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terça-feira, 11 de março de 2025

Pelo amor do livro!

Emprestei um livro e ele voltou desbeiçado, a película da capa descolada e parcialmente arrancada de modo displicente, como eu ainda não tinha visto acontecer entre os meus. Provavelmente vou restaurá-lo. Porém, fiquei espantada com o desamor pelo objeto. Claro que um livro amado nem sempre fica inteiro, às vezes tem marcas da leitura, anotações, até manchas de café e tal, como hematomas, sinais da paixão (talvez abusiva?) que desperta. Acidentes podem acontecer? Com certeza. Mas o mínimo que se espera é um aviso a respeito. Ou não? Só sei que este foi tão somente devolvido, sem grandes comentários acerca do conteúdo, nenhum a respeito do estado atual, objeto puro e simples. Voltou roto sem sequer ter despertado qualquer paixão. Mais parece que foi lido por "estar na moda".
Sei que estou ficando mais chata e menos tolerante com a idade. Não que eu fosse zen, isso nunca fui. É que eu amo livros, tenho respeito por eles, não são um simples objeto para mim. Ainda pretendo ter um novo projeto de leitura - mas, para que mais pessoas possam ler, é preciso cuidar bem dos livros. Circularidade sim, simples descarte não - para tudo na vida.

sábado, 27 de abril de 2024

Povo de livros

Alguns estudiosos dos livros sagrados se referem às três principais religiões monoteístas como "povos do Livro", neste caso a Bíblia, referência central do judaísmo (o Velho Testamento), do cristianismo (principalmente o Novo Testamento) e do islamismo (da leitura feita por Maomé, o Alcorão). Séculos depois, Guttemberg revolucionaria a leitura não só dos livros sagrados, mas de todos os livros, ampliando seu alcance em toda parte. O que não quer dizer que tudo passou a ser lido, pois, antes de tudo, é preciso haver leitores, quem domine as ferramentas do ler.
É triste que hoje, ainda, haja tanta gente que não possa ter o privilégio da leitura - por conseguinte, de imaginar mundos, de ter pensamento crítico, de conseguir defender suas ideias, de fazer a revolução. Ainda é privilégio mesmo, no sentido daquilo que poucos alcançam, uma lástima. Quantos Fabianos ainda há no mundo!
Sempre me maravilho com saber ler, sortuda que sou. Outro dia falei do maravilhamento com saber andar de bicicleta, mas ler é algo, para mim, que suplanta toda maravilha. Já falei disso aqui, mas eu mesma preciso às vezes lembrar que sou parte do povo de livros, assim, no plural, porque são muitos os nossos textos sagrados. Na última semana, foi Dia Internacional do Livro, mesmo dia de São Jorge, senhor das demandas, que nos reveste com suas armas e cores e palavras. 
Então esta semana também fui, pela primeira vez, à Bienal do Livro Bahia, no Centro de Convenções de Salvador. Fazia anos que eu não ia a uma bienal; agora é principalmente o espaço de encontro de jovens e crianças com autores, o que é perfeito. Não rolou fazer networking, o forte é a venda de livros já faz tempo. Mas tudo bem, comprei livros, paquerei outros tantos, atentei para as novidades, inclusive para as editoras que não conhecia, como Malê e Paralelo 13S. Também participei de um evento na Caixa Cultural, num dia com Itamar Vieira Jr. e Luciany Aparecida (que começou na Paralelo 13S), e ainda ganhei livro do mediador, Patrick Torres; no outro dia, com a jovem Roberta Gurriti e o simpaticíssimo Stefano Volp, cujo livro eu havia comprado na véspera, às cegas. Aprendi um tanto com os mais jovens, sobre tecnologias para lançar conteúdos, e com os mais velhos sobre o que é ser um autor negro e nordestino e quanto há ainda a conquistar - enquanto, nós, brancos ou quase, temos a percepção de que há "tantos" autores negros no mercado hoje em dia (isso rende outro post). Pelo menos em Salvador, a literatura feita por pessoas negras e tratando de personagens negras tem tido destaque - me saltou aos olhos o livro que mostra Machado de Assis menino negro, um avanço na forma de contar a história do gênio-bruxo do Cosme Velho. 
Amo ver as crianças e jovens encantados com os livros, com as possibilidades infinitas que eles trazem. E registrei o encontro de uma garota com o professor, provavelmente de Português - o entusiasmo dela ao correr para falar com ele, certamente para compartilhar a alegria de estar ali também. É impressionante a magia da leitura, em todas as fases de nossa vida, como ela nos faz lembrar que somos seres em transformação, em constante recomeço como nas palavras de Cora Coralina no marcador de página com que Guga me presenteou. Leia, plante uma roseira, faça doces. E recomece, sempre. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Falta do que fazer

