pensado muito na importância da beleza para a vida humana. Em como produzir beleza ajuda a nos distinguir dos ditos animais irracionais. Pelo menos, é nisso que acredito.
A beleza nos humaniza, nos cura do empedernimento imposto pelo dia a dia de mesquinhez, desigualdade, violência e intolerância. Pessoas sensíveis à beleza se emocionam diante do prodígio de outro ser humano. Criar parece um verbo intrinsecamente ligado ao que é belo. Quando algo sai de nossas próprias mãos - texto, pão, bordado, um arranjo de flores, temperos que plantamos -, como não ficar extático diante da criatura, daquilo que nasce, da sua beleza intrínseca? Imagino como devem ficar pais e mães diante da criaturinha autônoma que sai falando e andando em tão pouco tempo. Quanta beleza!
Aí, outro dia, dei de cara com esse vídeo sobre um grupo de crianças e adolescentes paraguaios, a Orquestra Landfill Harmonic, que cria e toca instrumentos feitos de sucata. O maior de todos os prodígios, quase divino, de criar beleza a partir do lixo, do que não é mais, daquilo que ninguém mais vê. Quase amor.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pai, afasta de nós esse cálice

Já disse por aqui que não sou uma rata de Facebook. Mas nas últimas semanas tenho visitado muito mais as redes sociais, tudo por conta da violência (eu ia dizer que tem se abatido, mas mudei de ideia, pois não é uma coisa nova ou súbita) que tem mostrado as garras e a cara medonha em São Paulo, e em outras cidades brasileiras, provocada pelo manifesto popular.
Toda manifestação coletiva em prol de melhoras sociais é válida. Isso nem se discute. O vandalismo é que não vale, ou melhor, invalida qualquer manifestação bem-intencionada. Vimos ônibus sendo pichados, estações de metrô destruídas. Mas nada que se comparasse à ação policial que usou como desculpa os danos ao patrimônio para descer o pau na população.
E sem essa de "atiraram indiscriminadamente". A questão é outra. Não deveriam atirar, mas apenas conter, evitar maiores tumultos. Ou a ideia de "segurança pública" tem diversos pesos e medidas? A culpa pelo pânico da população que tentava voltar para casa foi só dos manifestantes, ou das balas de borracha e do gás lacrimogênio que tomaram as ruas? Perguntas retóricas, é claro. O Leonardo Sakamoto publicou em seu blog um texto que trata dessas questões e que eu assinaria satisfeitíssima embaixo.
É claro também que onde há massa há o risco de confrontos. Por isso houve também um ou outro policial sendo ameaçado (um até apanhou!). Por isso a polícia, que ainda por cima é despreparada e mal comandada, se sentiu gigante e avançou feroz contra a população. Na minha opinião, porém, está acontecendo um tsunami social, provocado por despertar súbito x reacionarismo que em SP ainda é determinante. Foi como se as placas tectônicas da indignação que se movem há tempos nas profundezas da cidade fizessem irromper as ondas gigantes de protesto. Ora, quando um grupo longamente submetido resolve sair do controle, se manifestar contra o estado das coisas, a reação pós-surpresa é de extrema covardia. Até mesmo esse grupo pode parecer atordoado no início, como quem fica cego com a luz do sol por ter se acostumado à escuridão e se lança a esmo ao combate. Mas não se mantém letárgico quando vê "emergir o monstro da lagoa".
Sim, é assustador como as cenas a que temos assistido lembram em tudo as da ditadura militar, que Chico Buarque registrou em "Cálice". Mas hoje já não cabe calar a voz de tantos - e aqui quero celebrar a força das redes sociais bem utilizadas. Em vários países há pessoas se unindo aos brasileiros que protestam contra o aumento das passagens, contra a proibição ao direito de ir e vir, contra a castração à cidadania, que pressupõe entre outras coisas a fruição da cidade. Há muitos olhos olhando para que os mandantes posem de dignatários da lei e da ordem sem serem dignos delas. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Vida longa ao bem público

Recebi um e-mail de uma amiga alertando para o fim do site de obras de domínio público, mantido pelo governo:

"Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que
está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar
onde você pode gratuitamente:
 · ver as grandes pinturas de Leonardo Da
Vinci;
· escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· ler obras de Machado de Assis ou a Divina Comédia;
· ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· e muito mais...

O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso, basta acessar o site:
www.dominiopublico.gov.br
Só de literatura portuguesa são 732 obras!

Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por
desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar
reverter esta situação, divulgando e incentivando amigos, parentes e
conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da
cultura e do gosto pela leitura."

Eu já me vali diversas vezes das obras disponíveis no site, e a navegação é bem simples. Se, pelo que diz o e-mail, basta só acessarmos mais o site para salvar esse verdadeiro bem público (e ganhamos muito, e todos, e cada um, com isso), por que não fazê-lo? Que tal instituir, copiando a Hora do Planeta, o Minuto (semanal, mensal, vocês decidem) do Domínio Público? Afinal, basta um clique para baixar as obras, que podem ser lidas quando quisermos.
Como nem tudo neste blog é delírio impressionista, fica aqui a sugestão-clamor.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Solução para o problema de moradia em grande cidade

Juro que tem uma pessoa morando aí dentro.
Imagina se Kassab e Alckmin veem uma coisa dessas? Quantas ideias mirabolantes não irão surgir?

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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