Como eu não tinha mais nada pra fazer na vida, resolvi escrever um ensaio, para participar de um concurso desse gênero sobre o tema feminismo. Porque estava sobrando tempo entre editar um volume inteiro, revisar caderno de aluno, fazer tarefas de casa, aguardar originais de um job com prazo estourado, bordar um pouquinho entre uma coisa e outra é que resolvi me aventurar a iniciar e tentar terminar um texto com pelo menos 15 mil palavras. 
Só ontem fui fazer a conta do quanto já tinha escrito - míseras mil palavras - e do quanto faltaria, em média. Caraleo, é o tamanho do meu TCC. Estranhei um tanto, já que o gênero ensaio é tão mais leve; ainda que defenda uma ideia central com argumentos plausíveis, não é o espaço/momento do aprofundamento, não é uma tese, não é sequer uma dissertação, nem mesmo um TCC. 
Enfim, os olhos cheios de areia, reservo para mais um dia a tentativa de ultimar a tarefa. A ver (se os olhos velhos deixarem).

segunda-feira, 24 de maio de 2021

O espaço em branco

Há alguns (na verdade, muitos) anos, quando fiz uma oficina de ilustração de livros infantis com o Odilon Moraes e o Fernando Vilela, me vi no meio de um grupo supertalentoso, de artistas iniciantes e profissionais, com domínio maior ou menor de técnicas diversas. Eu estava lá de absolutamente atrevida que sou, beirando o sem-nocionismo, ou porque simplesmente me encanta estar no meio de gente talentosa e interessante e inteligente. A ideia era trabalhar um tema comum - o circo - para criar, individualmente, um livro ilustrado. Já fui logo avisando que não era artista, que não desenhava bem e tal. 
Escolher o que fazer, para mim, foi algo bem fácil. Não poderia ser outra coisa além de O grande circo místico, de Chico Buarque e Edu Lobo. A canção "Ciranda da bailarina" é cheia de imagens poéticas e engraçadas, e foi ela então a convocada para a tarefa. 
Com o ascendente em Áries, normalmente eu topo a parada para depois pensar em como é que vou executar. Como disse, o desenho, sobretudo no meio de um grupo de artistas, não era minha primeira opção. A pintura, menos ainda. E, no entanto, a oficina era de ilustração. O que fazer? O que me salvou foi a colagem. 
Penei com o Fernando, que não se interessava, nos momentos de orientação, em ver meu projeto de livro, ainda muito incipiente. Mas que se surpreendeu com a apresentação final e fez um comentário revelador: de que eu sabia trabalhar muito bem com o espaço em branco, que o espaço em branco era parte da própria linguagem. De fato, as colagens conversavam com o branco da página o tempo todo. A partir desse comentário, percebi como gosto dessa possibilidade do espaço em branco, dos vazios debaixo do risco do meu desenho minimalista, das minhas colagens (como a que fiz para as gêmeas de Gleice). Pensando bem, confirma o meu senso de "incompletude" de que outro dia falava minha orientadora. 
Ainda acerca do espaço em branco, o querido Wagninho me enviou há algum tempo umas imagens de bordados feitos pela sueca com ascendência sámi Britta Marakatt-Laba, compondo uma espécie de tapeçaria de Bayeux dos bordados, mostrando uma longa narrativa, toda em linha preta sobre branco. Uma das coisas mais bonitas que já vi. Porque, embora ache lindíssimo o que fazem as meninas Dumont, preenchendo todos os espaços do tecido com cores e pontos, me fascina a capacidade de desenhar com a linha. Mas pode ser também porque não sou muito boa em preencher os espaços - a aquarela que o diga. 
Transferindo para a página em branco do texto, seria como deixar coisas por dizer, à imaginação do outro. Uma história por construir. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

E no meio das aprendizagens... reaprendizagens

Às vezes, me pergunto: por que inventei de fazer um TCC? Nem era obrigatório, eu já havia terminado a especialização com ótimas notas, adorei o curso e tal. Mas não, insisti, fiquei perguntando ao pessoal da secretaria quando o programa estaria disponível, contratei a bagaça, indiquei duas possíveis orientadoras. 
E agora me vejo há dias em um parto de meia dúzia de páginas de um total estimado em 40. 
Quando resolvi escrever um conto para um concurso, há alguns meses, tinha já percebido a dificuldade de ter ficado tanto tempo sem praticar, além da sensação de fraude na escrita de ficção, ainda uma tentativa de emular outras escritas, principalmente masculinas, as disponíveis à época em que comecei a escrever. Parece que parei no tempo, antes de ter atingido um mínimo de maturidade narrativa - o que pode soar muito pretensioso, já que tantos autores maravilhosos levaram a vida para chegar a uma obra madura, mas é a sensação que tenho, e tenho estado mais atenta a sensações e sentimentos do que ao simples pensamento.
Com relação ao TCC, achava que seria muito mais fácil, porque tenho mais facilidade com essa escrita formal, justamente ao pensamento em si. Ou achava que tivesse. Pode ser culpa da falta de concentração típica da quarentena aliada à minha típica falta de concentração (deveria estar escrevendo o TCC e estou aqui postando no blog, por exemplo). Pode ser o ser interrompida pelo gato ou para fazer almoço e jantar ou para responder onde acredito que esteja algo que não vi. Pode ser só a necessidade de um pouco de silêncio, interno e externo.
Sinto que estou tendo que reaprender a pensar e a escrever, algo que eu já considerava resolvido na vida. Não só num contexto louco de pandemia e incertezas de toda ordem, mas também sem estar sozinha, com tudo acontecendo ao mesmo tempo no meu entorno. Com a fina ironia de estar tentando escrever sobre emancipação feminina e precisando me lembrar e reafirmar a minha própria diariamente. 
O bagulho é mais louco do que eu pensava!

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Ler mulheres, a aventura de redescoberta

De uns tempos pra cá, comecei a ler mais mulheres - outro dia, comentei que tenho também lido mais mulheres negras.
Tenho a impressão de que o número de mulheres escrevendo aumentou - como também o de ótimos filmes, como já disse aqui, baseados em livros de autoras.
As mulheres me parecem mais capazes de falar da crueldade e do abuso. A crueldade narrada por uma mulher é muito mais crua, o abuso é desnudado. Não estou falando de violência. Acho que os homens são mais dados a ela. A narrativa de crueldade das mulheres é diferente, é predominantemente de quem observou ou sentiu, não de quem praticou. 
Além de ler mais autoras, também andei relendo coisas que estavam engavetadas, e nem me reconheço. Os escritos de ficção têm uma tentativa de emular a escrita tradicional, ou seja, masculina; uma necessidade de escrever muito certinho. Parece tudo muito artificial, com exceção daquilo que se relaciona com algo vivido. Deu até um rancinho.
Quando leio mulheres, vejo um texto que sangra pela página, que sempre traz um algo além do escrito, como aquilo que só os gatos veem. Quero isso para mim, posso isso também, já que sangro também. 

domingo, 31 de maio de 2020

De volta pro aconchego da escrita

Recebi de diferentes amigos o mesmo regulamento de um concurso de contos, tendo a quarentena como tema. Na hora, nem considerei a hipótese de participar. Mas, pouco tempo depois, Wagninho perguntou se eu andava escrevendo. Matutei: faz tempo que não sei o que é isso, escrever como processo criativo. Fico por aqui e com trabalhos da pós, e só. Claro que esse exercício já afasta as teias de aranha mentais, mas e os contos, as crônicas, os tantos projetos engavetados?
Lembrei-me de como escrevia bastante, textos curtos, geralmente, como me atrevia a participar de concursos, uma forma de estímulo, e até ganhei alguns. Parece que foi em outra vida, como tantas coisas essa quarentena faz crer.
Daí decidi escrever e me inscrever. O prazo era hoje, foi prorrogado para amanhã tamanho o número de pessoas sequiosas de contar suas experiências durante o período de isolamento social. Enviei há pouco, sem grandes expectativas, como sempre, mas feliz com o exercício, como sempre.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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